POLÍTICAS PÚBLICAS E AGRICULTURA FAMILIAR: O CASO DO MUNICÍPIO DE DRACENA-SP Maryna Vieira Martins Antunes Rosangela Ap. de Medeiros Hespanhol Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP Presidente Prudente PIBIC/CNPq maryna.martins@yahoo.com.br INTRODUÇÃO O município de Dracena se localiza na Microrregião Geográfica de Dracena, a oeste do Estado de São Paulo. Esta área se caracteriza por possuir predominantemente pequenas propriedades rurais com até 100 ha, em que o trabalho familiar é dominante. Durante muito tempo a economia do município se baseou na cafeicultura. Com a decadência desta atividade os produtores rurais do município passaram a adotar diversas estratégias para se manterem no campo. As políticas públicas, desenvolvidas a partir dos anos 1990, que se direcionam, direta e indiretamente para os pequenos produtores, tem representado fator importante para a reprodução social e econômica desta população. OBJETIVOS O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados parciais obtidos com o desenvolvimento do projeto de pesquisa intitulado: Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial. A pesquisa tem como objetivo analisar e identificar a importância das políticas públicas, desenvolvidas a partir de meados dos anos 1990, direcionadas ao meio rural brasileiro, em relação à geração de condições de produção e reprodução econômica de famílias residentes em pequenas propriedades rurais. 1
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a realização deste desenvolvemos as seguintes etapas: a) levantamento de publicações e de documentos digitais, seleção e leitura de material sobre agricultura familiar, políticas públicas para o meio rural, processo de ocupação e formação do município de Dracena e da região da Nova Alta Paulista; b) consulta à sites oficiais como do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Ministério da Previdência Social; c) elaboração de um roteiro de entrevista que foi aplicado junto aos representantes da Casa da Agricultura e do Escritório de Desenvolvimento Rural de Dracena, da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente e Associação de Produtores Rurais de Dracena, e um questionário, que possibilitou a coleta de dados junto aos produtores rurais; d) sistematização e análise dos dados levantados com base nas reflexões bibliográficas efetuadas. A pesquisa encontra-se atualmente na etapa de sistematização e análise dos dados levantados. POLÍTICAS PÚBLICAS E AGRICULTURA FAMILIAR Grande parte das políticas públicas que estudaremos são resultado da superação, em partes, do Estado, que outrora se caracterizava como desenvolvimentista, ou seja, buscava o desenvolvimento do país, através da industrialização. Uma vez que, o desenvolvimento era concebido como sinônimo de crescimento econômico, e, nos últimos anos, sofre renovações, e passa a abranger de forma mais ampla questões sociais e ambientais. Assim, analisamos duas políticas voltadas à agricultura desenvolvidas a partir desse período: o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Analisamos também os efeitos da aposentadoria rural, uma vez que este benefício social, em muitos casos, é a única ou a principal fonte de renda de produtores rurais idosos e suas famílias. 2
O PRONAF, instituído em meados de 1996, constitui-se de financiamento de custeio e investimento para o segmento dos pequenos produtores que utilizam a mão de obra familiar, com o objetivo de propiciar condições para a produção, como acesso à tecnologia, equipamentos, aos insumos químicos e aquisição de matrizes etc. O que pode promover melhores condições para se produzir no campo. O PAA promove a aquisição e a distribuição da produção familiar a grupos de pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar. Instituído no ano de 2003 é uma das ações do programa Fome Zero, e tem contribuído muito para o fortalecimento da agricultura familiar por representar aumento da renda ao garantir escoamento da sua produção. Além disso, após a constituição de 1988, que institucionalizou como exigências para se obter a aposentadoria rural, apenas, a idade mínima (homens 60 anos e mulheres 55 anos) e a condição de ser trabalhador formal ou informal, além de estabelecer o piso da aposentadoria em um salário mínimo, vemos atualmente um grande número de aposentados no espaço rural. AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE DRACENA SP O Município de Dracena, devido ao seu processo de ocupação e formação, caracteriza-se pela pequena propriedade rural e pela diversificação produtiva. Desde a época em que a cafeicultura era predominante praticava-se a consorciação de culturas. Com a perda de importância do café, em meados dos anos 1980, houve maior relevância para a introdução e/ou o desenvolvimento de outras lavouras. Com a decadência da cafeicultura, resultado de diversos fatores, tais como: perda da capacidade de produção e queda no consumo, o município entra em uma fase de estagnação econômica. Esta situação agrava o êxodo rural, mas também leva aos que permanecem no campo a uma busca por estratégias para se manterem nas propriedades. Nesse sentido o papel do Estado tem sido fundamental para criar condições mais favoráveis para a permanência no campo. Isso só é possível devido à mudanças que ocorreram a partir dos anos 1990, em que o contexto 3
nacional - redemocratização e descentralização administrativa - e internacional - ascensão do modelo neoliberalista - contribuem para modificações nas políticas públicas. Por meio de pesquisa de campo, em que entrevistamos 32 proprietários rurais, selecionados através dos critérios: área (até 100 ha); participação coletiva (filiação à associação) ou participação em políticas públicas pudemos levantar algumas características da Agricultura Familiar desenvolvida no município e compreender os efeitos das políticas públicas desenvolvidas em Dracena-SP. A área das propriedades rurais pesquisadas é pequena, apenas em quatro casos esta excede a 15 hectares, e a maioria possui entre 05 e 10 ha, com área menor a 05 hectares se encontram sete propriedades. A média de idade dos proprietários rurais no município de Dracena, como coletado na pesquisa de campo, é de aproximadamente 55 anos. Grande parte dos proprietários (50%) completou apenas o primeiro ciclo do Ensino Fundamental e apenas 6% estudaram mais do que 11 anos. A respeito da condição do produtor em relação à propriedade, 26 dos 32 entrevistados se encontram na condição de proprietários; dois são arrendatários; três trabalham no sistema de parceria e um é assentado. As principais fontes de renda citadas pelos proprietários rurais foram a pecuária leiteira, a pecuária de corte, a fruticultura, a lavoura de café, a lavoura diversificada, a aposentadoria e outras atividades não-agrícolas. Entre as atividades agropecuárias, o leite e as lavouras diversificadas possuem grande relevância entre os produtores do município. Em relação à área das propriedades em que as atividades são desenvolvidas, pudemos observar que não há um padrão em relação à presença da aposentadoria, que se faz presente de forma uniforme entre as propriedades de diferentes áreas; o leite e o café foram mais relevantes em propriedades com área de 01 a 05 hectares; nas propriedades de 05 a 10 ha a lavoura diversificada se faz mais presente, e o arrendamento de terras é mais relevante em propriedades com mais de 10 hectares. As fontes de renda não-agrícolas são as que mais contribuem para a renda das propriedades rurais pesquisadas, que obtém em torno de um a dois salários mínimos. A aposentadoria, principalmente a rural fonte de renda mais relevante, presente em 17 das 32 propriedades pesquisadas, sendo que em 11 dos casos aparece como principal fonte de 4
renda, enquanto que nos demais casos é complementar à renda obtida com as atividades agropecuárias. Dos 17 aposentados pesquisados, 12 alcançaram o benefício como agricultores e 05 através de atividades urbanas CONCLUSÃO Essas políticas públicas têm alcançado resultados positivos no Município de Dracena, ainda que apresentem determinados problemas. A aposentadoria, bastante presente, representa a garantia de renda para o produtor idoso, que já perdeu as condições físicas para o trabalho, além de ver surgir novos gastos, como por exemplo, com problemas de saúde. Em relação ao PAA e ao PRONAF, os dois programas apresentam um problema em comum: a baixa participação dos produtores rurais, o que pode ser explicado, primeiramente, pelo receio de se endividarem ou não serem pagos e pelo privilegiamento de produtores mais capitalizados. No caso do PAA, o fato do programa ser recente contribui para o receio dos produtores. No PRONAF um dos principais problemas é a grande burocracia bancária. Ainda assim, mesmo o PRONAF sendo pouco utilizado no município, nos casos em que ocorre sua utilização vemos melhores rendimentos e condições de vida. O PAA, desenvolvido através da Associação de Produtores Rurais de Dracena, contribui para o desenvolvimento da agricultura familiar, garantindo a comercialização da produção agrícola diversificada e promove a articulação de agentes locais, contribuindo para o desenvolvimento em escala regional. REFERÊNCIAS 5
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