CASO 5 (TELECENTROS) E CASO 6 (LAN HOUSES): ESTRATÉGIAS DE USO COMBINADO DE TELEFONIA MÓVEL E INTERNET



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Transcrição:

COMUNICACIONES MÓVILES Y DESARROLLO EN AMÉRICA LATINA CASO 5 (TELECENTROS) E CASO 6 (LAN HOUSES): ESTRATÉGIAS DE USO COMBINADO DE TELEFONIA MÓVEL E INTERNET Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Todos os relatórios em formato.pdf, bem como fotos, vídeos e áudios de entrevistas estão disponíveis no site: http://cmdal.ipso.org.br/ São Paulo, dezembro de 2008

COMUNICACIONES MÓVILES Y DESARROLLO EN AMÉRICA LATINA CASO 5 (TELECENTROS) E CASO 6 (LAN HOUSES): ESTRATÉGIAS DE USO COMBINADO DE TELEFONIA MÓVEL E INTERNET Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Supervisão científica: Francis Pisani, coordenador regional Brasil François Bar, coordenador regional Brasil Equipe de pesquisa: Carlos Seabra, coordenador do projeto Celissa Nardocci, assistente de pesquisa Ilana Seltzer Goldstein, pesquisadora Mariana Di Stella Piazzolla, pesquisadora Mariane Ottati, coordenadora financeira e do convênio Simone Freitas, pesquisadora Com apoio de: Carolina Santos, colaboradora Simone Higuchi, colaboradora São Paulo, dezembro de 2008

CASOS 5 TELECENTROS E CASO 6 LAN HOUSES: ESTRATÉGIAS DE USO COMBINADO DE TELEFONIA MÓVEL E INTERNET Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital. RESUMO Os estudos de caso 5 (telecentros) e 6 (lan houses) sobre usos e estratégias combinadas entre celular e internet foram apresentados conjuntamente por possuírem a mesma estrutura de pesquisa e análise. O objetivo foi avaliar como os usuários de lan houses/cibercafés e telecentros utilizam o computador nestes espaços ao mesmo tempo em que também exploram os recursos de seu telefone móvel. A escolha destes ambientes deve-se ao fato de que estes locais costumam ser apontados como alavancas da inclusão digital no Brasil, além de possuírem conexão banda larga, a qual se tornaria uma possibilidade estratégica para contornar os altos custos da telefonia celular. A metodologia utilizada nestes dois casos combinou entrevistas exploratórias com monitores de telecentros e donos ou atendentes de lan houses com entrevistas quali-quantitativas com freqüentadores de ambos os locais. Entre as questões que nortearam estes estudos estavam: quais as diferenças entre os usos combinados nestes espaços? Quais as especificidades de cada ambiente que facilitaria alguns usos? Existiriam formas de combinar por meio do celular conversa por escrito? Existiriam formas de combinar por chat escrito ligações para celular? Residiria na multimídia a forma mais freqüente de uso concomitante do celular e internet? De acordo com os resultados obtidos com as pesquisas, estes usos conjuntos ainda são incipientes, mas verificaram-se algumas especificidades locais que levaram as lan houses a apresentarem mais usos combinados. Os telecentros, em oposição, demonstraram ser espaços com obstáculos para alguns usos devido à falta de infra-estrutura e a percepção de que estas combinações seriam proibidas. Quanto às práticas, as combinações por meio do celular para agendar chat escrito e o inverso, agendar por chat escrito ligações para celular foram as mais citadas entre os possíveis usos conjuntos, mais citadas até do que as que envolvem multimídia, como descarregar fotos do celular para computador.

ÍNDICE CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO... 1 1.1. CELULAR E INCLUSÃO DIGITAL... 1 1.2. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA DOS CASOS... 3 1.3. HIPÓTESES E METODOLOGIA... 8 CAPÍTULO 2. SISTEMATIZAÇÃO DE RESULTADOS... 11 2.1. PREÂMBULO... 11 2.1.1. CENTROS DE INCLUSÃO DIGITAL DE OSASCO (CIDS)... 11 a) CID Munhoz Jr.... 11 b) CID Bonança... 13 c) CID Vila Yolanda... 13 2.1.2. TELECENTROS DA PREFEITURA DE SÃO PAULO... 14 a) Telecentro UNIBES... 15 b) Telecentro da Biblioteca Affonso Taunay... 15 c) Telecentro Belenzinho... 16 2.1.3. LAN HOUSES... 17 a) Lan house Web Space... 17 b) Lan house Internet Copan... 18 c) Lan house Green House... 19 d) Lan house Caverna... 20 2.2. DA FASE EXPLORATÓRIA... 21 2.3. DA FASE INVESTIGATIVA... 22 2.3.1. TELECENTROS... 22 a) Perfil dos entrevistados... 22 b) Resultados da aplicação de questionários... 24 2.3.2. LAN HOUSES... 26 a) Perfil dos entrevistados... 26 b) Resultados da aplicação de questionário... 27

2.3.3. COMPARAÇÃO ENTRE RESULTADOS DE TELECENTROS E LAN HOUSES... 29 CAPÍTULO 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 31 ANEXOS... 34 A.1. ROTEIRO DE PERGUNTAS DAS ENTREVISTAS EXPLORATÓRIAS... 34 A.2. DADOS DAS ENTREVISTAS... 36 A.3. QUESTIONÁRIOS DA FASE INVESTIGATIVA... 37 A.3.1. QUESTIONÁRIO APLICADO EM TELECENTROS... 37 A.3.2. QUESTIONÁRIO APLICADO EM LAN HOUSES... 42 A.4. INFORMAÇÕES SOBRE TELECENTROS E LAN HOUSES VISITADAS... 47 A.5. TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS... 50 A.5.1. TATIANA, MONITORA DE TELECENTRO - CID MUNHOZ JR. (DATA DA ENTREVISTA: 13/11/2008)... 50 A.5.2. ROSELI, MONITORA DE TELECENTRO - CID BONANÇA (DATA DA ENTREVISTA: 13/11/2008)... 58 A.5.3. PALOMA E CLAUDINEI, MONITORES DE TELECENTRO - CID VILA YOLANDA (DATA DA ENTREVISTA: 13/11/2008)... 61 A.5.4. CARLOS, DONO DA LAN HOUSE WEBSPACE (DATA DA ENTREVISTA: 13/11/2008)... 65 A.5.5. ALEXANDRE, LAN HOUSE - WEBSPACE (DATA DA ENTREVISTA: 13/11/2008)... 68 A.5.6. ALINE, FUNCIONÁRIA DA LAN HOUSE INTERNET COPAN (DATA DA ENTREVISTA: 17/11/2008)... 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 73

1 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Capítulo 1. Introdução 1.1. Celular e inclusão digital Numa época em que a informação é determinante no processo de inserção socioeconômica, política e cultural, tanto de indivíduos, quanto de grupos sociais, a discussão da inclusão digital, em todas as suas facetas, se faz premente. Conforme Rodrigo Assumpção, autor de um estudo sobre programas de inclusão digital no Brasil: A capacidade de uma sociedade desenvolver-se cultural, social e economicamente passa, necessariamente, pelo grau de informação e conhecimento disseminados nela. (...) Inclusão digital resulta de uma formulação positiva e propositiva que agrega as iniciativas de inclusão de grandes parcelas da população, hoje não conectadas às redes telemáticas, sem acesso às linguagens, capacidades e equipamentos das Tecnologias de Informação e Comunicação. (Assumpção, 2001: 12) Acrescentaríamos à definição de inclusão digital acima, pautada pelo acesso e pela habilidade de manejo, a dimensão da apropriação, que envolve também um protagonismo e autonomia dos usuários da tecnologia. No relatório do primeiro estudo de caso intitulado Torpedos na busca de oportunidades por jovens (p. 6) consideramos como apropriação o uso e novas maneiras inventadas de utilizar a mesma ferramenta, de acordo com os locais e contextos dos usuários. Estas recriações podem até modificar o fim para qual inicialmente aquela tecnologia foi pensada, ou até mesmo modificar os conteúdos veiculados por ela. No que concerne ao protagonismo e autonomia, é fundamental, além de disponibilizar equipamentos e de desenvolver a capacidade de uso desses equipamentos, fortalecerem o espírito protagonista, a fim de que os cidadãos possam, por meio da articulação e do conhecimento, transformar situações pouco favoráveis, propor novas iniciativas ou criticar o que precisa ser revisto. A inclusão digital é muito mais efetiva, portanto, quando acompanhada de uma apropriação tecnológica, concebida nos termos apresentados acima. Contudo, a impossibilidade de acesso, manejo e uso criativo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) de grandes parcelas da população, em virtude de limitações de diversas naturezas, revela-se como uma nova face da desigualdade social. Conforme admite o próprio governo brasileiro: Cada vez mais, a estratificação social e o acúmulo de riqueza dão-se em função da capacidade de acessar e processar conhecimento. Esta compreensão tem feito da inclusão digital - entendida como a reversão desta nova face da exclusão - um tema central na pauta de discussão dos governos de diversas nações, organismos

2 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital internacionais, movimentos sociais e organizações da sociedade civil (...). Princípios fundamentais como justiça social, igualdade de oportunidades e a própria democracia passam a ser influenciados pelo acesso às tecnologias de informação e comunicação. (Assumpção e Mori, 2001) Tendo essa discussão sobre a inclusão digital como pano de fundo, o papel da telefonia móvel na contemporaneidade ganha novos contornos. No Brasil, os principais projetos de inclusão digital, públicos e do terceiro setor, baseiam-se exclusivamente no uso do microcomputador. Ao mesmo tempo, o país contabiliza mais de 125 milhões de celulares ativos, e segundo o último levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações ANATEL, registrou-se, de abril de 2007 a abril de 2008, um aumento de 23,16% no número de habilitações, sendo que comparando o crescimento em março do ano passado com o mesmo mês deste ano, houve aumento de 74,85%. 1 Portanto, o acesso à Internet via celular poderia se revelar uma ferramenta de inclusão digital poderosa, no caso brasileiro. O problema é que ainda são poucos os brasileiros que exploram todos os recursos e potenciais da telefonia móvel: Outro levantamento (TIC Domicílios 2007) aponta que metade dos usuários nunca utilizou SMS o mais básico entre os aplicativos de telefonia móvel. Resta perguntar: como fazer do celular uma ferramenta de inclusão digital? Para alguns especialistas, essa cultura deveria ser desenvolvida tendo em vista as potencialidades da comunicação móvel, que ganha, agora, melhor performance na transmissão de dados com a chegada da terceira geração, a 3G. A banda larga no celular traz enorme horizonte para o seu uso. Mas, se o serviço de comunicação de dados, inclusive o SMS, é caro nas redes de segunda geração, ele será mais salgado ainda nas redes de 3G. E, além do custo dos serviços, os aparelhos e modems são caros, porque a escala é muito menor. (...) Como o preço da banda larga na 3G ainda é alto, só seria viável para uso compartilhado, em espaços de acesso público, como telecentro, ou se o usuário puder definir quanto quer gastar, como no pré-pago. (Minuano e Quintanilha, 2008) As barreiras ao uso social do celular não se resumem aos custos, mas também à timida exploração de seu potencial por parte de quem produz conteúdos e elabora políticas públicas, no Brasil. No artigo The invisible computer revolution, Selanikyo (2008) mostra que, na África, ao contrário, a inclusão digital e educacional tem se realizado em grande parte por meio do celular, já utilizado por muitos africanos para acessar e-mails, agendar compromissos e fazer pagamentos. Existe, por exemplo, um projeto idealizado por Paul Shuper, da Universidade de Connecticut, no qual um software de prevenção e combate à AIDS foi adaptado para o celular, a fim de disseminar informações às populações africanas e alertar os portadores de HIV sobre os horários da medicação. Mas em nosso país ainda são raros os serviços públicos oferecidos 1 Conforme divulgado pela Anatel em: http://tinyurl.com/5bbxhr

3 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital via celular, bem como as iniciativas de governo eletrônico disponíveis, mesmo em plataformas simples como o SMS. É pena, pois a capilaridade do celular é enorme e, por meio do telefone móvel, poderiam ser beneficiados inclusive cidadãos que vivem em condições particularmente precárias. Ainda assim, vale a pena mencionar algumas destas poucas iniciativas no âmbito nacional, que envolvem o uso de celular e serviços públicos, encontradas durante o levantamento sobre possíveis estudos de casos que comporiam, com telecentros e lan houses/cibercafés, a presente pesquisa. Abaixo se encontram três experiências significativas, na área da saúde, cultura e cidadania, respectivamente: GlicOnline (Estado de São Paulo) Um programa eletrônico instalado no telefone celular que permite calcular com precisão a dose de insulina que um diabético deve aplicar antes de cada refeição. Este programa está sendo implementado no Hospital das Clínicas, mantido pelo governo do Estado de São Paulo. Teatro Guaíra (Estado do Paraná) A programação do Teatro Guaíra, um centro cultural do governo do Estado do Paraná, localizado na cidade de Curitiba, é enviada aos cidadãos via SMS, contendo informações como preços e horários das atrações. InformaFácil (Estado do Piauí) São pequenos programas (micro-aplicativos) que podem ser instalados no celular para pesquisar informações dos órgãos do governo do estado. Cada micro-aplicativo tem o foco em um órgão distinto para acesso às informações. O Detran-Piauí é o primeiro órgão do estado a ganhar uma versão para celular. O cidadão pode pesquisar informações como multas, IPVA, licenciamento, taxas e pontuação na carteira nacional de habilitação. Os próximos módulos terão informações sobre contracheque do servidor público, acesso a contas de água e luz. 1.2. Apresentação e justificativa dos casos A Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias da Informação e Comunicação 2007 2, realizada pelo Comitê Gestor da Internet, revelou que os espaços coletivos de acesso à Internet são muito importantes no Brasil e que tem havido uma rápida multiplicação desses espaços. Os números demonstram um crescimento de 100% no último ano, nesses ambientes de acesso público gratuitos. (...) Quase metade dos internautas brasileiros acessam à Internet em locais públicos pagos. (Bechara, 2008) 2 Esta pesquisa pode ser acessada no endereço eletrônico: http://www.cetic.br/tic/2007/indicadores-cgibr-2007.pdf

4 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital As lan houses/cibercafés são presença marcante no Brasil desde o final da década de 1990. LAN é uma abreviação de Local Area Network, rede local de computadores localizados em uma área pequena. Voltadas à locação de equipamentos de informática e ao acesso à Internet, mediante pagamento por hora ou por período, as lan houses têm múltiplas utilizações, dependendo da região e do perfil dos freqüentadores. As primeiras lan houses surgiram no Brasil no final de 1998, quando o empresário brasileiro Sunami Chun voltou de uma viagem à Coréia do Sul e trouxe a idéia para São Paulo e fundou a Monkey, hoje a maior rede do País. O negócio prosperou e, em 2001, a empresa montou um esquema de franquias. (...) O modelo de negócio de lan houses vem sendo um sucesso. Depois da Monkey, milhares de lan houses ganharam o espaço dos Cyber Cafés e se espalham pelo País. (...) A casa de jogos em rede, instalada em um ambiente com arcondicionado e poltronas confortáveis, é a versão hi-tech do velho fliperama. (...) Jogadores se divertem com as últimas novidades do ramo de jogos, todos conectados em rede em um único ambiente virtual. (Hessel e Guimarães, 2008) Inicialmente criadas para possibilitar jogos em rede, as lan houses/cibercafés acabaram assumindo papel importante na conectividade dos cidadãos de uma maneira geral, servindo tanto para acessar e-mails e sites de relacionamento, como para imprimir currículos, entre outros usos. No Brasil, há pelo menos quinze mil lan houses, segundo estimativas mais cautelosas, podendo chegar até a cinqüenta mil, nas estimativas mais amplas. Este número varia de acordo com a fonte, mas segundo a ABCID Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital, menos de 20% possuem funcionamento legal e dessa porcentagem nem todas possuem licença de lan house ou cibercafé, sendo que boa parte das que têm funcionamento legal estão registradas como locadoras de vídeo ou outros estabelecimentos comerciais 3. Talvez pela rápida explosão do fenômeno das lan houses/cibercafés, mas também em virtude da variedade de perfis dos usuários, encontramos informações contraditórias sobre o públicoalvo desses estabelecimentos. Uma reportagem publicada no jornal Gazeta Mercantil afirma que o público das lan houses/cibercafés é constituído predominantemente por jovens em busca de jogos em rede, com idade de 13 a 27 anos, das camadas A e B, sendo 90% do sexo masculino (Hessel e Guimarães, 2008). Já o Comitê Gestor da Internet aponta para outros resultados, a partir de um levantamento realizado em 2007, segundo o qual os usuários teriam rendas modestas e baixo grau de escolaridade: Os centros pagos de acesso público, como as lan houses, são o principal local de uso da Internet para as classes C, D e E (...). Os centros pagos são usados por 48,1% dos internautas das classes D e E. (...) Para quem tem renda familiar 3 Segundo dados divulgados em: http://www.abcid.com.br

5 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital mensal de até R$ 1 mil, os centros pagos são o local de acesso mais usado. (...) A iniciativa privada, que cobra entre R$ 1 e R$ 2 por hora de uso, se mostra muito mais eficiente que o poder público 4, com programas de telecentro e acesso gratuito. A pesquisa do Comitê Gestor mostrou que somente 6,4% dos internautas das classes D e E recorrem aos centros gratuitos. Na classe C, o índice é menor ainda, de 4,13%. (Cruz, 2008) De qualquer modo, se no começo a concepção de lan house era intimamente ligada aos jogos eletrônicos, hoje seu espectro de atividades é bem mais amplo. Antes focadas em clientes mais elitizados, em bairros nobres e centros comerciais, atualmente distribuem-se nas periferias, favelas e cidades do interior, complementando o esforço de inclusão digital dos telecentros. No Brasil é conceitualmente confundida com espaços de cibercafés, pois geralmente estão associadas a bares ou lanchonetes de diferentes proporções, mas por uma questão prática, neste estudo designaremos todos os espaços por lan houses, incluindo os que nitidamente são cibercafés. Figura 1. Funcionário e freqüentadores da lan house Internet Copan Exemplo de lan house que vende também comidinhas e café em seu espaço. Fonte: IPSO, 2008 Os telecentros, por sua vez, são locais de acesso público, com equipamento de informática, em que se oferecem gratuitamente cursos, informações e serviços, visando ao fortalecimento do 4 Quanto à distinta e melhor eficiência das lan houses/cibercafés em relação aos telecentros, é importante salientar que cada qual tem sua importância dentro de uma política de inclusão digital. Poderíamos até usar uma metáfora, em que as lan houses seriam comparadas às livrarias e os telecentros, às bibliotecas. Ambos os estabelecimentos são fundamentais para um acesso à cultura e aos livros, mas cumprem diferentes papéis para atingir este objetivo. Assim, ocorre também com lan houses/cibercafés e telecentros, enquanto a primeira disponibiliza comercialmente o acesso, a segunda se caracteriza mais como um espaço de aprendizagem.

6 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital empreendedorismo e à inclusão digital e no qual é encorajado o uso do software livre. De acordo com a definição do Ministério da Comunicação: Telecentros são espaços com computadores conectados à Internet banda larga. Cada unidade possui normalmente entre 10 e 20 micros. O uso livre dos equipamentos, cursos de informática básica e oficinas especiais são as principais atividades oferecidas à população. Cada telecentro possui um Conselho Gestor, formado por membros da comunidade e eleitos pela mesma, que ajudam os funcionários na fiscalização e gestão do espaço. (...) Um dos objetivos principais do projeto é organizar uma rede de unidades de múltiplas funções que permita às pessoas adquirirem autonomia tecnológica básica e privacidade a partir do software livre. (Ministério das Comunicações, 2008) Os telecentros muitas vezes recebem outras designações, como infocentros, no caso de todas as unidades existentes no estado da Bahia e também das unidades do Acessa São Paulo, programa do governo estadual. Em Osasco recebem o nome de CID Centro de Inclusão Digital, onde a terminologia telecentro parece não estar ainda amplamente difundida, pelo menos entre os usuários, o que causa certa confusão entre o tipo de serviço e suas nomenclaturas. Esta confusão foi observada, por exemplo, em nossa aplicação de questionário, quando uma das respondentes, que estava no CID Bonança, nos perguntou o que seria um telecentro pois as perguntas se referiam sempre à telecentros e/ou lan houses. No entanto, por uma questão prática, chamaremos daqui por diante, todos estes espaços públicos de acesso gratuito à internet de telecentros. Figura 2. Usuários no telecentro Belenzinho Foto feita em telecentro de São Paulo. Ao fundo, aparece o monitor em pé, auxilando um dos usuários. Fonte: IPSO, 2008.

7 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital De acordo com o Observatório Nacional de Inclusão Digital ONID, estão mapeados 5.123 telecentros distribuídos pelo território nacional (dados de novembro/2008). 5 No entanto, segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2006 (Munic 2006), somente metade dos municípios brasileiros (52,9%) informou possuir planos ou políticas de inclusão digital com a criação de telecentros e a promoção do acesso à internet. Uma enquete levada a cabo pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), em parceria com o Ministério da Educação (MEC), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2005 nuança esta informação. Somente 21,1% da população brasileira com idade a partir de 10 anos teve acesso à rede nos três meses anteriores à PNAD, sendo a taxa de freqüência a telecentros metade da taxa de freqüência a lan houses: No caso de locais de acesso público, como os telecentros, somente 2,1% da população nessa faixa etária manifestou ter freqüentado um centro gratuito frente 10,5% que usou a rede em casa, 8,3%, no trabalho, 5,4% na escola e 4,6% em centros pagos. (Oliveira, 2007) O acesso em telecentros é gratuito, com duração entre 30 minutos e 1h, sendo que se não houver outras pessoas esperando para usar, esse tempo pode ser estendido. Os telecentros geralmente funcionam 8h por dia, apenas durante a semana, já lan houses têm horários mais amplos, algumas funcionando inclusive de madrugada e aos fins de semana, sendo que o uso é cobrado por hora. Os telecentros geralmente estão vinculados a projetos comunitários, têm software livre instalado em suas máquinas e em seus espaços ocorrem cursos, além de possuírem monitores, que auxiliam o usuário, enquanto nas lan houses isso não acontece. Nos estudos de caso 5 (telecentros) e 6 (lan houses) procuramos compreender de que maneira os usuários de telecentros e lan houses locais que costumam ser apontados como alavancas da inclusão digital, no Brasil utilizam o celular e o computador de forma associada, bem como investigar até que ponto pessoas que usam o PC também exploram os recursos de seu telefone móvel. Ao escolhermos telecentros e lan houses como objetos para os estudos de caso 5 e 6, respectivamente, fomos movidos pelo pressuposto de que os usuários de ambos os tipos de estabelecimento reconhecem sua necessidade de comunicação digital e já têm algum grau de familiaridade com as novas tecnologias. Consideramos que quase todos os freqüentadores de telecentros e lan houses possuem celulares em seus bolsos e certamente os utilizam em combinação com a Internet, pelo fato de freqüentarem espaços em que a conexão banda larga é oferecida. Levamos em conta, ainda, que telecentros e lan houses são espaços de sociabilidade, como as praças públicas contemporâneas, nas quais as pessoas se encontram, se comunicam e trocam experiências. 5 O mapa completo de telecentros pode ser consultado em: http://mapa.onid.org.br/

8 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital 1.3. Hipóteses e metodologia É preciso explicar que, como as hipóteses e a metodologia que embasaram as duas investigações são muito semelhantes, optamos por confeccionar um único relatório. Os dois estudos de caso foram desenvolvidos concomitantemente, pela mesma equipe, porém em ambientes diversos uns públicos e outros privados, cada qual com suas regras e dinâmicas próprias. A fim de facilitar a comparação dos resultados e também para evitar redundância nos relatórios, o presente documento foi elaborado de forma a contemplar tanto a pesquisa com telecentros, como a pesquisa com lan houses/cibercafés. A primeira parte do relatório refere-se simultaneamente a ambos os casos, ou seja, a introdução, a apresentação dos objetos, as hipóteses e a metodologia são comuns. No entanto, no momento da sistematização de resultados e de tecer as considerações finais, serão enfatizadas convergências e divergências entre os dois casos, com base nos resultados obtidos em cada ambiente. Ambos os estudos foram desenvolvidos nos meses de outubro e novembro de 2008 6, na região metropolitana de São Paulo, baseados nas hipóteses que se seguem: 1. As formas de conectividade empregadas nas lan houses e nos telecentros seriam diferentes, em virtude das especificidades de cada um desses espaços. 2. Nas lan houses e telecentros existiriam formas de comunicação por meio da voz que combinam telefonia móvel e Internet. Algumas dessas combinações e estratégias servem para minimizar custos e outras que independem de fatores financeiros, devendo-se a uma questão de praticidade e agilidade. 3. Nos dois tipos de estabelecimento existiriam formas de comunicação por meio de texto que combinam a telefonia móvel e a Internet, por exemplo para o envio de mensagens SMS. 4. Uma das formas mais freqüentes de uso concomitante do celular e da Internet residiria na multimídia, para descarregar fotos e filmes do celular em sites como o Orkut 7 ou baixar ringtones da Internet para o celular. 5. Existiriam demandas que os usuários de lan houses e telecentros gostariam de satisfazer, mas não podem, em virtude de restrições de tempo, dinheiro, equipamento ou outros motivos. 6 As datas de todas as entrevistas são apresentadas no Anexo 2 - Lista de entrevistados, idade, local e datas das entrevistas. 7 O Orkut é um fenômeno no Brasil. Os 40 milhões de usuários brasileiros representam 54% de todos os inscritos no serviço do Google. Mesmo com a crescente popularidade de seus concorrentes, como My Space e Facebook, em vários outros países do mundo, o Orkut ainda é a rede social mais popular no país, segundo dados do IDGNow! na reportagem de julho de 2008. Acesso em: http://tinyurl.com/5emdyr.

9 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital 6. Haveria situações em que ligações do celular são realizadas para complementar buscas de informação realizadas previa ou concomitantemente na Internet. A verificação de tais hipóteses se deu em duas etapas. Numa primeira etapa, de cunho exploratório, conversamos com os responsáveis por lan houses e telecentros, a fim de compreender a lógica de seu funcionamento e levantar os principais usos e apropriações do celular conjugado ao computador, que eles observam no dia-a-dia dos usuários de seus espaços. Numa segunda etapa, aplicamos questionários mais curtos e estruturados a 21 usuários lan houses e 23 usuários de telecentros, para detectar suas práticas, tendências e demandas. Inicialmente, foram feitas 2 entrevistas exploratórias com proprietários ou gerentes de lan houses e mais 3 com monitores de telecentros. As entrevistas com monitores ocorreram em 3 telecentros diferentes da cidade de Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Já as 2 entrevistas com donos ou atendentes de lan houses foram feitas dentro de seus estabelecimentos, localizados no centro da capital. 8 Figura 3. Localização dos telecentros e lan houses onde foi realizada a pesquisa Telecentros CID Munhoz Jr CID Bonança CID Vila Yolanda Telecentro UNIBES Lan houses Lan house Web Space Lan house Internet Copan Revistaria e Internet Green house Caverna Lan house Telecentro da Biblioteca Affonso Taunay Telecentro Belenzinho Fonte: IPSO, 2008. 8 O roteiro das entrevistas exploratórias encontra-se no Anexo 1.

10 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Com base nas conversas exploratórias e em nossas hipóteses de pesquisa, foram aplicados 44 questionários semi-estruturados a usuários de ambos os estabelecimentos metade em lan houses e metade em telecentros. Retornamos a apenas um dos telecentros de Osasco e aplicamos o restante dos questionários em três telecentros da prefeitura de São Paulo, localizados no bairro do Belém, Canindé e Mooca. No caso das lan houses, retornamos às duas que participaram da fase exploratória, e visitamos outras duas, localizadas em Pirituba, um bairro periférico da cidade de São Paulo. Os questionários semi-estruturados combinaram a metodologia qualitativa com a metodologia quantitativa. A maioria das questões era fechada, do tipo múltipla escolha, com a finalidade de facilitar a tabulação dos resultados. Mas havia também algumas questões abertas, para que os usuários dos espaços formulassem suas próprias respostas e fornecessem novas informações não previstas por nós. 9 Após a análise dos dados coletados, optamos por redigir um único documento compreendendo os estudos de caso 5 e 6, como já se mencionou na introdução desse documento. Isso se deveu a dois dois motivos: I. Como a metodologia e as hipóteses formuladas são bastante semelhantes, haveria redundância de uma parte do relatório, caso fizéssemos dois documentos separados. II. A proximidade das análises dos dois casos em um mesmo documento facilitará a análise comparativa, dimensão que subjaz à construção dos casos 5 e 6. 9 Os questionários aplicados a usuários de lan houses e telecentros encontram-se no Anexo 3 do presente relatório.

11 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Capítulo 2. Sistematização de resultados 2.1. Preâmbulo A sistematização de resultados dos relatórios 5 (telecentros) e 6 (lan houses/ciber cafes) será apresentada de modo a privilegiar uma análise dos usos combinados entre celular e computador/internet de modo que sua estrutura não terá uma divisão temática. Procuraremos evidenciar, primeiramente, os usos em cada espaço, o que nos permitirá posteriormente realçar as diferenças no modo em que estas combinações ocorrem. Mas antes de partirmos para a análise dos resultados obtidos, convém descrever um pouco os locais nos quais estivemos, algumas impressões, bem como a receptividade com a qual nos acolheram. 2.1.1. Centros de Inclusão Digital de Osasco (CIDs) Os Centros de Inclusão Digital fazem parte do Programa Osasco Digital, implantado pela Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão da prefeitura. Criado em 2006, o Programa utiliza equipamentos públicos para instalação das unidades, como os CRAS Centros de Referência de Assistência Social e os CACAS Centros de Atendimento à Criança e Adolescente, entre outros. Hoje existem 12 CIDs em diferentes bairros da cidade, segundo o coordenador Marcos Paulo Oliveira. Neles são realizados cursos, mas também há máquinas disponíveis para acesso livre, durante uma hora ou mais, caso não haja pessoas esperando para usar. A coordenação do Programa foi muito solícita, nos autorizando prontamente o acesso aos telecentros tanto para a realização das entrevistas exploratórias, em três CIDs: Munhoz Jr., Bonança e Vila Yolanda, quanto para a aplicação dos questionários, que optamos por fazer no segundo deles. Abaixo seguem as impressões dos telecentros visitados. a) CID Munhoz Jr. O CID Munhoz Jr. funciona no bairro de mesmo nome, que é carente e perigoso, apresentando um dos maiores índices de violência de Osasco. A unidade está instalada dentro de um CRAS

12 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Centro de Referência de Assistência Social, que oferece serviços como: creche, cursos de artesanato, capoeira, hip hop, oficinas etc. A monitora nos contou que o espaço é mais conhecido pela população como uma creche e por isso conhecem pouco sobre a diversidade de atividades que o CRAS oferece e sobre o telecentro, que existe desde março de 2006. Para melhorar a comunicação com a comunidade estão planejando um jornal para divulgação dos serviços, que será custeado pelos anúncios dos comerciantes locais. Outro fato que chama a atenção e foi mencionado pelos monitores das três unidades visitadas é que o telecentro é visto como um local em que as pessoas ficam mais à vontade para tirar suas dúvidas e tentar aprender mais, enquanto o mesmo não ocorre na lan house. No telecentro em questão, a monitora acredita que os usuários sabem que lá todos estão disponíveis para ajudar a resolver dúvidas em qualquer situação, já na lan house, a assistência estaria condicionada aos serviços que são pagos, como impressão: "Aqui eles têm uma assistência muito maior. Todos estão disponibilizados a ir a qualquer hora e estar ajudando. Em lan house, normalmente não é isso. Normalmente a pessoa chega lá, eu sei porque eu já fui antes, e você senta lá e normalmente quando você precisa de alguma coisa tem que pensar em alguma coisa assim que é pago, que você vai pagar 'eu preciso de uma impressão'. Aí sim eles vêm rapidinho porque eles sabem que você vai imprimir e cada impressão você vai ter que pagar, entendeu?" (Tatiana Silva, 21 anos - monitora) Figura 4. Monitora do CID Munhoz Jr. durante entrevista Ao fundo, freqüentadores do telecentro. Fonte: IPSO, 2008.

13 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital b) CID Bonança O CID Bonança foi o segundo telecentro que visitamos na fase exploratória. Durante o trajeto de carro até o local, nos perdemos nas duas vezes que tivemos que ir até lá. Primeiramente, quando fomos para conversar com os monitores, e depois, quando fomos para aplicar os questionários. Este telecentro está instalado no canteiro de uma obra do PAC Plano de Aceleração do Crescimento 10. A forma como se deu sua instalação ilustra a necessidade e vontade da população em ter um telecentro no bairro. A obra prevê a construção de um conjunto habitacional para a população que vive na favela do entorno. Instalações de saneamento básico e um centro cultural, que deveriam ter sido entregue em julho deste ano, abrigaria o telecentro. Sua conclusão está atrasada, mas os computadores chegaram no prazo e os moradores, que fazem parte de vários movimentos comunitários (cooperativa de crédito, movimento por moradia etc.), pediram autorização e apoio da prefeitura para instalar o telecentro ali mesmo, dentro de um barracão de madeira, semelhante aos normalmente usados como alojamento pelos funcionários de obras. O lugar é apertado, não tem piso e pouca circulação de ar. Até uma semana antes de nossa visita, não havia sanitários para os freqüentadores, que dividiam com os peões os banheiros da obra. Mesmo assim, os moradores conseguiram a conexão à internet com a prefeitura, assim como os móveis, deste modo o telecentro já está funcionando há quatro meses. c) CID Vila Yolanda O CID Vila Yolanda está instalado dentro de um CRAS - Centro de Referência de Assistência Social. O CRAS deste bairro ficou abandonado durante bastante tempo, sem atividades para a comunidade. Este CID funcionava anteriormente no bairro da Bela Vista, sendo que esta foi a primeira unidade implantada na cidade pela prefeitura. Em meados de 2007, foi feita a transferência para a Vila Yolanda, um bairro mais próximo do centro de Osasco, cuja população tem poder aquisitivo maior. Segundo os monitores, o telecentro ainda é pouco conhecido, sendo que é mais frequentado por moradores de outros bairros. Uma característica que chama a atenção neste telecentro é relativa ao seu público: bastante equilibrado em relação ao sexo, como nos outros dois visitados, porém com grande freqüência de donas de casa, que se inscrevem para os cursos e ficam sabendo que há horários livres de 10 Trata-se de programa do governo federal que tem como objetivo estimular o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) por meio de mais investimentos na economia.

14 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital uso, passando a usar o telecentro com mais freqüência. Um caso contado pelos monitores caracteriza o espaço como ponto de encontro, assim como acontece nos dois outros telecentros visitados: "O pessoal que faz o curso se enturma. Tinha uma turma só de mulher e combinaram e no horário de acesso livro vieram para cá como se fosse uma aula. (...) Tem meninas mais novas e tem umas senhoras mais velhas e combinaram e se reuniram e ficou a turma." (Paloma Rivolta, 21 anos monitora) No mesmo dia em que visitamos os três telecentros, foi inaugurado mais um: o CID Marieta. É interessante cita-lo por ser, até então, uma lan house de uma igreja evangélica. O pastor ficou sabendo sobre o programa de telecentros da prefeitura e resolveu que seria melhor fazer uma parceria para transformar a lan house em telecentro, para que assim pudesse oferecer o serviço sem custo aos usuários. 2.1.2. Telecentros da prefeitura de São Paulo Em São Paulo aplicamos os questionários em três, dos quatros telecentros da fase investigativa, os quais são: Unibes, Biblioteca Affonso Taunay e Belenzinho. O programa de telecentros da prefeitura da cidade existe desde 2001. O projeto foi iniciado ocupando espaços públicos que pertenciam à municipalidade, prédios que foram reformados, revitalizados e usados para esta nova atividade. Mais tarde foram firmados convênios com entidades de sociedade civil para que estes espaços abrigassem telecentros. Hoje a rede é composta por 301 unidades, com cerca de 20 computadores em cada telecentro, que funcionam com 75% deles dedicados à formação da população, com cursos e oficinas de informática e os outros 25% reservados para o uso livre. As oficinas podem ser de Capacitação para Inserção no Mundo do Trabalho, de Arte Digital, de Educação Ambiental, de Colagem, de Criação de Sites e Processamento de imagens, entre outras. Em todos os três telecentros que visitamos, entrevistamos grande parte de usuários que estavam justamente no horário do curso de capacitação. Para fazer a entrevista nos telecentros da capital foi um pouco mais difícil do que em todos os outros locais. Foi necessária a autorização da coordenadora de inclusão digital da prefeitura, que comunicou os monitores sobre a nossa visita. Entretanto, os locais não puderam ser fotografados.

15 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Esta questão da proibição permeará a análise de alguns hábitos de usos no telecentro, que, por exemplo, não se percebe na lan house. Apesar de nenhum telecentro proibir conteúdo de sites de relacionamentos, ou ferramentas de comunicação instantâneas, há um clima de que alguns usos não são permitidos, apesar de não haver de fato tais restrições. Por exemplo, os monitores disseram não ser proibido receber ou efetuar ligações dentro da sala, mas alguns repondentes disseram sair da sala para atender o celular porque achavam que era proibido atender lá dentro. A seguir, apresentaremos impressões e características dos telecentros que visitamos: a) Telecentro UNIBES O espaço onde está o telecentro se parece bastante ao de uma escola pública, porém bem cuidada. Inclusive, quando chegamos, as crianças estavam brincando na quadra. Ao terminar a aula delas, por volta das 17h, a monitora pediu para as pessoas que estavam nas máquinas de uso livre que as liberassem, uma vez que as crianças têm uma hora reservada para seu uso. O telecentro funciona no Núcleo Sócio Educativo e de Capacitação Profissional da UNIBES - União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social trata-se de uma entidade filantrópica, que funciona há 30 anos no bairro do Canindé e imediações. Ele existe há dois anos e meio e tem 2.834 usuários cadastrados, sendo que 26% deles estão na faixa etária entre 11 e 16 anos. Conversando com a supervisora do telecentro ficamos sabendo que não é possível baixar fotos do celular para o computador. Segundo o monitor, alguns aparelhos só funcionarão quando for feita a atualização do sistema operacional (Linux), que depende da visita dos técnicos da prefeitura. Interessante notar que a supervisora comentou não haver restrições quanto ao uso de fones para os usuários ouvirem música, apenas ressaltou que é preciso que eles tragam os seus essa conversa aconteceu alguns minutos após a aplicação dos questionários, em que uma das entrevistadas afirmou não ouvir música com fone no espaço por achar que era proibido. b) Telecentro da Biblioteca Affonso Taunay O telecentro funciona dentro da Biblioteca Affonso Taunay, localizada na subprefeitura da Mooca. É um ambiente interessante, pois se assemelha a uma vila, em que também estão situadas uma unidade da Assossiação de Assistencia à Criança com Deficiência (AACD) e uma EMEI Escola de Educação de Ensino Infantil. Este telecentro também é bem próximo a um albergue, por isso muitos de seus usuários são de idade mais avançada.

16 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital De todos os telecentros que visitamos, é o mais recente. Foi inaugurado somente no dia 08 de Setembro de 2008 e possui até o momento 858 usuários cadastrados, sendo que 55% são do sexo masculino, 19% possui ensino médio completo e 18% estão na faixa etária entre 11 a 16 anos. Chegamos antes de um dos cursos introdutórios começarem, então não houve muita dificuldade para fazer as entrevistas. Por outro lado, não pudemos observar pessoas usando celular na sala. c) Telecentro Belenzinho O espaço em que está instalado este telecentro é, na verdade, uma casa simples com duas salas. Uma delas estava ocupada por senhoras que faziam artesanato e outra, mais ao final do corredor, era apertada e continha cerca de 20 computadores. Não é à toa que ao final da aplicação dos questionários, um dos freqüentadores do espaço veio perguntar se poderíamos auxiliá-lo no movimento que estavam formando para reivindicar por um telecentro mais bem equipado e estruturado. O telecentro Belenzinho existe há quase três anos. Foi inaugurado no dia 6 de março de 2006 e tem 3.799 usuários cadastrados. Parece ser um lugar freqüentado por muitos jovens, pois presenciamos muitas crianças com uniformes esperando para usar os computadores com acesso livre. Aparentou-nos ser um costume ir ao telecentro, assim que termina o horário de aula. Figura 5. Crianças na área de espera do telecentro Belenzinho Elas esperavam para usar o telecentro naquele momento, parte dos computadores estavam sendo usados em um curso, e o restante das máquinas para acesso livre estavam ocupadas. Fonte: IPSO, 2008.

17 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Durante as entrevistas alguns comentários surgiram, que nos parece importante citar, como o caso da menina que ganhou um celular com TV digital: ela confessou que quando sua mãe a proíbe de assistir a novela, vai até seu quarto e assiste escondida no seu celular. Ou o caso de um jovem que disse não poder descarregar fotos naquele ambiente, pois os computadores não têm entrada USB. 2.1.3. Lan houses As diferenças na escolha de freqüentar uma lan house ou telecentro, nem sempre têm a ver com as condições financeiras dos usuários, mas também com a atenção dispensada a eles durante o tempo em que permanecem no local. As lan houses são mais caracterizadas pela privacidade que asseguram ao seu cliente, como podemos ver nos depoimentos a seguir: (...) todo mundo, você sabe que tá vindo aqui e aqui você sabe que tem privacidade. Não é que nem telecentro que é tudo aberto, não tem nenhum conforto. (...) Aqui eles vem pra algo mais privativo, mais confortável. (Alexandre, atendente de lan house) Na lan house é mais confortável, tem internet mais rápida e dá mais privacidade ao usuário (..). (Joeli Keila Silva, respondente da lan house Internet Copan) Esta característica também foi percebida quando avaliamos os conteúdos das entrevistas exploratórias. Há três fatores que mostram uma postura de não se ocupar em ter informações sobre usos de clientes, o que garante a privacidade: 1) os atendentes disseram dar pouca atenção para o que seus clientes fazem; 2) os atendentes conseguem identificar que alguns clientes utilizam o celular enquanto usam o computador, mas não sabem dizer como e para quê; 3) os atendentes estão sempre ocupados com outros serviços que a lan house oferece, como digitação, impressão, entre outras coisas. Esta avaliação levou-nos a concluir somente duas entrevistas exploratórias, apesar de termos previsto inicalmente três, assim como ocorreu com os telecentros. Esta decisão foi tomada a partir da percepção de que obtivemos poucas informações dos usos de celulares combinado ao computador entrevistando atendentes e donos de lan houses. Deste modo, em busca de maiores detalhes, partirmos para a aplicação dos questionários. a) Lan house Web Space Na lan house do shopping Frei Caneca fomos muito bem recebidas e o dono nos indicou alguns clientes fiéis para que pudéssemos entrevistá-los. Fomos à noite e talvez por isso

18 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital muitos se negaram a responder o questionário, pois estavam com pressa para voltar para casa, ir a algum compromisso, ou simplesmente não gostavam de dar entrevistas. Mesmo quando o dono da lan house ofereceu mais cinco minutos de graça, um cliente respondeu: nem se você me desse vinte. O espaço realmente parece oferecer privacidade para seus clientes, pois de poucos ângulos conseguimos ver as telas dos computadores. Esta é uma lan house que se caracteriza por também oferecer serviços para além do acesso à internet, como recarga de cartucho, assistência técnica, entre outros. Um diferencial desta lan house é que parte de seus clientes são empresários devido à existência de um centro de convenções dentro do shopping. Estes usuários podem optar por acessar à Internet pelo lap-top, utlizando o serviço de wi-fi da lan house. Por causa deste perfil específico de clientes, o dono da lan house afirmou ver muitas pessoas usarem celular enquanto estão na frente do computador, principalmente quando se trata de assuntos referentes ao trabalho, aliás, reforçou que preferem usar o celular a skype. Figura 6. Funcionário e clientes da lan house Web Space Nesta lan house o mobiliário garante privacidade a quem está usando o computador. Fonte: IPSO, 2008. b) Lan house Internet Copan Esta é uma lan house do centro, localizada no Edifício Copan, e fica aberta 24 horas, exceto aos sábados, quando fecha à meia-noite e reabre no domingo às 16h.

19 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital Em entrevista, a atendente nos disse que algumas pessoas passam o dia trabalhando naquele estabelecimento. E como é uma lan house no centro de São Paulo, durante o dia as pessoas que usam são, em sua maioria, comerciários ou trabalhadores do seu entorno. Costumam ficar 15 minutos e depois retornar mais tarde. Foi assim que percebemos quando estivemos lá, um grande movimento, com pessoas que ficam de dez a vinte minutos, porém à noite, segundo o depoimento da atendente, é mais freqüentada por moradores da região, que permanecem por muito mais tempo. Poucas pessoas se negaram a dar entrevista. Enquanto esperavamos terminarem de usar o computador para então perguntar se aceitariam responder o questionário, pudemos observar três pessoas falando ao celular em frente ao computador. Uma delas, na verdade, usava o nextel (sistema de telefonia celular via rádio), e parecia ser daqueles usuários que passa o dia trabalhando na lan house. Falava alto e parecia fechar negócios enquanto procurava informações na internet. Pudemos ouvir ele dizer: o documento já está no site, estou vendo aqui ou repete o seu email, porque está voltando para a minha caixa. c) Lan house Green House Nesta lan house chegamos perto do horário de almoço, um pouco antes do horário da aula da tarde da escola a uma quadra dali. Muitos dos usuários que estavam presentes, jogavam jogos e estavam uniformizados. Dos que jogavam, todos eram meninos. Figura 7. Crianças jogam na lan house Green House Fonte: IPSO, 2008. Esta é uma lan house localizada na periferia de São Paulo, no bairro de Pirituba, mas não se caracteriza por ser exatamente uma lan house de jogos. Este serviço é bastante procurado porque o espaço é freqüentado por muitos jovens, além de estar muito próxima a uma escola, porém este não é um público exclusivo.

20 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital É interessante notar que ninguém se opôs a dar entrevista e pelo contrário, muitos garotos quiseram responder, pois acharam interessante responder uma pesquisa. Três dos usuários comentaram não freqüentar telecentro, pois o mais próximo se localizava em um bairro um pouco distante. Deste modo, preferem gastar o dinheiro do ônibus para ir ao telecentro em horas na lan house. Diante do descrito, é possível afirmar que este estabelecimento foi o que mais se caracterizou por ser um espaço de sociabilidade de jovens e os próprios respondentes que disseram ter internet em casa, afirmaram ir para a lan house para encontrar os amigos. d) Lan house Caverna Uma casa envidraçada com insufilm preto que não permitia ver o que tinha dentro. Para entrar foi preciso tocar a campainha. O ambiente era escuro e com alguns computadores lá dentro. O dono disse que já tinha sido assaltado muitas vezes e por isso não era um ambiente totalmente aberto. Figura 8. Fachada da lan house Caverna Fonte: IPSO, 2008. O estilo arquitetônico desta lan house, também do bairro de Pirituba, poderia ser comparada a uma lan house de jogos, mas esta também não é exclusiva para estes serviços. À noite costuma ser mais movimentada, horario em que nos dispomos a ir, justamente porque os moradores da região voltam do trabalho, além dos alunos da escola ao lado freqüentarem após o turno da aula da tarde. Tanto nesta lan house, como na Green House, ao serem perguntados sobre restrição de usos, os donos lembraram que menores de doze anos só podem freqüentar o local, se

21 Estudos de caso com usuários de espaços de inclusão digital acompanhados pelos pais, e jovens de 12 a 16 anos, precisam de uma autorização por escrito. Ressaltaram também que não é permitido usar os computadores se estiverem em horário de aula, controle que conseguem fazer pelo cadastro individual de cada cliente. 2.2. Da fase exploratória Vários depoimentos enfatizam tanto o enraizamento do telecentro na comunidade, como a complementaridade entre telecentro e lan house, destacamos este da monitora do CID Bonança (Osasco): (..) eles vivem bastante tempo com a gente, a gente conhece a comunidade toda. Quem freqüenta vem sempre, tanto que pegou até amizade. Saem daqui, estão no MSN e terminam sempre na lan house, lan house e aqui é bastante. (Roseli, monitora de telecentro) Muitos usam o celular para subir fotos na Internet: Já veio bastante com celular e como passa foto, explicamos e passam sossegado. (...) Vídeo e música escutam quando trazem o fone dele. Música e vídeo mais orkut. Para passar para o computador só mais foto. (Rosely, monitora de telecentro) Muitos deles [tanto] descarregam fotos, como vídeo. (Alexandre, atendente de lan house) O uso concomitante de celular e computador parece escasso nos telecentros. O mais freqüente é receber ligações sobre assuntos alheios ao uso de tecnologias ou usar o celular para ouvir música quando a internet está lenta: Até no meio do curso atendem o celular, acontece até com a gente. (...) geralmente ligam para saber se estão no curso, mãe e pai querendo saber onde o filho está. (Paloma e Claudinei, monitores de telecentros) (...) quando a internet tá muito lenta, normalmente eles liga o celular no foninho e eles ficam escutando música e jogando. (Tatiana, monitora de telecentro) A incompatibilidade de tecnologias é um dos fatores que talvez atrapalhe certas combinações nos telecentros: