ESTUDO FITOQUÍMICO DO RESÍDUO DA JURUBEBA (SOLANUM PANICULATUM L.) UTILIZADA NA PRODUÇÃO DE VINHO TINTO COMPOSTO R. B. Andrade 1, G.A. Barreto 2, R.S. Oliveira 2, R.P.D. Silva 2, S.S. Costa 3, M. A.Umsza-Guez 3 1- Departamento de Controle de Qualidade - Organização Leão do Norte - CEP: 43.700-000 - Simões Filho - BA - Brasil, Telefone: +55 (71) 98884-2205 - e-mail: (betab_a@hotmail.com) 2- Laboratório de Pesquisa Aplicada em Alimentos e Biotecnologia Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia, Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC CEP 41.650 010 Salvador BA Brasil, Telefone: +55 (71) 3879-5439 e-mail: (abreugabriele@gmail.com), (rosesolliveira@gmail.com), (rejane.pina@fieb.org.br) 3- Departamento de Biotecnologia Universidade Federal da Bahia, Instituto de Ciências da Saúde CEP 40.110-100 Salvador BA, Brasil, Telefone +55 (71) 3283-8986 e-mail: (manthasc@yahoo.com.br), (marcelo.umsza@ufba.br) RESUMO A Solanum paniculatum (jurubeba) é uma planta conhecida pelas propriedades medicinais e usada na produção de vinho tinto composto. Este trabalho objetiva avaliar o resíduo de jurubeba obtido após o processo de produção do vinho composto, em relação aos compostos bioativos presentes, verificando a atividade antioxidante, os teores de compostos fenólicos e flavonoides presentes. As amostras oriundas do processo de prensagem da fruta da jurubeba, foram lavadas e mantidas a -20 C até a preparação de um extrato na proporção 1:4 do resíduo da jurubeba e etanol 80%. A maceração foi realizada em agitação por 60 minutos a 30ºC e concentrado à vácuo a 40 C. Atividade antioxidante, compostos fenólicos totais e flavonoides foram determinados utilizando espectrofotômetro. Pelos resultados obtidos foi constatado que o extrato de jurubeba apresenta valores significativos de flavonoides, compostos fenólicos e atividade antioxidante, sugerindo a possibilidades de aplicação comercial. ABSTRACT The Solanum paniculatum (jurubeba) is a plant known for its medicinal properties and it is used in the production of red wine compound. This study aims to evaluate the jurubeba residue obtained after the wine production process, relating to bioactive compounds, checking the antioxidant activity, the levels of phenolics and flavonoids present. The samples from pressing process of the jurubeba fruit, were washed and kept at -20 C until the extract preparation in a 1:4 ratio of jurubeba residue and 80% ethanol. The maceration was made by agitation for 60 minutes at 30 C and concentrated in vacuum at 40 C. Antioxidant activity, total phenolics and flavonoids were determined using a spectrophotometer. In the results, it was verified that the jurubeba extract has significant amounts of flavonoid, phenolic compounds and antioxidant activity, suggesting commercial application possibilities. Palavras-chave: jurubeba, compostos fenólicos, flavonoides, atividade antioxidante. KEYWORDS: jurubeba, phenolics, flavonoids, antioxidant activity.
1. INTRODUÇÃO A Solanum paniculatum L., conhecida popularmente como jurubeba, é uma planta, comumente, encontrada em toda América Tropical, especialmente no Cerrado, que apresenta frutos e flores, e possui um típico sabor amargo. A família Solanaceae A. L. Jussieu, segundo Olmstead et. al (1999), é constituída por 106 gêneros e cerca de 3.000 espécies, com distribuição cosmopolita, sendo o gênero Solanum o maior e mais complexo, com cerca de 1.500 espécies (Nee, 2001). A Solanum paniculatum se destaca pelos seus diferentes usos medicinais, por sua distribuição ampla e, principalmente, por ser o único representante de Solanum reconhecido como fitoterápico pela Farmacopéia Brasileira (1959). O extrato mole da raiz faz parte da composição de medicamentos fitoterápicos de uso empírico (Leitão-Filho et al., 1975), além de, mediante o preparo de chás e xaropes naturais, ser popularmente utilizada como cicatrizante, no tratamento da icterícia, da hepatite crônica, febres intermitentes, ressaca, indigestão. O gênero apresenta fontes exclusivas de importantes compostos com potencial fitofármaco, com comprovada ação citotóxica, antiviral e antimicrobiana. Como exemplo, pode-se citar a presença de alcalóides, glicoalcalóides, saponinas e resinas, de acordo com pesquisas já realizadas. Além dos itens citados, a Jurubeba possui aplicações entre alimentos e bebidas, sendo bastante conhecida na produção de vinho tinto composto com o extrato de jurubeba, produzido em território brasileiro, que possui na sua composição 70% de vinho de tinto de mesa, adicionado ao suco do fruto da jurubeba, álcool etílico potável (15 a 18% vol.), açúcar, caramelo, entre outros ingredientes naturais. O resíduo de jurubeba, obtido após a produção do vinho composto, é basicamente constituído de cascas e sementes. O objetivo deste trabalho foi avaliar atividade antioxidante e os teores de compostos fenólicos e flavonoides presentes neste resíduo. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Obtenção do extrato do resíduo de jurubeba Foi utilizado resíduo de Solanum Paniculatum, constituído de cascas e sementes, oriundo da prensagem da jurubeba utilizada como matéria-prima para a produção de vinho tinto seco composto com jurubeba. O resíduo obtido foi lavado com água corrente e mantido a -20 C, até o momento da produção do extrato na proporção 1:4 de jurubeba e etanol 80%, respectivamente. A maceração foi realizada com agitação de 180 rpm por 60 minutos a 30ºC e concentrado sob vácuo a 40 C (SIQUEIRA, 2013) em um Evaporador Rotativo (TECNAL TE-210) acoplado a Banho Termostatizado (TECNAL TE-2005) e Bomba a Vácuo (TECNAL TE-0581). 2.2 Avaliação dos compostos Fenólicos Os compostos fenólicos foram mensurados seguindo a descrição de Coutinho et al. (2009). A concentração da amostra do extrato diluída em água destilada foi de 400µg/mL. Para as análises, foram necessários 1mL da amostra, 1mL de Folin-Ciocalteau (25%) e 2mL de água destilada. Após um determinado tempo, aproximadamente 2 a 5 minutos, adicionou-se 1mL carbonato de sódio (10%). Duas horas depois, realizou-se a leitura da absorbância a 760nm, em temperatura ambiente. Por fim, preparou-se o branco com água destilada, utilizando o ácido gálico como padrão.
2.3 Avaliação de Atividade Antioxidante DPPH A atividade antioxidante foi medida através da capacidade sequestrante do radical estável 2,2- difenil-1-picrilhidrazil (DPPH) e o resultado obtido através do CE50 (concentração efetiva de extrato que neutraliza 50% dos radicais livres). Por meio da metodologia citada por Mensor et al. (2001), para a atividade antioxidante, foi utilizada a solução de concentrado 1mg/mL diluída em metanol P.A., nas seguintes concentrações: 250, 125, 50, 25, 10 e 5 µg/ml. A análise foi feita a partir de 2,5mL de solução da amostra e 1mL de DPPH a 0,1mM. Após 60 minutos, realizou-se a leitura da absorbância, em temperatura ambiente, a 518nm. O branco com 1mL de metanol P.A. foi preparado juntamente com 2,5mL da amostra (branco por amostra). O controle foi 1mL de DPPH com 2,5mL de metanol P.A e o resultado obtido a partir da seguinte Equação 1: AA% = 100 {[(absa absb) x 100] x absc} (Equação 1) Onde: AbsA absorbância da amostra AbsB absorbância do branco AbsC Absorbância do controle 2.4 Quantificação de Flavonoides Para estas análises, foi seguido o descrito por Francis (1989), portanto a concentração da amostra do extrato contendo o resíduo da Solanum Paniculatum usada foi de 400µg/mL, diluída em metanol P.A.. A análise foi realizada com 3mL da amostra e 3mL de cloreto de alumínio (2%) diluída em metanol P.A.. A leitura foi efetuada após 30 minutos à temperatura ambiente em absorbância de 415nm e, em seguida, preparado o branco com água destilada, utilizando a quercetina como padrão. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Vários fatores interferem nas características fitoquímicas das plantas medicinais: variações de espécies, clima, coleta, armazenamento e processamento. Através dos estudos realizados nas cascas de uvas (Soares, 2008), pode-se constatar que, geralmente, os resíduos obtidos após o processamento apresentam compostos de interesse biológico remanescente. Na atividade antioxidante avaliada, o valor de CE50 para o resíduo de jurubeba foi de 1332,13µg/mL. Coutinho (2009) que avaliou a atividade antioxidante de raízes de espécies do gênero Solanum, mostrou que a Solanum paniculatum possui a segunda maior atividade antioxidante, quando comparado às espécies Solanum torvum, Solanum mauritianum e Solanum granulosoleprosum. O teor de flavonoides encontrado foi de 17,58 mg de quercetina/g de concentrado. Silva et al. (2015) em estudo semelhante realizado com folhas e flores da Solanum Paniculatum verificaram
valores maiores, 38,79 ± 0,17 mg, para a quercetina, quando avaliado o teor de flavonoides. Silva et al. (2003) apresentaram um estudo com a excepcional capacidade de espécies do gênero Solanum em produzir 3-O-glicosilflavonóis e teores expressivos de kaempferol, quercetina e miricetina metilados na posição 8, muitos dos quais apresentam 8-hidroxilação/glicosilação. Neste trabalho, os autores citam 86 flavonóides, flavonas e flavonóis já isolados ou identificados em espécies de Solanum constituindo, assim, um grupo de substâncias bastante frequente no gênero. Com relação à concentração de compostos fenólicos nos resíduos de jurubeba foram encontrados 379,37 mg de ácido gálico/g de amostra. As substâncias fenólicas encontradas nas plantas, de modo geral, são conhecidas por possuírem atividade antioxidante devido, principalmente, às suas propriedades redutoras (Sousa et al., 2007; Yesilyurt, 2008). 4. CONCLUSÃO Os flavonoides e compostos fenólicos têm se tornado foco de pesquisas nos últimos anos, por conta dos vários efeitos benéficos constatados. Devido as ações antioxidantes, eles se tornaram importantes compostos dietéticos com grande potencial terapêutico. Verificou-se que os resíduos de Solanum Paniculatum, cascas e sementes, que são descartados após a extração do suco da jurubeba para a produção de vinho composto, apresentam valores significativos de flavonoides, compostos fenólicos e atividade antioxidante. Apesar de ser um resíduo completamente orgânico, que não provoca impactos negativos à natureza com o seu descarte, a reutilização das cascas e sementes da jurubeba seria uma ação importante para sustentabilidade dentro de empresas produtoras de vinho tinto composto com extrato de jurubeba. A criação de novos produtos, por exemplo, com propriedades fitoterápicas positivas aos consumidores, com baixo custo seria uma possibilidade de reuso deste material. Porém, é necessário lembrar que a Solanum Paniculatum é uma planta cultivada a esmo, inviabilizando a estimativa ou programação da quantidade obtida da mesma a cada ano. Além disso, seria fundamental uma maior investigação não apenas quanto biodisponibilidade das propriedades citadas, assim como o sinergismo com outros constituintes presentes na dieta dos consumidores. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Coutinho, E. M. O. (2009). Estudo fitoquímico e de atividade biológica de espécies de Solanum (Solaneceae). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Farmácia. Disponível em: http://objdig.ufrj.br/59/teses/725577.pdf Coutinho, M.A.S.; Muzitano, A.S.; Costa, S.S. (2009) Flavonoides: potenciais agentes terapêuticos para o processo inflamatório. Revista Virtual de Química, 1(3), 241-256. Farmacopéia dos Estados Unidos do Brasil. (1959). (2. ed.) São Paulo: Ed. Gráfica Siqueira. Francis, F.J. (1989) Food colorants: anthocyanins. Reviews in Food Science and Nutrition, 28(4), 273 314.
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