INFLUÊNCIA DA QUANTIDADE DE ÁGUA NO SUBSTRATO SOBRE A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE AMENDOIM María Aparecida de Souza Tanaka 1, Maria Inês Arruda Mariano 2 e Noemi Viana Martins Leão 3 Revista Brasileira de Sementes, vol. 13, n o 1, p. 73-76, 1991 RESUMO - Avaliou-se a germinação de dois lotes de sementes de amendoim em rolos de papel toalha, umedecidos com volumes de água equivalentes a 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 vezes o peso do substrato. As sementes do lote oriundo do município de Lucélia, SP, de menor poder germinativo, não foram afetadas ao nível estatístico pelas diferentes quantidades de água no substrato. Por outro lado, as sementes do lote proveniente de Marília, SP, de maior poder germinativo, apresentaram resposta às diferentes quantidades de água, sendo de 2,17 vezes o peso do papel, a mais favorável à obtençio de plântulas normais. Os menores valores para germinação foram obtidos quando se utilizou 3,0 vezes a quantidade de água em relação ao peso do substrato. Esse efeito negativo à germinaçãa provavelmente resultou da deficiência de oxigênio, provocado pelo excesso de água. Termos para indexação: germinação, umidade do substrato, amendoim INFLUENCE OF THE AMOUNT OF MOISTURE IN THE SUBSTRATE ON THE GERMINATION OF PEANUT SEEDS ABSTRACT - The germination of two peanut seed lats, deriving from two localities of São Paulo State, was evaluated when planted in rolled paper towels moistened with volumes of water equivalent to 1.5, 2.0, 2.5 and 3.0 times the weight of the substrate. It was observed that, for the lot deriving from the Lucélia locality, of lower germination, there was, statistically, no influence of the different amounts of water in the substrate. As for the lot from the Marília locality, which presented better germination values, the estimated optimum amount of water for germination corresponded to 2.17 times the weight of paper, since it showed more favorable for obtained normal seedlings. The lowest germination values were those obtained when the amount of water used 3.0 times the weight of substrate, probably due to the oxygen deficiency under water excess. Index terms: germination, substrate moisture, peanut INTRODUÇÃO O processo de absorção de água é fundamental para o inicio da germinação. A semente deve atingir um teor mínimo de umidade, que varia com a espécie, sendo mais elevado para aquelas cujo tecido de reserva é parte do embrião (cotilédones), tais como algodão, amendoim e soja (Popinigis, 1985). Na realização de teste de germinação em laboratório, o substrato deve ser suficientemente úmido para garantir o crescimento do embrião. A falta ou excesso de umidade pode resultar em efeito negativo sobre a germinação (Carvalho & Nakagawa, 1983; Cseresnyes & Vorovenci, 1984; Maguire, 1973; Marcos Filho et al., 1987). Belcher (1975) e Vicente et al. (1969), ao estudarem as exigências de água de algumas espécies agrícolas, verificaram que a germinação não é favorecida por uma 1 Eng. Agr., Dr, Pesquisadora do Instituto Agronômico, Cx. Postal 28, 13.001 - Campinas-SP 2 Eng. Agr., M.S., CATI, Cx. Postal 960, 13.100 - Campinas-SP 3 Eng. Agr., M.S., Pesquisadora da EMBRAPA/CPATU, Cx. Postal 48, 66.000 - Belém-PA
determinada quantidade de água, mas por diversas quantidades que ocupam uma faixa de amplitude específica. Para a execução dos testes de germinação, as Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1980) estabelecem condições para muitos fatores (temperatura, luz, substrato, tratamento para quebra de dormência), mas são muito vagas no que se refere à umidade do substrato. Existem poucas informações a respeito da influência do nível de umidade do substrato sobre a germinação das sementes. Uma padronização da quantidade de água que favoreça a germinação, de acordo com a espécie, resultaria em uma maior uniformidade de distribuição da umidade no substrato, evitando variações nos resultados. Nesse sentido, trabalhos de pesquisa têm demonstrado que resultados mais consistentes são obtidos quando a umidade é controlada através do cálculo baseado nas relações entre volume de água e peso do substrato (Marcos Filho et al., 1987). Os objetivos do presente trabalho foram avaliar o efeito de diferentes quantidades de água no papel substrato sobre a germinação de sementes de amendoim e determinar a faixa ótima de umidade para a germinação. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de Agricultura da ESALQ/USP, Piracicaba, repetido três vezes durante o primeiro semestre de 1986. Foram utilizadas amostras de dois lotes de sementes de amendoim, cultivar Tatu, procedentes dos municípios paulistas de Marília (lote MA-11) e de Lucélia (lote LU-55). As amostras de trabalho foram obtidas após a homogeneização das amostras médias de cada lote em divisor de solo. Em seguida, as sementes foram tratadas com Thiram (Rhodiauram), na dosagem de 2g do produto comercial/kg de semente. Durante a condução do teste, as sementes permaneceram em sacos de papel, no ambiente do laboratório. Os teores de água das sementes, determinados pelo método da estufa (105 ± 3 C durante 24hs) foram, em média, 6,8 e 6,6% para os lotes MA-11 e LU-55, respectivamente. Foi utilizado como substrato o papel Germitest, com 3 folhas para cada rolo, conforme as recomendações das Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1980). As quantidades de água utilizadas foram 1,5: 2,0: 2,5 e 3,0 vezes o peso do papel substrato, conforme consta na Tabela 1. Os tratamentos foram ao todo em número de oito, uma vez que para cada quantidade de água, os rolos foram colocados no germinador com e sem a proteção de um saco plástico, tendo sido o mesmo retirado por ocasião da primeira leitura.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 4x2 (4 níveis de água, com e sem a proteção do plástico). O ensaio foi realizado com oito repetições de 50 sementes para cada tratamento. Foi utilizada a temperatura constante do germinador a 30 C e sem a adição posterior de água. As leituras foram efetuadas após 4 e 7 dias da instalação do teste, quando foram efetuadas as contagens de plântulas normais, anormais infeccionadas por microorganismos, anormais deformadas e as sementes mortas. Para a análise estatística, os dados de percentagem de germinação foram transformados para arc sen %/100 e utilizou-se do teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade para a comparação das medias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da germinação são apresentados na Tabela 2. Para o lote LU-55 não foram observadas diferenças significativas entre as médias obtidas em todos os tratamentos realizados, com ou sem a presença do plástico, indicando que as quantidades de água utilizadas não tiveram influência, ao nível estatístico, sobre a germinação. Para o lote MA-11, observou-se que a germinação foi favorecida pelos tratamentos que utilizaram volume de água igual a 2,5 vezes o peso do substrato, embora tenha diferido estatisticamente apenas do tratamento que utilizou volume de água igual a 3,0 vezes o peso do substrato, com plástico. Essa superioridade pode também ser comprovada na Tabela 2, quando se analisou o efeito isolado da água. O mais baixo valor para germinação foi observado quando se umedeceu o substrato com a quantidade de água equivalente a 3,0 vezes o seu peso, com a proteção do plástico. Neste tratamento, possivelmente o excesso de umidade tenha provocada uma deficiência no suprimento de oxigênio, que é um fator essencial no processo de germinação. Quando ocorre a embebição, a atividade respiratória no embrião fornece energia para os processos metabólicos responsáveis pelo desenvolvimento do eixo embrionário, sendo o oxigênio imprescindível para essas reações. O excesso de água limita a entrada desse gás, diminuindo a respiração e provocando atraso ou paralisação
da germinação ou, ainda, a ocorrência de plântulas anormais (Carvalho & Nakagawa, 1983; Maguirre, 1973; Marcos Filho et al., 1987; Popinigis, 1985). Por outro lado, segundo Belcher (1975), quando os níveis de umidade no substrato são extremamente baixos, não atingem o teor mínimo necessário para que haja a iniciação da radícula e o alongamento do hipocótilo, ficando o desenvolvimento do eixo embrionário prejudicado. No presente trabalho, os tratamentos que utilizaram a menor quantidade de água não atingiram esse teor desfavorável á germinação, uma vez que não diferiram estatisticamente dos melhores tratamentos. A fim de estimar a quantidade de água ótima para a germinação, foi feita a análise de regressão, ajustando-se os dados do lote MA-11 a uma equação quadrática, representada na Figura 1. Verificou-se que a quantidade de água correspondente a 2,17 vezes o peso do substrato foi a mais favorável, proporcionando uma germinação de 53,6 (dado transformado). Observações realizadas com referência às duas categorias de anormalidades (plântulas deformadas e infeccionadas) e sementes mortas, para ambos os lotes, encontram-se na Tabela 3. Para o lote MA-11, foram observadas maiores percentagens de plântulas anormais deformadas. Por outro lado, para o lote LU-55, os valores inferiores de germinação resultaram dos maiores percentuais de plântulas anormais infeccionadas por microorganismos e sementes mortas. Sementes do lote LU-55 apresentaram percentagens crescentes de plântulas deformadas com o aumento da quantidade de água. Por outro lado, a freqüência de plântulas infeccionadas foi maior na menor quantidade de água; corroborando com esta tendência, o tratamento sem o plástico (menor capacidade de retenção de umidade), também proporcionou maior quantidade de plântulas infeccionadas (Tabela 3). Nos demais tratamentos, a maior umidade pode ter sido prejudicial à infecção das plântulas.
Sementes do lote MA-11 germinadas com água equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato, independentemente do plástico, resultaram em menores percentagens de plântulas anormais (Tabela 3). Este resultado foi atribuído às menores percentagens de plântulas deformadas, uma vez que não houve influência da quantidade de água sobre as percentagens de plântulas infeccionadas. Nos tratamentos que utilizaram volumes de água correspondentes a 1,5 e 3,0 vezes o peso do substrato, observaram-se maiores percentagens de plântulas anormais deformadas, em decorrência da falta ou excesso de umidade, respectivamente. Em ambos os lotes, verificou-se que a presença do plástico favoreceu a ocorrência de sementes mortas, provavelmente por proporcionar maior umidade. CONCLUSÕES Os resultados obtidos permitiram extrair as seguintes conclusões: 1. A quantidade de água estimada correspondente, em volume, a 2,17 vezes o peso do papel toalha foi considerada ótima para a germinação das sementes de amendoim do lote MA-11. 2. A utilização de plástico envolvendo o rolo de papel toalha não influenciou a germinação, no entanto aumentou a freqüência de sementes mortas. 3. Nas sementes do lote LU-55, a infecção de plântulas foi favorecida pela menor quantidade de água testada ou pela ausência de plástico envolvendo o substrato. REFERÊNCIAS BELCHEK, E.W. Influence of substrate moisture level on the germination of seed of selected Pinus species. Seed Sci. & Technol., 3(3):597-604, 1975. BRASIL. Ministério da Agricultura. Regras para análise de sementes. Brasília: MA/LANARV, 1980. 188p. CARVALHO, N.M. & NAKAGAWA, J. Semente: ciência, tecnologia e produção. 2. ed., Campinas: Fundação Cargill. 1983. 429p.
CSERESNYES, Z. & VOROVENCI, O. Improved method for (Glycine max seed germination by improving seed water supply. Seed Sci. & Technol., 12(3):679-85, 1984. MAGUIRE, J.D. Physiological disorders in germination seeds induced by environment. In: HEYDECKER, W. (ed.) Seed ecology. Butherworths, London, 1973. 578p. MARCOS FlLHO, J.; CÍCERO, S.M. & SILVA, W.R. Avaliação da qualidade das sementes. Piracicaba: FEALQ, 1987. 230p. POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. Brasília: AGIPLAN, 1985. 289p. VICENTE, M.; NORONHA, A. & SILBERSCHMIDT, K. Substrate moisture levels for germination testing of some agricultural seeds. An. Acad. Brasil Cienc., 41(4):633-639, 1969.