TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 21.366/05 ACÓRDÃO



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IV - APELACAO CIVEL

Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 21.366/05 ACÓRDÃO R/E ASSO VENTI. Ferimento em tripulante durante faina de reinstalação de rede de resfriamento do diesel-gerador, provocando-lhe a amputação traumática parcial da falangeta do dedo anelar da mão esquerda. Não retirada de cabo guia durante a passagem da rede por cima de gerador em pleno funcionamento, tendo o referido cabo guia se enroscado no eixo do gerador puxando bruscamente a rede, vindo a prensar o dedo do chefe de máquinas vitimado que estava segurando a rede. Imprudência. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Trata-se de analisar o fato da navegação envolvendo o R/E ASSO VENTI, de bandeira italiana, de propriedade de Augusta Offshore Brasileira Ltda., quando, cerca de 16h30min., do dia 25/01/2004, encontrava-se fundeado próximo ao terminal da Petrobras em Paracuru, CE, provocando ferimento no dedo anelar esquerdo de Rinaldo Antônio de Medeiros Filho, chefe de máquinas do referido rebocador. Dos depoimentos colhidos e documentos acostados extrai-se que o chefe de máquinas vitimado teve a falangeta do dedo anelar esquerdo parcialmente decepada, durante faina de reparo de equipamento a bordo; que, tendo sido constatado vazamento na rede de resfriamento do diesel-gerador, foi solicitado pelo chefe de máquinas, ao comandante do navio e ao inspetor da empresa proprietária, que os aludidos reparos fossem efetuados por equipe terceirizada e especializada em caldeiraria, tendo havido recusa dos mesmos ao pleito apresentado, com a determinação de que o serviço fosse executado pelo pessoal de bordo; que a equipe de bordo que faria o reparo era composta por quatro pessoas e comandada pelo chefe de máquinas vitimado; que a seção danificada encontrava-se no porão da Praça de Máquinas, sob um estrado de alumínio,

próximo ao gerador nº 3, sendo que a faina programada pelo referido chefe de máquinas consistiria na retirada da seção danificada, transporte, reparo e reinstalação da mesma; que a seção foi retirada da Praça de Máquinas pela equipe e conduzida até a oficina de máquinas, localizada no piso acima e concluído o reparo, a equipe providenciou o transporte da rede até a Praça de Máquinas para a sua reinstalação; que foi amarrado um cabo guia na rede, com o propósito de facilitar o seu transporte através da escada, sendo que após terem descido a rede recém reparada pela escada, não retiraram o cabo guia; que, quando já estavam na Praça de Máquina, ao tentarem posicionar a seção de rede, o cabo guia veio a enroscar-se no eixo do gerador diesel nº 3, puxando a extremidade da rede bruscamente em direção ao diesel-gerador, sendo que esta extremidade era segurada pelo chefe de máquinas e pelo marinheiro de máquinas Carlos, prensando o dedo anelar esquerdo do chefe de máquinas, decepando parcialmente a sua falangeta; e que, após o acidente, a vítima foi conduzida ao hospital, onde recebeu os cuidados médicos necessários. Em seu depoimento, Rinaldo Antonio de Medeiros Filho, chefe de máquinas vitimado, declarou que o acidente ocorreu quando a seção de rede de água de resfriamento do diesel-gerador estava sendo transportada da oficina de máquinas para o piso inferior, onde se encontram os geradores, sendo que na descida da escada, a tubulação repentinamente resvalou sobre a superfície metálica do gerador de bombordo a ré, atingindo a falangeta do dedo anelar da mão esquerda do depoente; que o tipo de faina na qual foi acidentado é arriscada executar-se com a embarcação fundeada em mar aberto, e que participou dela em função da necessidade e urgência, sendo que avisou por escrito ao comandante, ao inspetor, bem como à direção da empresa da necessidade do reparo ser realizado por oficina terceirizada e especializada em caldeiraria; e que na sua opinião o responsável indireto pelo acidente foi o inspetor da empresa por ter autorizado a realização da faina mesmo após ter sido alertado do desgaste que 2

ocasionaria ao pessoal de máquinas, pois os componentes além de exercerem serviços de quarto, com seis horas de duração e seis de descanso, também fazem manutenção. Laudo de exame pericial, ilustrado com fotos, descreve a seqüência dos acontecimentos e conclui que a causa determinante do acidente foi a imprudência da própria vítima que, como coordenador da faina não deveria participar diretamente da execução da faina, somente da sua coordenação, possibilitando antever e evitar a ocorrência de acidentes durante o percurso, deveria ter determinado a retirada do cabo guia, após a descida da escada, uma vez que não mais teria utilidade, deveria ter analisado com detalhes a alteração do trajeto de retorno sugerida por um dos integrantes, que incluía a passagem da rede por cima do gerador nº 3, estando este em funcionamento e deveria ter determinado a parada do gerador nº 3, até a colocação da rede. Documentação de praxe anexada. No relatório, o encarregado do inquérito concluiu, em conformidade com o Laudo de Exame Pericial, que o fator operacional contribuiu para o acidente, tendo em vista que o acidente, por sua natureza e local, demonstrou imprudência do Sr. Rinaldo Antônio de Medeiros Filho, chefe de máquinas, apontando as mesmas razões dos peritos por ser o coordenador da faina. Apontou como possível responsável indireto pelo acidente a própria vítima. Notificação formalizada. Defesa prévia juntada. A D. Procuradoria requereu diligências, quando foi ouvido o depoimento de Sergio Domingo Boggio Savani, superintendente técnico da empresa proprietária do rebocador, que declarou que este tipo de reparo é prática normal a bordo de todas as embarcações da sua empresa e de outras muitas empresas offshore; que, considerando que o rebocador tinha embarcados, no momento do acidente, três oficiais de máquinas, 3

mais dois marinheiros de máquinas, e a embarcação encontrava-se fora de operação desde o dia 16/01/2004, fundeada próximo ao terminal da Petrobras em Paracuru, com boas condições de mar e vento inexistente, seria plenamente viável a realização do serviço pelo pessoal de bordo, seguindo as normas básicas de segurança para este tipo de faina, além do pessoal já estar acostumado a realizar este tipo de tarefa, de prática normal em qualquer embarcação; que não foi ponderado em nenhum momento se a referida equipe chegaria a exaustão com a realização de tais reparos; que, por experiência própria do depoente, com mais de 24 anos de navegação como oficial e chefe de máquinas, o tempo utilizado para este tipo de reparo não geraria, em hipótese alguma, exaustão física da equipe de bordo, sendo o período máximo, para este reparo, de nove horas; que o principal fator que gerou o acidente foi a falta de prevenção e a não utilização de normas básicas de segurança, sendo que deveria haver sido desligado o gerador nº 3, sendo colocado de serviço o gerador de emergência, ou ainda, pelo tempo necessário, o gerador nº 2, já que resulta impensável, para qualquer norma de segurança, passar materiais sobre um equipamento em funcionamento, ainda mais um cabo guia solto; e que as boas práticas de segurança exigem e obrigam que o encarregado ou responsável pela faina fique supervisionando a segurança própria e de toda a equipe, assim como todos os elementos e máquinas sob sua custódia. Deixou de ser tomado o depoimento do comandante do navio, conforme requerido em diligências pela PEM, tendo em vista que o mesmo encontrava-se na Itália, onde reside, sem nenhuma previsão de retorno ao Brasil. A PEM, então, após as diligências, ofereceu representação contra Rinaldo Antonio de Medeiros Filho, com fulcro no art. 15, letra e da Lei 2.180/54, sustentando, em resumo, que ouvido o inspetor da empresa proprietária ficou plenamente esclarecido que foram conferidas condições adequadas para a realização do serviço efetuado sob a coordenação de Rinaldo Antonio de Medeiros Filho, chefe de 4

máquinas da embarcação ASSO VENTI ; e que, assim, restou comprovado que o chefe de máquinas foi imprudente na condução do serviço sob sua coordenação, pelos motivos externados pelos peritos no Laudo de Exame Pericial. Recebida a representação e citado, o representado foi regularmente defendido. A defesa de Rinaldo Antonio de Medeiros Filho, por I. advogado constituído, alega, em resumo, que a embarcação dias antes do fato apresentou um pequeno vazamento na rede de resfriamento do diesel-gerador, tendo o ora representado comunicado o ocorrido por escrito ao comandante do rebocador, ao inspetor Sergio Boggio e a própria empresa armadora, relatando a necessidade do reparo ser realizado por oficial terceirizado em caldeiraria; que o inspetor, pessoa com influencia a bordo, a ponto de determinar ao comandante do navio que o reparo fosse realizado pelo pessoal de bordo e com um agravante de estar a embarcação fundeada; que os depoimentos dos quatro tripulantes que participaram do reparo foram unânimes em afirmar que havia risco sim da realização da faina com o navio fundeado; que o marítimo, homem que desenvolve suas atividades a bordo, fica por vezes dias embarcado, sendo que o representado encontrava-se 25 dias embarcado, suas condições de cansaço já era evidente, especialmente no horário em que ocorreu o acidente, ou seja, às 16h30min, após exaustivas horas de serviço, assim como, os demais tripulantes, haja vista que iniciaram o trabalho com cinco tripulantes, posteriormente somente quatro finalizaram o serviço, isso demonstra o quanto estavam cansados do exaustivo trabalho a bordo; que o referido conserto foi realizado com a determinação do inspetor e com a aquiescência do comandante, sendo este ultimo o representante da empresa a bordo, e o representado como empregado da empresa não poderia recusar uma ordem emanada de seu superior, se tal ocorresse estaria assim enquadrado no art. 482 alínea h da CLT e provavelmente seria demitido por justa causa, por indisciplina e insubordinação; que o rebocador encontrava-se com um motor principal inoperante, com dois geradores sem 5

condições de funcionar, devido ao vazamento na rede de água salgada e com o stern thruster avariado, sem a menor condição de atracar; que a autorização para que o serviço fosse realizado pelo pessoal de bordo foi emanada pelo inspetor da empresa e com o aval do comandante do rebocador, mesmo conhecendo a situação precária da embarcação e com o navio fundeado; que é fácil atribuir responsabilidades a quem hierarquicamente é inferior, até porque é mais fácil culpar outrem, por uma infeliz decisão que decorreu em acidente com o ora representado que foi vítima, tendo a falangeta do dedo anelar esquerdo decepada; e requer a improcedência da representação oferecida até porque o único que sofreu as conseqüências do acidente foi o representado, eis que os responsáveis pelo acidente foram os que autorizaram o serviço. Na instrução, nenhuma prova foi produzida. Em alegações finais, falaram as partes. Decide-se. De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e extensão do fato da navegação sob análise, tipificado no artigo 15, letra e, da Lei nº 2.180/54, ficaram caracterizadas como ferimento em tripulante durante faina de reinstalação de rede de resfriamento do diesel-gerador, provocando-lhe a amputação traumática parcial da falangeta do dedo anelar da mão esquerda. A causa determinante foi a não retirada de cabo guia durante a passagem da rede por cima de gerador em pleno funcionamento, tendo o referido cabo guia se enroscado no eixo do gerador puxando bruscamente a rede, vindo a prensar o dedo do chefe de máquinas vitimado que estava segurando a rede. Analisando-se os autos, verifica-se que o tipo de reparo era perfeitamente possível de ser realizado a bordo e a faina foi planejada pelo chefe de máquinas e consistia na retirada da seção danificada, transporte, reparo e reinstalação, sendo que 6

após o reparo, quando a rede era transportada ao local de origem, foi amarrado na mesma um cabo guia, para facilitar a descida na escada. Após a descida o cabo guia não foi retirado e já na Praça de Máquinas o trajeto foi alterado por acordo entre todos que trabalhavam na faina, sendo que a rede passou por cima do gerador nº 03 que estava em funcionamento, vindo tal cabo guia a se enroscar no eixo do gerador, puxando bruscamente a extremidade da seção da rede, que estava sendo segurada pelo chefe de máquinas e por um marinheiro de máquinas, de encontro ao gerador, prensando o dedo anelar esquerdo do chefe de máquinas, decepando parcialmente a falangeta, ficando claro que o acidente ocorreu por não ter sido retirado o cabo guia da rede, uma vez que, após a descida da escada, não teria mais utilidade. Por outro lado, a faina, planejada anteriormente, foi modificada sem que fossem analisadas as conseqüências, o que fez a rede passar por cima de um gerador em funcionamento, e mais, com um cabo guia pendurado, o que deu azo ao fato em análise, ficando caracterizada a imprudência do chefe de máquinas na coordenação da faina que teve um infeliz desfecho que acabou por atingí-lo. Pelo exposto, deve-se considerar procedente a fundamentação da PEM, julgando o fato como decorrente de imprudência, condenando Rinaldo Antonio de Medeiros Filho. Levando-se em consideração que as conseqüências do acidente atingiram, e de maneira grave, o chefe de máquinas representado, Sr. Rinaldo Antonio de Medeiros Filho, deixa-se de aplicar pena disciplinar, como previsto no art. 143 da Lei 2.180/54. Assim, ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do fato: ferimento em tripulante durante faina de reinstalação de rede de resfriamento do diesel-gerador, provocando-lhe a amputação traumática parcial da falangeta do dedo anelar da mão esquerda; b) quanto à causa determinante: não 7

retirada de cabo guia durante a passagem da rede por cima de gerador em pleno funcionamento, tendo o referido cabo guia se enroscado no eixo do gerador puxando bruscamente a rede, vindo a prensar o dedo do chefe de máquinas vitimado que estava segurando a rede; c) decisão: julgar o fato da navegação previsto no art.15, letra e, da lei 2.180/54, como decorrente de imprudência, condenando Rinaldo Antônio de Medeiros Filho, deixando-se de aplicar pena, levando em conta o previsto no art.143 da citada lei, isentando-o das custas. P.C.R. Rio de Janeiro, em 29 de junho de 2006. SERGIO CEZAR BOKEL Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 8