ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO DO CAS- NATAL/RN: PROPOSTA DE LEITURA E ESCRITA EM MATEMÁTICA PARA ALUNOS SURDOS

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ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO DO CAS- NATAL/RN: PROPOSTA DE LEITURA E ESCRITA EM MATEMÁTICA PARA ALUNOS SURDOS Maria José Silva Lobato 1 1-Centro Estadual de Capacitação de Educadores e de Atendimento ao Aluno com Surdez mariadeorfeu@gmail.com RESUMO Este artigo tem por objetivo refletir acerca das propostas de leitura e escrita na área de matemática por meio dos projetos de letramentos temáticos interdisciplinares desenvolvidos pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) do Centro Estadual de Capacitação de Educadores e de Atendimento Ao Surdo (CAS-Natal/RN) aos educandos surdos. Para tanto, são apresentados alguns conceitos relacionados à educação na perspectiva inclusiva e seus desdobramentos no âmbito do CAS-Natal. Nossa pesquisa configura-se como pesquisa ação (SEVERINO, 2007). Utilizamos como subsídios teóricos documentos, tais como a Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988); a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), Lei nº 9394/96 (BRASIL, 1996) dentre outras. Procuramos enfatizar a importância da proposta do projeto de letramentos na área de matemática e os tipos de atendimento do CAS-Natal em 2015. Constatamos que os projetos de letramentos interdisciplinares de leitura e escrita na área de matemática buscam atender às necessidades educacionais dos alunos surdos valorizando suas potencialidades, possibilitando minimizar o processo desigual de ensino e aprendizagem para a construção de um ambiente de aprendizagem significativo. Palavras chaves: Surdos; Matemática; Projeto de letramento. 1 Coordenadora pedagógica do CAS pela Secretaria Estadual de Educação de Natal-RN. Professora de Libras da Secretaria Municipal do Natal. Mestre pelo Programa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais e Matemática (PPGCENM) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 1

1. Introdução A inclusão é fundamental na construção de uma sociedade democrática. O respeito às diferenças e a igualdade de oportunidades requer o movimento de incluir, que faz uma ruptura com o movimento da exclusão. Este debate vem sendo promovido por diferentes instâncias e países, incluindo o Brasil; portanto, a inclusão é a garantia a todos do acesso contínuo ao espaço comum na vida em sociedade, que deverá estar organizada e orientada, respeitando a diversidade humana, as diferenças individuais, promovendo igualdade de oportunidades de desenvolvimento para toda a vida (GLAT, 2007). No Brasil, de acordo com os dados do INEP (inep.gov.br/resumos-tecnicos) o número de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) matriculados no período aumentou de 654.606 em 2007 para 820.433 em 2012. Em termos proporcionais, houve uma diminuição de alunos matriculados em escolas exclusivas. A queda percentual foi de 53,23% em 2007 para 24,33% (em 2012). Em contrapartida, em 2007 havia 46,77% de alunos com NEE matriculados em classes comuns, aumentando para 75,67% em 2012. Esses dados apontam um aumento considerável nos últimos de alunos com NEE em escolas regulares. Isso é provavelmente atribuído às políticas públicas voltadas à perspectiva inclusiva por meio de ações governamentais de fomento ao acesso dos alunos NEE na escola regular. No entanto, apesar dos avanços, constatamos grandes desafios do sistema educacional em efetivar as adequações necessárias nas escolas regulares a fim de que seja possível a permanência com qualidade dos alunos surdos em classes comuns. Diante desse contexto, propomos nesta investigação como o objetivo geral apresentar uma reflexão sobre importância do Atendimento Educacional Especializado (AEE) do Centro Estadual de Capacitação de Educadores e de Atendimento Ao Surdo CAS-Natal por meio propostas de leitura e escrita na área de matemática por meio dos projetos de letramentos 2 temáticos interdisciplinares 3. A pesquisa foi organizada seguindo as seguintes etapas. Primeiramente consta a introdução que justifica o estudo e apresenta o objetivo desta investigação. Posteriormente discorremos acerca da política da educação inclusiva no Brasil que influenciaram as 2 Letramento refere-se ao uso da língua não somente na escola, mas em todo lugar, ou seja, as práticas de letramento fazem parte de um conjunto de práticas sociais de uso da escrita e o impacto da língua na vida moderna (KLEIMAN, 2005. P. 20). 3 Interdisciplinar refere-se a duas ou mais disciplinas; que se efetiva nas relações entre duas ou mais disciplinas; comum a várias disciplinas. Acesso em: 01/dez/15. Disponível em: http://www.dicio.com.br/interdisciplinar/ 2

diretrizes políticas voltadas a perspectiva da educação inclusiva. Em seguida apresenta-se a proposta do CAS-Natal no contexto da educação de surdos no Brasil. Por fim, destacaremos alguns impactos que projetos de letramentos temáticos interdisplinares provocaram para o ensino e aprendizagem dos alunos surdos da instituição. 2 Política de educação inclusiva no Brasil: avanços e desafios No Brasil, há tempos, evidencia-se um redimensionamento das políticas públicas governamentais voltadas ao público-alvo da educação especial. Ao analisarmos o percurso histórico da educação especial no Brasil leis, decretos, resoluções, diretrizes, portarias e o impacto no processo de ensino e aprendizagem dos educandos com NEE. Diante deste contexto discorremos alguns pontos relevantes destes documentos que influenciaram a educação inclusiva no cenário brasileiro. A Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988) assegurou-se no Art. 3º, inciso IV, que um dos objetivos fundamentais é promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Também foi definido no Artigo 205 que a educação é um direito de todos. No Artigo 206, inciso I, estabelece a igualdade de condições de acesso e permanência na escola (BRASIL, 1998). Em âmbito internacional, a Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem (UNESCO 4, 1990) foi um documento internacional que influenciou na formulação das políticas públicas da educação inclusiva, afirmando que toda pessoa tem direito à educação. Assim, no Art. 3assegura como direito a universalização ao acesso à educação e o fomento à equidade. A Lei 9394/06(BRASIL, 1996) que estabelece as Leis de Diretrizes e Bases (LDB) da educação nacional. Esta lei regulamenta o sistema educacional brasileiro desde a educação básica ao ensino superior. Enfatiza no Art. 3º que o ensino deverá embasar-se em princípios, como descrito no Inciso I, segundo o qual aos alunos deve ser assegurada à igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (BRASIL, 1996). 4 UNESCO é definida como a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Foi fundada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo, através da educação, da ciência, da cultura e das comunicações. Disponível em: <http://www.trabalhosfeitos.com/topicos/a-unesco-e-a-educa%c3%a7%c3%a3o/0>. Acesso em: 03 mar. 2014. 3

A Lei nº 10.436/02 (BRASIL, 2002) estabelece as diretrizes sobre Língua Brasileira de Sinais. Trata-se de um documento muito importante na vida escolar da comunidade surda brasileira, pois exige do sistema educacional brasileiro uma reorganização profunda, em nível estrutural, comunicacional, pedagógico, avaliativo, curricular e atitudinal, que atenda às necessidades específicas dos alunos com surdez. O Art. 1º declara que a Libras é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados (BRASIL, 2002, p. 1). Além disso, Decreto n o 5.626/05 (BRASIL, 2005) possibilitou assegurar o uso a difusão da Libras e outros recursos de expressão a ela associados. 3. Breve histórico do CAS-Natal/RN: educação de surdos em Natal/RN O CAS-Natal foi criado através do Decreto nº 18.637, de 04/11/2005. Atualmente está localizado à Rua Alberto Maranhão, 892. Bairro do Tirol, CEP: 59020330. É um centro de atendimento que constitui um vínculo administrativo e pedagógico ao estado do RN. Tem como objetivo promover a política inclusiva e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos surdos ou com deficiência auditiva e dos alunos com deficiência múltipla por meio de um atendimento educacional especializado aos alunos com surdez e a formação de profissionais da educação do RN. O AEE executado no CAS visa potencializar a base curricular dos educandos surdos por meio do atendimento complementar em Libras, na Libras e Língua Portuguesa, além de outras áreas de especialidade oferecido, como matemática, artes, teatro e música. Em 2015 a instituição contou com uma equipe de multiprofissionais em áreas distintas, como pegadogos, assistente social, psicopegogos, matemáticos, letras, letras- Libras. O CAS-Natal realizou os seguintes atendimentos educacionais aos alunos surdos: letramento infantil; deficiência múltipla; alfabetização I (básico); alfabetização II (intermediário); alfabetização III (avançado); português para surdos; letramento jovem. Todos os atendimentos tem como foco central o ensino da leitura e escrita em áreas distintas (matemática, Língua Portuguesa, Libras, Artes, Educação Física, musica e expressão). Todas as turmas de AEE desenvolvem um projeto temático destinado ao seu público-alvo. 4

3. Os projetos de letramento interdisciplinar do AEE: desafios e perspectivas A presente pesquisa é do tipo pesquisa ação conforme Severino (2007). Foi realizada no CAS-Natal, no primeiro semestre de 2015. O centro de atendimento vem desenvolvendo uma proposta de trabalho centrada complementação da formação dos educandos surdos na leitura e escrita bilíngue. Os projetos de letramentos temáticos visam atender as necessidades educacionais dos alunos surdos por meio de problematização de temáticas de estudo de interesse da turma. É nesta perspectiva de ensino e aprendizagem que o CAS-Natal vem desenvolvendo o AEE destinado aos educandos surdos. Além disso, para efetivação dos projetos de letramento do CAS-Natal o agente de letramento 5 (professor) assume um papel essencial para na mediação dos conhecimentos, saberes, técnicas e estratégias de mobilização das habilidades e competências dos educados surdos. Diante desse contexto, o CAS-Natal vem desenvolvendo os projetos de letramentos temáticos convergente com a perspectiva de educação inclusiva. Sendo assim, os projetos de letramentos temáticos propostos pelo centro aos alunos surdos buscam contemplar as seguintes características: a) respeito à heterogeneidade linguística dos alunos surdos; b) respeito à heterogeneidade das deficiências; c) respeito às necessidades educacionais dos alunos; d) ensino e aprendizagem alicerçados em fundamentos pedagógicos, linguísticos e históricos dos alunos; d) Avaliação contínua e descritiva dos avanços, retrocesso, dificuldades e progressos de cada aluno. Para exemplificar incluímos uma breve descrição (Quadro 1) de um dos projetos interdisciplinares desenvolvidos durante o ano de 2015. 5 Agente de letramento é o articulador de todas as ações para o desenvolvimento de um projeto de letramento funcional, socialmente relevante e de interesse dos alunos, ou seja, o agente de letramento mobiliza sistemas de conhecimentos, recursos e capacidades dos alunos, pais dos alunos e membros da comunidade com a finalidade de que participem de práticas de uso da escrita (KLEIMAN, 2005. P. 53). 5

Quadro 1- Exemplos de projetos de letramentos interdisciplinares envolvendo leitura e escrita em matemática SINTESE DOS PROJETOS DE LETRAMENTO EXEMPLOS DE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA ÁREA DE MATEMÁTICA P R O J E T O B R I N Q U E D O S E B R I N C A D E I R A S Professora: Ana Keila Público alvo: Infantil. Faixa etária: 6 a 11 anos. Turma: letramento infantil. Duração prevista: um ano. Objetivo geral: Vivenciar brincadeiras que desenvolva habilidades motoras, que construa conceitos de infância e possibilite registros de desenhos e a construção da escrita. Objetivos específicos: -Conhecer e reconhecer brinquedos e brincadeiras. -Aprender nomes de brinquedos a partir da letra inicial. -Demostrar em Libras o sinal de brinquedos. -Reconhecer prediletos. brinquedos -Desenvolver a interação do grupo através de brincadeiras coletivas. -Identificar, numerar e quantificar números de 1 a 10. -Construir brinquedos manuais. -Construir gráficos de brinquedos. -Fazer registros coletivos e individuais das brincadeiras vivenciadas. -Construção de um livro: O ABC dos brinquedos. -Visitar o museu do brinquedo. Figura 1: Calendário bilíngue Fonte: CAS-NATAL/RN Conteúdo: grandezas e medidas Objetivo: Familiarizar-se com uma forma de organizar a informação em diferentes contextos, localizando, lendo, interpretado e identificando a passagem do tempo apoiado no calendário. Duração: atividade diária. Desenvolvimento: participação dos alunos em todas as etapas no processo de ensino e aprendizagem. Avalição: sistemática e contínua ao longo de todo o processo de ensino e de aprendizagem. Figura 2: gráfico de brinquedos bilíngue Fonte: CAS-NATAL/RN Conteúdo: tratamento da informação Objetivo: Incentivar o interesse por esse gênero textual por meio da associação de informações, observação, leitura, construção, interpretação de gráficos e compreensão dos conceitos estatísticos. Duração da atividade: quatro aulas. Desenvolvimento: participação dos alunos em todas as etapas no processo de ensino e aprendizagem. Avalição: sistemática e contínua ao longo de todo o processo de ensino e de aprendizagem. Fonte: elaborado pela autora, projeto desenvolvidos no 1º semestre de 2015. 6

4. Considerações finais O AEE do CAS-Natal adota uma proposta de trabalho interdisciplinar que leva em consideração a avaliação processual de cada aluno acerca dos seus conhecimentos linguísticos da estrutura gramatical em Libras e Língua Portuguesa, os conhecimentos prévios do currículo em áreas de especialidade diversas, como matemática, além do conhecimento de mundo, com o objetivo de orientar a ação do docente sobre o fazer pedagógico significativo para avanço do ensino do educando. Os resultados são perceptíveis tanto no contexto do CAS-Natal como nas escolas comuns. O AEE tem objetivo de complementar à formação dos educandos surdos. Neste contexto o AEE do CAS-Natal desenvolveu em 2015 projetos de letramentos temáticos interdisciplinar em que os alunos surdos são expostos à leitura em Libras (enquanto meio de instrução/comunicação), ao ensino da Libras (estudo da estrutura gramatical), ao ensino da Língua Portuguesa (estudo da estrutura gramatical) e demais área de especialidade associada, como: matemática, artes, musicalidade e teatro, etc. Constamos que os educandos surdos intensificaram os seguintes aspectos: interesse, sociabilidade, motricidade, cognição, aptidões, habilidades, competências, linguagem (visual-espacial, escrita e oral), talentos, associações diversas entre o que sabem e os novos conhecimentos em estudo. Diante deste contexto, os projetos de letramentos temáticos interdisciplinares visam atender às necessidades educacionais dos alunos surdos valorizando as potencialidades individuais e coletivas dos educandos. Além disso, também busca minimizar o processo de escolarização desigual por meio de um ensino e aprendizagem complementar na perspectiva bilíngue. 7

5- REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição: República Federativa do Brasil, 1988. BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais. Brasília, 2005. BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB 9.694 de 16 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. BRASIL. Ministério da Justiça. Coordenadoria Nacional de Integração Nacional da Pessoa Portadora de Deficiência. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre necessidades educacionais especiais. Brasília, Distrito Federal: CORDE, 1994. CENSO DA EDUCAÇÃO BÁSICA: 2011- resumo técnico- Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2012, 40p. Disponível em:<http://portal.inep.gov.br/resumos-tecnicos>. Acesso em: 01 jan. 2013. GLAT, R. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007, 104-110. KLEIMAN, Angela B. Preciso ensinar o letramento? Não basta ensinar a ler e escrever? Campinas: Cefiel - Unicamp; MEC, 2005. 60 p. UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de ação sobre as necessidades educativas especiais. In: Conferência mundial sobre necessidades educativas especiais: acesso e qualidade. Brasília: CORDE, 1994. 8