CASA BIOVILLA PATIO Local: Jaboticatubas - MG Ano: 2012 Escritório Arquitetos Associados Autoras: Brenda Wolffenbüttel e Ana Elísia da Costa Implantação e Partido Formal A Biovilla Patio é uma residência unifamiliar implantada em um terreno de condomínio residencial na cidade de Jaboticatubas, em Minas Gerais; contudo, o projeto foi elaborado com o intuito de ser um padrão a ser implantado em terrenos diversos. Neste caso, o lote de meio de quadra possui proporções retangulares, área de 420m² e topografia plana, que em sua parte frontal sofreu escavo para forçar o arranjo da casa em meios níveis. A casa ocupa uma posição centralizada e isolada em relação a todos os limites do lote, explorando a sua longitudinalidade. (Figura 1) (c) Figura 1: Casa Biovilla Patio, 2012: voluemtria; implantação; (c) corte longitudinal. Escritório Arquitetos Associados Caracterizada por um partido compacto, a casa organiza-se em duas alas paralelas entre si, dispostas transversalmente no terreno e distanciadas uma da outra por um pátio. O conjunto é agrupado por duas empenas longitudinais, sendo uma cega, onde se apoia o bloco de circulação vertical, e outra com um grande vão que revela o pátio como espaço central da casa. (Figura 2)
Figura 2: Esquema de subtração e arranjo das alas da Casa Biovilla Patio, 2012. Escritório Arquitetos Associados O tratamento das empenas laterais confere certa ambiguidade compositiva à casa planar, se observado o volume frontalmente; e volumétrico, se observada a sua parte posterior. Na parte frontal da casa, localizada sobre o escavo do terreno, observa-se um bloco elevado, cujas empenas laterais ganham expressão formal por extrapolarem os limites horizontais e verticais do mesmo. Contudo, na fachada posterior da casa, estas empenas perdem expressão como elementos de arquitetura autônomos, estando arrematadas e conectadas pela laje de cobertura, o que sugere o arranjo de um volume compacto que se apoia diretamente no terreno. (Figura 3) Figura 3: Tratamento das fachadas da Casa Biovilla Patio, 2012: planar na fachada frontal; volumétrico na fachada posterior. Escritório Arquitetos Associados Fonte: WOLFFENBÜTTEL, Brenda, 2016 O tratamento quase cego das empenas laterais contrasta com o tratamento das superfícies transversais. Na ala frontal, os planos envidraçados reforçam o referido tratamento planar na composição. Em contraposição, nos planos transversais da ala posterior,
observa-se um jogo de cheios e vazios que, mesmo que levemente recuado em relação à laje da cobertura e às empenas transversais, reforça o aspecto volumétrico já referido. Neste conjunto, é notável a exploração de diferentes cores e texturas: nas fachadas transversais, destacam-se as superfícies translúcidas, o uso de cores nas alvenarias da ala posterior, e os arremates dos elementos estruturais em concreto aparente; nas fachadas longitudinais, destacam-se o revestimento com chapas metálicas e coroamento da viga em concreto aparente. (Figura 4) Figura 4: Tratamento das fachadas da Casa Biovilla Patio, 2012: contraste entre cheio e vazio; exploração de diferentes materiais, cores e texturas. Escritório Arquitetos Associados Fonte: www.arquitetosassociados.arq.br Aparentemente a casa não possui nenhuma modulação ou proporção que possa reger o arranjo das alas da casa e a disposição interna dos espaços. A casa possui estrutura independente em concreto armado e nem mesmo a disposição dos pilares segue uma modulação, tendo distâncias longitudinalmente diferentes entre si. (figura 5) Figura 5: Esquema estrutural da Casa Biovilla Patio, 2012. Escritório Arquitetos Associados Fonte: WOLFFENBÜTTEL, Brenda, 2016
Configuração funcional A casa possui um zoneamento em alas claramente identificável e em níveis distintos: a ala frontal comporta os serviços no pavimento semi-enterrado e o social acima desta e a ala posterior compreende a área íntima, separada em dois níveis. (Figura 6) (c) (d) zona de serviço zona íntima zona social Figura 6: Zonemaneto da Casa Biovilla Patio, 2012: (a e b) plantas baixas; (c) corte; (d) esquema volumétrico. Escritório Arquitetos Associados Fonte: WOLFFENBÜTTEL, Brenda, 2016 O acesso à casa se dá pelo pavimento semi-enterrado ou por um caminho lateral que, transpostos, conduz à escada descoberta localizada junto ao pátio central. Esta escada leva à ala social no nível superior e sua disposição favorece a proximidade do acesso com as rampas longitudinais que conectam os demais pavimentos. Assim, esse arranjo permite que haja uma autonomia de uso deste setor em relação ao setor íntimo. As referidas rampas longitudinais configuram o principal sistema circulatório da casa que envolve ainda uma escada que, sobre uma das rampas, leva ao terraço disposto sobre a ala social. (Figura 7) (c) (d) elementos irregulares Figura 7: Sistema de circulação e inserção dos elementos de composição irregulares na Casa Biovilla Patio, 2012: (a, b, c) plantas baixas; (d) corte longitudinal. Escritório Arquitetos Associados circulação de acesso circulação principal circulação secundária
Nas alas, as circulações são sempre periféricas e exploram a relação visual com pátio: na ala social, esta circulação é sugerida pelo layout e, na ala íntima, pelos corredores espacializados. Essa relação com pátio condiciona o arranjo dos elementos de composição irregulares, destacando os banheiros dispostos na periferia transversal das alas íntimas e o arranjo do lavabo que, internalizado, impede parcialmente a configuração de uma planta livre na ala social. (Figura 7) Espacialidade A transposição da escada que leva à ala social envolve a experiência espacial junto ao pátio que, ao antecipar a entrada na sala, se comporta efetivamente como centro compositivo e visual da casa. (Figura 8) Figura 8: Espacialidade no pátio central da Casa Biovilla Patio, 2012. Escritório Arquitetos Associados O ingresso na área social promove uma dilatação espacial horizontal, promovida pela configuração da planta livre e pelos grandes planos envidraçados que garantem uma permeabilidade visual tanto para o recuo fron tal quanto para o pátio interno. Tem-se assim muitos pontos focais de interesse e, consequentemente, uma tensão visual multidirecional. (Figura 9) Figura 9: Espacialidade na ala social da Casa Biovilla Patio, 2012. Escritório Arquitetos Associados
O percurso da ala social para os quartos envolve a passagem pelas rampas, pelo escritório (ala íntima superior) e corredor (ala íntima inferior). Por suas dimensões, estes espaços sugerem uma compressão espacial que é relativizada pelo uso das grandes aberturas longitudinais que os conecta visualmente com os pátios. Portanto, circular nesta casa é viver uma grande promenade em que há um conflito entre o eixo de movimento sugerido pela geometria dos espaços e o eixo visual sugerido pela relação com o pátio. (Figura 10) Figura 10: Espacialidade nas circulações da Casa Biovilla Patio, 2012. Escritório Arquitetos Associados Chegando ao quartos, observa-se novamente uma dilatação espacial promovida pelos planos envidraçados que se abrem para os fundos do terreno (primeiro e segundo pavimento) e para o pátio (segundo pavimento). Essas aberturas definem os pontos focais dos quartos do primeiro pavimento, determinando uma tensão unidirecional. Em contraposição, no quarto do segundo pavimento, as aberturas definem pontos focais distintos e, portanto, uma tensão multidirecional. (Figura 11) Figura 11: Espacialidade nos quartos da Casa Biovilla Patio, 2012. Escritório Arquitetos Associados
CONCLUSÃO Idealizada como um projeto padrão a ser implantado em diferentes contextos, a Biovilla Patio em Jaboticatubas impõe alterações na topografia do terreno que não decorrem de suas características naturais. Trata-se, portanto, de uma solução em que os aspectos formais previamente idealizados se impõem como condicionante, em detrimento daqueles sugeridos pelo lugar. Se idealizado como um projeto replicável, parece estranha a falta de rigor da modulação estrutural, o que poderia favorecer a sua racionalização construtiva. Estas possíveis contradições projetuais também são perceptíveis em outros aspectos do projeto: se por um lado a casa pode ser caracterizada pelo rigor de seu arranjo funcional, com uma clara setorização e eficiente rede circulatória, bem como pela coerência de espacialidade exteriorizada, em que o pátio cumpre efetivamente o seu papel de centro compositivo e visual, o tratamento das fachadas é ambíguo, consolidando ao mesmo tempo um arranjo planar (frontal) e volumétrico (posterior).