Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Revisão Criminal. Gustavo Badaró aula de

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Transcrição:

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Revisão Criminal Gustavo Badaró aula de 10.11.2015

PLANO DA AULA 1. Noções gerais 2. Condições da ação 3. Pressupostos processuais 4. Procedimento

1. NOÇÕES GERAIS Origem histórica: Decreto 848, de 11.10.1890. Prevista na Constituição na competência dos tribunais, a revisão criminal de seus julgados Natureza: ação autônoma de impugnação Revisão pro societate: não é prevista no CPP Vedação era prevista na Constituição de 1934: Compete a Corte suprema... 3) rever, em benefício dos condenados, nos casos e pela forma que a lei determinar, os processos findos em matéria criminal (art. 76, caput, 3) CR de 1988 prevê competência dos tribunais para revisão criminal de seus julgados (art. 102, I, j; 105, I, e; 108, I, b) Vedada pela CADH, no art. 8.4, que assegura que o acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.

2. CONDIÇÕES DA AÇÃO Possibilidade jurídica do pedido: Sentença penal condenatória: CPP, art. 621, caput, refere-se à processo findo CPP, art. 625, 1 º a certidão de haver passado em julgado a sentença condenatória. Sentença absolutória imprópria (CPP, art. 386, par. ún., III): possibilidade por ter conteúdo sancionatório Sentença de extinção da punibilidade: antes do trânsito em julgado (p. ex.: decadência ou renúncia) impossibilidade depois do trânsito em julgado (p. ex.: anistia): possibilidade Revisão das sentença do júri: possibilidade TJ pode absolver: a soberania dos veredictos é garantia da liberdade e a revisão criminal e garantia da liberdade: um não pode impedir a outra. TJ não pode absolver: soberania é garantia do Júri. Não se protege a soberania dos veredictos absolutórios, mas pro et contra manda a novo julgamento

Causa de pedir: 2. CONDIÇÕES DA AÇÃO hipóteses de cabimento (CPP, art. 621) são numeros clausus, não admitindo a analogia, mas é possível a interpretação analógica : Inciso I contrariar o texto expresso da lei penal qualquer tipo de ato normativo: CR, lei complementar, ordinária ou delegada, até mesmo a lei estrangeira que tenha sido aplicada no processo. Aplica-se também para lei processual. divergência de interpretação, não autoriza a revisão contrariedade deve ser frontal: não cabe revisão se foi dada interpretação razoável do dispositivo invocado Inciso I contrariar evidência dos autos contrariedade à evidência dos autos deve ser frontal se a análise global do conjunto probatório não sustentar a decisão condenatória (hipótese de dúvida), será cabível a revisão pelo inc. I: violação da CR, art. 5º, LVII e CPP, art. 386, VII.

Causa de pedir: 2. CONDIÇÕES DA AÇÃO Inciso II depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos Falsidade pode ser apurada previamente em processo penal ou na própria revisão criminal. Também em ação civil declaratória da falsidade do documento. Necessidade de nexo de causalidade entre a prova falsa e o resultado condenatório: o resultado seria diverso sem tal prova. Se na sentença houve valoração de prova ilícita, o fundamento da revisão será o inc. I, por contrariar a Constituição e o CPP. Inciso III após a sentença, se descobrirem novas provas da inocência do condenado Hipótese de sentença não defeituosa. Prova nova: não precisa ser posterior ao processo. Pode ser preexistente, desde que não tenha sido utilizado (não saiba ou não mais podia usar).

2. CONDIÇÕES DA AÇÃO Causa de pedir: Inciso III continuação Documento novo: prova que já estava nos autos, mas não foi valorada. Nova descoberta científica que retira a base para a condenação (p. ex.: descobre-se que uma substância considerada perigosa é inofensiva para a saúde). Prova nova de fato ainda não alegado: possibilidade (p. ex.: negou autoria e surge prova nova da legítima defesa) A prova decorrente de fonte oral deve ser produzida por meio de justificação (CPC, art. 861 e seg.), em contraditório, perante o primeiro grau. Para procedência a prova nova deve ser decisiva, não bastando geral dúvida. Crítica: qual a diferença entre a dúvida que absolve em apelação e a dúvida que não absolve em revisão?

2. CONDIÇÕES DA AÇÃO Interesse de agir: adequação e necessidade Necessidade: implícita, pois é a única forma de rescindir decisão transitada em julgado. Não é adequada antes do trânsito em julgado (CPP, art. 621 e 625, 1): cabe recurso Mudança do fundamento da absolvição: há interesse em tese, mas o pedido será juridicamente impossível.

2. CONDIÇÕES DA AÇÃO Legitimidade de partes: ativa e passiva Ativa: réu ou procurador sucessão por morte: cônjuge, ascendente, descende ou irmão legitimação do companheiro (CR, art. 226, 3) Ministério Público: divergência não cabimento: falta de previsão legal cabimento: legitimação geral dos recursos (art. 577, caput.) Passiva: Estado, representado pelo MP Substituto processual da Fazenda Pública, em caso de pedido de indenização Ofendido, mesmo que tenha interesse jurídico, pois poderá perder o título executivo, não tem legitimidade para ser parte ou intervir na revisão

3. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS Capacidade postulatória: Capacidade do próprio condenado, independente de advogado (CPP, art. 623) Confronto com art. 133 da CR e art. 1º, 1, EOAB Solução: admitir a revisão e nomear defensor para arrazoá-la Inexistência de prazo decadencial: Ação rescisória no proc. civil: prazo de 2 anos (CPC, art. 486) Revisão criminal: a qualquer tempo, mesmo após cumprir a pena ou morte do condenado (CPP, art. 622, caput) Competência (CPP, art. 624): STF, TFR e Tribunais de apelação STF: dos próprios julgados (CR, art. 102, inc. I, j) STJ: dos próprio julgados (CR, art. 105, inc. I, e) TRF: dos próprios julgados e sentença dos juízes federais (CR, art. 108, I, b) TJ: dos próprios julgados e sentenças dos juízes estaduais