Agnaldo da Silva Nascimento Graduando do Bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina Estagiário do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina agnaldogeografia@gmail.com Ana Claudia Almeida do Carmo Gomes Graduanda do 4º ano de Licenciatura do curso de Geografia pela Universidade Estadual de Londrina acac.gomes@gmail.com Maria Natalina Almeida Graduanda do Bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina Bolsista da Fundação Araucária maria_natalinaa@hotmail.com Wladimir Cesar Fuscaldo Professor Ms. do Departamento de Geociências da Universidade de Londrina fuscaldo@uel.br ATUAL CENÁRIO DA COLETA SELETIVA NA CIDADE DE LONDRINA-PR: O CASO DOS CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS VERTICAIS DA REGIÃO CENTRAL INTRODUÇÃO Posteriormente à Revolução Industrial e com a produção elevada de objetos de consumo, a humanidade tem presenciado também o aumento no volume de resíduos sólidos gerados, além de ter seus padrões de consumo modificados ao longo deste percurso. No entanto, esta questão obteve maiores proporções com a crescente concentração de população nas cidades, a consequente urbanização, a verticalização das edificações nos grandes centros urbanos e, contraditoriamente, com o avanço das tecnologias e a modernização. Acerca deste tema, que pode ser compreendido em relação ao modo de produção capitalista, Fuscaldo (2001, p.15) argumenta que este sistema, [...]ao acelerar os processos de produção das mercadorias provocou uma intensificação do uso dos recursos naturais e a consequente ampliação da geração dos resíduos, oriundos tanto do próprio 1
processo de produção quanto do consumo final dos produtos, que passaram a ser ofertados em grandes quantidades e variedades pela produção industrial. Diante deste contexto de produção exacerbada, e consequente aumento nos padrões de consumo da sociedade do século XXI, fomos instigados à questionamentos sobre como é realizada a destinação dos resíduos sólidos nos condomínios verticais da área central de Londrina-PR. Fundamentados por esta idéia, o artigo que se segue pretende relatar um estudo acerca da prática da coleta seletiva de resíduos sólidos nos condomínios verticais situados na região central de Londrina. O objeto de estudo do trabalho são os condomínios residenciais situados na área central e a escolha deste local deriva da concentração que se observa quanto a este tipo de residência. Sendo assim, os limites dessa denominada região central, segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina IPPUL restringe-se ao polígono definido pelas seguintes linhas: Avenida Brasília ao norte, Avenida Dez de Dezembro à leste, Ribeirão Cambé ao sul, Avenida Maringá à oeste e Avenida Tiradentes à noroeste. Se faz necessário ainda diferenciar os conceitos atribuídos à lixo e à resíduos sólidos, visto que muitas pessoas confundem o significado dos mesmos e assim tornam-se equivocadas quando à exposição acerca da temática. Portanto, conforme definido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEMA (2008, p. 9) a palavra lixo, derivada do termo latim lix, significa cinza e é conceituado como sendo as sobras, ou os restos [...], atualmente o conceito de lixo significa tudo que não pode ser reaproveitado ou reciclado. Já quando nos referimos à resíduos sólidos, queremos dizer que é o que ainda pode ser utilizado, ou reaproveitado. Para isso, conforme a SEMA (2008, p. 9) os resíduos sólidos são materiais heterogêneos (inertes, minerais e orgânicos) resultante de atividades humanas e da natureza, os quais podem ser parcialmente ou totalmente utilizados, gerando entre outros aspectos, proteção à saúde pública e economia dos recursos naturais. O trabalho foi elaborado com base no conhecimento das pessoas que estão incluídas no processo interno de coleta seletiva realizada nos condomínios. Através do questionário 2
aplicado a estas pessoas será possível compreender a situação em que se encontram os condomínios residenciais quanto à colaboração para o sistema de reciclagem de resíduos sólidos no cenário de coleta seletiva no município de Londrina-PR. Portanto, analisaremos como se encontra a realidade atual da coleta seletiva nos condomínios e se há iniciativas e atuações no que diz respeito à separação dos resíduos sólidos nestes locais. A princípio o artigo apontará os objetivos primordiais do trabalho, que consistem em demonstrar o processo de separação e coleta dos resíduos sólidos. Em sequencia, as metodologias adotadas apresentam fundamentações teóricas, elaboração e a aplicação de questionários. Já os resultados preliminares colocam em pauta as análises sobre os dados coletados e devidas considerações a respeito do que foi possível notar a partir de sua organização. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é realizar um estudo do cenário atual da coleta seletiva nos condomínios residenciais da região central do município de Londrina-PR. Através de um trabalho empírico, buscamos identificar quais condomínios realizam efetivamente a coleta seletiva, assim como os que realizam parcialmente e os que não realizam, apresentando, no caso destes últimos, os motivos pelos quais não é feita esta prática. Objetiva-se ainda mostrar de que maneira ocorreu o esclarecimento dos moradores nos condomínios onde se realiza a coleta seletiva e os procedimentos básicos de separação dos resíduos. METODOLOGIA A metodologia da pesquisa baseou-se primeiramente em uma fundamentação teórica conseqüente de leituras acerca de temas relacionados, de modo geral, ao meio ambiente e mais precisamente sobre resíduos sólidos e a coleta seletiva. Em seguida, foi elaborado um questionário de maneira que pudéssemos entender claramente como está o atual cenário da coleta seletiva, com foco nos condomínios da região central da cidade de Londrina. 3
Nesse sentido, aplicamos trinta questionários e, por intermédio dos mesmos, foi possível fazer diversas análises e considerações sobre o território escolhido para o estudo. Além disso, no momento da aplicação dos questionários, feitos individualmente, houve a oportunidade de conversas, nas quais, tiveram um caráter somatório as informações contidas nos mesmo. Por fim, elaboramos uma tabela contendo os dados dos questionários de forma organizada e sistematizada. RESULTADOS A pesquisa buscou analisar e diagnosticar a problemática relacionada aos resíduos sólidos urbanos, como também elucidar parcialmente a funcionalidade da coleta seletiva. Partimos do pressuposto que os resíduos sólidos são importante objeto de estudo devido às consequencias maléficas ao meio social e ambiental que o seu manejo incorreto acarreta, além disso, com as transformações nos modelos de produção houve um aumento significativo, na quantidade e características dos resíduos gerados, nas ultimas décadas. Após a pesquisa realizada em campo, por meio dos questionários aplicados e as conversas com os entrevistados, podemos constatar elementos fundamentais para a interpretação da realidade em foco. Na maioria dos casos obtivemos as respostas das indagações do questionário por intermédio de porteiros(as)/zeladores(as) e, em alguns, de síndicos. A aplicação de trinta questionários ofereceu, em números, o total de 1.371 apartamentos onde residem aproximadamente 3.696 moradores, com a produção estimada em 371 sacos de resíduos sólidos recicláveis por semana, como mostra a tabela a seguir: Tabela Relação de condomínios entrevistados 4
Condomínio Número de apartamentos Pessoas por condomínio 1 36 120 2 24 60 3 112 250 4 48 100 5 30 150 6 20 40 7 40 75 8 75 22 9 15 40 10 12 40 11 17 40 12 44 130 13 225 550 14 50 105 15 31 70 16 40 220 17 16 40 18 30 65 19 44 176 20 48 110 21 22 55 22 76 300 23 14 50 24 32 96 25 62 186 26 58 174 27 60 180 28 24 72 29 48 130 30 18 50 Total 1371 3696 Fonte: pesquisa in loco Foi possível observar ainda que a relação de resíduos sólidos por número de apartamento não acontece de forma proporcional, visto que há condomínios com número reduzido de apartamentos, porém geram uma quantidade grande destes resíduos (ver gráfico a seguir). Em contrapartida há condomínios com um número relativamente elevado de apartamentos que não geram quantidades elevadas de resíduos sólidos. Sendo assim, é possível considerar que a proporção de resíduos sólidos gerados não se fundamenta em relação ao número de apartamentos no condomínio, cabendo a proposição de que esta proporção seja de acordo com o poder aquisitivo de seus moradores, além de outros aspectos ligados ao modo de entender as consequencias danosas que a não destinação devida possa trazer consigo. 5
Gráfico Proporção de números de apartamentos por resíduos sólidos/semana Fonte: pesquisa in loco Além disso, ao contabilizarmos o número de apartamentos, verificamos que 83,3% realizam a separação adequada dos resíduos sólidos produzidos, sendo que o restante com 16,7% não adotam a coleta seletiva, ou seja, destinam os resíduos sólidos e lixo no mesmo recipiciente. Neste caso, cabe esclarecer que consideramos, conforme a metodologia do programa de Londrina, a separação adequada como aquela em que os resíduos passíveis de reciclagem são embalados em saco verde e o que não pode ser reaproveitado/reciclado em saco preto, assim como ilustra a foto a seguir referente ao local de armazenamento de um dos condomínios visitados: Foto - Local de armazenamento 6
Fonte: Agnaldo Nascimento Sabemos que o processo de reciclagem não se conclui nesta ação, para tanto reciclagem é o resultado de uma série de atividades através da qual materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são desviados para serem utilizados como matéria prima na manufatura de bens, feitos anteriormente apenas com matéria-prima virgem. (JARDIM, 1996, p.129). Predominantemente a ONG (Centro de Educação Ambiental CEA), é responsável pela coleta de 70% dos resíduos sólidos produzidos pelos moradores e 6,6% por catadores não identificados pelos entrevistados. Segundo esta minoria percentual citada, que antes estavam vinculadas a coleta da ONG, optaram por outros catadores pela pouca frequencia de coleta da mesma. Os restantes 23,4% dos condôminos justificaram a não realização da coleta seletiva, por vários motivos, dentre eles: a não colaboração dos moradores, espaço insuficiente para armazenar os materiais citados etc. Todavia, constata-se que a frequencia de recolhimento destes materiais pela ONG, ocorre em média duas vezes por semana, demonstrando contradições quanto aos argumentos feitos por esses condomínios que não fazem a separação devida. 7
Ao referirmos sobre quais as medidas adotadas pelos responsáveis à implementação da coleta seletiva, apuramos que na maioria dos casos foi colocado em edital orientações sobre a separação dos resíduos para os moradores após reuniões de condomínio, enquanto que numa pequena parcela ocorreu a sugestão através de funcionários. Por fim, consideramos que a coleta seletiva que é realizada nos condomínios residenciais questionados na região central do município de Londrina, pode não ser a melhor forma de gerenciamento, embora relevante. Desse modo, se faz necessário um eficiente esclarecimento à população, para que haja uma mudança efetiva em longo prazo, sendo imprescindível a atuação dos órgãos públicos aliada aos envolvidos no processo, tanto fundamentando-se em legislação especifica, quanto praticando a fiscalização adequada. BIBLIOGRAFIA CEMPRE. Pesquisa Ciclosoft 1999 [on line]. Disponivel em < http://www.cempre.org.br>. Acesso em 18 jun 2010. FUSCALDO, Wladimir Cesar. Resíduos sólidos: práticas e conceitos. Um estudo a partir da experiência de Londrina - Paraná. 2001. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE LONDRINA. Disponível em: <www.ippul.pr.org.br>. Acesso em 2 jun 2010. JARDIM, Nilza (coord.). Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo: IPT,1996. Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEMA. Desperdício Zero. Curitiba: 2008. 8
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