UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ANDREA CRISTINA FILATRO Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o Design Instrucional Contextualizado São Paulo 2008
ANDREA CRISTINA FILATRO Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o Design Instrucional Contextualizado Tese apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Educação. Área de concentração: Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares Orientadora: Profa. Dra. Stela Conceição Bertholo Piconez São Paulo 2008
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na Publicação Serviço de Documentação Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Filatro, Andrea. Learning Design: Fundamentos Teórico- Práticos para o Design Instrucional Contextualizado / Andrea Filatro ; orientadora: Stela Conceição Bertholo Piconez. São Paulo, 2008. XXX f. : fig; Tese (Doutorado Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de Concentração: Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares) Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
FOLHA DE APROVAÇÃO Andrea Filatro Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o Design Instrucional Contextualizado Tese apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Educação Área de concentração: Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares Aprovada em: Banca Examinadora Prof. Dr.: Instituição: Assinatura: Prof. Dr.: Instituição: Assinatura: Prof. Dr.: Instituição: Assinatura: Prof. Dr.: Instituição: Assinatura: Prof. Dr.: Instituição: Assinatura:
DEDICATÓRIA A todos os que acreditam no potencial da educação. A Stela, que mais uma vez acreditou em mim. Aos meus pais.
AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Stela Conceição Bertholo Piconez, pela oportunidade de prosseguir na pós-graduação da Faculdade de Educação da USP, pela generosidade em compartilhar a obra realizada no NEA e pela orientação de superior gabarito acadêmico, temperada por uma profícua interlocução pés-no-chão. Aos Profs. Drs. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, César Augusto Amaral Nunes e Vani Moreira Kenski, membros da banca de qualificação, agradeço as contribuições únicas para o aprimoramento desta investigação. Ao Prof. Dr. Fredric Michael Litto, devo o convite para participar do Projeto Tidia-Ae, através do Laboratório de Desenvolvimento da Escola do Futuro da USP. Ao Prof. César Augusto Amaral Nunes, meu reconhecimento pela a abertura de portas às discussões globais sobre Learning Design, padrões de interoperabilidade e especificações universais. Presto um agradecimento especial ao colega de pesquisa Rogério Boaretto, pela disposição em compartilhar as indagações teórico-práticas sobre Learning Design no âmbito do Tidia-Ae. À comunidade uspiana, meus agradecimentos se dirigem aos participantes do Grupo Alpha, aos orientandos da Profa. Stela Conceição Bertholo Piconez e aos colegas da Faculdade de Educação e de outras unidades da Universidade que foram caixa de ressonância durante o desenvolvimento da pesquisa. A ampliação de minha perspectiva sobre o design instrucional contextualizado não teria sido possível sem a contribuição de dezenas de leitores que nos trouxeram novos questionamentos à leitura da dissertação de mestrado publicada no formato de livro pela Editora Senac São Paulo, em 2004. Devo a cada um deles e à casa publicadora os créditos pelas sementes lançadas.
RESUMO FILATRO, A. Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o Design Instrucional Contextualizado. 420 f; Tese (Doutorado) Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Esta pesquisa investiga a adequação da abordagem de Learning Design como fundamentação teórico-prática para a contextualização do design instrucional. Partindo da premissa de que o aprendizado eletrônico é um fenômeno multidimensional, a pesquisa analisa as dimensões pedagógica, semântica, tecnológica, do aluno e organizacional, que correspondem aos interesses das diferentes comunidades envolvidas professores e especialistas em educação, pesquisadores, especialistas em tecnologia, alunos e gestores. Utilizando a abordagem qualitativa de pesquisa e a perspectiva teórico-descritiva, os fundamentos teórico-práticos do Learning Design são cotejados com o estudo de caso do STEA Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem, desenvolvido no âmbito do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e Formação Permanente de Professores (NEA) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). O caso contempla todos os processos do sistema de aprendizado eletrônico do planejamento, design, implementação, execução e avaliação, até a formação e a atualização continuada de professores em serviço, abrangendo também a produção de materiais didáticos e ações complementares de pesquisa acadêmica, sob a perspectiva contextualizada do design instrucional. A pesquisa resultou na confirmação do Learning Design como fundamentação teórica para o design instrucional contextualizado, destacando-se que sua implementação nas práticas pedagógicas nacionais depende do aprimoramento das ferramentas de autoria, instanciação e execução de atividades de aprendizagem, para incorporar características da Web 2.0 e possibilitar a difusão do E-learning 2.0 como inovação no aprendizado eletrônico. Palavras-chave: aprendizado eletrônico, e-learning, educação a distância, educação de jovens e adultos, design instrucional, Learning Design, IMS Learning Design, Web 2.0, E-learning 2.0
ABSTRACT FILATRO, A. Learning Design as theoretical-practical framework for Contextualized Instrucional Design. 420 f; Thesis (Doctoral) Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. This research investigates if Learning Design approach can be seen a theoreticalpractical framework for contextualized instructional design. Based on e-learning as a multidimensional phenomenon, the research analyzes the pedagogical, semantic, technological, student and organizational dimensions, in correspondence to the interests of different e-learning communities teachers and educational specialists, researchers, technology specialists, students and managers. Using qualitative approach and theoretician-descriptive perspective, the theoretical and practical framework of Learning Design are confronted to STEA case study, a transversal system for teaching and learning, developed by Nucleus of Adult and Young Education (NEA) of the College of Education of the University of São Paulo (FEUSP). Case study contemplates all the processes involved in e-learning system planning, design, implementation, execution and evaluation, teachers education in service, enclosing the production of didactic materials and complementary actions of academic research, under a contextual approach of design instrucional. The research confirms Learning Design as theoretical framework for contextualized instructional design and distinguishes that its implementation in national practices depends on the improvement of authorship, instantiation and run tools, in order to incorporate features of Web 2.0 and to make possible the diffusion of E-learning 2.0. Keyword: e-learning, education, distance education, young and adult education, instructional design, Learning Design, IMS Learning Design, Web 2.0, E-learning 2.0
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 3.1 Menu principal do Teleduc... 70 Figura 3.2 Interface do Moodle... 71 Figura 3.3 Seqüência de telas para upload de conteúdos no Gerenciador de Conteúdos do Tidia-Ae... 76 Figura 3.4 Interface do LAMS para programação de atividades... 80 Figura 3.5 Pré-visualização de atividades programadas no LAMS... 80 Figura 3.6 Tela inicial do Dialog Plus Toolkit... 83 Figura 3.7 Abstração da prática e formação de padrões... 120 Figura 3.8 Modelo conceitual do Learning Design (IMS Learning Design Information Model)... 123 Figura 3.9 Os três níveis de especificação IMS Learning Design... 131 Figura 3.10 Ferramentas para o Learning Design... 138 Figura 3.11 Processo de autoria no Reload Editor... 140 Figura 3.12 Visão geral do Reload Editor... 141 Figura 3.13 Guia Overview do Reload Editor... 142 Figura 3.14 Guia Roles do Reload Editor... 143 Figura 3.15 Guia Properties do Reload Editor... 144 Figura 3.16 Guia Activities do Reload Editor... 146 Figura 3.17 Guia Environments do Reload Editor... 148 Figura 3.18 Estrutura do Método no Reload Editor... 149 Figura 3.19 Opções de configuração da guia Methods no Reload Editor... 150 Figura 3.20 Guia Files do Reload Editor... 153 Figura 3.21 Guia Export do Reload Editor... 154 Figura 3.22 Processo de exibição no Reload Player... 159 Figura 3.23 Visão geral do Reload Player... 160
Figura 3.24 Estrutura de exibição de uma unidade de aprendizagem no Reload Player... 161 Figura 3.25 Exibição de uma unidade de aprendizagem no Reload Player... 162 Figura 3.26 Padrões de uso das tecnologias no aprendizado eletrônico... 174 Figura 3.27 Sistema educacional e seus subsistemas... 206 Figura 3.28 Sistema de aprendizado eletrônico e seus subsistemas... 208 Figura 3.29 Fatores temporais e níveis de abrangência contextual que influenciam a aprendizagem e o design instrucional... 218 Figura 3.30 Dinâmica de processos do sistema de aprendizado eletrônico integrada à perspectiva contextual... 220 Figura 3.31 Revolucionários e democratas na curva de difusão de inovações.. 230 Figura 4.1 Contexto ampliado do STEA... 234 Figura 4.2 Organização curricular do Curso de Ensino Médio a Distância... 244 Figura 4.3 Detalhamento das Fichas Temáticas de Apoio Pedagógico... 258 Figura 4.4 Ficha Temática de Apoio Pedagógico (frente)... 259 Figura 4.5 Ficha Temática de Apoio Pedagógico (verso)... 264 Figura 4.6 Folha-Anexa... 265 Figura 4.7 Folha-Tarefa... 262 Figura 4.8 Página inicial do Portal NEA... 267 Figura 4.9 Tela de entrada do SIGEPE... 272 Figura 4.10 Formulário de edição de conteúdos utilizados por editores e agregadores... 274 Figura 4.11 Template para criação de Fichas Temáticas de Apoio Pedagógico. 274 Figura 4.12 Exemplo de lista de tópicos no fórum dos professores do NEA... 275 Figura 4.13 Formulário de correio eletrônico... 275 Figura 4.14 Narrativa do Programa de EJA Educação de Jovens e Adultos / Curso de Ensino Médio... 285
Figura 4.15 Diagrama de atividades UML para a capacitação dos professores.. 297 Figura 4.16 Diagrama de atividades UML para o planejamento e design de episódios-aula... 298 Figura 4.17 Diagrama de atividades UML para a execução de episódios-aula... 299 Figura 4.18 Diagrama de atividades UML para a avaliação... 300 Figura 4.19 Visão geral de uma Ficha Temática no Reload Editor... 302 Figura 4.20 Papéis definidos para uma Ficha Temática no Reload Editor... 303 Figura 4.21 Propriedades definidas para uma Ficha Temática... 304 Figura 4.22 Atividades definidas para uma Ficha Temática... 304 Figura 4.23 Ambientes definidos para uma Ficha Temática... 305 Figura 4.24 Método para uma Ficha Temática... 306 Figura 4.25 Arquivos vinculados a uma Ficha Temática... 307 Figura 4.26 Exportação de arquivos em um pacote IMS LD... 307 Figura 4.27 Pacote zip descompatado para uma Ficha Temática... 308 Figura 4.28 Documento XML para uma Ficha Temática... 308 Figura 4.29 Ficha temática instanciada no Reload Player... 309 Figura 4.30 Link no Campo 9 Refletindo remetendo a um tema transversal no Portal NEA... 324 Figura 4.31 Seleção de Fichas Temáticas a partir do Portal NEA... 325 Figura 4.32 Dinâmica dos processos do sistema de aprendizado eletrônico à perspectiva contextual... 335
LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Dimensões de análise para o aprendizado eletrônico... 51 Tabela 3.1 Sumário de abordagens pedagógicas... 88 Tabela 3.2 Comparativo entre as fases do ISD e da especificação IMS LD... 102 Tabela 4.1 Matriz de atividades estendida para o Programa de EJA Educação de Jovens e Adultos / Curso de Ensino Médio... 286 Tabela 4.2 Comparação entre ontologia Learning Design e ontologia STEA... 312
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABED Associação Brasileira de Educação a Distância ARIADNE Alliance for Remote Instructional Authoring and Distribution Networks for Europe AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem CBT Computer Based Training CESTA Coletânea de Entidades de Suporte ao uso de Tecnologia na Aprendizagem CETIS The Centre for Educational Technology Interoperability Standards CINTED Centro de Estudos Interdisciplinares de Novas Tecnologias na Educação EML Educational Modeling Language ENCCEJA Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos ETC Editor de Texto Colaborativo e-tec Brasil Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil EUCEN European Continuing Education Network IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers GUI Graphical User Interface HTML HyperText Markup Language ISD Instructional Systems Development ISO International Standardization for Organization JISC The Joint Information Systems Committee LabVirt Laboratório Didático Virtual Escola do Futuro/USP LAMS Learning Activity Management System
LARC-USP Laboratório de Arquitetura de Redes de Computação da Universidade de São Paulo LCMS Learning Content Management System LMS Learning Management Systems LN4LD Learning Networks for Learning Design (LN4LD) LO Learning Object MOODLE Modular Object Oriented Dynamic Learning Environment NEA Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e de Formação Permanente de Professores (Ensino presencial e Educação a Distância) da Universidade de São Paulo NIED/Unicamp Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade de Campinas NSF U.S. National Science Foundation OA Objeto de Aprendizagem OUNL Open University of the Netherlands RELOAD Reusable elearning Object Authoring & Delivery Project ROODA Rede Cooperativa de Aprendizagem SCORM Shareable Content Object Reference Model SIGEPE Sistema de Gerenciamento Transversal de Conteúdos SLED - Service Based Learning Design Player STEA Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem TICs Tecnologias de Informação e Comunicação TIDIA-Ae Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Aprendizado Eletrônico) UAB Universidade Aberta do Brasil:
UML Unified Modeling Language UNFOLD Understanding New Frameworks of Learning Design UoL Unity of Learning (Unidade de Aprendizagem) VLE Virtual Learning Environment XML extensible Markup Language
SUMÁRIO PRIMEIRA PARTE INTRODUÇÃO... 23 Capítulo 1 Justificativas... 25 1.1 Trajetória acadêmica... 29 1.2 Hipótese da pesquisa... 31 1.3 Estrutura da tese... 33 Capítulo 2 Metodologia da pesquisa... 35 2.1 Natureza da pesquisa... 35 2.2 Pesquisa exploratória... 37 2.2.1 Principais fontes de pesquisa... 40 2.2.2 Tratamento bibliográfico... 45 2.2.3 Categorias de análise... 49 2.3 Investigação de campo... 53 2.3.1 Coleta e tratamento de dados... 56 SEGUNDA PARTE DESENVOLVIMENTO... 61 Capítulo 3 Quadro teórico... 63 3.1 Dimensão pedagógica... 64 3.1.1 Ondas de sistemas para o aprendizado eletrônico... 64 3.1.2 A construção de um metamodelo pedagógico... 85 3.1.3 A EML (Educational Modelling Language)... 92 3.1.4 Learning Design e design instrucional... 95 3.2 Dimensão semântica... 107 3.2.1 Modelagem educacional... 109 3.2.2 Abstração da prática para a formação de consensos universais... 116 3.2.3 A Especificação IMS Learning Design... 120 3.2.4 Ontologia do Learning Design... 123
3.3 Dimensão tecnológica... 136 3.3.1 Ferramentas de autoria para o Learning Design... 138 3.3.2 Repositórios de atividades de aprendizagem... 155 3.3.3 Ferramentas de execução do Learning Design... 157 3.3.4 Ferramentas de exibição do Learning Design... 158 3.3.5 Portais... 163 3.3.6 Serviços... 164 3.3.7 Relacionamento entre o IMS LD e outras especificações... 165 3.3.8 Padrões de uso das tecnologias no aprendizado eletrônico.. 172 3.4 Dimensão do aluno... 176 3.4.1 Interface humano-computador... 177 3.4.2 A Geração Net e a Educação de Jovens e Adultos... 180 3.4.3 Modelo de adaptação para o aprendizado eletrônico... 186 3.5 Dimensão organizacional... 203 3.5.1 O aprendizado eletrônico como sistema... 204 3.5.2 Web 2.0 e contextualização do aprendizado eletrônico... 221 Capítulo 4 Aprendizado eletrônico no STEA... 232 4.1 Descrição geral do campo de pesquisa... 233 4.1.1 Universidade de São Paulo e Faculdade de Educação... 235 4.1.2 O NEA Núcleo de Estudos sobre Educação de Jovens e Adultos e Formação Permanente de Professores (Ensino Presencial e a Distância)... 235 4.1.3 O Programa de EJA Educação de Jovens e Adultos e o Curso de Ensino Médio a Distância... 237 4.1.4 O Programa de Formação de Professores-Estagiários... 249 4.1.5 Ações de pesquisa científica... 251 4.1.6 O STEA Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem... 252 4.1.7 O Portal NEA... 266 4.1.8 O SIGEPE - Sistema de Gerenciamento de Informações Pedagógicas... 270 4.2 Análise multidimensional do STEA... 276 4.2.1 Dimensão pedagógica... 276 4.2.2 Dimensão semântica... 311 4.2.3 Dimensão tecnológica... 316 4.2.4 Dimensão do aluno... 322 4.2.5 Dimensão organizacional... 334
TERCEIRA PARTE CONCLUSÕES... 345 Capítulo 5 Learning Design e Design instrucional contextualizado... 347 5.1 Análise multidimensional da abordagem de Learning Design... 348 5.1.1 Dimensão pedagógica... 348 5.1.2 Dimensão semântica... 352 5.1.3 Dimensão tecnológica... 355 5.1.4 Dimensão do aluno... 360 5.1.5 Dimensão organizacional... 363 5.2 Adequação do LD como fundamentação teórico-prática do DIC... 365 5.3 Perspectivas... 368 BIBLIOGRAFIA... ANEXOS... 401 I Glossário Básico para Learning Design... 401 II Lista de endereços web para acesso virtual... 405 III Detalhamento da organização curricular para o Curso de Ensino Médio a Distância... 409 IV Ficha Temática Modelo... 413 V Fichas Temáticas representadas no IMS Learning Design... 416 VI Taxonomia de atividades de aprendizagem do Dialog Plus... 417
Parte I Introdução
25 Capítulo 1 Justificativas Estatísticas apontam que por volta de 2025 a demanda mundial por educação superior alcançará 150 milhões de pessoas contra atuais 90 milhões 1, e isto em resultado não apenas do crescimento demográfico natural, mas de mudanças no perfil das carreiras profissionais (com ênfase cada vez maior na prestação de serviços do que na produção de bens ou no setor primário, exigindo competências intelectuais cada vez mais complexas e em constante atualização), na política mundial (porque a melhoria dos índices educacionais com freqüência vem acompanhada da democratização dos regimes políticos e vice-versa) e na economia do conhecimento (cada vez mais globalizada, com a atuação de profissionais não restrita a mercados de trabalho locais). Conceitos como educação permanente e aprendizagem por toda a vida (lifelong learning) fazem crer que a auto-educação e o autodesenvolvimento não são mais opções de uma parcela da sociedade cuja vocação para o aprender aponta para o desenvolvimento pessoal continuado. O que antes significava uma ocupação de vida em oposição ao trabalho, com data de conclusão definida por um ritual de passagem para o mundo adulto, firma-se agora como estratégia de sobrevivência. 1 GODDARD apud WELLER (2007); ABRAEAD (2006).
26 Muitos (em especial os fornecedores de tecnologia para educação) sugerem que o aprendizado eletrônico é a única maneira de equacionar a diferença entre o número restrito de vagas das redes de ensino e a necessidade de incluir socialmente maior parcela da população, uma vez serem proibitivos os investimentos em infra-estrutura física necessária para a expansão do ensino tradicional. Em território nacional, ações para atender a essa demanda ficam evidentes com a criação da Universidade Aberta do Brasil UAB, cuja finalidade estabelecida em lei é a de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País (artigo 1º do Decreto nº 5.800, de 8/jun/2006). Esse já seria desafio suficiente para o aprendizado eletrônico se as Bases do Sistema Universidade Aberta do Brasil não declarassem também que: A modalidade de educação a distância pode contribuir significativamente com o atendimento de demandas educacionais urgentes, dentre as quais, destacam-se: a necessidade de formação ou capacitação de mais de um milhão de docentes para a educação básica, bem como a formação continuada, em serviço, de um grande contingente de servidores das Empresas Estatais. 2 Assim, além de solução governamental para expansão do ensino superior, a formação e capacitação de docentes para a educação básica e a formação continuada de servidores públicos, mais recentemente o aprendizado eletrônico também se apresenta como caminho para a expansão do ensino técnico público, com o lançamento do Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil e-tec Brasil, cuja finalidade declarada é a de ampliar a oferta e democratizar o acesso a cursos técnicos de nível médio, públicos e gratuitos no País 3. 2 Edital de Lançamento, de 20/ dez/2005. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/carta.pdf. 3 Decreto nº 6.301, de 12/dez/2007.
27 Isso no âmbito das ações públicas federais, sem levar em conta as iniciativas de educação a distância estaduais e municipais (o ABRAEAD 2006, p. 29, aponta mais 200 mil alunos estudando a distância nos níveis fundamental, médio, técnico e EJA educação de jovens e adultos) e de instituições particulares (organizações privadas de ensino, empresas privadas do setor produtivo e comercial, associações, consórcios e organizações não-governamentais), que no total atingiram 1,2 milhão de alunos em 2005 (idem, p. 24). Fosse a questão exclusivamente econômica, o debate sobre o aprendizado eletrônico poderia limitar-se aos interesses dos gestores da educação. No entanto, todo o conjunto de tecnologias que vêm permeando as atividades de produção, armazenamento, distribuição, consumo e comunicação de informações nos desafia também a novas formas de construir e reconstruir o conhecimento, matéria-prima do processo educacional. Novas modalidades de educação, formais ou informais, individuais ou coletivas, de natureza autodidata ou sob a tutela de instituições de ensino, em formato presencial, híbrido ou totalmente mediado por tecnologias, vêm desenhando um novo cenário para a educação. Objetivos, papéis, metodologias e recursos são repensados à medida que máquinas, redes eletrônicas e tecnologias móveis invadem os espaços de aprendizagem tradicionais, fazendo emergir teorias e práticas relacionadas a sistemas virtuais, ambientes hipermídia e comunidades de aprendizagem.
28 Assim, em um nível macro, o aprendizado eletrônico vem-se apresentando como uma resposta contemporânea para os complexos problemas de fundo cultural, econômico, histórico e social relacionados à educação. Educadores, especialistas em educação, pesquisadores, gestores e alunos testemunham uma explosão dos ambientes virtuais de aprendizagem ou LMSs (Learning Management Systems) a partir da segunda metade da década de 1990, e sua implantação e efetiva utilização por instituições de ensino as mais variadas de escolas do ensino fundamental e médio a organizações não governamentais, de universidades a departamentos de educação corporativa. Das inúmeras iniciativas e metodologias para preencher com conteúdos a rede de hardware e software agora de certa forma consolidada entre elas, tutoriais fechados, apostilas eletrônicas, listas de distribuição, grupos de discussão, sites para disciplinas, pacotes de cursos, ambientes virtuais e comunidades de aprendizagem, os investimentos e as atenções se voltam cada vez mais para os usos pedagógicos dessa complexa infra-estrutura tecnológica, que acena e promete entregar mais do que serviços de gestão administrativa e de armazenamento e disponibilização de informações digitais. Nessa linha, os objetos de aprendizagem emergiram nos últimos anos como padrão reconhecido internacionalmente para a construção e publicação de recursos instrucionais. Contudo, ainda que o foco tenha mudado de sistemas de administração e gestão de programas educacionais (LMSs Learning Management Systems), para sistemas de criação, armazenamento e recuperação de conteúdos
29 educacionais (Learning Content Management Systems LCMSs), o aparato tecnológico disponível ainda não atende plenamente a toda a complexidade envolvida no processo de ensino-aprendizagem, a saber: a diversidade de abordagens, estratégias e técnicas pedagógicas, as especificidades dos domínios e a multiplicidade dos contextos de utilização. Esta pesquisa visa contribuir para o debate sobre as formas de planejar, projetar, desenvolver, implementar e avaliar ações de aprendizado eletrônico, analisando para isso inovações mais recentes no campo da tecnologia educacional e do design instrucional. 1.1 Trajetória acadêmica Desde a nossa pesquisa de mestrado concluída em 2003, quando descrevemos um movimento de pesquisadores e praticantes em direção a um design instrucional contextualizado (DIC), mais adequado para o atual cenário do aprendizado eletrônico, ficou patente a necessidade de prosseguir na investigação sobre o tema, desenvolvendo um framework teórico-prático mais específico que tornasse o DIC viável fora de situações experimentais como a descrita em nossa dissertação. Essa foi a motivação que nos conduziu ao doutorado e caracterizou nossas investigações teóricas iniciais. No percurso, alternamos entre duas posições: reafirmar nossa perspectiva contextualizada a respeito do design instrucional por novas leituras realizadas e pelos debates resultantes da publicação da dissertação
30 em forma de livro e afastar-nos dessa perspectiva, adotando uma postura de isenção e imparcialidade a fim de poder avançar na busca do conhecimento. Ao longo do percurso investigatório, deparamo-nos com iniciativas internacionais voltadas à construção de um framework teórico-prático genérico o bastante para representar não apenas um paradigma educacional ou modelo de design instrucional dominante para o aprendizado eletrônico, mas um metamodelo abrangente, capaz de expressar todos os outros. Vislumbramos nesse framework internacional, ao qual nos referimos como abordagem de Learning Design, potencial para contemplar atividades do processo de design instrucional (análise, design, desenvolvimento, implementação e avaliação), que poderiam ser consideradas etapas de meta-análise do processo de ensino-aprendizagem. Em se tratando do design instrucional contextualizado, a necessidade desse tipo de framework se torna ainda mais manifesta, visto que, para ser contextualizado (reflexivo, adaptativo, fractal, participativo), o design instrucional pressupõe a participação dos vários sujeitos envolvidos no processo educacional, adicionando às convencionais atividades de ensino-aprendizagem ações como metacognição, reflexão na ação e auto-regulação.
31 1.2 Hipótese de pesquisa Assim, diante da necessidade de prosseguir na pesquisa anterior, passamos a verificar se o metamodelo expresso na abordagem de Learning Design poderia ser admitido estrutura válida para o avanço da pesquisa e da prática sobre o design instrucional contextualizado. Segue-se que: Se o corpo de conhecimentos da abordagem Learning Design permite a representação de diversas abordagens pedagógicas e diferentes contextos de instrução, pode constituir-se em fundamentação teórico para o design instrucional contextualizado; e Se a abordagem de Learning Design é abrangente o suficiente para confirmar-se como um padrão universal, pode ser considerada um ferramental prático para o design instrucional contextualizado. A hipótese dessa pesquisa diz respeito, portanto, à adequação da abordagem do Learning Design como fundamentação teórico-prática do design instrucional contextualizado. Para investigar como a abordagem do Learning Design pode permitir a contextualização do design instrucional, empreendemos nesta pesquisa uma análise multidimensional que leva em conta os interesses e as necessidades das diferentes comunidades envolvidas no aprendizado eletrônico a saber, alunos, professores, especialistas em educação, desenvolvedores de software e gestores.
32 E, em campo, confrontamos os fundamentos teórico-práticos da abordagem de Learning Design com o STEA Sistema Transversal de Ensino Aprendizagem, um sistema de ensino-aprendizagem de origem nacional, desenvolvido no âmbito do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e Formação Permanente de Professores (NEA) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Ancorado em bases pedagógicas explícitas, amadurecido ao longo de duas décadas de pesquisa e prática, com efetividade comprovada, o STEA contempla todos os processos educacionais do planejamento, design, implantação, execução e avaliação, até a formação e a atualização continuada de professores, abrangendo também a produção interna de material didático e ações complementares de pesquisa acadêmica e extensão universitária, tudo isso sob a perspectiva contextualizada do design instrucional. Assim, de forma específica, as atividades realizadas nesta pesquisa incluíram: 1. Analisar na bibliografia internacional e nacional as várias dimensões da abordagem de Learning Design e sua adequação como fundamentação teórico-prática para o design instrucional contextualizado. 2. Descrever o STEA em termos do Learning Design sob a perspectiva do design instrucional contextualizado. 3. Identificar os benefícios e desafios da abordagem de Learning Design aplicada a um caso nacional de design instrucional contextualizado.
33 1.3 Estrutura da tese Definido o objetivo central de investigar a adequação do Learning Design como fundamentação teórico-prática para o design instrucional contextualizado, no Capítulo 2 o percurso metodológico deste trabalho, descrevendo a natureza da pesquisa, bem como os procedimentos para seleção, organização e análise da bibliografia que fundamenta nosso quadro teórico. São igualmente identificados os procedimentos da pesquisa em campo. O Capítulo 3 comporta o registro do marco teórico multidimensional que embasa a abordagem de Learning Design, a partir da visão das diferentes comunidades envolvidas no aprendizado eletrônico: professores e especialistas em educação; pesquisadores; desenvolvedores de software e especialistas em tecnologia; gestores e outros stakeholders; e comunidade de alunos, correspondendo respectivamente às dimensões pedagógica, semântica, tecnológica, organizacional e do aluno. O Capítulo 4 comporta a articulação do corpo teórico com o caso estudado o STEA Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem, registrando as análises relativas à adequação do Learning Design como fundamentação teórico-prática para o design instrucional contextualizado nas diferentes dimensões identificadas no quadro teórico. No Capítulo 5, apresentamos as conclusões da nossa articulação teoria-práticateoria e indicamos caminhos futuros de pesquisa. Os Anexos compreendem materiais que possibilitam uma visão complementar dos temas tratados no corpo deste relatório.