Sucesso reprodutivo de Galbula ruficauda (Aves: Galbulidae) e sua relação com o tamanho de fragmentos de vegetação nativa Alexandre F. do Nascimento 1 (IC)*, Yanara M. da Silva 2 (IC), Sandro Batista da Silva 3 (PG), Marcos A. Pesquero 4 (PQ) 1 Graduação em Ciências Biológicas, PBIC/UEG. Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos, Goiás Nascimentoaf.biologia@gmail.com 2 Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos, Goiás 3 Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos, Goiás 4 Docente Orientador. Universidade Estadual de Goiás, Morrinhos, Goiás Introdução O período de reprodução das aves demanda energia e nutrientes para a realização de atividades específicas como rituais de acasalamento, construção de ninho, postura de ovos, incubação, alimentação e proteção dos filhotes. Dessa forma, o período de acasalamento e o tamanho da ninhada dependem da disponibilidade de alimento tanto para os pais no período que precede à reprodução quanto para os jovens em crescimento durante as fases de alimentação dentro e fora do ninho (DRENTE; DAAN, 1980). Além disso, a fragmentação do habitat exerce efeito negativo sobre a riqueza de espécies de aves (GALLI et al., 1976) e a taxa de sobrevivência dos filhotes no ninho (BORGES; MARINI, 2009). Dessa forma, o acompanhamento da dinâmica populacional de aves ao longo do tempo, em especial durante o período reprodutivo, constitui um método adequado à avaliação do propósito de conservação das espécies em unidades de conservação de pequeno porte como os Parques Municipais. O Parque Municipal Jatobá Centenário (PMJC) é o único fragmento de floresta ripária preservada por lei no município de Morrinhos (GO). A ação das águas do córrego Maria Lucinda sobre o solo resultou em uma topografia acidentada criando um habitat ribeirinho de barrancos propício à nidificação de algumas espécies de aves que ocorrem no parque, tal como Galbula ruficauda (Cuvier, 1816) (MACEDO et al., 2007). Galbula ruficauda é considerada uma espécie insetívora (SICK, 1993; PINHEIRO; BAGNO; BRANDÃO, 2003), mas a espécie pode ingerir material vegetal (BALLARINI; FRIZZAS; MARINI, 2013). Apesar de amplamente distribuída na América do Sul, pouco se conhece sobre os aspectos reprodutivos dessa espécie. O objetivo desse estudo é avaliar o sucesso reprodutivo de G. ruficauda através de uma análise descritiva dos seguintes componentes: i)número de ovos colocados pelas fêmeas, ii) número de ninhegos que eclodem dos
ovos e iii) sucesso reprodutivo em relação à cobertura de vegetação nativa local (área). Material e Métodos As coletas de dados compreendem duas fases: a) Período reprodutivo: observações semanais de agosto a novembro de 2015. b) Período não reprodutivo: observações mensais de dezembro de 2015 a julho de 2016, com registros visuais (binóculos 10x42) em nove fragmentos de vegetação ripária na região de Morrinhos. Durante o período reprodutivo foram coletados dados sobre o número de ovos e de ninhegos obtidos através de uma sonda de 3m com micro-câmera conectada a um computador de mão e inserida dentro dos ninhos durante a ausência dos pais, ao longo do trecho de córregos e ribeirões em cada um dos nove fragmentos de vegetação. As análises das áreas foram feitas através do aplicativo Google Earth Pro versão 7.1.5, 2015, um aplicativo que permite gerar um mapa dos locais de estudo e realizar cálculos de distância e área. As áreas de vegetação natural foram calculadas dentro de uma distância de 500 metros a partir de ambos os lados das trilhas (corpo de água) percorridas. Para esse ano será coletado mais dados em áreas maiores para melhores conclusões. Resultados e Discussão Durante o período reprodutivo da espécie, agosto a novembro de 2015, foi feita a coleta de dados em nove locais. Os dados foram descritos através da quantificação dos ninhos (16), ovos (48), média de ovos por ninho (3), ninhegos por ninho (2,5) e taxa de eclosão (81,74%) em trilhas percorridas (Tabela 1). A perda e a fragmentação de habitats comprometem a biodiversidade global (CORLETT, 2000; TABARELLI et al., 2004). As áreas de vegetação natural e não natural ao redor das trilhas percorridas foram quantificadas (Tabela 2) para análise de correlação com os dados reprodutivos da espécie. Entretanto, nenhuma relação significativa foi observada. A análise de agrupamento das áreas de vegetação nativa foi feita com os dados de riqueza de espécies, densidade de ninho, sucesso reprodutivo, quantidade de ovos por ninho e número de ninhegos por ninho (Figura 1). Essa análise também
não indicou nenhuma relação entre as variáveis, indicando que a espécie não foi sensível à variação da área de vegetação natural. Tabela 1. Relação das características reprodutivas de Galbula ruficauda para cada local. Local Comprimento da trilha (m) ninhos ovos ninhegos densidade de ninho/ 100m ovos por ninho ninhegos por ninho sucesso reprodutivo (%) 1 814 2 6 6 0,2457 3 3 100 2 647 3 10 5 0,4637 3.33 1,66 50 3 716 1 3 3 0,1396 3 3 100 4 1.655 2 4 4 0,1201 2 2 100 5 670 1 3 3 0,1492 3 3 100 6 600 1 3 2 0,1666 3 2 66,7 7 633 2 6 6 0,3159 3 3 100 8 736 2 6 2 0,2717 3 1 33,3 9 633 2 7 6 0,3159 3,5 3 85,7 TOTAL 16 48 37 2,1884 2,98 2,41 81,74 Tabela 2. Cobertura vegetal dos locais de ocorrência de Galbula ruficauda. LOCAL ÁREA TOTAL (ha) ÁREA NATURAL (ha) ÁREA NÃO NATURAL (ha) COORDENADAS 1 151,33 20,27 131,06 17 42 40.46 S 49 12 03.25 O 2 143,08 67,14 75,94 17 43 28.41 S 49 07 31.11 O 3 139.55 34.88 104,67 17 37 11.18 S 49 12 05.26 O 4 194,82 31,97 162,85 17 46 50.94 S 49 05 58.93 O 5 143,10 15,40 127,7 17 41 23.27 S 49 06 39.53 O 6 130,93 35,66 95,27 17 41 42.08 S
49 05 35.46 O 7 162,77 35,98 126,79 17 50 18.14 S 49 09 37.19 O 8 142,50 27,37 127,7 17 42 45.09 S 49 08 51.46 O 9 134,53 18,90 115,63 17 37 48.69 S 49 13 35.77 O Figura 1. Relação da vegetação nativa nos locais estudados. 110 100 90 80 110 100 90 80 Dissemelhança (%) 70 60 50 40 30 70 60 50 40 30 20 20 10 TAM (32) ERO (19) OL2 (36) PNM (67) DAI (27) DAO (36) RS2 (35) OL1 (15) RS1 (20) Vegetação nativa (ha) 10 Considerações Finais Galbula ruficauda tem ampla distribuição na região estudada e a variação da área de vegetação nativa na escala trabalhada (15 a 67 ha) não exerceu influência direta em sua reprodução. Entretanto, mais dados em áreas maiores serão coletados em 2016 para melhores conclusões. Agradecimentos A Pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Goiás (PrP UEG) pela bolsa de estudos para realização da pesquisa.
Referências ANDRADE, M.A. A vida das aves: Introdução à biologia e conservação. Belo Horizonte: Editora Líttera Maciel, 1993. 160p. BALLARINI, Y.; FRIZZAS, M. R.; MARINI, M. A. Stomach contents of brazilian nonpasserine birds. Revista Brasileira de Ornitologia, 21(4): 235-242, 2013. BORGES, F. J. A.; MARINI, M. A. Birds nesting survival in disturbed and protected Neotropical savannas. Biodivers. Conserv., 2009, p.1-14. Disponível em: http://www.springerlink.com/content/g8445186r382p814. Acesso em 23/11/2015. CORLETT, R.T. 2000. Environmental heterogeneity and species survival in degraded tropical landscapes. In: M.J. HUTCHINGS, E.A. JOHN & A.J.A. STEWART (eds.). The ecological consequences of environmental heterogeneity. pp. 333-355. British Ecological Society, Londres. DRENT, R.H.; DAAN, S. The prudent parent: energetic adjustments in avian breeding. Ardea. 68: 225-252, 1980. GALLI, A. E.; LECK, C.; FORMAN, R. T. Avian distribution patterns in forest islands of different sizes in central New Jersey. Auk, 93: 356-364, 1976. GEERTZ, C. The growth of culture and evolution of mind. In: SCHER, J. (ed.) Theories of Mind. Gencloe, Free Press, 713-740, 1992. PINHEIRO, C.E.G.; BAGNO, M.A.; BRANDÃO, R.A. Diet and foraging behavior of the rufous-tailed jacamar (Galbula ruficauda, Galbulidae) in central Brazil. Ararajuba, 11(2): 241-243, 2003.