RECONHECENDO A IMPORTÂNCIA DO BRINQUEDO COMO INSTRUMENTO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

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Transcrição:

RECONHECENDO A IMPORTÂNCIA DO BRINQUEDO COMO INSTRUMENTO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Iracema Luzitânia de Freitas Lima; Maria Betânia Amaral Rodrigues de Almeida Virães Universidade Estadual Vale do Acaraú Iracemafreitas13@gmail.com INTRODUÇÃO O presente estudo de pesquisa fundamentou-se em uma proposta bibliográfica sobre o tema do lúdico na Educação Infantil, o qual tem sido motivo de muitas pesquisas recentemente. Diversas têm sido as produções acadêmicas acerca do brincar na Educação Infantil. Desde Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) a dissertações e teses, trabalhos científicos e livros a pesquisas no meio acadêmico, há uma quantidade suficientemente razoável de publicações sobre o tema. Só para citar alguns, são exemplos recentes de pesquisa acerca do tema os trabalhos de Silva e Neves (2008), Silva e Santos (2009), Navarro (2009), França (2010), Kishimoto (1992a, 2001, 2008, 2010, 2011), Crepaldi (2010), Silva (2013) e Teixeira e Volpini (2014). Logo, pode-se notar que o tema abordado no presente artigo está associado a preocupações referentes ao cotidiano da pesquisa e da prática pedagógica. Neste contexto, a presente pesquisa analisou a importância do brinquedo como instrumento pedagógico na Educação Infantil. METODOLOGIA Utilizamos o site de busca Google Acadêmico na busca de trabalhos indexados a brincar na Educação Infantil. Refinamos a pesquisa buscando os artigos de maior relevância. Feita a seleção, analisamos vários artigos, TCCs, teses e dissertações e fizemos uma revisão bibliográfica sobre o brincar na Educação Infantil. A partir daí tecemos nossas considerações acerca da utilização do brincar como ferramenta de ensino-aprendizagem na Educação Infantil, à luz das diversas teorias sobre o tema. RESULTADOS E DISCUSSÃO Definir o conceito formal de lúdico tem sido discutido por diversos autores, como Gilles Brougère e Jacques Henriot, estudados por Wajskop (1994). Na concepção de Henriot, o brincar constitui um fato social e refere-se a determinada imagem de criança e brincadeira de uma comunidade ou grupo de pessoas específicas (WAJSKOP, 1994, p. 65). Assim, entende-se que a noção de brincar é uma atitude mental relacionada a uma linguagem que toma como base a atribuição de significados dados aos objetos e à linguagem, diferentes daqueles expressos formalmente. Segundo Wajskop (1994, p. 65-66), Brougère afirma que, as

concepções da filosofia da educação, da pedagogia e ciências afins, foram importantes para tirar da relação entre brincar e educação a ideia de algo frívolo ou gratuito. Nos tempos atuais, na maior parte das sociedades, o brincar se constitui numa prática cultural típica da infância, mesmo considerando o caso no qual algumas destas sociedades ainda convivem com o problema do trabalho infantil. É por meio do brincar que a criança vivencia o lúdico, descobre a si mesma, compreende a realidade e torna-se capaz de desenvolver seu potencial criativo. Por isso, a maioria dos grupos sociais entende o brincar como atividade essencial ao desenvolvimento da criança. Kishimoto (1992b, p.108) destaca que é importante diferenciar brinquedo e jogo. Enquanto no jogo a criança tem que seguir regras que foram pré-concebidas e que ela não participou da construção, no brinquedo a criança representa certas realidades e ela pode manipular, em seu brincar, o cotidiano, a natureza e até mesmo as construções humanas. Dessa forma, o brincar reproduz toda uma totalidade social. Pode ser visto na obra de Kishimoto (2011, p.18) uma síntese no sentido de atribuir significado ao termo jogo. Segundo a autora, o jogo pode ser visto por três níveis de diferenciação: como resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social, como um sistema de regras e, também, como um objeto. E qual seria o conceito de brinquedo? O brinquedo difere do jogo por envolver uma relação íntima da criança e por se caracterizar pela ausência de regras para determinar sua utilização. Enquanto o jogo pressupõe regras que vão direcioná-lo, o brinquedo incorpora a realidade ou um mundo imaginário ao seu uso. Cada criança brinca de boneca de acordo com a expressão que ela quer dar à brincadeira. Nesse ato, a criança atua como sujeito que metamorfeia e fotografa a realidade. O século XIX traz consigo o surgimento da psicologia da criança, com uma forte influência da Biologia. Como teoria emergente, surge a de Groos, que considera o jogo como pré-exercício de instintos herdados, ou seja, uma necessidade biológica, instintiva e psicológica. É nesse momento histórico que Groos antecipa a relação do jogo com a Educação, quando ele retoma o jogo enquanto ação espontânea, natural (influência biológica), prazerosa e livre (influência psicológica (KISHIMOTO, 2011, p. 35). Um dos primeiros estudiosos a enfatizar a importância do brinquedo e da atividade lúdica para o desenvolvimento da criança foi o filósofo alemão Friedrich Fröebel (1782-1852). Ele também foi um dos primeiros a reconhecer a importância do início da infância no desenvolvimento da formação da criança. Fröebel classificou os jogos em dois tipos: jogos livres e interativos, com um fim em si mesmos, nos quais aparecem atividades simbólicas e de imitação (como a brincadeira de faz-de-conta) e os jogos de dons e ocupações, nos quais podem ser inseridos jogos de construção, atividades utilizando materiais e objetos específicos. Segundo Moraes (2012, ibid., p.49), Fröebel defendia a ideia de que o professor deveria explorar a capacidade criadora da criança, permitindo que ela, em seu brincar, tivesse ações espontâneas e prazerosas.

Fröbel, na organização de seus jardins de infância, propôs uma educação sensorial, centrada em brincadeiras e jogos, em oposição àquela educação verbal, tradicional daquela época. O destaque em seu método é que as crianças podiam manipular livremente os brinquedos e com isso serem agentes da promoção de seu próprio desenvolvimento. Em oposição a esse método, Maria Montessori (1870-1909) considerava a brincadeira como atividade inata infantil, sem fins pedagógicos. As chamadas Casas di Bambini montessorianas, em clara discordância do valor educacional do brincar, educavam as crianças através de atividades dirigidas e preparação para o trabalho. Entre essas duas concepções (fröbeliana e montessoriana), a Escola Nova, movimento ocorrida na Europa e na América, entre 1889 e 1918, optou por considerar a ludicidade proposta por Fröbel. O principal teórico desse movimento, Dewey concebia a brincadeira como uma ação livre e espontânea. A brincadeira, na sua teoria, é a expressão dos sentimentos, necessidades e interesses da criança e por isso tem um fim em si mesma (KISHIMOTO, 1992, p. 61 apud Wajskop, ibid, p. 64). As pesquisas acerca do tema do brincar também foram destaque em diversas pesquisas psicológicas. Pode-se destacar que as teorias psicológicas de desenvolvimento (Piaget, Wallon e Vygotsky) contribuíram fortemente para enfatizar o papel do brincar na educação infantil, posto que a infância, nesse contexto, tem valorizada seu papel de período fundamental no desenvolvimento humano e o brincar adquire status de promotor do desenvolvimento global da criança, incentiva a interação entre os pares, a resolução de conflitos e contribui para formar um cidadão crítico e reflexivo (QUEIROZ et al., 2006, p. 170). O psicólogo suíço Jean Piaget, por exemplo, estudou o jogo sob uma orientação cognitiva integrando-o à vida mental e caracterizando-o por uma orientação de comportamento, a qual ele denominou assimilação. Ele entendia que cada ato da inteligência é definido através do equilíbrio entre duas tendências: assimilação e acomodação. Piaget divide os jogos em três categorias: exercício, jogo simbólico e jogo de regras. O filósofo e psicólogo francês Wallon de modo semelhante a Piaget considera como fonte de surgimento de representações mentais e brincadeiras os modos como a criança, em suas brincadeiras, imita o mundo real. Em seus estudos, ele divide os jogos em quatro tipos: funcionais, de ficção, de aquisição e de construção. Outro pesquisador de destaque no campo psicológico foi o russo L. S. Vygotsky. Baseado em paradigmas marxitas-leninistas, ele considera que, como toda conduta do ser humano, a brincadeira reflete o resultado de processos sociais. Assim, sua teoria acredita que o jogo é o elemento que impulsiona o desenvolvimento (CREPALDI, 2010, p. 18). Vygotsky considera, em sua teoria, dois elementos fundamentais: a situação imaginária e as regras. Nos primeiros anos de vida predomina a brincadeira e tem como função criar Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Criando uma situação imaginária, a criança desenvolve a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais (KISHIMOTO, 2003, p. 43). Interagindo socialmente através da brincadeira, a criança amplia gradualmente (83) seu 3322.3222 conhecimento.

Outra contribuição relevante à discussão é apresentada pelo psicólogo norte-americano Jerome Seymour Bruner. Segundo ele, o ato de brincar vem permeado de um sistema de signos. Na interação entre a criança e a mãe, ocorre uma atribuição de significados que permite à criança adquirir um desenvolvimento cognitivo capaz de inseri-la socialmente e capacitá-la a resolver problemas. É através do jogo que se dá a ação de interação entre mãe e filho que permite à criança entender os signos, decodificá-los e começar a falar. Assim, o aprendizado da língua materna desenvolve-se de forma mais rápida quando associado ao lúdico. Diversos autores não discutem o significado do jogo em si. Ao invés disso, utilizam-se de modelos heurísticos, como ocorre com Mead (1972, apud Kishimoto, ibid.), que analisa jogos coletivos, como futebol, basquetebol ou voleibol, enxergando neles analogias com as relações sociais presentes na interação do sujeito no seio da sociedade. Na interação com a brincadeira, a decisão pedagógica deve ser utilizada para, ao mesmo tempo, construir a consciência da criança, mas também transformá-la. Crianças com diferentes realidades e pontos de vista inatos diferentes podem se confrontar na brincadeira e é importante resolver, no nível simbólico, essa contradição entre a liberdade que o brincar oferece à criança e a submissão dela às regras, que ela mesma estabelece de acordo com seu convívio. CONCLUSÕES Este estudo buscou verificar a importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil. De um modo mais específico, investigou-se a importância do brinquedo no aprendizado da Educação Infantil. O primeiro aspecto a ser analisado corresponde à importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil. Diversas são as pesquisas favoráveis ao lúdico no processo de ensino-aprendizagem aliados à motivação para desenvolver atividades lúdicas em sala de aula, como, por exemplo, os trabalhos de Kishimoto (1992a, 1992b, 1994, 2003, 2011), (Wajskop, 1995), Santos e Silva (2009) e França (2010). Podendo ser trabalhados em atividades que podem ocorrer a partir da mais tenra idade, resguardando as situações socioculturais existentes, as crianças, sozinhas ou em grupos, podem desenvolver brincadeiras de forma ativa e construtiva. A partir do jogo, as crianças internalizam regras e encontram soluções para os conflitos, atuam num nível superior ao que se encontram, ao imitar a realidade. Dessa forma, a criança encena a realidade, utilizando um recurso muito rico. A brincadeira assume o papel de uma atitude e uma linguagem que é apreendida nas relações sociais e afetivas que a criança concebe desde a mais tenra idade. Logo, a brincadeira é uma situação privilegiada de aprendizagem infantil. Deve-se deixar claro que, como qualquer atividade inerente ao ser humano, o ato de brincar é aprendido pela criança desde a mais tenra idade. Isso decorre de seu relacionamento com outros bebês, com crianças mais velhas e com adultos. Manipular e utilizar brinquedos possibilita às crianças uma aprendizagem multidisciplinar das formas de ser e pensar da sociedade (WAJSKOP, 1994, p. 68). Os brinquedos apresentam imagens que moldam o (83) desenvolvimento 3322.3222 cognitivo da criança, desenvolvem suas habilidades motoras e auxiliam na

formação sociocultural. Naturalmente, a partir da brincadeira, um profissional atento deve ampliar o horizonte de possibilidades para os diferentes conhecimentos que a criança precisa atingir. Podem-se utilizar livros, filmes, televisão, passeios ou outras situações úteis ao processo educativo, dentro de um planejamento que venha a integrar a formação completa da criança. A importância do brincar na Educação Infantil defendida no presente trabalho também encontra amparo no trabalho de Vygotski (2007, p. 134), que considera o brincar uma atividade que estimula a aprendizagem, já que ela cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Assim sendo, fica apontado que o lúdico é um instrumento pedagógico de grande importância na socialização entre as crianças, no desenvolvimento da linguagem e na construção de um mundo mais cooperativo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CREPALDI, Roselene. Jogos, brinquedos e brincadeiras. Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2010. FRANÇA, Vanessa Christine Benato de. A importância do brincar na Educação Infantil crianças de 3 a 5 anos. 2010. 53 f. Monografia (Especialização em Psicopedagogia) Universidade Tuiuti do Paraná, 2010. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo, a criança e a Educação, 1992. Tese (livre-docência em Educação) Universidade de São Paulo, 1992a, mimeografado.. O jogo e a Educação Infantil. Perspectiva, Florianópolis, UFSC/CED, NUP, n. 22, p. 105-128, jul. 1992b.. A LDB e as Instituições de Educação Infantil: desafios e perspectivas. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, supl. 4, p. 7-14, 2001.. O jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.. Brinquedo, gênero e educação na brinquedoteca. Pro-Posições, Campinas, UNICAMP, v. 19, n. 3 (57), p. 209-223, set./dez. 2008.. Brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil. In: I Seminário Nacional: currículo em movimento Perspectivas Atuais, 2010. Belo Horizonte: Anais do I Seminário Nacional: currículo em movimento Perspectivas Atuais. Belo Horizonte: UFMG, nov./2010, p. 1-20..(Org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a Educação. 14ª. Ed., São Paulo: Cortez, 2011.

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