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Luís Carlos Monteiro 2018

Thais Brandão Redatora Skype:

Luís Carlos Monteiro 2018

Transcrição:

Contexto Histórico Arte românica é o nome dado ao estilo artístico vigente na Europa entre os séculos XI e XIII. O estilo é visto principalmente nas igrejas católicas construídas após a expansão do cristianismo pela Europa e foi o primeiro depois da queda do Império Romano a apresentar características comuns em várias regiões. Até então a arte tinha se fragmentado em vários estilos e o românico é o primeiro a trazer uma unidade nesse panorama. Castelo Medieval

Haverá diferenças entre a arte executada nas diversas regiões europeias, de acordo com as influências regionais recebidas, mas haverá também uma série de características comuns, que definem o estilo românico. As igrejas serão as maiores até então, e para que isso seja possível haverá uma evolução dos métodos construtivos e dos materiais. A pedra será empregada na construção e o telhado de madeira será trocado por abóbadas de berço e de aresta., mais condizentes com uma igreja que representa a fortaleza de Deus. Ao contrário da arte paleo-cristã, as igrejas serão ricamente decoradas externamente. A escultura em pedra em grande escala renasce pela primeira vez desde os romanos, atrelada à arquitetura, assim como a pintura. A escultura e a pintura serão carregadas de esquematização e simbolismo, típico de um período em que o artista aprende a representar o que sente, e não somente o que vê.

Características gerais da arquitetura românica: O uso de pedras nas construções Abóbadas são usadas no lugar dos telhados de madeira É privilegiada a decoração externa das igrejas, fato que antes não acontecia. As obras artísticas ganham novo simbolismo e passam a sensibilizar, interferindo com o lado sensível de quem vê. Ressurge a escultura em grande escala com obras feitas em pedra.

A escultura, arquitetura e a pintura ganham novo significado. Passam a repassar valores religiosos que eram percebidos também pelos iletrados. Isto era uma vantagem em uma época em que poucos dominavam a leitura. Os valores difundidos pela religião cristã, através da arte, passam a impregnar todos os aspectos da vida medieval. A igreja passa a ser vista como representante de Deus na Terra, tendo o Papa como líder.

Na iconografia Grega ortodoxa, como na iconografia Cristã primitiva, o gesto da mão que abençoa forma as letras IC XC, uma abreviação da palavra Jesus (IHCOYC) Cristo (XPICTOC) em Grego, que inclui a primeira e a ultima letra de cada palavra. A mão que abençoa reproduz, por gestos, o nome de Jesus, o Nome acima de todos os nomes.

o gesto de bênção feito por Cristo também transmite verdades doutrinárias. Os três dedos utilizados para representar o I e o X também representa a Santa Trindade, a Unidade de Deus em três pessoas, Pai, Filho e Espirito Santo. A aproximação do polegar e do dedo anelar não só forma a letra C, como também simboliza a Encarnação, a união do divino com o humano na pessoa de Cristo.

As igrejas de Saint-Sernin de Toulouse peregrinação foram muito características desse período. Elas ficavam no caminho para os locais sagrados, como Santiago de Compostela, Roma e Jerusalém, e serviam de apoio e pouso para os peregrinos, além de oferecer como atrativo as relíquias, objetos pertencentes a Jesus Cristo, a Maria e aos santos, como os cravos que pregaram as mãos e pés de Jesus, ou os espinhos da coroa, ou ainda fios de cabelo da Virgem. Essas igrejas seguiam a planta em forma de cruz latina, com várias naves, geralmente 3 ou 5, em que as naves laterais se prolongavam e passavam por detrás da ábside, formando o deambulatório. Do deambulatório saiam as capelas radiantes, ou absidíolas. Esse conjunto era característico das igrejas de peregrinação e ficou conhecido como cabeceira de peregrinação. Entre as igrejas desse tipo estão as de Saint-Sernin de Toulouse, Santiago de Compostela e Igreja de Saint-Martin de Tours.

Santiago de Compostela

Igreja de San-Martin de Tours

Os mosteiros foram importantes para o estabelecimento da arquitetura românica, principalmente os das ordens de Cluny e Cister. Desse conjunto característico, a dependência a se destacar é o claustro, por vincular o mosteiro ao templo e por ser a dependência mais bem cuidada do ponto de vista artístico. Geralmente possuem quatro lados, com tendência a formar quadrados perfeitos, e quatro corredores resultantes em pórticos abertos com arcadas sustentadas por colunas.

Abadia de Cluny

A arquitetura em pedra vem reforçar a característica de monumentalidade e fortaleza, possível depois de toda a evolução dos meios construtivos. Os conjuntos arquitetônicos seguem, geralmente, a planta basilical, uma, três ou cinco naves (geralmente três), colunas que sustentavam as abóbadas e um aspecto maciço e horizontal (mesmo que muitas das igrejas sejam bem altas). As paredes são cegas, pois não é possível, ou é muito difícil, abrir grandes janelas nas paredes, já que elas servem como estrutura e suportam todo o teto. Haverá grande decoração, externa e internamente, através de esculturas nos tímpanos nas portas de entrada e nos capitéis e colunas, e pintura parietal nas ábsides e abóbadas das naves.

A escultura renasceu no românico, depois de muitos anos esquecida. Seu apogeu se dá no século XII, quando inicia um estilo realista, mas simbólico, que antecipa o estilo gótico. A escultura é sempre condicionada à arquitetura e todo trabalho é executado sem deixar espaços sem uso. As figuras entalhadas têm o tamanho do elemento onde foram esculpidas, e os trabalhos de superfície acomodam-se no lugar em que ocupam. Dessa característica parte também a idéia de esquematização. Outra importante característica é seu caráter simbólico e antinaturalista. Não havia a preocupação com a representação fiel dos seres e objetos. Volume, cor, efeito de luz e sombra, tudo era confuso e simbólico, representando muitas vezes coisas não terrenas, mas sim provenientes da imaginação. Mas não que isso seja uma constante em todo o período. Em algumas esculturas, nota-se a aparência clássica, influência da Antigüidade, como no Apóstolo, de Saint-Sernin de Toulouse. Capitel da abadia de Cluny

Claustro: parte interior do mosteiro

capitel: escultura na parte superior das colunas

Capitel

Tímpano da Abadia de Saint Pierre

Detalhe

detalhe

Catedral de Santa María de Seo de Urgell (Seu d'urgell)

Igreja de Santo Isidoro de León

Abóbada de berço é uma abóbada construída como um contínuo arco de volta perfeita. Sua desvantagem é que havia o excesso de peso no teto de alvenaria o que causava grandes desabamentos, e a pequena luminosidade devido as janelas pequenas. A abertura de grandes vãos causava enfraquecimento da estrutura, facilitando ainda mais o desabamento.

a abóbada de aresta consiste numa abóbada (construção que faz de cobertura côncava voltada para dentro) formada pela intersecção de duas abóbadas de berço com a mesma flecha. Com essa abóbada os construtores conseguiram leveza e uma maior iluminação.

A pintura não se destacou tanto quanto a arquitetura nesse período. Os principais trabalhos são a pintura mural, as iluminuras e as tapeçarias. A pintura parietal, ou seja, executada nas paredes, era dependente da arquitetura, como pode-se deduzir, tendo aquela somente função didática. Em um período em que a grande maioria da população era analfabeta a pintura era uma forma de transmitir os ensinamentos do Cristianismo. Iluminura de São Paulo

O Imperador Carlos Magno A estilização e o alongamento de figuras são típicos da pintura romanesca. Os afrescos, de colorido sóbrio e escuros, também costumam aparecer com freqüência. Não é, entretanto, regra geral.

As características essenciais da pintura românica foram o colorismo e a deformação. A deformação traduz os sentimentos religiosos e a interpretação mística que os artistas faziam da realidade. O colorismo realizou-se no emprego de cores chapadas, sem preocupação com meios-tons ou jogos de luz e sombra, pois não havia a menor intenção de imitar a natureza.

Pintura de São Justo

Frontal de Urgell

Também o desenvolvimento da ourivesaria foi importante nesse período. A exemplo da pintura e da escultura, essa arte teve um caráter religioso, tendo por isso se voltado para a fabricação de objetos com relicários, cruzes, estatuetas, Bíblias e para a decoração de altares. O desenvolvimento da ourivesaria está associado diretamente às relíquias, uma vez que as Igrejas eram objetos de maior peregrinação, atraindo não só fiéis, mas ofertas.