A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO FAMILIAR: RELATO DE EXPERIÊNCIA Aneline Maria Ruedell 1 Márcia da Silva Magalhães 2 Nubia Broetto Cunha 3 INTRODUÇÃO: A encefalopatia crônica não progressiva da infância, caracteriza-se como uma desordem do movimento e da postura devida a uma lesão do cérebro imaturo (UMPRED, 1994). Crianças com este diagnóstico são submetidas a diferentes tratamentos, entre eles a fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, entre outros. Durante um tratamento fisioterapêutico, o manuseio apresenta-se como uma peça de extrema importância, objetivando atividades funcionais, dentro de uma gama de soluções necessárias para os problemas que o menor apresenta. Mas ao verificar que o maior período de permanência da criança é em sua residência, observa-se a importância do cooperativismo dos pais no auxílio do manuseio dando ao seu filho maiores oportunidades para o desenvolvimento de suas atividades e capacidades (LEVITT, 2001). Assim, objetivou-se uma forma de realizar a extensão dos objetivos do tratamento após a terapia, para que haja uma melhor evolução na realização de atividades funcionais passíveis de efetivação por estes pacientes. Ou seja, realizar orientações familiares, que apresentam como finalidade prescrever sobre diferentes e importantes atividades realizadas diariamente, como: carregar a criança, alimentá-la, realizar higiene, entre outras (TABAQUIM, 2002). De acordo com GUAZZELLI (2001), a orientação domiciliar ou familiar, acaba sendo um conjunto de prescrições aos familiares. Mas estas não devem apresentar um nível de dificuldade grande, pois é importante que a família entenda e as aplique. As orientações devem ter um caráter 1 Docente do curso de fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná 2 Discente do curso de fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Rua Azaléia, n. 1378, (45) 3228-2665, magmarcia@yahoo.com.br 3 Discente do curso de fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
terapêutico e que contribuam para atingir metas estabelecidas de forma individual, ou seja de acordo com a realidade de cada criança e de sua família. Uma equipe terapêutica formada pela criança, familiares e todos os profissionais responsáveis pelo tratamento, formam a base para o sucesso das orientações familiares. Em relação aos profissionais, podemos citar: o fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo, que atuam por um longo tempo no tratamento da criança com seqüelas de lesão neurológica, e de forma contínua. Além do que já foi citado, para obter um bom resultado, é necessário evitar extremos prejudiciais que a família pode apresentar: superproteção ou negligência no tratamento. Nestas situações, o auxílio psicológico pode orientar certos comportamentos inadequados dos familiares (SANVITO, 1997). OBJETIVOS: O objetivo deste trabalho é relatar, a experiência da realização de orientações familiares, e divulgar os seus resultados. METODOLOGIA: O estágio supervisionado do curso de fisioterapia, apresenta diferentes áreas, dentre elas a pediatria. Este estágio em pediatria, atende crianças de 0 a 12 anos, com diferentes diagnósticos, entre os mais encontrados, a encefalopatia crônica não progressiva da infância, com 15 crianças. Durante o ano letivo de 2004, foi colocado a cada aluno que encontrava-se no estágio de pediatria, o que seria a orientação familiar e como poderia ser feita. Assim, com o consentimento das mães, os acadêmicos realizavam as orientações de acordo com a avaliação de cada criança, e com observações feitas das mães enquanto esperavam com seu filho, a hora do atendimento. RESULTADOS: Das 15 crianças com encefalopatia crônica não progressiva da infância, todas receberam orientações familiares. Dentre as orientações realizadas podemos citar: como carregar, posicionar em uma cadeira, facilitar a marcha, realizar estimulação sensorial e brincar. Durante o carregar uma criança, queremos evitar dificuldades e auxiliar no que ela mais gosta de fazer quando está no colo, explorar o ambiente, olhar para a pessoa que a carrega. Uma criança com seqüela de lesão neurológica, pode ter prejuízo na aquisição do controle postural, prejudicando na aquisição de atividades acima citadas (FINNIE,1999). Em relação a esta orientação, ela
foi realizada com 5 crianças e foi verificado um melhor controle postural da criança e um desgaste físico menor das mães em 100% dos casos. Ao realizar o posicionamento da criança em uma cadeira, o importante é permitir um bom controle de tronco e cabeça, possibilitando braços em linha média, facilitando o alcance (SOUZA & FERRARETTO, 1998). Esta prescrição foi realizada com 8 crianças, onde procurou-se orientar à mãe: que seu filho permaneça com os pés bem apoiados no chão, tronco alinhado, com extensão de pelve, resultando em um melhor posicionamento e facilitando atividades manuais em 100% das situações. A facilitação da marcha, é importante em situações em que a criança apresenta condições de deambular com apoio. Foi realizada com 6 menores, possibilitando uma continuidade do tratamento fisioterapêutico e demonstrando aos pais que seus filhos não precisam ser sempre carregados. Houve dificuldades em um caso, onde uma criança não aceitou ser submetida a facilitação da marcha, pois esta preferiu ser carregado pela sua mãe. No restante dos casos, trouxe motivação às crianças, pois elas apresentavam uma grande vontade de caminhar e incentivou as mães ao verem seus filhos realizando uma atividade funcional tão esperada. A realização da estimulação sensorial foi realizada para três crianças, pois elas negligenciavam um hemicorpo, por apresentarem alteração sensóriomotora. As estimulações orientadas foram as seguintes: tocar o lado acometido, além de estimular o uso da mão que apresentou poucos movimentos. O resultado foi eficaz com uma das crianças que melhorou sua percepção, melhorando a função do lado do corpo acometido pela lesão neurológica. As outras mães não seguiram as orientações. A última prescrição foi o brincar. Esta atividade é parte essencial do desenvolvimento motor e cognitivo da criança. É importante também para crianças com lesão neurológica, mas por apresentarem dificuldades em realizar movimentos e controlar o tronco e a cabeça, necessitam de ajuda ( FINNIE, 1999). É preciso demonstrar o melhor posicionamento em uma cadeira ou no chão, mas além disso, a criança apresenta a necessidade da presença dos pais nas brincadeiras, estimulando o convívio. Esta
orientação foi dada aos pais das 15 crianças. Dez mães relataram não terem tempo de brincar com seus filhos. CONCLUSÃO: As orientações familiares tiveram um bom resultado, demonstrando que simples prescrições auxiliam a criança com seqüela de lesão neurológica em realizar atividades funcionais e facilitam as tarefas diárias das mães, em relação aos seus filhos. Observou-se a necessidade de estimular os pais a brincarem com seus filhos, procurando melhorar o desenvolvimento neuropsicomotor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: FINNIE, N. O manuseio em casa da criança com paralisia cerebral, 2. ed. São Paulo: Manole, 1999. 307 p. GUAZZELLI, M.E. O cenário da orientação familiar na paralisia cerebral. Dissertação (Mestrado em Serviços de Saúde) Faculdade de saúde pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. LEVITT, S. O tratamento da paralisia cerebral e do retardo motor, 3. ed. São Paulo: Manole, 2001. 286 p. SANVITO, W.L. Síndromes neurológicas, 2. ed. São Paulo: Atheneu, 1997. 200 p. SOUZA, A.M.C.; FERRARETTO, I. Paralisia cerebral: aspectos práticos, 1. ed. São Paulo: Memnon, 1998. 390 p. TABAQUIM, M.L.M.; LAMÔNICA, D.A.C. Análise perceptual de mães de filhos com paralisia cerebral sobre a atividade de banho. Temas Sobre Desenvolvimento, São Paulo, v. 11, n. 61, p. 5-9, 2002. UMPHRED, D. Fisioterapia neurológica, 2. ed. São Paulo: Manole, 1994. 876 p.