FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE PARECER TÉCNICO Empreendedor: Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda. DN Código Classe Empreendimento: Barragem de São Francisco 74/04 A-05-03-7 6 CNPJ: 19.534.650/0001-45 Atividade: Barragem de Rejeito Endereço (correspondência): Fazenda do Cruzeiro s/nº, Caixa Postal 169 Município: Cataguases/ MG Referência: Análise da defesa tempestiva do Auto de Infração RESUMO Parecer Técnico DIMIM 057/2006 Processo COPAM: N.º 201/1986/031/2006 Processo DNPM: 831.090/1981 Este relatório refere-se à análise técnica da defesa tempestiva apresentada pela Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda., protocolada na FEAM em 22.03.06 (Protocolo: F021863/2006), do Auto de Infração Nº 000230, lavrado em 03.03.06, referente ao vazamento de rejeito pelo vertedouro da barragem, devido ao deslocamento das placas. O acidente ocorreu em 01.03.06, com a abertura de uma fenda de 5 cms de largura e 96 cms de comprimento, entre as placas do vertedouro, proporcionando o vazamento de 135.000 m 3 de lama no Córrego Bom Jardim, ocasionando impactos ambientais em grandes proporções nas áreas de jusante. Após ter conhecimento do ocorrido, por meio de contato com o IEF, a FEAM, em conjunto com os demais órgãos ambientais envolvidos na questão, estiveram no local em 02.03.06, acompanhando sistematicamente as atividades de contenção do acidente, estabelecendo ações e medidas a serem adotadas pela empresa, objetivando a garantia de segurança da barragem e a minimização dos impactos ambientais decorrentes do vazamento de lama. Mediante as conseqüências ambientais derivadas do acidente, com repercussões em diversos níveis, foi lavrado, pela FEAM, o Auto de Infração Nº 000230, tipificando a infração como gravíssima, com base no item 6, parágrafo 3º do Decreto N 43.127, de 27 de dezembro de 2002, conforme descrito abaixo: causar poluição ou degradação ambiental de qualquer natureza que resulte ou possa resultar em dano à saúde humana, aos recursos hídricos, às espécies vegetais e animais, aos ecossistemas e habitats ou ao patrimônio natural ou cultural. Divisão de Extração de Minerais Metálicos DIMIM Diretoria de Licenciamento de Atividades Industriais e Minerarias DIRIM Autor: Regina Maia Guimarães Gerente: Bárbara V. L. Torres Diretora: Zuleika Stela Chiacchio Torquetti Assinatura: Assinatura: Assinatura: Data : / / Data: / / Data: / /
2 A empresa, em sua defesa administrativa, solicita que sejam consideradas como atenuantes os seguintes fatos: reparação imediata do dano realizada pela empresa; comunicação imediata com a Prefeitura Municipal de Miraí; a característica do material derramado não contendo material tóxico e a pequena disponibilidade de recursos financeiros da empresa, em função do baixo preço do minério no mercado. Em relação aos argumentos apresentados pela empresa, seguem-se as considerações técnicas: A empresa demorou 36 horas para estacar o processo; A comunicação do acidente foi feita à Prefeitura Municipal de Mirai e não diretamente a FEAM ou a outro órgão governamental ligado à questão ambiental, como deveria; Apesar de não conter material tóxico o rejeito derramado causou impactos ambientais de grandes proporções. Desta forma, a equipe técnica posiciona-se favorável à aplicação das penalidades previstas em lei, solicitando o encaminhamento desse parecer técnico a PRO/FEAM.
3 1 - Apresentação O acidente ocorrido em 01.03.06, deveu-se ao deslocamento ocorrido entre as placas reguladoras de vazão dos vertedoures, tipo tulipa, da Barragem de São Francisco, gerando uma fenda de 5 cms e 96 cms de largura, por onde passaram 135.000 m 3 de lama, constituída por argila e água, sem material tóxico, nas águas do Córrego Bom Jardim (FOTO 1). A FEAM, tendo conhecimento do acidente, realizou-se a vistoria técnica na área, em 02.03.06, avaliando os danos ambientais derivados do vazamento de rejeito e lavrando o Auto de Infração Nº 000230, tipificando a infração como gravíssima, com base no item 6, parágrafo 3º do Decreto N 43.127, de 27 de dezembro de 2002, com os seguintes dizeres: causar poluição ou degradação ambiental de qualquer natureza que resulte ou possa resultar em dano à saúde humana, aos recursos hídricos, às espécies vegetais e animais, aos ecossistemas e habitats ou ao patrimônio natural ou cultural. FOTO 1 Saída do vertedor com lançamento de lama diretamente no Córrego Bom Jardim. 2 - Discussão 2.1 Impactos Ambientais derivados do Acidente que justificaram o Auto de Infração O lançamento na calha de drenagem do Córrego Bom Jardim de 135.000 m 3 de rejeito, por meio de uma fenda de 5 cms de largura e 96 cms de comprimento, durante 36 horas, ocasionou uma série de impactos ambientais em grandes proporções nas áreas de jusante (FOTOS 2 e 3), como:
4 Inundação de áreas agriculturáveis (FOTOS 2 e 3); Aumento de turbidez das águas do Córrego Bom Jardim, Ribeirão Fubá e Rio Muriáe (FOTOS 4,5 e 6); Eliminação de ecossistemas ribeirinhos; Interferência na biota aquática; Mortandade de peixes; Interferência no consumo de água das cidades de jusante como: Lage de Muriaé e distritos de Retiro e Comendador Venâncio, em Itaperuna, no Estado do Rio de Janeiro; FOTO 2 Terrenos inundados constituídos por áreas de pastagens. FOTO 3 Inundação de áreas de fruticultura com plantio de bananas, da Fazenda Itaguaçú. FOTOS 4 e 5 Excesso de turbidez nas águas do Rio Muriaé. FOTO 6 Excesso de turbidez nas águas do Rib. Fubá.
5 Com base na avaliação in loco das proporções alcançadas pelos impactos ambientais, procedeu-se a aplicação, em 03.03.06, do Auto de Infração Nº 000230. A empresa também foi autuada pelo IEF, devido à mortandade de peixes e à interferência em APPs. 2.2 Medidas Emergenciais Adotadas pela Empresa A empresa tentou conter o vazamento durante 36 horas, corrigindo a estrutura do vertedouro, por meio das seguintes obras de reforço: Construção de um dique no reservatório da barragem, impossibilitando a entrada de água no sistema e diminuindo as vazões afluentes ao poço; Tamponamento da abertura do vertedouro a montante da estrutura ; Construção de laje de concreto no vertedouro, depois de estancado o vazamento; Posteriormente à contenção do vazamento, a empresa deu continuidade às medidas de correção, adotando os seguintes procedimentos: Construção de um dique no Córrego Bom Jardim à aproximadamente 1,5 Km de distância à jusante da barragem, evitando o carreamento de material com a intensificação das chuvas; Desvio do Córrego Bom Jardim por meio de um canal paralelo ao leito principal do curso d água até sua confluência com o Córrego Perobas; Bombeamento da água do reservatório; Plantio de espécies frutíferas nas margens do canal, no trecho entre a estrada e o ponto de confluência do Córrego Bom Jardim com o Ribeirão Peroba. A Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda., por solicitação dos órgãos ambientais, contribuiu para o tratamento de água das centrais de abastecimento das comunidades atingidas e auxiliou no suprimento de água nas localidades onde houve o corte do abastecimento. Como ação simultânea aos procedimentos adotados, a empresa enviou a FEAM, em 06.03.06, o Relatório de Auditoria da Barragem de São Francisco, em cumprimento à DN nº 87/2005. O conteúdo técnico desse relatório foi considerado insuficiente para garantir a segurança da barragem. Por essa razão, o COPAM suspendeu, 07.03.06, as atividades minerárias vinculadas à Barragem de São Francisco da Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda., por determinação da Deliberação COPAM Nº 240. Essa decisão baseou-se no eminente risco de
6 rompimento da barragem com possibilidade de ocorrência de novos acidentes ambientais, bem como na insuficiência das informações apresentadas no relatório de auditoria. Paralelamente, a empresa deu continuidade aos trabalhos de reforço do vertedouro, adotando as ações preliminares descritas abaixo: Introdução de tubos de aço de alta resistência no interior do vertedouro e o preenchimento do restante da seção de trabalho com areia de filtro, compactada hidraulicamente. A função dos tubos de aço é permitir o escoamento do excesso de água do córrego que não é utilizada na lavagem do minério e a areia tem por objetivo fixar a tubulação de aço, aumentando a rigidez da estrutura; Trabalhos de elaboração dos projetos conceitual e executivo para as obras de reforço e desativação da barragem; Como forma de dar continuidade à gestão ambiental do acidente, procedeuse a elaboração do Termo de Ajuste de Conduta TAC, assinado entre a FEAM, Ministério Público, IBAMA, IGAM e a Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda., estabelecendo uma série de ações mitigadoras dos impactos gerados. Objetivando a regularização frente à legislação ambiental, a Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda. enviou a FEAM o Relatório Preliminar de Auditoria da Barragem de São Francisco, apresentando dados técnicos que comprovaram a segurança da barragem até o período chuvoso do presente ano. Com base na avaliação técnica desse relatório, considerando consistentes as informações nele contidas, o COPAM tornou sem efeito a paralisação das atividades minerárias relacionadas à Barragem de São Francisco e ao Lavador de Bauxita da Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda, por meio da DN COPAM Nº 246 de 31.03.06.Em relação às medidas solicitadas no TAC e nos Autos de Fiscalização, elaborados pela FEAM durante as vistorias, pode-se dizer que a empresa vem cumprindo de forma satisfatória, com envio da documentação aos órgãos ambientais. 2.3 Atenuantes Apresentadas pela Empresa ao Auto de Infração: A empresa solicita ao COPAM que considere como atenuantes ao Auto de Infração, as seguintes constatações: Reparação imediata do dano ou limitação de degradação ambiental causada, justificando que a empresa, logo após o acidente, espontaneamente iniciou a reparação dos danos. Tendo conhecimento do acidente ocorrido por volta das 16 horas do dia 10.03.06, os técnicos da Rio Pomba Empresa de Mineração Ltda,
7 estiveram no local, tentando conter o vazamento. Após 36 horas o vazamento foi contido. Comunicação imediata do dano ou perigo de dano à autoridade ambiental. A empresa, tendo conhecimento do fato entrou em contato com o Prefeito de Mirai para dar conhecimento ao órgão ambiental municipal. A empresa deveria ter comunicado imediatamente o acidente a FEAM, tendo pleno conhecimento de todos os responsáveis técnicos pelo empreendimento. A FEAM, teve conhecimento do acidente por meio de contato com IEF, às 9:30 horas do dia 02.03.06, ou seja, aproximadamente dezessete horas depois do ocorrido. Característica do rejeito constituído por água e argila, não contendo material tóxico; Pouca disponibilidade de recursos financeiros, em função do baixo preço do minério no mercado. 3 - Conclusão A equipe técnica posiciona-se favorável à aplicação das penalidades previstas em lei, solicitando o encaminhamento deste parecer técnico a PRO/FEAM.