A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS ALTERNATIVOS PARA A ABORDAGEM DOS CONTEÚDOS DE QUÍMICA NO PROEJA. Laís Conceição TAVARES (**) Ivoneide Maria Menezes BARRA (*) Karen Albuquerque Dias da COSTA (**) Guilherme Marques BASTOS (*) (*) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. (**) Universidade Federal do Pará. RESUMO: É apresentada uma estratégia de ensino que utiliza materiais alternativos para a realização de aulas práticas sobre misturas homogêneas e heterogêneas, como motivador para atrair a atenção e o interesse dos estudantes em relação aos conteúdos de Química. O professor de Química do PROEJA, utilizando recursos de fácil aquisição, poderá mostrar a aplicabilidade do conteúdo no cotidiano dos alunos e discutir a relação existente entre a Química e a vivência desses estudantes. Com essa prática, busca-se contribuir para uma formação mais sólida na referida disciplina, bem como auxiliar aos alunos na construção de seu conhecimento. PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Materiais Alternativos; Misturas. 1. APRESENTAÇÃO A necessidade de tornar mais dinâmica e atraente as aulas de Química para alunos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) é uma preocupação constante dos profissionais da educação. Diferentemente dos alunos do Ensino Médio regular, que normalmente apresentam uma faixa etária cada
vez menor, os alunos do PROEJA, em sua maioria, são jovens e adultos que não conseguiram concluir o ensino médio regular em tempo hábil. No entanto, um fator em comum é que ambos os tipos de alunos, seja do Ensino Médio Regular ou do PROEJA, reside na grande facilidade de dispersão que estes apresentam, distraindo-se muito facilmente em razão de eventos externos ao ambiente escolar (possivelmente atraídos pela grande diversidade entretenimentos e recursos eletrônicos atualmente disponíveis). Embora estejam presentes em sala de aula, é comum que muitos desses estudantes fiquem todo o período das aulas apenas aguardando ansiosamente pelo término das mesmas. Nesse contexto, o presente trabalho como objetivo desenvolver e testar estratégias de ensino baseadas na utilização de materiais alternativos para a realização de aulas práticas sobre misturas homogêneas e heterogêneas, como motivador para atrair a atenção e o interesse dos estudantes em relação aos conteúdos de Química, buscando contribuir para uma formação mais sólida na referida disciplina. 2. A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR E DE METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM É interessante ressaltar que estas ações, de tornar as aulas mais atrativas, com o emprego de técnicas alternativas, devem estar sempre integradas à argumentação e ao discurso do professor. A supervisão do educador nessas atividades é fundamental para coordenar o processo, já que os alunos necessitam desse apoio para realizar o trabalho e ter um aprendizado mais eficiente. De acordo com Paulo Freire (2007): [...] Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho_ a de ensinar e não a de transferir conhecimento. Segundo proposição do Ministério de Educação e Cultura (1998), através dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os professores precisam avaliar suas
metodologias de ensino, modernizando suas técnicas. Dessa forma, o recurso de realizar aulas práticas com materiais alternativos constitui-se em um valioso instrumento para a proposição de problemas e desafios aos estudantes, pois torna o conteúdo mais atrativo e favorece ao desenvolvimento da criatividade dos mesmos na elaboração de estratégias e busca de soluções. Além disso, o uso de materiais alternativos possibilita a realização de aulas práticas mesmo em locais onde a falta de recursos é uma realidade. 3. PROPOSTA DO PROEJA PARA O ENSINO DE QUÍMICA O Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) instituído pelo decreto Nº 5.478/2005, é específico para a rede federal. Conforme expresso no próprio nome, o PROEJA visa oferecer oportunidades educacionais que integrem a última etapa da educação básica a uma formação profissional. Esses cursos têm como clientes os jovens e adultos que já concluíram o ensino fundamental, mas que ainda não têm nem o ensino médio e nem uma profissão técnica de nível médio (profissionalização a partir do PROEJA). A proposta contida nos princípios do PROEJA, de uma formação integral e de inclusão do cidadão, lançou desafios pedagógicos, gerenciais e políticos. Nesse aspecto, é fundamental que haja uma preocupação especial por parte dos professores ao selecionar suas metodologias de ensino voltadas para o público docente ao qual eles irão atender. Portanto, para cumprir com suas funções o PROEJA precisa contemplar em seu projeto pedagógico um modelo pedagógico próprio, que assegure na prática pedagógica, na relação docente e discente e no processo de ensino-aprendizagem a inclusão de estratégias de valorização da experiência de vida, para criar situações pedagógicas e satisfazer as necessidades de aprendizagem de jovens e adultos. (...) Os professores contribuem com seus saberes, seus valores, suas experiências nessa complexa tarefa de melhorar a qualidade social da escolarização (DELIZOICOV, Demétrio:2003). Consciente da realidade dos estudantes inseridos na modalidade de ensino PROEJA, pode-se constatar que, muitas vezes, em vista das atividades realizadas paralelamente ao estudo e pela falta de atrativos durante as aulas de Química,
esses estudantes se dispersam e seus interesses se voltam para a o término de seus compromissos escolares e para as atividades externas a sala de aula. 4. A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS ALTERNATIVOS EM UMA AULA SOBRE MISTURAS Para ministrar uma aula sobre misturas homogêneas e misturas heterogêneas é necessário que o professor faça uma explanação do conteúdo, explique conceitos e inicie um processo de discussão e de retirada de dúvidas de seus alunos. Ele pode também utilizar o livro didático como recurso pedagógico e aproveitar suas ilustrações para a melhor visualização dos fenômenos em estudo. No entanto, essa mesma aula poderia ser ministrada de maneira bastante diferenciada de modo que o professor utilize recursos de fácil aquisição e que os alunos interajam muito mais no processo de ensino-aprendizagem. Levando-se em consideração as especificidades do público em estudo, que neste caso são os alunos do PROEJA. O professor pode solicitar aos seus alunos que levem para a escola alguns recursos de suas casas que não fariam muita falta, com copos de ervilha ou azeitona, grãos de feijão e de arroz, um pouco de sal, um pouco de açúcar, areia, água e vários outros. Dessa forma, o docente ao conceder uma tarefa aos alunos desperta neles o interesse em saber qual a utilidade desses materiais na sala de aula e faz com que eles se sintam importantes para a realização da aula. De posse de todos os materiais necessários e após o embasamento teórico sobre o conteúdo da aula, a prática pode ser realizada em sala de aula (não é necessário laboratório de Química) e os próprios estudantes podem misturar os diversos materiais e verificar os resultados dessas misturas, avaliando se há fases diferentes, se o estado físico das substâncias interfere na mistura, se em uma visão microscópica a visualização seria diferente. Essa estratégia de ensino proposta por este trabalho permite que o aluno interaja melhor durante a aula, despertando seus interesses, questionamentos, associações em com o cotidiano o que resulta comprovadamente em um processo de ensino-aprendizagem satisfatório na medida em que se constitui em uma ação que desenvolve nos educandos sua capacidade de crítica, sua curiosidade e insubmissão (FREIRE, 2007).
O uso de metodologias que incluem a utilização de recursos alternativos propõe uma mudança significativa na prática de educadores que pretendem, de fato, ensinar; não é por acaso que o uso sistemático de métodos tradicionais é considerado por muitos estudantes como entediante, maçante e pouco proveitoso. O ensino através de experiências práticas com recursos simples que os próprios estudantes podem levar para a instituição contribuem para com o processo de aprendizagem de forma mais eficiente, no sentido de que os estudantes, além de mostrarem-se dinâmicos quando em meio ao processo, mostram-se também dispostos a continuar a aprendizagem mesmo que em outros contextos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso de recursos alternativos para a abordagem de conteúdos de Química, mais especificamente em aulas sobre mistura homogêneas e heterogêneas, tem a grande vantagem de despertar a atenção e o interesse dos alunos, pois se trata de materiais visuais, manipuláveis e que são comuns a todo o publico discente do PROEJA. O professor não pode simplesmente ignorar o conhecimento empírico que o aluno tem sobre os fenômenos naturais. Pelo contrário, o educador deverá usar este conhecimento inicial como ponto de partida que facilite o aprendizado dos alunos e melhor assimilação dos conceitos da disciplina e de sua interação com outras ciências. Se um determinado tópico apresentar grande complexidade, será necessário primeiramente decompor o problema em passos intermediários de menor complexidade. Segundo Piaget (1977), ensino reversível não significa eliminar o desequilíbrio, e sim, passar de um estado de equilíbrio para outro por meio de uma sucessão de estados de equilíbrio muito próximos (...). Esta proposta pedagógica teórico-prática permite a internalização (reconstrução interna de uma operação externa) na medida em que os alunos passam a contribuir com informações sócio-históricas e culturais na construção da solução do problema. Na utilização desta proposta, do uso recursos alternativos na sala de aula, o professor, ao solicitar que os alunos levem materiais alternativos para a escola estará contribuindo com a interação entre a escola e a família dos estudantes, além da externalização dos conhecimentos adquiridos em sala de aula.
O ensino através de recursos alternativo em aulas práticas sobre os conteúdos de Química se constitui em uma ação que complementa a prática cotidiana de professores melhorando as práticas anteriores. Além de contribuir com a sensibilidade necessária que caracteriza uma mudança significativa na prática de professores. REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais: Educação Básica/Brasil. Conselho Nacional de Educação. Brasília DF, 2004. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo SP: Editora Paz e Terra, 2007. Ed. 35ª DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. (Docência em Formação). 366 p. PIAGET, J. P. Psicologia da inteligência. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 178p. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - Decreto 5.840, de 13 de julho de 2006. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO(b). Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA). 2006. Disponível em: <http://www.portalmec.gov.br>. Acesso em: 16 dez. 2008. MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA-MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1998. REVISTA DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS: ULBRA,vol.7- n 2. jul/dez 2005. Autores: Luiz Silvio Scartazzini ; Jorge Tadeu Vargas da Silva; Renato de Ávila Cônsul. BARRA, Ivoneide M. M.; COSTA, Karen A. Dias da; TAVARES, Laís Conceição - Artigo Profissionalização a partir do PROEJA- 2007.