A MEMÓRIA COMO UM NEGÓCIO? UM ESTUDO SOBRE EMPRESAS PRODUTORAS DE HISTÓRIA EMPRESARIAL



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Transcrição:

A MEMÓRIA COMO UM NEGÓCIO? UM ESTUDO SOBRE EMPRESAS PRODUTORAS DE HISTÓRIA EMPRESARIAL Aluno: Felipe Costa Carvalho Orientadora: Profa. Dr. Alessandra de Sá Mello da Costa Departamento: CCS Administração 1. Introdução Nas ultimas três décadas, o interesse pelos estudo da História, Memória e Empresas vem se intensificando cada vez mais tanto no ambito acadêmico (COSTA e SARAIVA, 2012; ROWLINSON et al 2010) quanto no próprio âmbito empresarial (WORKMAN, 2004). O interesse de instituições e do publico geral também se multiplicam na mesma proporção em que cresce o número de entidades empresas, associações, comunidades preocupadas com suas memórias (ALBERTI, 1996, p.1). Assim, pode-se dizer que A partir da percepção da memória como um instrumento de poder e de constituição de identidade, podemos compreender melhor como temáticas, antes destinadas a debates acadêmicos e elucubrações filosóficas passaram a ocupar espaços em instituições empresariais (ANDREONI, RENATA 2011, p.173). Um exemplo prático disto é a existência de empresas multinacionais como Petrobrás, Klabin, Organizações Globo, Bosh que já possuem algum tipo de demonstração de sua História empresarial. E ainda, como pano de fundo, repousa a necessidade das empresas em utilizar toda reconstrução da memória em sua estratégia, o que também é muito estudada na administração (ROWLINSON et. al 2010). Na maioria das vezes tais iniciativas, alteram de diversas formas, a relação da empresa com seus públicos externos e internos proporcionando um novo e controlado diálogo com a sociedade. O que pode ser muito favorável, mas também manipulador em algumas ocasiões. Devemos ressaltar que, apesar das principais organizações buscarem cada vez mais o resgate estratégico da sua história e memória empresarial, o agrupamento e criação de dados e informações para realizar um estudo completo não são feitos internamente mas sim são feitos por outras empresas especializadas no assunto (ALBERTI, 1996). Isso ocorre em parte porque a reinterpretação do passado é contido por uma exigência de credibilidade que depende da coerência dos discursos sucessivos (POLLAK, 1989, p.8) e por isso, a prestação desse serviço por empresas especializadas e não relacionadas com a empresa produtora adquire tal importância. Como exemplo da confiabilidade das empresas fornecedoras deste tipo de memória, Alberti (1996, p.3) explica que a marca do CPDOC (uma destas empresas) representa, no mercado das memórias, um crivo acadêmico: as empresas, comunidades e instituições que o contratam o fazem porque pretendem imprimir uma fidedignidade histórica aos produtos oferecidos. E ainda assim deve-se lembrar que o controle da memória se estende aqui a escolha de testemunhas autorizadas (...) efetuando nas organizações mais formais pelo acaso dos pesquisadores aos arquivos (POLLAK, 1989, p10). Contudo, deve-se entender que para cada empresa existe uma forma adequada de apresentação de acordo com fatores econômicos e estratégicos a serem analisados. Desta forma, é preciso refletir também sobre os diferentes níveis ou forma de organizar com que uma empresa pode resgatar sua História e Memória. Não apenas representados por grandes empresas e seus Centros de Memórias, mas sim, entendendo novas formas de representação como em websites, datas comemorativas, História oral e outras. 1

E é neste sentido que o trabalho foi dividido em duas partes: a primeira parte busca responder as perguntas: quem são as principais empresas produtoras de memórias empresariais no Brasil? E quais empresas fornecem o serviço da construção da Memória? A segunda, busca problematizar esse processo como estratégico e legitimador tanto da trajetória histórica quanto das práticas de gestão da organização que adquire esse serviço. 2. Referencial Teórico O referencial teórico irá abordar os conceitos de memória, memória empresarial, Quem são os fornecedores deste serviço de construção da memória e também os tipos de produtos de memória empresarial. 2.1 Memória e História Nesta pesquisa, iremos assumir a definição de memória como: a compreensão do passado para viver o presente e preparar o futuro (HAMON, 1995). De forma complementar, Le Goff (1990, p.423) diz que a memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas. Assim, mais uma vez temos que a memória é um fenômeno criado pela sociedade no passado e que pode ser relembrado no presente. Segundo Pollak (1989), a memória é um fenômeno construído socialmente e são duas as suas funções essenciais: a) manter a coesão interna; e b) defender as fronteiras daquilo que um grupo tem em comum. Em função dessa condição, transforma-se tanto em um quadro de referência quanto em pontos de referência por meio da identificação e do compartilhamento de significados, ou seja, em uma memória estruturada com suas hierarquias e classificações, uma memória (...) ao definir o que é comum a um grupo e o que o diferencia dos outros, fundamenta e reforça os sentimentos de pertencimento e as fronteiras sócio-culturais (POLLAK, 1989, p.3). Outra questão também muito discutida e analisada nos últimos anos é a forma com que a manipulação consciente ou não por certos indivíduos ou empresas afetam a memória individual e coletiva. Deste modo, a memória foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornaremse senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva Le Goff (1977, p.35). Este pensamento nos mostra essa corrida cada vez mais competitiva pela construção de uma memória e resgate da história. E também nos remete a outra discussão que seria o poder envolvido neste processo. Segundo Le Goff (1992), a memória é um elemento essencial na constituição da identidade individual, coletiva e institucional. Não se pode esquecer, no entanto, que a memória não é apenas uma conquista de indivíduos ou coletividades, é também um instrumento e um objeto de poder. O que no mundo empresarial pode surgir como um viés estratégico a ser analisado. Assim, pode-se dizer que nenhuma história que possamos remeter do passado pode ser tomada como totalmente legítima. Logo, tal como ocorre na história, a memória pode ser entendida como uma construção provisória e mutável (NEVES, 2009). Por possuir uma condição modificadora - uma vez que vincula o conhecimento do passado com as perspectivas do presente - a memória, quando formalizada, torna possível uma (re)elaboração do mundo, transformando e sustentando realidades existentes (RICOUER, 2007). 2

Outra tese muito discutida principalmente por CANDEAU (1998), diz que a busca pela memória é uma forma de compensação da sociedade pós-moderna para contrapor a aceleração do tempo. Por tanto, este autor considera que a memória serve como uma espécie de nutrição da identidade, ele ainda argumenta que é através da memória que as identidades coletivas são fundadas. O que nos remete a dizer que a memória é cada vez mais fundamental em um mundo de profunda mutação. E, nesse contexto, a memória passa a ser crucial porque permite atribuir sentidos à realidade em meio à dispersão à pluralidade (RIBEIRO e BARBOSA, 2007). Para concluir, WORCMAN (2004), p.28 diz que: memória empresarial não é apenas um passado de uma empresa. Memória empresarial é, principalmente, o uso empresarial que uma organização faz de sua história. Acredito que a memória e História constituem um manancial de possibilidades para que a empresa interaja com a sociedade tanto a que a constitui como a que a rodeia. 2.2 Memória Empresarial: Empresas Produtoras e Empresas Fornecedoras. As primeiras tentativas de criação de arquivos empresariais históricos surgiram na Europa, ainda nos primeiros anos do século 20. Empresas alemãs, como Krupp e a Siemens, estão entre as pioneiras na criação de serviços de arquivo de caráter histórico, em 1905 e 1907, respectivamente (TOTINI e GAGETE, 2004). E após este começo, foi só na década de 1940 e 1950 nas escolas norte americanas que o viés de análise mudava o foco, ultrapassando o estudo das empresas no panorama econômico geral para enfatizar os processos internos de mudança organizacional em relação a competição tecnológica e mercadológica (TOTINI e GAGETE, p.114). E que assim começava-se a busca para se criar a História e Memória institucional. Mas, foi só na década de 1970 que começaram a ser criados, na estrutura organizacional das empresas, cargos estratégicos de historiadores arquivistas que ficavam responsáveis não só pela preservação, mas também pela exploração dos acervos valorizando o potencial analítico da historia da empresa para empresa (TOTINI e GAGETE, 2004. p.115). Assim, a sociedade atual observa a emergência dos estudos sobre memória de instituições e acontecimentos a partir da década de 1980, com os processos de democratização e lutas por direitos humanos e à expansão e fortalecimento das esferas públicas da sociedade civil. Esse cenário se refletiu no ambiente organizacional, que passou a sofrer maiores pressões dos públicos, mais diversificados e conscientes de seus direitos em razão do aumento da circulação de informações (NASSAR, 2007. P.11). Foi então, que na mesma década o mercado começou a precisar de empresas que prestassem o serviço de reconstruir a memória empresarial. No contexto da contemporaneidade, os projetos de memória institucional parecem advir de uma consciência, cada vez mais crescente, da existência de representações fragmentadas, múltiplas e muitas vezes conflituosas do passado. Espelham, assim, um esforço das empresas para fazer de uma determinada versão a base da identidade da instituição e também um elemento importante do seu reconhecimento e legitimação. É como se houvesse, por parte das empresas, o desejo de conter a polissemia da sua imagem e representação (Ribeiro, Barbosa, 2005). Um exemplo disso é o caso do CPDOC: não há duvida de que sua marca representa, no mercado das memórias, um crivo acadêmico: as empresas, comunidades e instituições que o contratam o fazem porque pretendem imprimir uma fidedignidade histórica aos produtos oferecidos. Esse raciocínio tem fundamento, porque o CPDOC sempre se preocupou com a formação acadêmica de seus pesquisadores (Alberti, Verena, 1996, P.3). 3

Assim, podemos agora diferenciar as empresas fornecedoras de História e Memória como Petrobrás, Klabin e outras, daquelas que fornecem o serviço de construção e entendimento de dados e informações para a criação destes acervos como o CPDOC. 2.3 Os tipos de produtos de memória empresarial Antes de denominarmos os tipos de acervos, Totini e Gagete (2004), dividiram sete tipos diferentes de produtos de memória empresarial. Entre eles estão: Livro Histórico Institucional Outras publicações Institucionais, Vídeos e CD-ROM Relatórios Internos Conteúdos para Internet / Intranet Showroom / Museu empresarial Exposições e Produtos de Suporte Centros de Memória e Documentação É uma publicação gráfica que contempla os pontos mais importantes da História e Memória além de suas interrelações com o contexto histórico da Organização. Nestes casos, podem constar Biografias, históricos de produtos, linhas de serviços,depoimentos e estudos específicos. Semelhantes aos já descritos acima, porém destinado ao publico interno. São mais consistentes que apenas tradicionais linhas do tempo. Meio físico que pode transformar-se em importantes interfaces com a comunidade, mostrando tradição e a História e Memória da empresa. São produtos de pesquisa que podem a vir a oferecer suporte em diversas áreas que necessitam de instrumentos de divulgação ou reforço. Constituem-se como setores responsáveis pela definição e aplicação de uma politica sistemática de resgate, avaliação, tratamento técnico e divulgação de acervos, principalmente, pelos serviços de disseminação do conhecimento acumulado pela empresa e de fontes de interesse histórico (TOTINI e GAGETE, 2004, p125). As denominações Centro de Documentação e Memória, ou qualquer outra forma de ser atribuída ao setor podem variar de acordo com os objetivos estratégicos, as linhas de acervo ou ainda a aplicabilidade de seu potencial. (TOTINI e GAGETE, 2004, p125) Estes centros podem compartilhar diferentes conjuntos documentais como na tabela a baixo: 4

Audiovisual/ Videoteca Bibliográfico Cultura Material Museológico Coleções Banco de Depoimentos Textual Permanente Referência Fotográfico 3. Metodologia Para construção de um corpo de dados foi utilizado uma pesquisa exploratória documental, ou seja, as fontes que as constituem são documentos e não apenas livros publicados e artigos científicos divulgados (VERGARA, 2013). Esta pesquisa foi dividida em quatro passos conforme descritos a seguir. O primeiro foi encontrar empresas envolvidas com a criação de centros de memória já pesquisadas por autores como Alberti (1996), Workman (2004), Gagete e \Totini (2004) entre outros; Nesta etapa, as empresas como Klabin, Odebrecht, Ambev, Bosh do Brasil, Bunge, Vale, Petrobrás, Gerdau, Globo e Eletrobrás foram as 10 empresas mais citadas nos textos dessas autoras por já apresentarem grandes avanços em termos de produção de memória empresarial. O segundo passo, foi identificar por meio de palavras chaves como: memória empresarial, Centro de memória e documentação, memória e História, memória do futuro, memória como um negócio e vender história? em websites através de sites de pesquisa como o google.com para que fossem identificadas mais instituições produtoras de memória. Nesta etapa da pesquisa, foram encontradas novas 25 empresas de grande expressão como: São Paulo Futebol Clube, Unimed, Volkswagen do Brasil, Sadia, Nestlé, Embraer, Dupont, Bradesco, Itaú até que elas começaram a se repetir, o que indicou certa saturação e esta fase da pesquisa foi finalizada. Após este passo, as empresas encontradas anteriormente foram classificadas pelo setor de atuação como os de Papel e celulose, Construção e infraestrutura, Transportes, Alimentos e Bebidas, Cosméticos, Tecnologia, Financeiras (banco), Agronegócio, entre outros. Este processo nos permitiu procurar suas concorrentes dentro destes mesmos setores. Um exemplo do setor energético deve-se a Eletrobrás, Furnas e Cemig. Por último, após consolidarmos 45empresas na base, foram identificadas as empresas que fornecem o serviço de construção da memória empresarial e a partir destes fornecedores, identificamos outros clientes totalizando 64 (Apêndice um) empresas pesquisadas. Vale lembrar que todos estes dados coletados foram documentados em três diferentes planilhas de Excel. A primeira delas contem todas as 64 empresas contendo o Nome, o Centro de Memória e seu ano de criação, o website e a empresa produtora deste serviço de documentação de memória. A segunda planilha fornece os mesmos dados, porém com a identificação do modo e nível em que a pesquisa sobre a memória está (centro de memórias, datas comemorativas e outras) (apêndice dois); neste caso foi 5

utilizado como base critérios de classificação de memoria feito Totini e Gagete. Já na ultima planilha temos apenas a listagem das empresas que fazem o serviço de criação de memória empresarial. Vale lembrar também, que todas as informações obtidas das empresas construtoras de Memória empresarial foram feitas através dos próprios sites de cada empresa. 4. Análise e considerações finais No decorrer deste um ano de pesquisa, um dos principais resultados analisados foi a identificação dos diferentes modos e níveis que uma empresa pode construir sua memória. Esta iniciativa surgiu não só com a leitura de autores como Totini e Gagete (2004), mas também pela necessidade e facilidade que estes conceitos trariam para que pudéssemos separar, analisar e comparar as empresas produtoras de Memória. Como será visto abaixo, dividimos em quatro diferentes modos que se diferem principalmente pela complexidade, tamanho, número de informações, nível financeiro, modo de exibição e viés estratégico. a) Centros de memórias e documentação Estes espaços possuem a forma mais completa da construção de uma memoria empresarial. Com uma estrutura física considerável, normalmente comparada a um Museu, também tem uma extensa pesquisa de sua Memória e História empresarial apresentando inúmeras informações aos visitantes. Na maioria das vezes necessitam de grandes investimentos, são produzidos por grandes empresas especializadas (com historiadores conceituados) e tem um viés estratégico muito realçado, pois trazem uma visão muito bem elaborada da empresa para seus clientes. Da mesma forma, estes centros podem ser classificados como uma mistura de um showroom Histórico / Museu Histórico e também de Centros de Documentação e Memória como explicitam as autoras Totini e Gagete 2004. Elas enfatizam que este modo de apresentação não só demonstram tradição do empreendimento como podem refletir aspectos relevantes do desenvolvimento de sua área de atuação, em relação à tecnologia, design, marketing ou processos administrativos, entre outros. Além disso, estes estabelecimentos podem se transformar em um importante diferencial competitivo de uma organização na medida em que oferecem, com agilidade e rapidez informações pontuais e retrospectivas necessárias a gestão de negócios (TOTINI e GAGETE, 2004). b) Exposições completas Em um nível abaixo ou menos complexos que os centros de memórias e documentação, estas exposições são criadas normalmente compartilhando espaços com outras exposições em grandes museus e estabelecimentos. Além disto, em sua maioria são exposições temporárias que tem um publico 6

especifico. Seu viés estratégico pode ser tão grande quanto os centros de memória, porém não oferecem o mesmo impacto ou número de informações que o mesmo. Como vantagem, este modo é mais econômico financeiramente em relação ao primeiro apresentado, apesar de ainda terem que contratar historiadores e empresas que possam construir e sintetizar todos os dados da organização. Para Totini e Gagete (2004), este modo é denominado Exposições e Produtos de Suporte. Podem abranger também pequenas publicações como folders e revistas internas-, à produção ou complemento de apresentações, palestras, textos para relatórios anuais, perfis e relatórios de responsabilidade corporativa. c) Datas comemorativas e linha do tempo Normalmente não são muito extensas e podem ser publicadas no site da empresa ou até mesmo em grandes exposições. Em contraposição, empresas de grande porte e com muitos anos no mercado tendem a usar esta forma para explorar de forma estratégica seus objetivos e produzir grandes estudos sobre sua história; Elas podem realizar eventos, promoções, e principalmente fazer com que o cliente tenha um maior conhecimento da empresa. Vale lembrar que este modo de reproduzir a Memoria e Historia de uma organização pode estar presente também em outras formas de representação como nos dois modos acima já descritos (Exposições completas e Centros de memória e documentação). Totini e Gagete (2004) incluem esta forma de representação em Conteúdos para Internet / Intranet e também em Livros Históricos-Institucional. d) Breve História descritiva da empresa. Esta é a forma mais simples de representar a História e Memória de uma empresa. Em geral, todas as empresas a utilizam, desde as de grande a pequeno porte; Uma questão que deve ser levantada é que algumas organizações utilizam apenas e exclusivamente esta forma de representação, o que é muito pouco para que se diga que foi feito um estudo sobre história e memória. Em sua maioria é apenas uma descrição das ambições e conquistas da empresa. Tem um baixo viés estratégico e pode não ser elaborada por pesquisadores especializados. Entre estas quatro opções descritas acima, uma ou mais podem ser realizadas e exploradas por uma organização. Para empresas de grande porte, Centros de memórias e documentação e Exposições completas devem ser níveis de representação a serem atingidos. Isto se deve ao fato de que estas empresas têm um maior numero de stakeholders e clientes, e que estes necessitam, cada vez mais, no mundo contemporâneo saber e obter informações detalhadas do passado e do presente da empresa com que trabalham ou se relacionam. Outra questão que faz com que estas empresas precisam atingir este nível de representação de sua Memória e História é a constante melhora da comunicação interna e externa e solidificação da cultura e identidade empresarial. Já para empresas de pequeno porte, como microempresas familiares, uma Breve História descritiva da empresa já pode ser o suficiente uma vez que seus clientes e colaboradores já conhecem o suficiente a empresa. Devemos destacar também que estes modos de representação podem ter diferentes fins estratégicos de acordo com o momento da empresa. Não importando o tamanho da mesma, uma linha do tempo ou uma data comemorativa de 10 anos da empresa pode servir para criar propagandas e promoções e atrair cada vez mais seus clientes. Como continuidade do presente trabalho, identificamos as empresas fornecedoras de memória. Uma consideração importante que merece destaque é a existência de apenas cinco empresas que fornecem o serviço de produção e pesquisa de memória empresarial. Todas as 64 empresas produtoras 7

de memórias utilizam apenas cinco fornecedoras e que todas estas fornecedoras estão situadas no Estado de São Paulo. São elas: Griffo, Tempo e Memória, Museu da Pessoa, CPDOC e o Núcleo de Memória Empresarial. Segue a baixo uma pequena descrição de cada um destes centros de pesquisa. a) Griffo No mercado há quase 30 anos, a Griffo é um escritório de projetos culturais e de memória empresarial. Atua na produção de centros de memória e arquivos históricos; monta exposições e museus; edita livros; conteúdo para internet... (GRIFFO, 2014). Seus trabalhos são focados na produção da memória da empresa contratante ou algum tema que se relacione com sua marca. A empresa é composta por uma equipe multidisciplinar, entre historiadores, museólogos, consultores empresariais, jornalistas e principalmente designers. Seus coordenadores são: Zuleika Alvim (Mestre em história social pela USP e fundadora da empresa), Silvana Goulart (Pós-graduada da USP) e Lygia Rodrigues (Historiadora da USP, Pós-graduada da PUC-SP e arqueóloga pela UFF-RJ). O grupo atende os diferentes tipos de resgate de memória e História de seus clientes como grandes e pequenas empresas e figuras importantes como o instituto Fernando Henrique Cardoso. b) Tempo e Memória A empresa foi fundada em 1988 no estado de São Paulo e desenvolve trabalho pioneiro na área de Memória Empresarial. A empresa trabalha com criações de Centro e Memória, criação de memoria para datas comemorativas e também museus de rua. Seu enfoque é para empresas. Segundo o website da empresa, O desenvolvimento da área de Memória Empresarial está ligado à valorização de conceitos como cidadania, transparência e responsabilidade social, missão e valores empresariais, bem como à necessidade de buscar e desenvolver novas ferramentas e suportes teóricos que possam complementar os conceitos da área de comunicação empresarial. Dessa forma, métodos e técnicas da História, da Sociologia, da Arquivologia e da Museologia somaram-se às teorias e práticas da Administração. (TEMPO e MEMÓRIA, 2004). A empresa tem a coordenação de Flávia Borges Pereira, historiadora, mestre em História Econômica pela FFLCH USP e professora do Curso de Especialização de Arquivos do Instituto de Estudos Brasileiro, da Universidade de São Paulo USP, e Ana Trevisan Serino, designer gráfica, formada pela FAAP em Artes Plásticas, diretora editorial e de arte O primeiro grande trabalho da T&M foi à realização da Criação do Centro de Documentação e Memória Klabin um ano após sua criação, em 1989. Durante esses 26 anos no mercado, a Tempo e Memória obteve inúmeros clientes de grande peso como: Bosch, Itaú, Klabin, Sadia, General Motors do Brasil, Dupont e outras. Também já ganhou inúmeros prêmios e conquistas pelo seu trabalho. c) Museu da Pessoa O Museu da Pessoa foi fundado em São Paulo, em 1991, com o objetivo de constituir uma Rede Internacional de Histórias de Vida. (MUSEU DA PESSOA, 2014a) Com programas nas áreas de memórias institucionais, educação, comunicação e desenvolvimento comunitário, o Museu da Pessoa já realizou cerca de 250 projetos de memória que visam multiplicar e democratizar sua metodologia e seu acervo de mais de 16 mil histórias de vida. (MUSEU DA PESSOA, 2014) 8

O Museu da Pessoa tem um foco diferente das outras empresas analisadas uma vez que ele divide sua atuação em quatro linhas, tendo a primeira em especial. i) Conte Sua História: Canais de registro, sistematização, preservação e divulgação de histórias de vida; Esta linha é direcionada para histórias individuais. ii) Museologia: Disseminação do conceito e da metodologia do Museu da Pessoa em escolas, comunidades, organizações e grupos de indivíduos; iii) Educativo: Disseminação do conceito e da metodologia do Museu da Pessoa em escolas, comunidades, organizações e grupos de indivíduos. iv) Memória Institucional: Registro, sistematização, preservação e divulgação de memória das organizações. d) CPDOC Nesta pesquisa estamos focados no ultimo tópico, memória empresarial, mas é um fato que a empresa tem um foco em contar as diferentes histórias e memórias tanto de pessoas anônimas quanto de famosas. O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) é a Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Criado em 1973, tem o objetivo de abrigar conjuntos documentais relevantes para a história recente do país, desenvolver pesquisas em sua área de atuação e promover cursos de graduação e pós-graduação (CPDOC, 2014) Seu foco de atuação é a construção de história e memoria de pessoas públicas do Brasil que totalizam mais de 1,8 milhões de documentos. Porém, também fornecem inúmeros estudos sobre história institucional de organizações brasileiras (principalmente instituições públicas). A empresa contava já nos anos 2000 com 12 doutores, 10 mestres (sete deles doutorandos), 3 mestrandos e apenas 3 graduados, sendo que esses três últimos tem mais de 10 anos de casa e portanto, são todos detentores de notório saber no que diz a respeito as praticas de trabalho da instituição (ALBERTI,1996, p.3). Seus principais clientes, como já dito, são empresas estatais como: Eletrobrás, Petrobras, Banco Central do Brasil,BNDES, IBGE, Senado Federal entre outras. E ainda empresas privadas como Klabin e Golden Cross. e) Núcleo de Memória Empresarial A empresa é coordenada por duas arquitetas Mônica Cecilia e Suzana Mara e o publicitário João El Helou que possuem um perfil mais comercial. Isto se deve ao fato de que a empresa não possui como base historiadores e pesquisadores e sim profissionais de outras áreas cuja tem um foco na melhoria da comunicação de seus clientes, reforçar vínculos emocionais entre empresa e cliente, incrementar autoestima. Já realizou pesquisas para grandes empresas como Petrobras, Johnson & Johnson, Itaú, Avon, BankBoston entre outros. Tem seu ponto forte na criação de mídias digitais, permitindo download, impressão do material estocado e acesso a todo conteúdo no meio de ferramenta de busca. Trabalham com mais quatro linhas como criação de campanhas publicitárias (internas e externas), Exposições, eventos e publicações (livros, cartilhas, almanaque). 9

Outra questão a ser abordada é a constante troca destes clientes para com as empresas criadoras de memória e também a diferença da forma como trabalham. Pode-se dizer que para cada modo que uma instituição deseja reconstruir, mostrar ao publico ou para seus funcionários internos sua Memória e História, temos uma empresa mais apropriada entre as citadas acima. Como exemplo, o Museu da Pessoa tem uma filosofia menos empresarial e mais preocupada com o lado pessoal de cada funcionário da empresa, o que pode ser muito bem utilizado para uma melhor comunicação interna e enriquecimento da cultura organizacional. Logo, temos o CPDOC que tem como especialização o estudo da história do Brasil e como consequência de empresas estatais, o que leva a um viés totalmente especializado para um grupo de clientes e stakeholders; Historiadores do CPDOC são especializados em estudos de acontecimentos econômicos e culturais no Brasil o que pode ajudar nesta reconstrução da Memória Empresarial. Já a empresa Núcleo de Memória Empresarial, tem uma vertente mais comercial, pois são direcionados ao desenvolvimento de propagandas, promoções além de possuírem em seu corpo empresarial um perfil de profissionais direcionado ao mercado. Empresas que desejam utilizar sua História para realizar propagandas, promoções, e acolhimento de clientes devem se familiarizar com este grupo, pois não é por menos que seus idealizadores e pesquisadores são formados em publicidade. Por ultimo, temos as duas empresas focadas no mercado e na criação de Centros de memória empresarial que englobam a Griffo e o Tempo e Memória. 5. Considerações finais A presente pesquisa alcançou em parte os seus objetivos, conseguindo identificar mais de 64 organizações produtoras de História empresarial no Brasil. A problematização da produção de Histórias e Memórias empresariais como estratégico e legitimador foram discutidas por diferentes autores nacionais e internacionais, o que justifica a importância deste tema na atual conjuntura vivida por nossa sociedade e principalmente na administração. A identificação desse debate, entretanto, não foi estudado por esta pesquisa em toda a sua potencialidade, devendo ser ampliada em estudos futuros. Outras grandes discussões foram surgindo para que estas empresas fossem encontradas como, por exemplo, a identificação das cinco maiores empresas que fornecem o serviço de produção de Memória e Historia no Brasil. Além disso, concluímos que cada uma destas cinco empresas possuem diferentes perfis, o que nos ajudou a entender o porque cada uma destas 64 organizações produtoras de memória permutavam entre elas. O estudo da História e Memória vem a cada dia sendo um dos meios pelos quais as organizações estão recorrendo para melhorar suas estratégias para com todos seus colaboradores e clientes. Pode-se concluir também, que essa reconstrução da memória juntamente com sua legitimação através de empresas produtoras renomadas, pode ajudar indiretamente inúmeros objetivos das empresas contratantes destes serviços. Isso vem como consequência da melhora da cultura e identidade da empresa, assim como também a melhora constante de sua estratégia e relação com seus clientes e colaboradores. Assim, mais uma vez devemos destacar a importância que o estudo da História e Memoria é essencial para qualquer tipo, tamanho ou setor de empresa no mundo. Não há empresa que possa negar sua necessidade para diversos fins como estratégicos, de comunicação interna e outros. Outra grande contribuição que este trabalho pode oferecer é a discussão sobre poder, memória e credibilidade. Considerando que os Centros de Memória não são desenvolvidos pelas empresas fornecedoras e sim por produtoras deste serviço de reconstrução, a relação de poder pode ser assimétrica, tirando algumas das vezes a autonomia dessas empresas produtoras de desenvolver seu trabalho. Este fato, ou seja, a relação de fornecedor x cliente, pode muitas vezes comprometer o estudo e retirar alguma credibilidade do mesmo. 10

6. Referências ALBERTI, V. Vender História? A posição do CPDOC no mercado das memórias. Rio de Janeiro: CPDOC, 1996. COSTA, A.M.; SARAIVA, L. A. S. Memória e formalização social do passado nas organizações. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.45, n.6, p.1761-1780, 2011. CPDOC.Apresentação. (http://cpdoc.fgv.br/sobre. Acesso em 20. Julho 2014) GRIFFO. Sobre nós. (Disponível em: <http://www.grifoprojetos.com.br/main.html>. Acesso em: 20. Julho 2014.). HUYSSEN, A. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora; Universidade Cândido Mendes; Museu de Arte Moderna, 2000. LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Unicamp, 1992. MUSEU DA PESSOA. História. (http://www.museudapessoa.net/pt/entenda/historia. Acesso em 20. Julho 2014). NORA, P. Reasons for the Current Upsurge in Memory. In: Olick, J.K.; Vinitzky-Seroussi, V.; Levy, D. The Collective Memory Reader. Oxford University Press, 2011. NORA, P. Les lieux de mémoire. Paris: Gallimard, 1984. POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, 2(3): 3-15, 1989. RICOEUR, P. A Memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: UNICAMP, 2007. ROWLINSON, M., BOOTH, C., CLARK, P., DELAHAYE, A. & Procter, S. Social Remembering and Organizational Memory. Organization Studies, 31(1): 69-87, 2010. RIBEIRO, A.P.G.; BARBOSA, M.. Memória, relatos autobiográficos e identidade institucional. Comunicação e Sociedade, 47: 99-114, 2007. RIBEIRO,GOULART. A.P.; LERNER, Katia. Memória e indentidade em relatos biográficos. In: HERSCHMANN, Micael; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder (orgs). Mídia, memória e celebridades: estratégias narrativas em contexto de alta visibilidade. Rio de Janeiro: E-Papers, 2003. p. 189-205. TOTINI, B.; GAGETE, E. Memória Empresarial: uma análise de sua evolução. In: Memória de Empresa. NASSAR, P. (Org). São Paulo: Aberje. pp.113-126, 2004. TEMPO e MEMÓRIA. Nossa equipe (http://www.tempoememoria.com.br/site/a-tempo-ememoria/equipe.html. Acesso em 20. Julho 2014) 11

VERMEULEN, P.; Craps, S.; Crownshaw, R.; Graef, O.; Huyssen, A.; Liska, V. & Miller, D. Dispersal and Redemption: the future dynamics of memory studies - A roundtable. Memory Studies, 5(2): 223-239,2012. WORCMAN, K. Memória do Futuro: um desafio. In: Memória de Empresa. Nassar, P. (Org). São Paulo: Aberje. pp.23-30, 2004. 12

Apêndice 1: Relação das 64 empresas pesquisadas que possuem algum tipo de estudo sobre sua História e memória 13

Apêndice 2: Relação das 64 empresas pesquisadas que possuem algum tipo de estudo sobre sua História e memória já com a denominação de que tipo de estudo é este. 14