Desenvolvimento de nanomateriais absorvedores no ultravioleta para aplicação em filtros solares



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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA TESE DE DOUTORADO Desenvolvimento de nanomateriais absorvedores no ultravioleta para aplicação em filtros solares Tatiana Santos de Araujo Batista São Cristóvão, abril/2010

Desenvolvimento de nanomateriais absorvedores no ultravioleta para aplicação em filtros solares Tatiana Santos de Araujo Batista Tese de Doutorado apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de doutor, pelo curso de Pós-Graduação em Física Área Física da Matéria Condensada, do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe. Orientadora: Prof. Dr. Susana Oliveira de Souza São Cristóvão, abril/2010

ii Ao meu mestre e Senhor, Jesus Cristo Ao amor da minha vida, meu esposo João Batista A responsável por estar aqui, minha mãe Rosângela Aos meus anjos da guarda, minhas irmãs Michely e Natália Keli Obrigada por tudo, Amo Vocês!

iii AGRADECIMENTOS A minha orientadora, Prof. Dr. Susana Oliveira de Souza, pela compreensão e confiança necessária para realização deste trabalho. Ao Prof. Dr. Walter Miyakawa, pela colaboração na realização do trabalho, competência, amizade, disponibilidade constante e pela troca de experiências. A Prof. Dr. Edésia M. B. de Sousa, por tornar possível a interação UFS CDTN, contribuindo para a realização do trabalho da maneira como foi feito. A Prof. Dr. Roseli Gennari, que contribuiu com as análises de absorção óptica dos líquidos na IFUSP. Ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), por tornar possível as análises de AFM. Ao técnico Daniel, pelo acompanhamento nas medidas de absorção óptica no CDTN/CNEN. Aos professores do Departamento de Física UFS, que de alguma forma fizeram parte desse trabalho, acompanhando o meu desenvolvimento. Ao amigo Julio Cesar, pelo apoio e por estar sempre torcendo pelo meu sucesso. A minhas irmãs Michely e Natália Keli pelo amor, carinho, incentivo e confiança. A minha mãe Rosângela por ter me ensinado a viver com seriedade, caráter, respeito e perseverança, através de seus exemplos de vida. Obrigada pelo seu infinito amor e pelas orações. Ao meu esposo João Batista pelo amor, carinho e companheirismo, não medindo esforços para incentivar-me e fazendo dos meus problemas, os seus. Você foi fundamental na realização deste trabalho. A Deus por estar sempre presente em todos os momentos de minha vida, não permitindo que eu fraquejasse frente aos desafios da vida, e que é o maior responsável por eu ter chegado até aqui. Obrigada por tudo! Meus sinceros agradecimentos a todos que contribuíram de alguma forma para que esta tese pudesse existir.

iv A vida não é um corredor reto e tranqüilo que nós percorremos livres e sem empecilhos, mas um labirinto de passagens, pelas quais nós devemos procurar nosso caminho, perdidos e confusos, de vez enquando presos em um beco sem saída. Porém se tivermos fé, uma porta sempre será aberta para nós, não talvez aquela sobre a qual nós mesmos nunca pensamos, mas aquela que definitivamente se revelará boa para nós. A. J. Cronin

v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS... VIII LISTA DE TABELAS... XII LISTA DE ABREVIATURAS... XIV RESUMO... XV ABSTRACT... XVI CAPÍTULO I INTRODUÇÃO... 1 1.1 Apresentação... 2 1.2 Objetivos... 3 CAPÍTULO II RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA E FILTROS SOLARES... 5 2.1 Os efeitos da radiação ultravioleta... 6 2.2 Filtros solares... 8 CAPÍTULO III CALCITA, HIDROXIAPATITA E β-fosfato TRICÁLCIO... 13 3.1 Introdução... 14 3.2 Biocompatibilidade... 14 3.3 Carbonatos de cálcio... 15 3.3.1 Estrutura e aplicação da calcita... 15 3.3.2 Produção da calcita... 16 3.3.3 Efeitos do Zn 2+, Mn 2+ e Fe 3+ na calcita... 17 3.4 Fosfatos de cálcio... 18 3.4.1 Estrutura e aplicação da hidroxiapatita... 18 3.4.2 Estrutura e aplicação do β-fosfato tricálcio... 21 3.4.3 Produção da hidroxiapatita e β-fosfato tricálcio... 23 3.4.4 Efeitos do Zn 2+, Mn 2+ e Fe 3+ na hidroxiapatita e β-fosfato tricálcio... 25 CAPÍTULO IV MÉTODOS EXPERIMENTAIS... 28 4.1 Síntese... 29 4.1.1 Calcita... 29 4.1.2 Hidroxiapatita... 30

vi 4.1.3 β-fosfato tricálcio... 30 4.2 Princípios das técnicas de caracterização... 32 4.2.1 Difração de raios X... 32 4.2.2 Espectrometria de fluorescência de raios X por energia dispersiva... 36 4.2.3 Microscopia de força atômica... 37 4.2.4 Espectroscopia de absorção óptica no ultravioleta/visível... 42 CAPÍTULO V RESULTADOS E DISCUSSÕES... 46 5.1 Calcita... 47 5.1.1 Produção das amostras... 47 5.1.2 Difração de raios X (XRD)... 47 5.1.3 Espectrometria de fluorescência de raios X por energia dispersiva (EDXRF) 49 5.1.4 Microscopia de força atômica (AFM)... 50 5.1.5 Absorção óptica... 57 5.2 Hidroxiapatita... 58 5.2.1 Produção das amostras... 59 5.2.2 Difração de raios X (XRD)... 60 5.2.3 Espectrometria de fluorescência de raios X por energia dispersiva (EDXRF). 62 5.2.4 Microscopia de força atômica (AFM)... 63 5.2.5 Absorção óptica... 71 5.2.6 Influência da concentração de Zn 2+ e da temperatura de calcinação na obtenção da ZnHAP... 74 5.2.7 Influência do meio de dispersão na ZnHAP... 93 5.3 β-fosfato tricálcio... 95 5.3.1 Produção das amostras... 95 5.3.2 Difração de raios X (XRD)... 96 5.3.3 Espectrometria de fluorescência de raios X por energia dispersiva (EDXRF). 98 5.3.4 Microscopia de força atômica (AFM)... 99 5.3.5 Absorção óptica... 106 5.3.6 Influência da temperatura de calcinação na obtenção do β-fetcp... 108 5.3.7 Influência do meio de dispersão no β-fetcp... 113 CAPÍTULO VI CONCLUSÕES... 115 6.1 Conclusões... 116

vii 6.2 Sugestões para futuros trabalhos... 117 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 118 ANEXO 1 Artigo publicado... 137 ARAUJO, T. S.; SOUZA, S. O. Protetores solares e os efeitos da radiação ultravioleta. Scientia Plena, v. 4, n. 11, p. 1-7, 2008... 138 ANEXO 2 Artigos aceitos... 145 ARAUJO, T. S.; SOUZA, S. O.; MIYAKAWA W., SOUSA, E. M. B. Analysis of a new sunscreen active ingredient based on β-fetcp nanoparticles. Materials Science and Engineering... 146 ARAUJO, T. S.; SOUZA, S. O.; MIYAKAWA W., SOUSA, E. M. B. Phosphates nanoparticles doped with zinc and manganese for sunscreens. Materials Chemistry and Physics... 158 ANEXO 3 Artigos submetidos... 174 ARAUJO, T. S.; SOUZA, S. O.; MIYAKAWA W., SOUSA, E. M. B. Study of tricalcium phosphate nanoparticles prepared by precipitation for application as active center in sunscreens. Materials Science and Engineering C... 175 ARAUJO, T. S.; SOUZA, S. O.; SOUSA, E. M. B. Effect of Zn 2+, Fe 3+ and Cr 3+ addition to hydroxyapatite for its application as an active constituent of sunscreens. Journal of Physics: Conference Series (ICDIM)... 191 ARAUJO, T. S.; SOUZA, S. O.; SOUSA, E. M. B. Production and thermal stability of pure and Cr 3+ -doped hydroxyapatite. Journal of Physics: Conference Series (ICDIM)... 198

viii LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Radiação solar não ionizante (KIRCHOFF, 1995)... 6 Figura 2.2 Esquema do espectro da radiação ultravioleta... 7 Figura 3.1 Ilustração esquemática da calcita (romboédrica) (PALIK & GHOSH, 1998)... 16 Figura 3.2 HAP pura com unidade de célula hexagonal contendo 10 íons Ca 2+ ocupando duas posições diferentes: seis no sítio Ca(1), alinhados em triângulos equiláteros perpendiculares à direção c, e quatro no sítio Ca(2), alinhados em coluna; triângulos equiláteros de íons O 2- e de íons Ca 2+ estão ligados entre si por dois íons fosfato situados em planos perpendiculares à direção c e outros dois paralelos a esta direção (ELLIOTT, 1994-a) 19 Figura 3.3 Célula unitária do Ca(1)-O (TOMIDA et al., 1996)... 20 Figura 3.4 Célula unitária do Ca(2)-O (TOMIDA et al., 1996)... 20 Figura 3.5 Célula unitária do P-O (TOMIDA et al., 1996)... 21 Figura 3.6 Projeção da estrutura cristalina de β-tcp no plano (001), mostrando as colunas A e B. (a) Célula unitária do β-tcp (b) e (c) Configurações de grupos CaO n e PO 4 (YASHIMA et al., 2003)... 22 Figura 4.1 Aparato utilizado na reação de precipitação da calcita... 29 Figura 4.2 Aparato utilizado na reação de precipitação da HAP e do β-tcp... 31 Figura 4.3 A difração de raios X no ponto de vista de Bragg (KLUG et al., 1974)... 33 Figura 4.4 Diagrama esquemático de um microscópio de força atômica (adaptado de BHUSHAN, 2004)... 38 Figura 4.5 Efeito do tamanho da ponta em relação ao tamanho da estrutura na formação da imagem no AFM (MEYER et al., 2004)... 40 Figura 4.6 Diâmetro máximo e largura padrão de uma partícula de formato arbitrário... 41 Figura 4.7 Atenuação do feixe de radiação por uma solução absorvente (SKOOG et al., 2002)... 42 Figura 5.1 Difração de raios X da calcita pura e dopada com 0,01 mol/l de Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ comparado com o padrão de calcita (PDF # 47-1743)... 48 Figura 5.2 Diâmetro médio dos cristalitos da calcita com diferentes dopantes obtidos por difração de raios X usando a equação de Scherrer... 49 Figura 5.3 Imagens de AFM da calcita pura com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 52

ix Figura 5.4 Imagens de AFM da calcita:zn 2+ com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 53 Figura 5.5 Imagens de AFM da calcita:mn 2+ com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 54 Figura 5.6 Imagens de AFM da calcita:fe 3+ com área de varredura de 1 µm x 1 µm e com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 55 Figura 5.7 Comportamento do raio médio em função do dopante da calcita avaliada a partir de imagens de AFM de 1 µm x 1 µm... 56 Figura 5.8 Espectro de absorção óptica (UV Vis) de calcita pura e dopada com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+... 58 Figura 5.9 Difração de raios X da HAP pura e dopada com 0,01 mol/l de Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ calcinadas a 500 ºC comparada com o padrão de HAP (PDF # 9-432)... 60 Figura 5.10 Diâmetro médio dos cristalitos da HAP com diferentes dopantes obtidos por difração de raios X usando a equação de Scherrer... 61 Figura 5.11 Imagens de AFM da HAP pura com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 65 Figura 5.12 Imagens de AFM da ZnHAP (0,01 mol/l) com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 66 Figura 5.13 Imagens de AFM da MnHAP (0,01 mol/l) com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 67 Figura 5.14 Imagens de AFM da FeHAP (0,01 mol/l) com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 68 Figura 5.15 Comportamento do raio médio em função do dopante da HAP avaliadas a partir de imagens de AFM de 1 µm x 1 µm... 70 Figura 5.16 Espectro de absorção óptica (UV Vis) de TiO 2 e ZnO... 71 Figura 5.17 Espectro de absorção óptica (UV Vis) de HAP pura e dopada com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+... 72 Figura 5.18 Difração de raios X da HAP dopada com 0,01 mol/l e 0,1 mol/l de Zn 2+ calcinadas a 500 C /1 hora. O símbolo (*) indica a presença do óxido de zinco... 76 Figura 5.19 Imagens de AFM da ZnHAP (0,1 mol/l) calcinada a 500 C com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 77 Figura 5.20 Espectro de absorção óptica (UV Vis) da HAP dopada com 0,01 mol/l e 0,1 mol/l de Zn 2+ calcinadas a 500 C /1 hora... 78

x Figura 5.21 Difração de raios X da HAP dopada com Zn 2+ (0,1 mol/l) calcinada em diferentes temperaturas. O símbolo (*) indica a presença do óxido de zinco... 80 Figura 5.22 Diâmetro médio dos cristalitos da HAP dopada com Zn 2+ (0,1 mol/l) em função da temperatura de calcinação, obtidos pela equação de Scherrer... 81 Figura 5.23 Imagens de AFM da ZnHAP (0,1 mol/l) calcinada a 200 C com área de varredua de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (c) tridimensional... 84 Figura 5.24 Imagens de AFM da ZnHAP (0,1 mol/l) calcinada a 300 C com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (c) tridimensional... 85 Figura 5.25 Imagens de AFM da ZnHAP (0,1 mol/l) calcinada a 400 C com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (c) tridimensional... 86 Figura 5.26 Imagens de AFM da ZnHAP (0,1 mol/l) calcinada a 600 C com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (c) tridimensional... 87 Figura 5.27 Imagens de AFM da ZnHAP (0,1 mol/l) calcinada a 700 C com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (c) tridimensional... 88 Figura 5.28 Imagens de AFM da ZnHAP (0,1 mol/l) calcinada a 800 C com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (c) tridimensional... 89 Figura 5.29 Comportamento do raio médio da HAP dopada com Zn 2+ (0,1 mol/l) em função da temperatura de calcinação avaliadas a partir de imagens de AFM de 1 µm 1 µm. 90 Figura 5.30 Espectro de absorção óptica (UV-vis) da ZnHAP dopada com 0,1 mol/l de Zn 2+ calcinada em diferentes temperaturas por 1 hora... 92 Figura 5.31 Fotografias da pele com os materiais diluídos em óleo de girassol (a) ZnO (b) ZnHAP (0,01 mol/l) à 500 ºC (c) ZnHAP (0,1 mol/l) à 500 ºC... 94 Figura 5.32 Espectro de absorção óptica (UV-vis) do óleo de girassol e da ZnHAP 0,1 mol/l calcinada 500 ºC /1hora diluída em óleo de girassol... 95 Figura 5.33 Difração de raios X do β-tcp puro e dopado com 0,01 mol/l de Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ calcinados a 800 ºC comparado com o padrão de β-tcp (PDF # 32-176) e HAP (PDF # 9-432)... 97 Figura 5.34 Diâmetro médio dos cristalitos do β-tcp com diferentes dopantes obtidos por difração de raios X usando a equação de Scherrer... 97 Figura 5.35 Imagens de AFM do β-tcp puro com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 101 Figura 5.36 Imagens de AFM do β-zntcp (0,01 mol/l) com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 102

xi Figura 5.37 Imagens de AFM do β-mntcp (0,01 mol/l) com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 103 Figura 5.38 Imagens de AFM do β-fetcp (0,01 mol/l) com área de varredura de 1 µm x 1 µm com visualização (a) bi- e (b) tridimensional... 104 Figura 5.39 Comportamento do raio médio em função do dopante do β-tcp avaliados a partir de imagens de 1 µm x 1 µm... 105 Figura 5.40 Espectro de absorção óptica (UV Vis) do β-tcp puro e dopado com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+... 107 Figura 5.41 Difração de raios X do β-tcp dopado com Fe 3+ (0,01 mol/l) calcinado em diferentes temperaturas. O símbolo (*) indica a presença da hidroxiapatita... 109 Figura 5.42 Diâmetro médio dos cristalitos do β-tcp dopado com Fe 3+ (0,01 mol/l) em função da temperatura de calcinação, obtidos pela equação de Scherrer... 110 Figura 5.43 Espectro de absorção óptica (UV-visível) do β-tcp dopado com 0,01 mol/l de Fe 3+ calcinado em diferentes temperaturas por 2 horas... 112 Figura 5.44 Espectro de absorção óptica (UV-visível) da FeHAP (0,01 mol/l) obtida a 500 ºC e 700 ºC... 113 Figura 5.45 Espectro de absorção óptica (UV-vis) do óleo de girassol e do β-fetcp (0,01 mol/l) calcinado 800 ºC /2 horas diluído em óleo de girassol... 114 Figura 5.46 Fotografia da pele com os pós de β-fetcp (0,01 mol/l) calcinado a 800 ºC /2 horas diluídos em óleo de girassol... 114

xii LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Exemplos de filtros solares orgânicos e inorgânicos (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2006)... 9 Tabela 5.1 Composição de fases para a calcita pura e dopada em termos de % massa... 50 Tabela 5.2 Diâmetro máximo (DM), largura padrão (LP), raio médio (r) e respectivo desvio padrão, distância ao vizinho mais próximo (DVP), circularidade (c) e total de partículas avaliadas (N), estimados a partir de imagens de 1 µm 1 µm de calcita pura e dopada com Zn 2+, Mn 2+ e Fe 3+... 56 Tabela 5.3 Diâmetro médio das partículas e cristalitos de calcita pura e dopada com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ estimados a partir de imagens de AFM e XRD, respectivamente para cálculo da relação D AFM /D XRD... 57 Tabela 5.4 Composição de fases para a HAP pura e dopada em termos de % massa através das análises de EDXRF... 62 Tabela 5.5 Diâmetro máximo (DM), largura padrão (LP), raio médio (r) e respectivo desvio padrão, distância ao vizinho mais próximo (DVP), circularidade (c) e total de partículas avaliadas (N), estimados a partir de imagens de 1 µm 1 µm de HAP pura e dopada com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+... 69 Tabela 5.6 Diâmetro médio das partículas e cristalitos de HAP pura e dopada com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ estimados a partir das imagens de AFM e XRD, respectivamente para cálculo da relação D AFM /D XRD... 70 Tabela 5.7 Comprimento de onda de absorção máxima dos pós... 74 Tabela 5.8 Composição de fases para a HAP dopada com Zn 2+ (0,01 e 0,1 mol/l) calcinada em 500 C em termos de % massa através das análises de EDXRF... 76 Tabela 5.9 Comportamento do raio médio e diâmetro médio das partículas em função da concentração de Zn 2+ na ZnHAP calcinada a 500 C... 78 Tabela 5.10 Composição de fases para a HAP dopada com Zn 2+ (0,1 mol/l) calcinada em diferentes temperaturas em termos de % massa através das análises de EDXRF... 82 Tabela 5.11 Diâmetro máximo (DM), largura padrão (LP), raio médio (r) e respectivo desvio padrão, distância ao vizinho mais próximo (DVP), circularidade (c) e total de partículas avaliadas (N), estimados a partir de imagens de 1 µm 1 µm de HAP dopada com Zn 2+ (0,1 mol/l) em função da temperatura de calcinação... 90

xiii Tabela 5.12 Diâmetro médio das partículas e cristalitos da HAP dopada com Zn 2+ (0,1 mol/l) em função da temperatura de calcinação estimados a partir do AFM e XRD, respectivamente para cálculo da relação D AFM /D XRD... 91 Tabela 5.13 Composição de fases para o β-tcp puro e dopado em termos de % massa através das análises de EDXRF... 99 Tabela 5.14 Diâmetro máximo (DM), largura padrão (LP), raio médio (r) e respectivo desvio padrão, distância ao vizinho mais próximo (DVP), circularidade (c) e total de partículas avaliadas (N) medidos a partir de imagens de 1 µm 1 µm de β-tcp puro e dopado com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+... 105 Tabela 5.15 Diâmetro médio das partículas e cristalitos de β-tcp puro e dopado com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ estimados a partir do AFM e XRD, respectivamente para cálculo da relação D AFM /D XRD... 106 Tabela 5.16 Comprimento de onda de absorção máxima do β-tcp puro e dopado... 108 Tabela 5.17 Composição de fases para a β-tcp dopado com Fe 3+ (0,01 mol/l) calcinado em diferentes temperaturas em termos de % massa através das análises de EDXRF... 111

xiv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AFM Microscopia de força atômica ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária CDTN/CNEN Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear/Centro Nacional de Tecnologia Nuclear EDXRF Espectrometria de fluorescência de raios X por energia dispersiva FDA Food and Drug Administration HAP Hidroxiapatita ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica JCPDS Joint Committe of Powder Diffraction Standards OTC Over the counter UV Ultravioleta UV-Vis Ultravioleta/Visível XRD Difração de raios X β-tcp β-fosfato tricálcio

xv RESUMO Os filtros solares são capazes de absorver ou refletir a radiação UV para proteger os indivíduos dos efeitos nocivos do sol. Há uma necessidade urgente pelo desenvolvimento de sistemas de filtros solares mais seguros que podem ser alcançados por formulações que usem materiais biocompatíveis. A biocompatibilidade e algumas das propriedades físicas da calcita, da hidroxiapatita (HAP) e do β-fosfato tricálcio (β-tcp) são muito bem conhecidas. Zn 2+, Mn 2+ e Fe 3+ são metais que poderiam gerar absorção óptica no UV quando incorporado em uma matriz cristalina. A biocompatibilidade da calcita, HAP e β-tcp somada a atividade óptica desses metais são interessantes para aplicação como ingrediente ativo de filtros solares inorgânicos. Assim, o trabalho visou investigar os efeitos de Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ nas propriedades estruturais e ópticas da calcita, HAP e β-tcp, produzidos pelo método de precipitação. A influência desses íons no crescimento das partículas, formação de outras fases, ausência de espécies tóxicas, diâmetros das partículas e especialmente a absorção óptica foram avaliados. São informados resultados detalhados comparativamente com as formas puras desses materiais. Objetivando a aplicação em filtros solares, os materiais foram caracterizados por difração de raios X (XRD), espectrometria de fluorescência de raios X por energia dispersiva (EDXRF), microscopia de força atômica (AFM) e espectroscopia de absorção óptica no UV-Vis. As análises de XRD revelaram a formação dos materiais desejados sem formação de espécies tóxicas. Análises de EDXRF forneceram a concentração percentual das fases e revelaram fases minoritárias não identificadas por XRD. As imagens de AFM mostraram que as nanopartículas são elipsoidais formadas por aglomerados de mais de um cristalito. A resposta óptica da calcita pura, calcita:zn 2+, calcita:mn 2+, β-tcp puro e β- ZnTCP não mostraram absorção no espectro UV/Vis, e por isso foram considerados impróprios para uso em filtro solar, entretanto calcita:fe 3+, MnHAP, FeHAP e β-mntcp, e principalmente a ZnHAP e o β-fetcp apresentaram absorções na região de interesse. A produção de ZnHAP com diferentes concentrações de Zn 2+ revelou alterações nas propriedades estruturais e ópticais do material. Da mesma forma, o efeito da temperatura de calcinação sob as propriedades estruturais e ópticas da ZnHAP e β-fetcp foram avaliados, mostrando alterações significantes e que potencializam a aplicação dos materiais. Em suma, os resultados apontam um uso potencial da calcita, HAP e β-tcp dopados como ingredientes ativos de filtros solares inorgânicos.

xvi ABSTRACT Sunscreens are capable to absorb or reflect UV radiation to protect individuals from harmful effects of the sun. There is an urgent need for developing systems for safer sunscreens that can be achieved by formulations that use biocompatible materials. The biocompatibility and some physical properties of calcite, hydroxyapatite (HAP) and β- tricalcium phosphate (β-tcp) are well known. Zn 2+, Mn 2+ and Fe 3+ are metals that could present optical absorption in the UV when introduced in a crystalline matrix. The biocompatibility of calcite, HAP and β-tcp added to the optical activity of these metals are interesting for application as active ingredient for inorganic sunscreens. Thus, this work was proposing to investigate the effects of Zn 2+, Mn 2+ or Fe 3+ in the structural and optical properties of calcite, HAP and β-tcp produced by precipitation method. The influence of these ions on the crystals growth of HAP and β-tcp, formation of other phosphate phases, absence of toxic species, particle size and, especially, the optical absorption were found. Detailed results are reported in this paper comparatively with the pure forms of HAP and β- TCP. Aiming at the application in sunscreens, the materials were characterized by X ray diffraction (XRD), energy dispersive X ray fluorescence (EDXRF), atomic force microscopy (AFM) and UV-vis spectroscopy. XRD analysis revealed the formation of the expected material without formation of toxic species. EDXRF analysis provided the concentration percentage of the phases, some not previously identified by XRD. AFM images showed that nanoparticles are ellipsoidal clusters formed by more than one crystallite. The optical response of pure calcite, calcite:zn 2+, calcite:mn 2+, pure β-tcp and β-zntcp showed no UV/Vis absorption, and thus were considered inappropriate for use in sunscreen. However, calcita:fe 3+, MnHAP, FeHAP, β-mntcp and, especially, ZnHAP and β-fetcp presented optical absorption bands in the interest region. The production of ZnHAP with different concentrations of Zn 2+ revealed changes in structural and optical properties of the material. Likewise, the effect of calcination temperature on the structural and optical properties of ZnHAP and β-fetcp were evaluated, showing significant changes and that potentiate the application of materials. In summary, the results point to a potential use of doped calcite, HAP and β-tcp as active ingredient for inorganic sunscreens.

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Diante do crescente aumento da incidência de câncer de pele no mundo, esse trabalho enquadra-se num conjunto de ações preventivas relacionadas ao controle do câncer de pele pelo uso de filtros solares com ingredientes ativos biocompatíveis e ausente de toxicidade. Neste capítulo, é abordada de forma sucinta a necessidade e importância do uso de filtros solares, e as características principais de um filtro solar eficiente. Em seguida é introduzida a possibilidade do uso de carbonato de cálcio e fosfatos de cálcio dopado com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ para essa aplicação e os objetivos gerais e específicos do trabalho são descritos.

2 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação Vivemos numa sociedade de culto ao sol, onde a pele bronzeada representa sinônimo de bem-estar e é símbolo de beleza. Entretanto, a exposição ao sol em excesso e sem proteção adequada, com o único objetivo de possuir um corpo bronzeado, é desaconselhável e pode causar efeitos prejudiciais à saúde (MOTA et al., 2003). Nos últimos anos, tem havido um aumento dramático na prevalência mundial de câncer de pele (Cancer Research UK, 2008; KEENEY et al., 2009). No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer, o câncer de pele é o tumor mais comum e, em 2008, mais de 115,000 novos casos foram diretamente relacionados com a exposição ao sol (Cancer estimate 2008 in Brazil). Na Austrália, o câncer de pele é o tumor que mais mata, sendo considerado uma calamidade pública. O câncer de pele também contribui significativamente para o aumento dos custos em cuidados com a saúde nos Estados Unidos. No Reino Unido, o número de casos de câncer de pele quase triplicou desde o início de 1980, e embora haja 72,000 casos de câncer de pele registrados a cada ano, o número real de casos é estimado em mais de 100,000 (TELFER, 2009). Com isto, existe a necessidade de filtros solares extremamente eficazes, que possam garantir grande segurança aos usuários (SBD, 2006). Um filtro solar ideal deve conter em sua formulação, substâncias ou materiais com ampla capacidade de absorção da radiação UVB, responsável pela formação de eritemas e em longo prazo câncer de pele; e substâncias ou materiais com capacidade de absorção da radiação UVA, responsável pelo fotoenvelhecimento, formação de radicais livres e câncer de pele. O sistema de filtros solares em uma formulação deve ser estável e conservar suas propriedades quando expostos à luz, devem ser atóxicos e inócuos para a pele sadia. Devem, também, apresentar boa relação custo-benefício (COSTABILE, 1989). A situação em que o Brasil e outros países em desenvolvimento se encontram hoje, de compradores de tecnologias importadas ou pagadores de royalties para laboratórios farmacêuticos estrangeiros, torna o processo de ampliação do sistema de saúde vigente muito oneroso ou, muitas vezes, não atende a suas necessidades específicas (FUNARI & FERRO, 2005). A criação de modelos nacionais de saúde, pautados nas aptidões e carências de países em desenvolvimento, é tida como fundamental para tornar o acesso à saúde pública mais

3 abrangente e de melhor qualidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002). Isso, é claro, inclui o desenvolvimento de novos produtos voltados para a proteção solar da pele. No Brasil apenas uma pequena parte da população tem acesso ou consciência da necessidade de proteção contra os efeitos nocivos dos raios solares, o que significa um enorme potencial de crescimento para o setor. No mercado brasileiro existe comercialmente à disposição formulações contendo dois óxidos usados com a finalidade de proteger da radiação ultravioleta, TiO 2 e ZnO. Contudo, estes óxidos podem gerar radicais livres e formam uma película branca sobre a pele, que pode ser esteticamente indesejável (SERPONE et al., 2007; DUNFORD et al., 1997; FLOR et al., 2007). Sendo assim, a busca de novos materiais que possam ser usados na formulação de filtros solares permitindo uma maior proteção contra os raios solares e com características fotoestáveis tem sido objeto de vários estudos, com investimentos milionários no setor (MASUI et al., 2006; YABE & SATO, 2003). O carbonato de cálcio, a hidroxiapatita e o fosfato tricálcio estão presentes na fase mineral dos ossos e dentes e têm larga aplicação na medicina e ortopedia, especialmente a hidroxiapatita (AHN et al., 2001; LYNCH et al., 1999). Não há relatos na literatura de trabalhos envolvendo aplicações destes materiais em filtro solar, assim como nenhuma atenção é dada as suas propriedades ópticas. A idéia de incorporar estes fosfatos e carbonato a produtos cosméticos agindo como fotoprotetores surgiu por sua biocompatibilidade e ausência de toxicidade. Além disso, a absorção do UVB (290-320 nm) ao UVA (320-400 nm) pode ser obtida pela introdução de um dopante. A escolha dos íons Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ como dopantes destes materiais também foi devido a sua baixa toxicidade e boa biocompatibilidade. 1.2 Objetivos O objetivo desta pesquisa foi a produção e caracterização de carbonatos de cálcio e fosfatos de cálcio dopados com Zn 2+, Mn 2+ ou Fe 3+ que absorvem ou refletem na região do UV podendo ser parte ativa na produção de produtos fotoprotetores. Os íons incorporados apresentam baixa toxicidade e serão testados quanto a sua atividade óptica na região do UV. Os objetivos específicos deste trabalho foram divididos em duas etapas: Primeira etapa (para todos os fosfatos e carbonatos produzidos neste trabalho):

4 Produzir e caracterizar estruturalmente os nanopós de carbonatos e fosfatos puros e dopados que pudessem ser utilizados como filtros solares; Verificar a morfologia e tamanho das partículas; Verificar se os dopantes alteravam a borda de absorção do material no ultravioleta e procurar qual deles permitia sintonizar a absorção numa região de interesse. Segunda etapa (para os materiais com melhores características ópticas para uso em filtro solar): Identificar as condições ótimas para calcinação dos fosfatos; Correlacionar as bandas de absorção óptica do fluido com tamanho de partícula; Correlacionar o efeito de absorção dos materiais no ultravioleta com sua dispersão em óleo usado na formulação de filtros solares; Avaliar a interação entre os materiais dopados e o meio de dispersão, verificando suas características físicas na pele.

CAPÍTULO II RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA E FILTROS SOLARES Neste capítulo são apresentados alguns ítens importantes para o entendimento dos fenômenos que envolvem filtros solares. Mostram-se os efeitos da radiação ultravioleta na pele, a importância e a classificação dos filtros solares, assim como as características que irão garantir sua eficácia e segurança. Indica-se que os filtros solares constituídos de material inorgânico e biocompatível são uma alternativa segura e eficaz para proteger da radiação ultravioleta.

6 CAPÍTULO II RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA E FILTROS SOLARES 2.1 Os efeitos da radiação ultravioleta A radiação não ionizante compreende a ultravioleta (UV), com comprimento de onda entre 200 e 400 nm, a luz visível, de 400 a 700 nm, e a infravermelha, de 700 a 1700 nm (Figura 2.1). 200 400 425 490 575 585 650 700 1700 alta energia Comprimento de onda (nm) baixa energia Figura 2.1 Radiação solar não ionizante (KIRCHOFF, 1995). A energia da radiação eletromagnética aumenta com a redução do comprimento de onda, assim a radiação UV é a de menor comprimento de onda e, consequentemente, a mais energética, ou seja, a mais propensa a induzir reações fotoquímicas. Por esta razão, as radiações UV são as mais preocupantes quando se pensa em fotoproteção (OSTERWALDER et al., 2000). Quanto aos danos causados a pele a radiação ultravioleta é dividida em três categorias: UVC (200-290 nm), UVB (290-320 nm) e UVA (320-400 nm), conforme figura 2.2. (EPSTEIN, 1997; KIRCHOFF, 1995).

7 200 290 320 400 Comprimento de onda (nm) Figura 2.2 Esquema do espectro da radiação ultravioleta. A radiação solar abaixo de 290 nm praticamente não atinge a superfície terrestre, sendo absorvida pelo O 2, gerando ozônio (EPSTEIN, 1997; ROY et al., 1998; VANQUERP et al., 1999). Os raios UVB ultrapassam a camada de ozônio, atingem a pele, penetrando até a camada basal da epiderme e, através de um efeito direto, causam eritema, imunossupressão, inibição da síntese de DNA, RNA, alterações da síntese de proteínas das membranas celulares e mutação celular, nos casos de carcinomas de células basais e escamosas. Estes raios são parcialmente bloqueados pela camada de ozônio, e a diminuição de 1% desta provoca o aumento de 2% da radiação UVB na superfície do planeta, o que gera uma elevação potencial da incidência de câncer de pele. Já os raios UVA (320-400 nm) interagem indiretamente, em nível de derme reticular, induzindo a produção de radicais livres que podem causar envelhecimento precoce ou fotoenvelhecimento e indução tumoral (MATSUI & DELEO, 1991; SCHARFETTFER- KOCHANEK et al.,1997). Apesar de serem menos carcinogênicos do que os UVB, proporcionalmente os raios UVA atingem de 10 a 100 vezes mais a superfície da Terra (EPSTEIN, 1997). Além disso, a densidade de fluxo energético, que é a energia radiante por unidade de tempo e unidade de área, da radiação UVA é 10 a 20 vezes maior do que a densidade de fluxo energético dos raios UVB. Ou seja, se nos expusermos ao Sol por muito tempo, os efeitos acumulativos de longo prazo da radiação simultânea UVB e UVA serão aditivos na indução do câncer de pele. Deste modo, muito esforço tem sido feito para desenvolver e avaliar os materiais que podem prevenir o câncer de pele. (COLE & VAN, 1992; SAYRE et al., 1992).

8 2.2 Filtros solares Os filtros solares são substâncias capazes de absorver a energia eletromagnética na faixa denominada ultravioleta e emití-la sob outra forma (geralmente na faixa do infravermelho, gerando sensação de calor). Com isto, não ocorre a penetração da radiação na pele, evitando-se os danos (UITTO et al., 1997). A eficácia dos filtros solares é dependente da sua capacidade de absorção da energia radiante, que é proporcional à sua concentração, intervalo de absorção e comprimento de onda onde ocorre absorção máxima (ARAUJO & SOUZA, 2008; DE PAOLA & RIBEIRO, 1998). Além de absorver ou refletir a radiação ultravioleta incidente, um produto para proteção solar deve ainda ser estável na pele humana e ao calor, e ser fotoestável sob a luz do sol para permitir proteção durante várias horas, evitando assim o contato da pele com produtos de degradação. Paralelamente, os filtros solares ainda não devem ser irritantes, sensibilizantes ou fototóxicos. Eles devem recobrir e proteger a superfície da pele, mas não devem penetrá-la, para que não se tenha uma exposição sistêmica a essas substâncias. Os filtros solares não devem ser tóxicos, já que são absorvidos traços destes através da pele ou ingeridos após a aplicação nos lábios. Finalmente, um bom filtro solar deve ser resistente à água, insípido, inodoro e incolor, e deve ser compatível com formulações cosméticas (NOHYNEK et al., 2001; JOHNCOCK, 2000). O controle de qualidade dos filtros solares é de grande importância para a obtenção de um produto de boa espalhabilidade e estabilidade. São importantes as análises físicoquímicas, tais como odor, coloração, aparência física, centrifugação, tamanho de gotículas, viscosidade, determinação do ph, condutividade elétrica, análise cromatográfica e espectrofotométrica, e análises microbiológicas (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2004). No Brasil os filtros solares são considerados cosméticos (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2002), sendo produtos com indicações específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados quanto ao modo e restrições de uso. Nos Estados Unidos da América, o FDA (Food and Drug Administration) considera esses produtos como OTC (over the counter) - uma denominação utilizada para medicamentos de venda livre - desde 25 de agosto de 1978, quando utilizados em seres humanos (RUVOLO JÚNIOR, 1997). Eles são considerados produtos para prevenção de efeitos agudos (como o eritema solar) e crônicos (como o câncer de pele) causados pela radiação solar (FDA, 1999).

9 Existem duas classes de filtros solares: orgânicos e inorgânicos, classificados rotineiramente e, respectivamente, como filtros de efeito químico (filtros químicos) e filtros de efeito físico (filtros físicos) (DIFFEY et al., 1997). Tal classificação, na realidade, apresenta apenas um caráter comercial e necessita ser reavaliada. Os processos de absorção e reflexão de radiação são considerados fenômenos físicos desde que não haja uma reação química. Assim, uma molécula absorvedora de radiação UV não necessariamente deve ser chamada de filtro químico. A classificação de filtros orgânicos e inorgânicos torna-se mais sensata uma vez que nos filtros orgânicos existe a presença de compostos orgânicos e nos inorgânicos há a presença de materiais inorgânicos. Geralmente os compostos orgânicos protegem a pele pela absorção da radiação, e os inorgânicos pela reflexão da radiação. Ressalta-se que os fenômenos reflexão e espalhamento dependem do tamanho de partículas do filtro inorgânico, entre outros fatores, e não do fato de ser composto orgânico ou inorgânico. Alguns exemplos de filtros solares orgânicos e inorgânicos são mostrados na tabela 2.1. Tabela 2.1 Exemplos de filtros solares orgânicos e inorgânicos (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2006). Filtros orgânicos Filtros inorgânicos Filtros UVB PABA Salicilatos Ácido cinâmico Cânfora Filtros UVA Benzofenonas Antranilatos Dibenzoilmetanos Dióxido de titânio Óxido de zinco Carbonato de magnésio Óxido de magnésio Clorato de ferro Os filtros orgânicos são compostos aromáticos conjugados com um grupo carbonila que atuam por absorção da radiação na faixa UVA ou UVB, mas apresentam alto potencial alergênico: penetram na pele causando alergias, reações de toxicidade e irritações de pele (SCHULZ et al., 2002). Os filtros inorgânicos vêm sendo usados cada vez mais frequentemente. Eles agem como uma barreira física que não permite a passagem da radiação, apresentando inespecificidade quanto às radiações UVA e UVB. Sua popularidade vem do fato de não

10 serem tóxicos, além de muito eficazes na proteção contra a radiação UV. Estes filtros são constituídos de partículas também denominadas de pigmentos inorgânicos, que, quando incorporadas em uma formulação, ficam suspensas. O tamanho destas partículas é de suma importância, não apenas para a eficácia do filtro solar, mas também para a aparência do produto cosmético (DE PAOLA, 2001; ARAUJO et al., 2007-b). Os filtros inorgânicos são a nova geração de filtros, compostos de pós muito finos, opacos e inertes (diâmetros inferiores a 200 nm). Esses materiais, ou micro-pigmentos (dióxido de titânio, talco, mica, óxido de zinco, óxido de ferro, caulim), refletem a luz como espelhos microscópicos. Partículas tão finas não podem ser obtidas por processo mecânico, sendo necessário o uso de processos químicos para produzí-las. Utilizados isoladamente e em concentração superior a 4-5%, estes pigmentos produzem uma emulsão bastante espessa e difícil de aplicar. Existe então o risco das micropartículas aglutinarem-se, e neste caso, a luz passaria a ser refletida de maneira mais intensa já que o tamanho seria maior. Assim, as superfícies onde o produto fosse aplicado passariam a ter uma cor branco-azulada, fenômeno que daria origem a uma diminuição do fator de proteção. Esta é a principal razão pela qual os filtros orgânicos e os micro-pigmentos são utilizados em conjunto nos filtros solares de forma a garantir emulsões mais fluídas, transparentes na pele e com fator de proteção mais elevado. Além disso, como os filtros solares absorvem apenas parte da região do ultravioleta (UVA ou UVB), para se ter uma proteção completa deve-se fazer uma combinação entre estes filtros, o que pode causar alto grau de irritabilidade quando aplicada à pele (HARRY, 1973; LILI et al., 2006; PINNELL et al., 2000). É sabido que o comportamento óptico de nanomateriais depende fortemente do tamanho e da forma das partículas (ARAUJO et al., 2007-a; FLOR et al., 2007; SHAATH, 2005). Isto quer dizer que nanopartículas de um mesmo material podem apresentar diversas propriedades ópticas e se prestarem a aplicações variadas, desde que possuam formas e tamanhos diferentes. Atualmente, a síntese de partículas na escala nanométrica tem sido foco de interesse, tanto como pesquisa básica quanto aplicada, dando especial ênfase às relações de dependência do tamanho da partícula com suas propriedades. Como já foi dito, o tamanho das partículas é extremamente importante na proteção solar (HARRY, 1973). Durante a produção de um filtro solar, também é necessário um cuidado para não formar partículas aglomeradas, porque o efeito final do produto diminuiria, e uma dispersão ruim geraria uma camada esbranquiçada ou colorida na pele (FLOR et al., 2007).

11 Os dois materiais inorgânicos mais usados e aprovados tanto nos Estados Unidos quanto no Japão e na Europa, são o dióxido de titânio e o óxido de zinco. Esses óxidos apresentam alto índice de refração de partícula, e, portanto, alta capacidade de refletir a luz. Embora ambos sejam oriundos de metais, possuem propriedades ópticas diferentes, especialmente quando na forma de micropartículas (RIBEIRO, 2006; DE PAOLA & RIBEIRO, 1998). As micropartículas de óxido de zinco propiciam uma proteção maior contra os raios UVA (340-380), enquanto o dióxido de titânio dispersa e absorve principalmente os raios UVB (RIBEIRO, 2006). O problema destes filtros é seu inconveniente antiestético, pois como se depositam sobre a pele e refletem toda luz visível, o efeito final é um visual branco difícil de mascarar. As partículas mais brancas e, consequentemente, as que são mais visíveis são aquelas que difundem a luz com maior eficiência. O tamanho da partícula na qual isto acontece varia de um material para outro. No caso do óxido de zinco, a eficiência máxima de difusão é atingida com partículas de cerca de 0,8 µm de diâmetro. No caso do dióxido de titânio, o melhor tamanho para difusão é de 0,25 µm. (ARAUJO & SOUZA, 2008; LILI et al., 2006; PINNELL et al., 2000). O outro grande inconveniente no uso de óxido de zinco e dióxido de titânio em filtros solares, especialmente na forma de nanopartículas está relacionado à sua atividade fotocatalítica. TiO 2 e ZnO quando expostos a luz ultravioleta emitem elétrons, esses elétrons por sua vez, induzem a formação de peróxidos e radicais livres. Essas espécies irão oxidar e degradar outros ingredientes na formulação, comprometendo a segurança do produto. Além disso, podem danificar as proteínas, lipídios e o DNA do indíviduo (YABE & SATO, 2003). Por isso, a concentração desses óxidos é limitada a 25% (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2006), o que corresponde ao bloqueio de apenas 14% da radiação UVB. A princípio, filtros inorgânicos podem ser incorporados a quaisquer veículos comumente usados para filtros orgânicos; por exemplo, emulsões, óleos, géis e batons. A escolha do veículo é influenciada por vários fatores, técnicos e comerciais (FLOR et al., 2007). O envolvimento de pesquisadores brasileiros na produção de filtros solares está voltado para elaboração de projetos de diversas naturezas, particularmente envolvendo nanotecnologias, com participação de instituições e empresas incubadas. O desenvolvimento de sistemas de proteção solar mais eficientes e seguros pode ser alcançado através de

12 formulações com pouca penetração na pele, usando materiais inorgânicos biocompatíveis. Os filtros solares inorgânicos representam um dos melhores e mais efetivos métodos para proteger a pele, devido ao seu baixo nível de irritabilidade da pele, sendo recomendável para as crianças e pessoas com peles sensíveis (SERPONE et al., 2007), O desenvolvimento de um sistema eficaz e seguro se inicia com a escolha dos constituintes da formulação (ingredientes ativos do filtro solar), seguida da investigação experimental desses constituintes. Essa investigação inclui, além de produzir ingredientes ativos que poderiam ser usados em filtros solares, a análise das suas propriedades ópticas, tamanho de partículas e presença de espécies tóxicas.

CAPÍTULO III CALCITA, HIDROXIAPATITA E β-fosfato TRICÁLCIO Tendo em vista que o enfoque do trabalho é utilizar calcita, hidroxiapatita e β-fosfato tricálcio como ingredientes ativos de filtros solares, neste capítulo, são debatidas algumas questões relacionadas a esses materiais: biocompatibilidade, características, fórmulas químicas e arranjo dos átomos em suas estruturas. São esclarecidas algumas características dos diferentes métodos de produção e fatores que interferem na produção por precipitação química desses materiais. Além disso, são discutidos os efeitos dos íons Zn 2+, Mn 2+ e Fe 3+ sobre a matriz dos materiais.

14 CAPÍTULO III CALCITA, HIDROXIAPATITA E β-fosfato TRICÁLCIO 3.1 Introdução As propriedades finais esperadas para um material são dependentes de várias características químicas e físicas dos compostos que o constituem. O controle do método usado na produção permite obter diferentes estruturas cristalinas, e o controle dos parâmetros envolvidos na formação destes compostos permite obter partículas com formas e tamanhos dos mais variados, influenciando diretamente nas propriedades físico-químicas dos materiais obtidos. As aplicações de materiais com controle de tamanho de partículas e absorção óptica na região UV-Vis são extensas. Na indústria de cosméticos, por exemplo, materiais inorgânicos com controle de tamanho de partículas e com espectro de absorção na faixa do ultravioleta podem ser utilizados em uma variedade de produtos, sendo um destes os filtros solares. 3.2 Biocompatibilidade A biocompatibilidade é a capacidade de um material exercer funções especificas quando aplicado em contato com tecidos vivos de determinado hospedeiro, sem contudo causar danos ou prejuizo ao mesmo. Para avaliar a biocompatibilidade dos biomateriais utilizados nos seres humanos, os mesmos devem ser testados utilizando diferentes procedimentos. Diversas organizações vêm propondo uma série de testes a serem realizados. Esses testes, que consistem em uma variedade de protocolos de pesquisa, descritos e regulamentados em diversos países, têm como objetivo a correta utilização dos materiais experimentais, avaliando assim a sua segurança para aplicação em seres humanos. Faz parte dessa avaliação testes de irritação da membrana, toxicidade dérmica por exposição repetida e sensibilização (ESTRELA, 2001). Há decadas, instituições como a ISO/FDI, a ANVISA e o INMETRO, além de outras organizações governamentais ou não, têm procurado regularizar e padronizar as diversas metodologias de pesquisa recomendadas para se avaliar a biocompatibilidade dos biomateriais (ESTRELA, 2001). Diversos testes já foram relizados com calcita, hidroxiapatita e fosfato tricálcio provando a biocompatibilidade e ausência de toxicidade desses materiais

15 (GUILLEMIN et al., 1987; LIMA, 2006), tornando-os interessante para o uso em filtros solares. 3.3 Carbonatos de cálcio 3.3.1 Estrutura e aplicação da calcita O carbonato de cálcio (CaCO 3 ) é um sólido que apresenta duas fases distintas: calcita (MENADAKIS et al., 2007), que é romboédrica, e a aragonita (NEGRO & UNGARRETI, 1971), que é tetragonal e instável acima de 400 o C. Esse material é encontrado na natureza sob ambas as formas em cristais bem formados e com grandes dimensões. Particularmente, na fase calcita, o CaCO 3 é um mineral de grande importância geoquímica e geofísica (TEMMAM et al., 2000). A calcita é um material birrefrigente, o que permite a sua utilização em dispositivos ópticos, e apresenta bandas de absorção óptica na região do infravermelho, o que tem chamado a atenção dos pesquisadores para a possibilidade de se produzir lasers. Por ser biocompatível, também é usada como biomaterial na substituição de ossos (GUILLEMIN et al., 1987; HENISCH et al., 1973; HENISCH et al., 1988). A calcita tem grupo espacial R3 c, sendo a rede cristalina romboédrica muito mais alongada em uma das direções de que nas demais, conferindo grande assimetria à rede. Isso resulta em forte anisotropia do índice de refração e do coeficiente de expansão térmica, por exemplo. A calcita compartilha ligações químicas tanto iônicas quanto covalentes. A natureza covalente advém das fortes interações C-O internas ao grupo CO 3, formando o íon molecular CO 3 2-. A natureza iônica é devido às interações desse íon molecular com os íons Ca 2+. Em sua forma geral, o grupo CO 3 2- forma um arranjo trigonal plano, com oxigênio nos vértices e o carbono no centro (PALIK & GHOSH, 1998). A estrutura da calcita é apresentada na figura 3.1.

16 Ca O C Figura 3.1 Ilustração esquemática da estrutura da calcita (romboédrica) (PALIK & GHOSH, 1998). 3.3.2 Produção da calcita A calcita é usualmente produzida pelo método de crescimento por gel e através de reações de precipitação, incluindo sistemas puros e dopados. O método de crescimento por gel apresenta-se como um bom candidato para obtenção de cristais de dimensões micrométricas. O processo ocorre através da reação de grupos carbonatos com diferentes sais de cálcio que se difundem através de um gel de polímero de carboidrato ou silica. Dois processos normalmente são utilizados. No primeiro deles a solução de sal de cálcio, normalmente CaCl 2, é colocada em contato com o gel. No segundo método, o gel serve de barreira de separação entre as soluções de CaCl 2 e (NH 4 ) 2 CO 3 e através da difusão do Ca e do CO 3 os cristais de calcita são formados. Este método geralmente utiliza tubos em formato de U ou tubos com discos porosos (HENISCH et al., 1973; HENISCH et al., 1988). Os cristais de calcita podem ser produzidos por precipitação, não somente usando o CaCl 2 e (NH 4 ) 2 CO 3, mas também se pode usar outro sal, tal como acetato de cálcio (CaAc 2 ) e

17 outro carbonato, tal como Na 2 CO 3. No entanto, a combinação de (NH 4 ) 2 CO 3 e CaCl 2 é utilizada para dar os melhores resultados, visto que o Na 2 CO 3 é menos satisfatório devido ao seu alto ph que, em neutralização, conduz a concentrações altas de acetato afetando a qualidade dos cristais resultantes. Já o NH 4 não apresenta tal efeito (HENISCH et al., 1973; HENISCH et al., 1988). Na produção de calcita por precipitação, a formação de um precipitado se dá a partir de sua solução supersaturada. Quando se trata de precipitados formados por íons, estes se combinam na solução supersaturada para formar associações de íons ou núcleos. Já quando estes núcleos alcançam certo tamanho, formam a fase sólida da solução e crescem até se converter em partículas maiores por deposição de íons da solução supersaturada. Para o crescimento dos cristais faz-se necessário deixar o material obtido em repouso durante certo tempo. Um maior tempo de reação entre os reagentes envolvidos favorece o crescimento das partículas (HENISCH et al., 1988). Quando a supersaturação é muito elevada, a precipitação conduz à formação de material composto por um grande número de partículas pequenas; caso contrário, o precipitado será composto relativamente por poucas partículas de cristais bem definidos e de maior tamanho. A presença de impurezas afeta enormemente a velocidade de cristalização (HENISCH et al., 1988). 3.3.3 Efeitos do Zn 2+, Mn 2+ e Fe 3+ na calcita Os íons de Ca 2+ da calcita podem ser substítuidos por uma variedade de metais que irão alterar sua estrutura e propriedades. Os cátions divalentes Mg 2+, Mn 2+, Fe 2+, Cd 2+, Zn 2+, Co 2+ e Ni 2+ formam carbonatos estáveis dentro da estrutura da calcita, e são conhecidos como magnesita, rhodocosita, siderita, octavita, smithsonita, carbonato de cobalto e de níquel. Eles apresentam estruturas cristalinas semelhante à calcita. Já com os cátions divalentes Sr 2+, Ba 2+ e Pb 2+, a altas pressões, as estruturas cristalinas são semelhantes à aragonita. A substituição de Ca 2+ por íons divalentes ocorre mais facilmente do que por íons trivalentes, pois não há necessidade de compensação de carga. A substituição de Ca 2+ por Zn 2+ e Mn 2+ é favorecida energeticamente. Os sinais negativos da energia de formação de defeitos para estes cátions indicam que eles podem entrar sem dificuldade na estrutura da calcita (MENADAKIS et al., 2007). KRONENBERG e colaboradores (1984) mostraram experimentalmente que a substituição do Ca 2+ por íons de Mn 2+ é bem provável na calcita e que, realmente, todos os cátions divalentes são solúveis na calcita até certo percentual.