O Ensino da Música no Contexto Escolar: Uma Pesquisa nas Escolas Regulares da Rede de Ensino fundamental particular de Salvador 1 Marila Cristine Sales Marques 2 Universidade Federal da Bahia (UFBA) Resumo: Esta presente pesquisa, em fase de execução, tem como objetivo estudar a situação da educação musical nas escolas regulares da rede particular de Salvador (ensino fundamental). Pretende-se investigar quantas destas escolas tem aulas de música, o perfil dos professores de música e, nesse universo, abordar questões importantes sobre usos e funções atribuídas à música. Pretende-se também fazer um estudo sobre as dificuldades enfrentadas por professores e alunos de música destas escolas. Portanto, a questão norteadora desta pesquisa é: Qual a situação do ensino da música nas escolas particulares do ensino fundamental de Salvador? Palavras chaves: Educação musical; Escolas particulares; Ensino fundamental; Salvador. Introdução Sabe-se que mesmo com a atual lei de 20 de dezembro de 1996, que trouxe nova diretriz ao ensino das artes do Brasil, nem todas as escolas possuem aulas de música. Em Salvador, pode-se perceber que a maioria das escolas particulares de ensino fundamental não possui aulas de música. No entanto, ainda não existem dados que comprovem e demonstrem isso quantitativamente, tampouco como este ensino está sendo abordado. Ao perceber a escassez de dados sobre a situação do ensino musical nestas escolas, surgem questões importantes: Quantas destas escolas têm aulas de música? Qual o 1 Trabalho apresentado no XVI encontro anual da ABEM e congresso regional da ISME na América Latina 2007. 2 Graduada em Licenciatura em Música pela Universidade Federal da Bahia. Mestranda em Música- Educação Musical pelo programa de pós-graduação em Música da Universidade Federal da Bahia. Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB. marila.marques@gmail.com
perfil dos professores que lecionam nestas escolas? Quais são os principais problemas e dificuldades enfrentadas por estes profissionais e seus alunos? As dificuldades variam de uma escola para outra? Quais os materiais disponíveis às aulas de música? Como são feitos os projetos musicais? E como o ensino musical é realizado nestas escolas? Justificativa Pode-se observar mediante pesquisa bibliográfica que existem muitos trabalhos sobre educação musical na educação básica no Brasil, mas, a maioria, está direcionada às escolas públicas e municipais. Ainda não existem pesquisas concluídas com o tema proposto, que tenham sido feitas em escolas particulares na cidade de Salvador. Também existe escassez de dados sistematizados sobre as práticas de educação musical realizadas por professores de música atuantes em escolas particulares. Outros pesquisadores também já apontaram esta dificuldade em pesquisas realizadas noutras cidades: Pouco se sabe sobre o que pensam esses professores acerca da educação musical, sobre suas práticas em sala de aula ou sobre suas dificuldades e seus desafios no cotidiano do contexto escolar.(hentschke; DEL BEN, 2002, p. 49-50). Salvador possui cerca de 431 escolas particulares de ensino fundamental cadastradas na Direc 1A da Secretaria de Educação do Estado da Bahia. 3 Algumas destas escolas oferecem ensino de 1ª a 8ª série, outras de 1ª a 4ª séries ou do ensino infantil à 4ª série, e outras comportam desde a 1ª à 8ª série do fundamental até o ensino médio. No entanto, estes dados não são absolutos. Em minhas pesquisas encontrei dados conflitantes em órgãos como SINEPE -Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (2007) e a lista online (2007). Embora não possa afirmar, uma vez que a pesquisa está em andamento, os dados pesquisados até o momento demonstram que a maioria destas escolas não possui ensino musical. 3 Dados fornecidos pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia (Abril a agosto de 2007). Estas escolas cadastradas na Direc 1 A são localizadas na chamada cidade alta de Salvador. Os dados fornecidos coincidem com os dados apresentados pelo MEC (Site).
Acredito que de posse destes dados, será possível avaliar a situação do ensino da música nestas escolas, saindo do senso comum, possibilitando a viabilização de projetos que possam se adequar a este contexto e buscar propostas que visem uma educação musical de qualidade. Objetivo Geral Investigar a situação do ensino musical nas escolas particulares de Salvador em nível de ensino fundamental. Objetivos Específicos Saber quantas escolas possuem aulas de música, o perfil dos professores de música, as práticas pedagógicas aplicadas, as competências e ênfases atribuídas a estas aulas, os principais problemas levantados por professores de música e por seus alunos com relação às aulas de música, como são feitos os projetos musicais, e fazer uma reflexão sobre os usos e funções atribuídas à música e o papel do educador musical nestas escolas. Fundamentos Teóricos da Pesquisa Atualmente muitos pedagogos musicais estão interessados em saber o que é relevante e eficaz no ensino da música em escolas de educação básica no Brasil. Dentre eles, gostaria de destacar os trabalhos de Maura Penna, Rosa Fucks, Cláudia Bellochio, Liane Hesthsken, e Luciana Del Ben. Para Maura Penna, É preciso aprofundar cada vez mais o compromisso com a educação básica, pois só assim a educação musical pode de fato pretender o reconhecimento de seu valor e de sua necessidade na formação de todos os cidadãos. Este é, portanto, o grande desafio.(penna, 2002, p.18).
Esta citação, presente em um de seus trabalhos com professores de escolas regulares retrata como é necessário o ensino da música na educação básica e como esta é indispensável ao desenvolvimento humano. Deve-se, portanto, ter este compromisso para que a educação musical possa se firmar neste propósito. A legislação atual apresenta propostas mais democráticas para o ensino da arte, incorporando-a ao currículo educacional. Sabe-se das perspectivas que foram dadas à Educação Musical no Brasil pela nova L.D.B. (lei 9394/96) e pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). Estes documentos tiveram como objetivo dar um direcionamento para o ensino da Arte no país. Seguramente um dos principais benefícios desses documentos foi à democratização do ensino da Arte, tornando-o obrigatório nas instituições de ensino fundamental e médio. No entanto, o ensino da música não se tornou obrigatório, por exemplo, os PCN afirmam que no ensino fundamental o aluno deve ter oportunidade de experimentar e vivenciar os diferentes campos da arte. No transcorrer do ensino fundamental, o aluno poderá desenvolver sua competência estética e artística nas diversas modalidades da área de Arte (Artes visuais, dança, música, teatro) [...] (PCN-Arte, 1997, p. 53). O que, na prática, deixa para a escola o poder de escolher as disciplinas em que deseje trabalhar e, em alguns casos, o ensino da música poderá vir a ser excluído nas séries do ensino fundamental. Quando se tenta retratar ou fundamentar o porquê e a importância da música nas escolas surgem inúmeras dúvidas. Para Bellochio, é importante uma visão mais ampla: Identificando e compreendendo algumas das funções da Educação Musical na escola, podemos conhecer muitos outros processos, de ordem mais ampla, que identificam a história sócio-educacional de um período como um todo, pois é neste conjunto de processos de transformações sociais e educacionais que o ensino da música se estrutura, construindo processos de significação na escola. (BELLOCHIO, 2000, p.79). Rosa Fucks descreve em seu livro O Discurso do Silêncio (1991) o processo histórico que contribuiu para a ausência do ensino de música nas escolas brasileiras. Segundo Fucks, nas escolas existem duas diferentes concepções de ensino musical. A
primeira está relacionada com as práticas pedagógicas dos conservatórios. A segunda é a concepção de música construída pelos alunos fora do ambiente escolar, baseada em suas vivências. Daí resultam as dissociações práticas e teóricas do ensino musical no contexto escolar. O professor acaba levando para o aluno coisas que ele não acha interessante, fazendo com que os alunos percam o interesse pela disciplina. Alguns professores de outras disciplinas pensam o ensino musical de uma maneira superficial, diferente de um professor de música especializado. Quando se fala em música no contexto escolar dá a impressão de que esta está inserida apenas para divertir os alunos, como se seu papel fundamental fosse completar uma atividade ou como se fosse uma atividade extra. Bellochio (2003) descreve este problema de forma bastante clara: A música na sala de aula passa a ser vista como tempo para deleite, para combater a exaustão de outras atividades mais duras. (BELLOCHIO, 2003, p.32). E, enquanto isso, as outras áreas ganham maior atenção por parte da escola e dos alunos. Basta observarmos a carga horária de uma aula de música, de apenas (40 ou 50 min.) semanais e compararmos com as de outras disciplinas. Faz-se também necessário o comprometimento com a valorização da música como disciplina dos currículos escolares. É preciso conscientizar os outros membros da escola e demonstrar que a música também é uma forma de conhecimento. As aulas de música não têm como função somente preparar musiquinhas para as apresentações dos alunos, para as festividades e comemorações escolares. (HENTSCHKE; DEL BEN, 2002, p.52) Segundo uma pesquisa realizada por Hentschke e por Del Ben (2002), existem professoras preocupadas em conceber e concretizar práticas pedagógico-musicais que sejam significativas para seus alunos e para a escola. Ao mesmo tempo, buscam acrescentar algo a esse repertório de interesses, preferências, desejos e saberes.(hentschke; DEL BEN, 2002, p.51). Enfrenta-se também a ausência do apoio pedagógico. O que foi considerado por Hentschke e por Del Ben como solidão profissional (2002), pois muitas vezes o professor de música sente-se isolado em relação aos professores de outras áreas, dos coordenadores
pedagógicos, dos diretores. E encontram-se dificuldades quando se busca a valorização da área e do ensino musical nas escolas. É preciso refletir sobre estes aspectos, visando a consciência das nossas convicções e ações. Procurar caminhos mais apropriados ao ensino musical é contribuir para que este tenha uma maior significância nas escolas. Plano Metodológico O universo da pesquisa é as escolas regulares da rede de ensino particular de Salvador que tenham aulas de música no ensino fundamental. Inicialmente a metodologia escolhida terá características quantitativas. Pois se fará um panorama da situação atual do ensino de música nessas escolas (perfil dos professores, dificuldades encontradas pelos professores e por seus alunos, os materiais disponíveis as aulas de música, como são feitos os projetos musicais dessas escolas, a ênfase dada ao ensino da música nestas escolas). Num segundo momento pretende-se dar um tratamento qualitativo aos dados recolhidos. Alguns dados da pesquisa serão demonstrados mediante tabelas e gráficos, outros serão discutidos a partir de valores filosóficos, históricos, sociais e culturais. A coleta de dados será feita mediante questionários 4, entrevistas semi-estruturadas e observação de aulas. Estes instrumentos serão designados aos seguintes temas: tendências pedagógicas destas escolas, o perfil dos professores, os projetos musicais dessas escolas, os materiais disponíveis, competências privilegiadas e questões que contemplem aspectos pedagógico-musicais. 4 Serão utilizados 3 questionários diferentes. Cada qual abrangendo as questões específicas da modalidade de questionário. Um para os (as) professores (as), o segundo para os (as) alunos (as) e um terceiro para a coordenação ou direção da escola. Serão utilizadas questões de assinalar. Apenas o terceiro questionário (coordenação) terá uma questão aberta.
Até o presente momento foram realizadas (Pesquisa de campo) visitas à Secretaria de Educação do Estado da Bahia, ao Conselho Estadual de Educação, Contactou-se com o Sindicato das Escolas Particulares de Salvador e pesquisou-se em sites e listas on-line. A (Revisão bibliográfica) foi realizada buscando-se trabalhos na área de atuação da pesquisa, mas, continuará sendo feita até o trabalho final. Está se fazendo as análises estatísticas dos dados conseguidos na pesquisa de campo, para se determinar à amostra a partir da amostragem estratificada, segundo Hill (2005) e Pereira (1991). E os (Questionáriospilotos) foram construídos e estão sendo testados antes dos participantes da pesquisa respondê-los. Referências BASTIÂO, Zuraida Abud. Reações dos Alunos ao Ensino de Música: Análise em Vídeo Decorrentes da Aplicação de um Planejamento para 1ª Série do 1º Grau. Dissertação (Mestrado em Música) Escola de Música, UFBA, Salvador, 1995. BISPO, Antônio Alexandre. Problemas da História da Educação Musical dos séculos XIX e XX. Disponível em: www.akademie-brasil-europa.org/materiais-abe-59.htm - 14k. Acesso em 05/05/2006. BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. A Educação Musical nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental: Olhando e Construindo Junto às Práticas Cotidianas do Professor. Dissertação (Doutorado em Educação) Faculdade de Educação, UFRG, Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.. Formação de professores e educação musical: a construção de dois projetos colaborativos. Revista Educação, Santa Maria, UFSM, V. 28, nº 2, 2003. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Artes. Brasília, 1997. p. 66-75.
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