FATORES DE DECISÃO DE TERCEIRIZAÇÃO LOGÍSTICA: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE GASES INDUSTRIAIS

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XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. FATORES DE DECISÃO DE TERCEIRIZAÇÃO LOGÍSTICA: ESTUDO DE CASO DE UMA EMPRESA DE GASES INDUSTRIAIS Renata Albergaria de Mello Bandeira (UFRGS) renata_albergaria@hotmail.com Antônio Carlos Gastaud Maçada (UFRGS) acgmacada@ea.ufrgs.br Luiz Carlos Brasil de Brito Mello (UFF) luiz.brasil@gmail.com A terceirização logística é uma prática empresarial adotada por um número cada vez maior de organizações, e costuma ser respaldada pela literatura. Porém, uma escolha errada pode se tornar uma fonte de insatisfação e falhas corporativas comm elevação do custo logístico, além de afetar a competitividade e a imagem da empresa. São inúmeros os casos de insucesso nos acordos de terceirização, sendo a maioria atribuída a deficiências no processo decisório. Logo, fica evidente a complexidade da decisão de terceirização logística e a falta de compreensão, por parte dos executivos, dos fatores que realmente afetam o processo decisório. Neste contexto, o artigo relata um estudo desenvolvido no setor de gases industriais brasileiro sobre a decisão de terceirização logística sob o enfoque da organização contratante. O foco da pesquisa consiste em identificar, a partir de entrevistas com executivos e estudo de casos múltiplos, os principais fatores que as empresas de gases industriais devem analisar em seu processo decisório de terceirização logística. Palavras-chaves: Logística. Terceirização. Processo Decisório. Operadores Logísticos (3PL). Gases Industriais.

1. Introdução A terceirização logística se tornou uma necessidade para a maioria das organizações devido à acirrada concorrência entre as empresas (SCHOENHERR, 2010). Empresas líderes de mercado, como Cisco Systems, Ford e Fiat, têm terceirizado grande parte de seus processos logísticos (EXAME, 2008) com intuito de tornar sua cadeia de suprimentos mais ágil, eficiente em custos e competitiva (GUNASEKARAN; IRANI, 2010). Outras buscam na terceirização um contraponto para dedicar-se mais ao próprio negócio (BOT; NEUMANN, 2007) ou para suprir carências de competências centrais em logística (SOHAIL; SOHAL, 2003; BOER et al., 2006). Um projeto de terceirização logística pode incluir desde serviços tradicionais de transportes até a terceirização completa do processo logístico. Inicialmente, eram terceirizadas apenas atividades de transporte, ampliando-se para serviços de armazenagem e gestão de estoques. Atualmente, a terceirização envolve atividades como a gestão de transporte, compras e administração do ciclo de pedidos (NEVES, 2008). Em decorrência, a indústria de operadores logísticos cresceu, globalmente, a taxas de 10% ao ano entre 1995 e 2007 (BOT; NEUMANN, 2007) e, em 2008, apesar da crise, cresceu 6,5% (DIBENEDETTO, 2009). No Brasil, o setor também apresenta crescimento expressivo. De 2006 para 2007, o faturamento desta indústria teve um crescimento de 20% (CEL/COPPEAD, 2008). Entretanto, algumas empresas decidem não terceirizar sua operação logística devido a: (i) descrença na redução dos custos e no aumento do nível de serviço; (ii) crença de que o serviço será melhor executado internamente; (iii) ameaça da perda de know-how; e (iv) perda do controle sobre as atividades logísticas (SHARIF et al., 2007). Neste trabalho, analisa-se a decisão de terceirização para operadores logísticos (3PL), sob o enfoque da organização contratante, sendo considerado o setor de gases industriais brasileiro. Optou-se por analisar o processo de terceirização para operadores 3PL porque esta ainda é a tendência do mercado nacional (NEVES, 2008). A escolha pelo mercado de gases industriais deveu-se ao fato de que este produto está conectado a diversos outros segmentos industriais. Ainda, durante uma crise econômica tal como a vivenciada em 2008, este setor caracteriza-se por ser um dos últimos a sentir os reflexos do problema e um dos primeiros a recuperar-se dos danos sofridos. O objetivo principal da pesquisa consiste em explicitar os principais fatores a serem avaliados pelos executivos do setor envolvidos na decisão de terceirização logística, reduzindo o risco de decisões errôneas. 2. Terceirização de serviços logísticos A pesquisa bibliográfica realizada revelou que os estudos sobre terceirização logística expandiram rapidamente nos últimos quinze anos, tal como confirmam Maloni e Carter (2006). Porém, a maioria dos trabalhos é de natureza exploratória já que o campo de pesquisa ainda se encontra em seus estágios iniciais. Identificou-se que os principais tópicos estudados sobre a terceirização logística referem-se: (i) à classificação de operadores logísticos; (ii) aos benefícios esperados com a terceirização; (iii) aos contratos de terceirização; (iv) aos resultados do processo de terceirização; (v) às análises do mercado de operadores logísticos e suas tendências; (vi) ao relacionamento entre operadores logístico e às contratantes; (vii) à análise da eficiência de operadores logísticos; (viii) à seleção de operadores logísticos; e (ix) a seleção de atividades a serem terceirizadas. 2

Verificou-se a existência de poucas pesquisas como Boer et al. (2006), Ivanaj e Franzil (2006) e Neves (2008) que abordam exclusivamente o processo de terceirização logística. Gunasekaran e Irani (2010) também apontam a escassez de pesquisas que tratam da modelagem e análise de decisão de terceirização logística. Também, constatou-se que a maioria dos estudos se refere à seleção dos operadores logísticos, sendo dada pouca atenção à decisão de terceirização logística. Somente a pesquisa de Kremic et al. (2006) trabalhava os fatores de decisão de terceirização logística. Porém, o estudo se focou apenas na abordagem teórica. O presente artigo retoma a discussão teórica, mas é inédito por ser um estudo empírico que explora o tema a partir de estudo de caso e propõe um conjunto de fatores de decisão. 3. Decisão de terceirização logística Alguns autores consideram a decisão de subcontratar atividades logísticas como uma variante da decisão clássica de fazer ou comprar (MONCZKA, 2005). Esta decisão pode ser feita, principalmente, através de dois tipos de análise (DISERIO; SAMPAIO, 2001), a saber: a) Análise do custo de transação: tem sua base teórica na Economia dos Custos de Transação (ECT), que considera a racionalidade limitada e o oportunismo como pressupostos essenciais sobre os atores econômicos engajados em transações (BARNEY; HANSEN, 1994). Aborda os limites das firmas e apresenta mercados e hierarquias como alternativas para mecanismos de governança. Assim, a decisão sobre a governança e, nesta pesquisa, sobre a terceirização logística visa reduzir a um menor custo os problemas transacionais criados pela racionalidade limitada e pelo oportunismo (WILLIAMSON, 1995). b) Análise estratégica: composta por modelos da escola estratégica. O modelo neoclássico, desenvolvido por Porter (1985), focaliza a seleção de posições estratégicas no negócio visando à conquista de vantagens competitivas, que dependem basicamente da posição no mercado e dos produtos. Ao contrário, os modelos alicerçados na Visão Baseada em Recursos (Resource Based View RBV) consideram que a vantagem competitiva deriva de capacidades e recursos (RODRIGUEZ; ROBAINA, 2006). Essa abordagem focaliza os esforços e investimentos da organização em suas competências essenciais. Eric (2000) compara as teorias da ECT e da RBV em relação à terceirização. Para o autor, a ECT considera a decisão de terceirização como tática, adotando a minimização de custos de produção e transação como o principal critério decisório. Assim, os benefícios esperados pela terceirização são maior eficiência e economia, e o maior risco é a dependência. Segundo a RBV, a decisão de terceirização é considerada estratégica, sendo a criação de valor o principal critério de decisão. Os benefícios esperados são maior vantagem competitiva e desenvolvimento de capacidades, e os riscos envolvem perdas de capacidade essenciais. Em alguns pontos a RBV e da ECT são contraditórias, pois têm focos distintos (Marshall et al., 2007). Porém, em relação à decisão sobre terceirização, é crescente o número de autores (ARNOLD, 2000; MADHOK, 2002) que defendem a complementaridade das duas visões. 4. Fatores de decisão de terceirização logística Considera-se, com base na proposta de Kremic et al. (2006), que o processo decisório de terceirização logística se estrutura a partir da análise de cinco fatores: (i) Estratégia; (ii) Custo; (iii) Característica do processo; (iv) Ambiente; e (v) Operadores Logísticos. Os fatores e itens de decisão propostos pela pesquisa são a combinação de fatores apontados por: Willcocks et al. (1995), Yang e Huang (2000), Yang e Chaudhry (2003), Rodriguez e Robaiana (2006), Holcomb e Hitt (2006), Ivanaj e Franzil (2006), Kremic et al. (2006). Destes 3

trabalhos, apenas a pesquisa de Kremic et al. (2006) se refere à terceirização logística, as demais pesquisas são da área de Tecnologia da Informação ou de Terceirização de Manufaturas. a) Estratégia Proposição 1: O processo decisório de terceirização logística se apóia no fator estratégia. O processo decisório se apóia na análise de fatores de decisão cunho estratégico (KREMIC et al., 2006), sendo avaliado a partir da: (a) competência central; (b) disponibilidade de recursos do processo logístico; e (c) riscos estratégicos envolvidos no processo logístico. A competência central é um conceito teórico da RBV, sendo que os processos geradores de competências centrais não devem ser terceirizados (QUINN, 1999). Kremic et al. (2006) destacam que os principais riscos estratégicos envolvidos na decisão de terceirização logística não foram identificados, mas apresentam uma tentativa de enumerá-los: (i) risco de aumento dos custos logísticos; (ii) risco da redução de flexibilidade; (iii) risco da perda do controle das atividades terceirizadas; (iv) risco de dependência dos operadores; (v) risco de perda da imagem da organização devido ao baixo desempenho do operador; (vi) risco de perda de clientes devido ao baixo desempenho do operador; (vii) risco da redução da moral dos funcionários; e (viii) risco de perda de informações chave do mercado obtidas a partir do contato direto com os funcionários. b) Custos Proposição 2: O processo decisório de terceirização logística se apóia no fator custos. A decisão de terceirização logística, segundo a ECT, visa reduzir, a um menor custo, problemas transacionais criados pela racionalidade limitada e oportunismo (WILLIAMSON, 1995). Logo, o processo decisório de terceirização logística deve englobar a análise do fator Custos, por meio da avaliação de: (a) necessidade de investimentos em ativos para desempenho do processo; e (b) custo logístico do processo terceirizado. A terceirização visa à redução de custos logísticos e a liberação de recursos para outras atividades. Assim, processos com alto custo e que requerem altos investimentos têm maior propensão à terceirização (SCHOENHERR, 2010). c) Características do processo Proposição 3: O processo decisório de terceirização logística se apóia no fator características do processo logístico. As diferentes características do processo podem interferir no resultado do processo decisório de terceirização logística. As características do processo devem ser consideradas na tomada de decisão a partir da análise da: (a) especificidade; (b) capacidade de geração de valor; (c) desempenho; (d) qualidade; (e) flexibilidade do processo; (f) dificuldade de substituir e de imitar o processo logístico; (g) complexidade; e (h) risco operacional do processo logístico. De acordo com a perspectiva da RBV, os conceitos de valor, especificidade, dificuldade de imitação e dificuldade de substituição são importantes para a classificação dos processos segundo a geração de competências centrais. Logo, tais conceitos influenciam a decisão de terceirização. A abordagem da ECT também considera que a especificidade dos ativos é uma das principais causas para o aumento do custo de transação (HOLCOMB; HITT, 2006). d) Ambiente Proposição 4: O processo decisório de terceirização logística se apóia no fator ambiente. 4

O fator Ambiente tem sua base conceitual na Teoria da Contingência. O processo decisório de terceirização logística deve envolver a análise do fator Ambiente a partir do: (a) ambiente político interno da organização; (b) sucesso das organizações que terceirizaram o processo logístico (isomorfismo); e (c) incerteza do ambiente. O ambiente político interno da organização é representado pelo comprometimento da alta administração e demais colaboradores, sendo este fundamental para o sucesso da terceirização (IAÑES; CUNHA, 2006). Porém, muitas vezes, a terceirização não recebe apoio suficiente devido à falta de confiança em empresas externas e ao sentimento de ameaça ao emprego. No caso da terceirização logística, considera-se o isomorfismo mimético, pois as organizações optam pela terceirização pelo simples fato de que outras firmas obtiveram sucesso ao repassar o processo logístico a operadores (JHARKHARIA; SHANKAR, 2007). e) Operadores logísticos Proposição 5: O processo decisório de terceirização logística se apóia na disponibilidade de operadores logísticos. Este fator tem sua base conceitual na Teoria da Contingência, dado que as características do mercado de operadores é uma dimensão do ambiente externo, e na ECT, pois se relaciona à disponibilidade de operadores. A baixa disponibilidade de terceiros especializados permite o comportamento oportunista dos terceirizados, aumentando o custo de transação (HOLCOMB; HITT, 2006). McGinnis et al. (1997) consideram a disponibilidade de um operador logístico que atenda às necessidades da organização como o principal motivador para a terceirização. Entretanto, é necessário que os operadores atendam a critérios de exigência dos contratantes. Logo, o processo decisório de terceirização logística deve englobar a análise do mercado de operadores logísticos, sendo verificada a disponibilidade de prestadores que ofereçam os serviços demandados, recursos oferecidos, possuam cobertura geográfica, tenham experiência dos operadores no mercado e boa imagem (reputação). 5. Método de pesquisa Os métodos de pesquisa utilizados foram de cunho qualitativo. Inicialmente, foram realizadas entrevistas exploratórias (STAKE, 1995; GIL, 2007) e, em seguida, foi utilizado um estudo de caso (BENBASAT et al., 1987; YIN, 2001). As entrevistas exploratórias foram estruturadas segundo um roteiro e tiveram duração média de uma hora. Foram entrevistados quatro executivos que: (i) atuam em empresa de grande porte que realizou a terceirização logística; e (ii) participaram da decisão de terceirização logística. Os executivos atuam, em média, há 10 anos nos departamentos de logística de empresa líder de mercado. O objetivo desta etapa foi de entender a estrutura do processo de terceirização logística e se as dimensões identificadas na literatura eram aderentes a pesquisa. Posteriormente realizou-se um estudo de caso para analisar as proposições de pesquisa e gerar hipóteses (YIN, 2001). A unidade de análise é uma empresa de grande porte que terceiriza atividades logísticas para operadores 3PL. A seleção dos entrevistados foi feita pela empresa, atendendo à exigência de que trabalhassem com logística e que tivessem participado do processo decisório de terceirização. Foram entrevistados três executivos que, em média, trabalham na organização há 15 anos e há 10 anos com logística. A pesquisa ocorreu no ano de 2009. A validação de face e conteúdo do roteiro de entrevista foi realizada por três especialistas em logística. A validade externa da pesquisa foi evidenciada pela: (i) seleção de empresa líder de mercado consolidada; (ii) escolha de entrevistados experientes e envolvidos na decisão de 5

terceirização logística; (iii) realização da etapa de entrevistas exploratórias; e (iv) realização de estudos de caso. A triangulação de dados foi feita pela pesquisa documental, observação direta do pesquisador na empresas e entrevistas, determinando a validade do construto. 6. Análise das entrevistas O modelo de pesquisa foi discutido e analisado pelos entrevistados, que concordaram com os fatores e itens de decisão propostos pelo modelo de pesquisa. Um importante fato revelado nesta fase foi que a empresa analisada, ao terceirizar, não está preocupada em reduzir problemas vinculados a questões trabalhistas, ao contrário do que aponta a literatura (BOYSON et al., 1999; PERSSON; VIRUM, 2001). Devido às particularidades da legislação brasileira, a terceirização pode implicar em questões trabalhistas complexas. Ressalta-se que o conjunto de fatores selecionado na literatura não foi alterado o que revela a sua representatividade. Enfim, foi destacado pelos executivos que o processo de decisão de terceirização logística compreende multidimensões e que o modelo preliminar é constituído de forma apropriada. 7. Análise do estudo de caso Em seguida, são apresentadas as características da empresa e como ocorreu o processo decisório de terceirização. Na última seção, realiza-se a análise dos fatores e itens de decisão de terceirização logística na organização. 7.1 Descrição da empresa estudo de caso O mercado brasileiro de gases industriais correspondeu, em 2007, a 1,2 bilhões de dólares, representando 67% do mercado sul-americano (LAFIS, 2007). A empresa pesquisada possui 4 mil funcionários no Brasil e mil espalhados em nove países da América do Sul. Em 2008, faturou US$ 1,4 bilhões, detendo 62% do mercado brasileiro. Foi analisada, nesta pesquisa, a terceirização das atividades da Logística de Líquidos, composta por um centro nacional de distribuição (CND) e por nove centros regionais. O CND é responsável pelo desenvolvimento de projetos e planejamento da cadeia de suprimentos. O planejamento de entrega de produtos e roteirização são realizados pelos centros regionais de distribuição. Porém, o transporte direto, a montagem de produtos, TI, operação de carga/descarga, emissão de notas fiscais e manutenção de cavalos mecânicos são responsabilidade dos operadores. As atividades terceirizadas representam a segunda maior parcela da estrutura de custos organizacionais. A logística de distribuição é terceirizada há dez anos. A organização não encontrou um operador logístico que tenha capacidade de atendê-la em todo o território nacional. Por isto, optou por operadores especializados em cada região, esperando oferecer serviços mais confiáveis. A empresa trabalha atualmente com seis operadores logísticos que foram escolhidos devido à divisão operacional da empresa em seis regiões. O Quadro 1 resume as principais características do processo de terceirização logística na empresa. Percebe-se, a partir dos benefícios esperados pela empresa com a terceirização logística, que a decisão se baseou principalmente em fatores econômicos. A organização conseguiu uma redução de 4% nos custos de distribuição após a terceirização. Os executivos mostraram-se satisfeitos com a redução de investimentos de ativos e com a substituição dos custos fixos por custos variáveis. 6

Processo logístico previamente à terceirizção Tomadores de decisão Processo decisório de terceirização logística Riscos envolvidos no processo de terceirização logística Benefícios esperados da terceirização logística As atividades de logística de distribuição, antes da terceirização, eram realizadas pelos centros regionais de distribuição, que atualmente são responsáveis pelo planejamento de entrega e da roteirização, monitoramento e acompanhamento dos operadores logísticos. A decisão partiu da alta administração, tendo uma abordagem top-bottom. A presidência da organização foi responsável pela proposta inicial de terceirização de atividades logísticas por acreditar que esta medida implicaria na redução de investimentos em ativos e na redução de custos logísticos, transformando custos fixos em variáveis. Assim, a presidência determinou a formação de um comitê, liderado pela Diretoria de Operações, responsável por analisar a viabilidade de terceirização logística. O comitê analisa a viabilidade estratégica e financeira da terceirização logística, realizando o planejamento e determinando os parâmetros para implantação do projeto. Foram realizadas visitas a operadores e benchmarking em empresas líderes de mercado que haviam tido sucesso em seu processo de terceirização. O processo de decisão de terceirização, seleção e contratação dos operadores durou doze meses. Os entrevistados enumeraram o risco de baixo desempenho do operador e risco de perda de informações chave do mercado obtidas através do contato direto com os clientes. A organização teve como objetivos para a terceirização logística: foco no core business; redução de custos; redução de investimentos em ativos para a logística; disponibilidade de recursos para outras atividades; e substituição de custos fixos por custos variáveis. Quadro 1 - Características de terceirização logística na empresa de gases industriais 7.2 Fatores de decisão de terceirização logística: análise do caso Esta seção apresenta a análise do estudo de caso para cada fator proposto, evidenciando os aspectos que emergiram da análise de resultados do estudo de caso. a) Estratégia Ao analisar o caso, observa-se que a atividade logística terceirizada pela organização é considerada competência complementar. A empresa pretende repassar o processo logístico para prestadores especializados e focar em suas competências centrais. Quinn (1999) aponta o foco nas competências centrais como sendo o principal fator estratégico que estimula a terceirização logística. Portanto, o estudo de caso corrobora com a teoria da RBV, a qual considera que apenas processos que não geram competências centrais são opções para a terceirização (RODRIGUEZ; ROBAINA, 2006). Verificou-se que a empresas optou pela terceirização para ter acesso a recursos (TI, recursos humanos e equipamentos) que não possuía. A grande vantagem apontada pelos executivos é o acesso a tais recursos com custos variáveis e sem a necessidade de investimentos. A terceirização logística implica em riscos estratégicos. Os riscos que mais preocupam os executivos envolvidos na decisão de terceirização das unidades de análise são: risco de dependência com relação aos operadores, risco de baixo desempenho do operador, e perda de controle das atividades terceirizadas. Tais riscos estão relacionados à dependência da 7

organização com relação aos operadores. A empresa analisada se mostra ciente quanto aos riscos envolvidos no processo, não os considerando impeditivos, já que tenta gerenciá-los e controlá-los por processos criteriosos de seleção e de acompanhamento dos operadores. b) Custo Ao analisar o caso, observou-se que os executivos mostram-se preocupados com redução dos custos logísticos. A maioria dos benefícios esperados com a terceirização, segundo os executivos, envolve aspectos financeiros como: redução de custos logísticos; redução de investimentos; disponibilização de recursos para outras atividades; e substituição de custos fixos por variáveis. O resultado está em concordância com a ECT, a qual enuncia que a terceirização logística visa reduzir, a um menor custo, problemas transacionais (WILLIAMSON, 1995). No desenvolvimento do estudo de caso, os custos logísticos foram analisados como um único item. No entanto, tais custos são compostos por diferentes parcelas. Chopra e Meindl (2006) os classificam em custos de estoque, transporte e de armazenagem. Segundo Bowersox e Closs (2001), os custos de estoques e transporte são as principais parcelas da matriz do custo logístico total. Ainda convém destacar que a empresa analisada apresenta a redução da necessidade de investimentos e, conseqüente liberação de recursos para competências centrais, como a idéia central por trás de seu processo de terceirização logística. c) Características do processo A terceira proposição se apóia na análise das características do processo logístico: especificidade; valor; desempenho; qualidade; flexibilidade; dificuldade de substituir e de imitar; complexidade; e risco operacional. Observa-se que a unidade analisada não considerou todos os itens que compõem o fator Característica do Processo em seu processo decisório. A empresa é líder de mercado dispondo de serviços logísticos de alta qualidade e desempenho e, mesmo assim, optou pela terceirização. O sucesso da terceirização depende da manutenção ou melhoria dos padrões de desempenho e de qualidade. Assim, justifica-se a relevância destes itens de decisão de terceirização logística. Há duas linhas teóricas que relacionam a complexidade com a terceirização logística. Neste trabalho, seguem-se autores como Fleury (1999) e Razzaque (1998), que defendem que a complexidade do processo estimula a terceirização. Porém, o caso em análise reforça a hipótese defendida por Kremic et al. (2006) de que o grau de complexidade do processo reduz à propensão à terceirização, pois a parte do processo logístico mais complexa e com maiores riscos operacionais não foi terceirizada. Verifica-se, no caso analisado, que as atividades terceirizadas não são de difícil imitação ou substituição. Os entrevistados avaliam como satisfatória a disponibilidade de operadores capazes de desempenhar tais atividades. Logo, o estudo de caso está em concordância com a RBV, que defende que processos que correspondem a capacidades especifícas de difícil substituição ou imitação não devem ser terceirizados. Assim como a dificuldade de imitação e de substituição, a capacidade de geração de valor é uma característica relevante para a classificação dos processos segundo a geração de competências centrais. A teoria da RBV preconiza que, quanto maior o valor do processo, menor é a propensão à terceirização. O processo logístico da empresa analisada agrega valor para a organização, mas esta optou por terceirizá-la. Isto se deve ao fato de que o valor gerado não é tão alto a ponto de tornar este processo uma competência central, mas sim uma competência complementar. 8

A empresa exige dos operadores uma série de recursos, mas tais recursos podem ser usados em aplicações alternativas. Logo, os processos terceirizados por esta empresa não possui alta especificidade. Portanto, o caso está de acordo com as perspectivas da ECT e da RBV que pregam que processos com alta especificidade reduzem a propensão à terceirização (HOLCOMB; HITT, 2006; RODRIGUEZ; ROBAINA, 2006). d) Ambiente A proposição 4 se apóia no fator Ambiente, que deve ser analisado através de: ambiente político interno da organização; sucesso das organizações que terceirizaram o processo logístico (isomorfismo); e incerteza do ambiente. Ao analisar os três casos, observou-se que a organização contou com o apoio da alta administração para a terceirização logística. Assim, as práticas estão alinhadas com as recomendações da literatura. Iañes e Cunha (2006) classificam como fundamental o comprometimento da alta administração para o sucesso do processo de terceirização logística. Ren et al. (2010) confirmaram a relação entre o comprometimento da alta administração e o desempenho e qualidade do processo de terceirização logística. No caso estudado, a proposta inicial de terceirização logística surgiu da presidência da empresa, sendo uma decisão top-down que contava com comprometimento total da alta administração. Verificou-se que o apoio dos demais funcionários não foi considerado no processo decisório. Em geral, os funcionários se sentem ameaçados com a possibilidade de perda de empregos e, dificilmente, apoiam a terceirização, que costuma acarretar em um impacto negativo da moral dos colaboradores que permanecem. Por isto, a empresa desenvolveu um plano de mitigação para realocação dos funcionários que seriam dispensados. Neste caso, a terceirização logística foi fortemente influenciada pelo sucesso obtido por outras empresas. A alta administração decidiu analisar a viabilidade de terceirização logística devido aos casos de sucesso, tendo sido realizados benchmarking em diversas empresas. De tal maneira, observa-se que o isomorfismo mimético pode ocorrer devido ao sucesso obtido por empresas líderes de mercado ou por empresas concorrentes. Kremic et al. (2006) e Ivanaj e Franzil (2006) argumentam que a propensão à terceirização é menor nos casos que envolvem um alto grau de incerteza, especialmente em contratos de longo prazo, como os contratos de terceirização logística. Destaca-se que, a empresa de gases estudada não considerou a incerteza do ambiente externo na decisão de terceirização. e) Operadores logísticos A quinta proposição se apóia na análise do mercado de operadores logísticos, que devem oferecer: serviços requeridos; recursos demandados; atendam a cobertura geográfica requerida; experiência na indústria do contratante; e boa reputação (imagem) no mercado. A disponibilidade de operadores capazes de realizar de modo eficiente as atividades terceirizadas é considerada, pelos entrevistados, um fator essencial a ser analisado na tomada de decisão de terceirização logística. A terceirização logística seria inviável sem a disponibilidade de operadores que ofereçam os serviços e recursos demandados, atendam o mercado desejado, tenham boa reputação (imagem) e experiência no mercado. Assim, a organização seria obrigada a desenvolver as competências para realizar internamente sua operação logística. 8. Conclusões A partir do estudo de caso, verificou-se a representatividade dos fatores propostos. Porém, a partir da profundidade do estudo, identificou-se que alguns itens são analisados de forma mais detalhada pela organização. A análise de conteúdo revela que, dependendo da atividade 9

logística terceirizada, diferentes recursos têm maior ou menor importância para o processo. Os recursos mais relevantes para o a terceirização que surgiram das análises são: (i) os equipamentos específicos para atividades logísticas; (ii) recursos de tecnologia de informação; e (iii) recursos humanos. Logo, o item Acesso a recursos do fator Estratégia foi dividido em Acesso a Equipamentos, Acesso a Tecnologia da Informação e Acesso a Recursos Humanos. O estudo de caso aponta a relevância de identificar e avaliar os riscos estratégicos na decisão de terceirização logística, evidenciando a necessidade de confrontá-lo com os benefícios esperados com o processo. Os cinco itens relacionados ao risco estratégico considerados pelos executivos como mais influentes na decisão de terceirização são: (i) Risco de Perda de Controle das Atividades Terceirizadas; (ii) Risco de Perda de Clientes devido ao Baixo Desempenho do Operador; (iii) Risco de Perda da Imagem Organizacional devido ao Mau Desempenho do Operador; (iv) Risco de perda de informações devido ao menor contato com clientes; e (v) Risco de Dependência do Operador Logístico. Portanto, o Risco Estratégico passa a ser representado por estes novos cinco itens. O mesmo processo de desmembramento ocorreu com o item Custo Logístico, que foi dividido em: custos de armazenagem, custos de estoque e custos de transportes. A análise de dados destacou a importância das diferentes parcelas do custo logístico: em uma empresa onde o custo de armazenagem representa uma porcentagem expressiva dos custos logísticos, a influência desta parcela do custo será maior para a terceirização logística do que as demais. Logo, percebeu-se a necessidade de analisar os custos logísticos em suas diferentes parcelas. A análise do estudo de caso mostra que o apoio da alta administração é fundamental para a decisão de terceirização logística. Porém, o apoio dos demais funcionários não foi considerado pela organização analisada. Contudo, o estudo de caso permitiu identificar que o ambiente interno se torna mais favorável à medida que a terceirização se transforma em uma prática disseminada. Assim, são evidentes as diferenças relacionadas ao apoio da alta administração e dos demais colaboradores para a decisão de terceirização logística. Logo, o item Ambiente político interno foi substituído pelos construtos: Apoio da alta administração e Apoio dos funcionários da organização. Tal divisão distingue os atores envolvidos no processo de terceirização dentro do ambiente organizacional. Também foi verificado que o sucesso obtido por empresa líder de mercado, a partir da prática de terceirização logística, incentiva a decisão de terceirizar por organizações do setor e fora do setor. Por meio da análise dos resultados do estudo qualitativo, foram realizadas alterações nas propostas de pesquisa. O modelo de pesquisa passou de 5 fatores e 21 itens para 5 fatores e 31 itens. Cinco itens do modelo teórico proposto inicialmente ( Acesso a recursos voltados para a logística, Risco Estratégico, Custos Logísticos, Apoio político interno e Isomorfismo mimético ) foram desmembrados em 15 novos itens que, segundo os entrevistados, permitem uma estruturação mais detalhada do processo decisório. Tais mudanças não agregam novos conceitos ao modelo, mas trazem um maior nível de detalhamento para a análise. Enfim, conclui-se que a decisão de terceirização logística, no contexto do setor de gases industriais, realmente se dá a partir da análise dos cinco fatores propostos: Estratégia, Custos, Ambiente, Operadores Logísticos e Características do Processo. Portanto, as cinco proposições de pesquisa foram reforçadas pela pesquisa qualitativa, de modo que passam a ser hipóteses de pesquisa, que, posteriormente, poderão ser confirmadas a partir do desenvolvimento de pesquisas survey. 10

9. Considerações finais Para melhor compreensão do processo decisório de terceirização logística sob o enfoque da empresa contratante, esta pesquisa estudou quais são os fatores e itens que os executivos devem analisar no processo decisório de terceirização logística. A questão de pesquisa se justifica pelo número de casos mal sucedidos de terceirização logística e pela dificuldade observada por parte dos executivos em identificar fatores que auxiliem a estruturar o processo de decisão de modo a atender às necessidades organizacionais. Muito do insucesso relacionado à terceirização logística é atribuído a deficiências no processo decisório (IAÑEZ; CUNHA, 2006; KHAN; SCHRODER, 2009). Foi identificado que uma decisão de terceirização errada pode ser crucial para a empresa devido à possível elevação do custo logístico e falhas no processo (desempenho e qualidade), afetando competitividade e imagem organizacional. Os erros se devem à complexidade da decisão que envolve uma grande quantidade e variedade de fatores, quantitativos e qualitativos, interdependentes entre si. Ainda, observou-se que os tomadores de decisão desconhecem ou têm dificuldade em definir os itens que realmente devem ser avaliados. Enfim, o estudo de caso permitiu identificar um conjunto de cinco fatores compostos por 31 itens de decisão a partir da qual as organizações de gases industriais decidem sobre a terceirização logística. Entretanto, a pesquisa desenvolvida se foca no setor de gases industriais, além de ter caráter qualitativo, de modo que não permite mensurar a real importância dos itens de decisão de terceirização. Portanto, este estudo tem como extensão uma pesquisa survey utilizando os itens de decisão e mensurar a importância destes itens na decisão de terceirização logística em indústrias do Brasil. Deve ser ressaltado que seria interessante a utilização do estudo de casos múltiplos para garantir maior validade a presente pesquisa, o que não foi possível devido à exigüidade de prazos e recursos.. Referências ARNOLD, U. New dimensions of outsourcing: a combination of transaction cost economics and the core competencies concept. European Journal of Purchasing and Supply Management, v. 6, p. 23-29, 2000. BENBASAT, I.; GOLDSTEIN, D.K.; MEAD, M. The case research strategy in studies of information systems, MIS Quarterly, September, p. 368-387, 1987. BOER, L, GAYATAN; J.; ARROYO, P. A satisfying model of outsourcing. Supply Chain Management: an International Journal, v. 11, n. 5, 444-455, 2006. BOT, B.; NEUMANN, C. Growing pains for logistics outsourcers. The McKinsey Quarterly, n. 2, 2007. Disponível em: http://www.mckinseyquarterly.com/article_page.aspx?ar=1297;l2=1;l3=26. Acesso em 20/02/2009. BOWERSOX, D.; CLOSS, D. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2001. BOYSON, S. Managing effective third party logistics relationships: what does it take?. Journal of Business Logistics. v.20, n.1, p.73, 1999. CEL/COPEAD. Indicadores sobre Prestadores de Serviços Logísticos, 2008. Disponível em http://www.ilos.com.br/site/index.php?option=com_deeppockets;task=catshow;id=29;itemid=139. Acesso em 16/03/2009. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Prentice Hall, 2006. CRAIG, D.; WILLMOTT, P. Outsourcing grows up. The McKinsey Quarterly, n. 1, 2005. DIBENEDETTO, B. Global 3PLs grew 6.5%. The Journal of Commerce, January 2009a. Disponível em www.joc.com. Acesso em 20/02/2009. 11

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