Albumina na prática clínica



Documentos relacionados
A. Patologias vasculares B. Choque C. Hemostasia. 2 Letícia C. L. Moura

REGULAÇÃO HIDROELETROLÍTICA FUNÇÃO RENAL

Pós operatório em Transplantes

Regulação dos níveis iônicos do sangue (Na +, K +, Ca 2+, Cl -, HPO 4. , K +, Mg 2+, etc...)

Contribuição da Farmácia na prescrição e uso racional de Albumina Humana em um Hospital de grande porte

SISTEMA URINÁRIO. Prof. Me. Leandro Parussolo

PROF.: FERNANDA BRITO Disciplina Farmacologia.

CLINICA MÉDICA TERAPÊUTICA COM SANGUE E COMPONENTES ANEMIA NEUTROPENIAS TROMBOCITOPENIAS HEMATOLOGIA TROMBOCITOPENIAS TROMBOCITOPATIAS

IDENTIFICAÇÃO DO MEDICAMENTO Alburex 20 albumina humana

SISTEMA EXCRETOR (URINÁRIO) RIO) Rins: morfologia e funcionamento Regulação hormonal Distúrbios mais comuns Excreção de compostos nitrogenados

Concentração no local do receptor

FISIOLOGIA RENAL EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM

Cristalóides e Colóides na prática clínica. Farm. Isabela Miguez de Almeida


ALTERAÇÕES RENAIS. Texto extraído do Editorial do Endocrinologia&Diabetes clínica e experimental vol. 7 número 3, julho/2007.

Como interpretar a Gasometria de Sangue Arterial

5.1 Doenças do esôfago: acalasia, esofagite, hérnia hiatal, câncer de cabeça e pescoço, câncer de esôfago, cirurgias

SISTEMA ENDÓCRINO. Jatin Das TIREÓIDE

Métodos de Depuración en Intoxicaciones Agudas. Dr. Carlos Augusto Mello da Silva MD

Laser Terapêutico Vermelho (660 nm) Laser Terapêutico Infravermelho (808 nm)

CHOQUE. SEBASTIÃO ERNESTO DA SILVA FILHO Anestesiologista TSA SBA Hospital Municipal São José dos Campos Grupo CAD

PROTOCOLOS CLÍNICOS DA COOPERCLIM AM MANEJO PRÁTICO DA ASCITE AUTOR: LEONARDO SOARES DA SILVA

APRESENTAÇÕES Solução e pó para preparação de uso oral. Embalagem com 10 e 20 frascos de 10 ml para preparação antes do uso.

47 Por que preciso de insulina?

Hemoglobinopatias. Dra. Débora Silva Carmo

VIVER BEM OS RINS DO SEU FABRÍCIO AGENOR DOENÇAS RENAIS

Prof. Dr. José O Medina Pestana. Hospital do Rim e Hipertensão Disciplina de Nefrologia, Universidade Federal de São Paulo

Fisiologia da glândula Tireóide

cateter de Swan-Ganz

Cetoacidose Diabética. Prof. Gilberto Perez Cardoso Titular de Medicina Interna UFF

FUNDAMENTOS DE ENFERMAGEM II. Nutrição Enteral Profª.Enfª:Darlene Carvalho

Epidemiologia DIABETES MELLITUS

Interpretação de exames laboratoriais Lactato desidrogenase (LDH)

OTO-XILODASE. Apsen Farmacêutica S.A. Solução Otológica 100 UTR + 50 mg + 5 mg / 1 ml

CITOPLASMA. Características gerais 21/03/2015. Algumas considerações importantes: 1. O CITOPLASMA DAS CÉLULAS PROCARIÓTICAS

2 - Biodisponibilidade. Biodisponibilidade Velocidade e extensão de absorção de um fármaco a partir de uma forma de administração

Manejo clínico da ascite

DISTÚRBIOS DA CIRCULAÇÃO

Sistema Urinário. Profe. Cristiane Rangel 8º ano Ciências

CREATININA CREATININIUM

ÇÃO O DE EXAMES LABORATORIAIS

Farmacologia. Definição: É a ciência que estuda os efeitos das substâncias químicas sobre a função dos sistemas biológicos.

Produção, Armazenamento e Procedimentos de Hemocomponentes

PROGRAMAÇÃO RESIDÊNCIA MEDICINA INTENSIVA 2016 R1, R2, R3 HSF

HIDRATAÇÃO NEONATAL. ISRAEL FIGUEIREDO JUNIOR

Aesculus hippocastanum

BANCO DE SANGUE COLETA E TESTES SOROLÓGICOS

FUNÇÃO RENAL ACADÊMICO JOSÉ DE OLIVEIRA RODRIGUES

ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA GRAVIDEZ

Tabela 1 Descrição dos números e nomes dos fatores de coagulação sangüínea e a via de atuação.

QUESTÕES DE HEMATOLOGIA E SUAS RESPOSTAS

Fisiologia do Sistema Endócrino e o papel da Melatonina

Sistema circulatório. Componentes: - Vasos sanguíneos. - Sangue (elementos figurados e plasma) - Coração

Avaliação da Função Renal. Dr. Alexandre S. Fortini Divisão de Laboratório Central HC-FMUSP

Caso Clínico. Emanuela Bezerra - S5 28/04/2014

Estrutura adrenal. Função da medula adrenal. Função da medula adrenal. Funções do córtex adrenal. Funções do córtex adrenal. Funções do córtex adrenal

Monitorização/ Dispositivos de Oferta/Benefícios e Malefícios Oxigenoterapia. Mariana C. Buranello Fisioterapeuta Nayara C. Gomes - Enfermeira

PROTOCOLO GERENCIADO DE SEPSE PACIENTE COM CONDUTA PARA SEPSE (OPÇÃO 2 E 3 - COLETA DE EXAMES/ANTIBIÓTICO)

Disciplina de Fisiologia Veterinária. GH e PROLACTINA. Prof. Fabio Otero Ascoli

R1CM HC UFPR Dra. Elisa D. Gaio Prof. CM HC UFPR Dr. Mauricio Carvalho

Profa. Dra. Silvia P. S. Kitadai Área Técnica da Saúde Ocular CODEPPS - SMS. Retinopatia da Prematuridade 2006

A importância da Albumina Sérica no processo de cicatrização de feridas

MYCAMINE MYCAMINE. micafungina. micafungina. Guia de Prescrição. e Monitorização. de Prescrição. Guia e Monitorização

Clínica Médica de Pequenos Animais

Solução Glicofisiológica

HIPERCALCEMIA NO RECÉM NASCIDO (RN)

Hematologia. ESS Jean Piaget. Fisioterapia Patologias Médicas II - Hematologia. Durante alguns módulos, iremos falar de princípios

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM NEFROLOGIA

Distúrbios Hidro-eletrolíticos

05/10/2013 SISTEMA CIRCULATÓRIO. Evolução do sistema circulatório. Fisiologia do Sistema Circulatório ou Cardiovascular

GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

Imagens A) Desnutrido crônico: abdome globoso, rarefação de pêlos, perda de massa muscular, estado mental alterado.

O corpo humano está organizado desde o mais simples até o mais complexo, ou seja, do átomo microscópico ao complexo organismo humano macroscópico.

ORGANELAS CITOPLASMÁTICAS. Prof. Emerson

Rejeição de Transplantes Doenças Auto-Imunes

GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

DO PACIENTE RENAL Tratamento conservador

ESTA PALESTRA NÃO PODERÁ SER REPRODUZIDA SEM A REFERÊNCIA DO AUTOR.

ENCEFALOPATIA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA. Workshop Internacional de Atualização em Hepatologia Curitiba, Abril de 2006

Controle da Osmolaridade dos Líquidos Corporais

Do nascimento até 28 dias de vida.

Perder Gordura e Preservar o Músculo. Michelle Castro

Capacitação em Serviço: Dengue em 15 minutos

Purisole SM Fresenius Kabi

Sistema endócrino + Sistema nervoso. integração e controle das funções do organismo

M E T B O L I S M O CATABOLISMO ANABOLISMO

SALSEP cloreto de sódio Solução nasal 9 mg/ml

Bibliografia: Capítulo 2 e 3 - Nowak Capítulo 12, 13 e 14 Fisiopatologia Fundamentos e Aplicações A. Mota Pinto Capítulo 4 S.J.

VOLUVEN 6% hidroxietilamido 130/0,4

Manejo da Ascite no Cirrótico

CONTROLE DE COPIA: PT-LB-BQ-023 CREATININA 22/10/2015

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

II Workshop Internacional de Atualização em Hepatologia ENDOCRINOLOGIA

Resposta: Dilatação dos brônquios na tomografia (bronquiectasia) e nível hidro-aéreo na radiografia do tórax (abscesso).

PERFIL PANCREÁTICO. Prof. Dr. Fernando Ananias. MONOSSACARÍDEOS Séries das aldoses

Sistema endócrino. Apostila 3 Página 22

Cuidados e indicações atuais

Esta bula é continuamente atualizada. Favor proceder a sua leitura antes de utilizar o medicamento. Toplexil

PRINCÍPIOS GERAIS DA HEMODINÂMICA: FLUXO SANGUÍNEO E SEU CONTROLE

Transcrição:

Uso de Albumina Humana na Prática Clínica Hemocentro-Unicamp Angela Cristina Malheiros Luzo

Bioquímica Fisiologia Polipeptídio pobre em triptofano (600 aminoácido). Peso molecular ao redor de 69.000 Forma elipsóide Baixa viscosidade (1 g de albumina atrai 15 a 18 ml de água)

Síntese Fisiologia-Metabolismo Hepatócitos (20 a 30%) Retículo endoplasmático (9 a 12 g em 24 horas) Não é armazenada Estímulo máximo eleva 2-3 vezes

Síntese Produção Fisiologia- Metabolismo alteração da pressão coloidosmótica osmolalidade do espaço extra vascular concentração de insulina, cortisol e tiroxina.

Fisiologia- Catabolismo Endotélio vascular dos tecidos (9 a 12 g/24h) Meia vida 18 a 21 dias Pinocitose [ [ ] peptídeo natriurétrico atrial tirosina aa essenciais

Extra-vascular Fisiologia Distribuição e Circulação Concentração sérica 40g.l -1 Relação intra 1/3 extra 2/3 vascular Circulação sistema linfático Escape trans capilar 16-1818 horas ( 3-4%)

Fisiologia

Transporte de íons Propriedades Clínicas Manutenção pressão coloidosmótica Eliminação de radicais livres Efeito anti-coagulante Alteração da permeabilidade capilar

Indicação Terapêutica Estados de hipoproteinemia com instabilidade hemodinâmica queda na filtração glomerular e alteração na função renal, albumina sérica menor que 2g.

Situações Clínicas - Hipopoproteinemia Nefropatias Síntese de albumina normal,, IRC procedimentos de diálise Hemodiálise maior perda no prime Diálise peritoneal perda pequena Instabilidade hemodinâmica

Situações Clínicas - Hipopoproteinemia Insuficiência Hepatocelular (Arroyo et al, Dig Liver 2003;Maor,Isr Med Asssoc J, 2005; Avidan et al, 2003;Maor,Isr Med Asssoc J,2005;) Cirrose baixos níveis séricos Ascite masssiva paracentese +diuréticos Disfunção circulatória pós paracentese Síndrome hepato-renal (Gines et al, Gastroenterol Hepatol, 2005) Peritonite bacteriana espontânea (Fernandez et al, J Hepatol. 2005)

Situações Clínicas -Cirurgias Cirurgia Cardíaca (Riegger et al, Crit Care Med 2003) Priming da Circulação extra-corpórea Reposição de volemia

Situações Clínicas -Cirurgias Hepatectomias e transplante de Fígado (Hanazaki et al, Hepatogastroenterology, 2005) Hepatectomias com 40% de resseccção Ascite e edema no pós-operatório Albumina sérica < 2,5g% e Pressão oncótica < 12mmHg

Situações Clínicas - Hipopoproteinemia Enteropatias perdedoras de proteína Má absorção albumina luz do TGI Doença Celíaca Doença de Chron albumina luz do TGI hipoproteinemia Hipovolemia de difícil controle

Situações Clínicas - Hipopoproteinemia Grande Queimado (Lehnhardt et al, Burns,2005;Sanches, Pathol Biol, 2002) Perda no local Permeabilidade da micro-circulaçãocirculação Síntese de albumina Nefropatia 2 ª (48 horas) perda urinária Reposição de albumina após as primeiras 24 horas

Situações Clínicas - Hipopoproteinemia Choque Hipovolêmico Baixos níveis séricos Grande consumo de energia Intenso catabolismo proteíco Redistribuição extra e intravascular escape trans-capilar Hipovolemia sem resposta ao tratamento albumina? outros expansores!

Situações Clínicas - Hipopoproteinemia Choque séptico Permeabilidade capilar Fluxo de líquido para interstício carreia albumina Uso discutível piora quadro pulmonar

Situações Clínicas - Hipopoproteinemia Plasmaférese Troca de volemia plasmática Reposição da volemia albumina à 4% e soro fisiológico

Situações Clínicas Transporte Substâncias tóxicas, íons, ânions orgânicos Antibióticos, diuréticos, anticoagulantes Tranquilizantes, barbitúricos, analgésicos, hormônios, hipoglicemiantes, digitoxina... Bilirrubina (Doença Hemolítica do Recém Nascido)

Situações Clínicas MARS (sistema de adsorção molecular por recirculação, Campi et al, Artif. Organs, 2003)

Indicações Formais (Resolução RDC nº 115, de 10 de maio de 2004,visalegis) Priming em cirurgia cardíaca Paracentese em ascites volumosas Reposição volêmica em plasmaférese Cirrose hepática e síndrome nefrótica em instabilidade hemodinâmica refratárias a tratamento com diurético

Indicações Formais Resolução RDC nº 115, de 10 de maio de 2004,visalegis Grandes queimados, 24 horas pós queimadura Prevenção síndrome de hiper estimulação ovariana Pós transplante de fígado se albumina < 2,5%

Indicações Discutíveis Resolução RDC nº 115, de 10 de maio de 2004,visalegis Pacientes críticos com má distribuição hídrica Hiperbilirrubinemia do RN com DHRN Cirróticos com peritonite bacteriana espontânea

Contra-indicações (não fundamentadas) Resolução RDC nº 115, de 10 de maio de 2004,visalegis Correção de hipoalbuminemia Correção de perdas volêmicas agudas Tratamento de cirrose hepática e S. nefrótica Peri-operatórios, exceto os especificados

Obtenção Apresentação comercial Fracionamento a partir de plasma humano Método de Chon Termocoagulação na presença de álcool etílico Cromatografia Inativação viral 3 métodos (aquecimento por 10 horas à 60 0 C, solvente e detergente)

Armazenamento Abrigo da luz Apresentação comercial Temperatura entre 4 a 5 0 C, validade 5 anos Temperatura 25 0 C, validade 3 anos Efeitos adversos Transmissão viral, se inativação ineficaz Reação febril e calafrios

Apresentação comercial Albumina hiper- oncótica à 20gr / 100ml Frascos de 10, 20, 50ml Contém 175 a 250g de proteínas totais/litro Taxa de sódio 85 a 150 mmol/l

Posologia Procedimentos de paracentese 6g por litro de ascite retirada Demais procedimentos de albumina (g/l) X 0,04 X PESO (Kg) X 2 de albumina = albumina desejada - albumina do paciente (não ultrapassar 2g/kg peso) 0,04 X peso (Kg) = massa plasmática 2 = constante relativa à difusão de albumina para o espaço extravascular

Grandes Queimados Posologia 0,2 ml x superfície corpórea de área queimada x kg peso Peritonite Bacteriana Espontânea 1,5g / kg peso do paciente