ALGUMAS DIRETRIZES NA ABORDAGEM DE USUÁRIOS DE DROGAS



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Transcrição:

ALGUMAS DIRETRIZES NA ABORDAGEM DE USUÁRIOS DE DROGAS Roberto Portugal Bacellar, Juiz Auxiliar da 2ª Vice-Presidência, professor e mestre em Direito pela PUCPR. Adriana Accioly Gomes Massa, Assistente Social da 2ª Vice- Presidência, mestranda em desenvolvimento e organizações, especialista em Dependências Químicas e em Terapia Familiar. O Poder Judiciário, por meio da aplicação do que tem sido denominado de Justiça Restaurativa está se aperfeiçoando para dar uma resposta à solução dos problemas e não apenas à percepção do passado e a retribuição do mal pelo mal (justiça retributiva). A nova Lei 11.343/2006 que instituiu o Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas e prescreveu medidas de prevenção, atenção e reinserção social de usuários e dependentes representa um firme passo em direção ao desenvolvimento de uma abordagem técnica pelos operadores do direito. Essas novas soluções passam pela fundamental idéia da interdisciplinaridade e caberá aos operadores do direito vencer preconceitos e implementar nos Juizados Especiais Criminais, idéias de mediação, abordagem breve, reconstrução de relacionamentos, restauração de redes familiares disfuncionais para funcionais, a formação de redes sociais, dentro de uma nova visão, mais ampla, holística e global.

É possível fazer diferente? Ao perceber o alarmante índice de condenações e posterior reincidência nos diários casos de utilização de drogas para consumo pessoal, como juiz dos juizados especiais criminais, após constituir uma equipe técnica, conversar com os demais colegas (juízes e promotores de justiça), juntos buscamos orientação para encontrar uma melhor forma de abordagem para a condução desses casos. Após manter contato com os profissionais técnicos (nas áreas de Psiquiatria, Terapia Ocupacional, Serviço Social e Psicologia), sobre as formas de abordagem e acolhimento desses usuários ou dependentes. Da conclusão inicial dirigida a orientar a aplicação de uma técnica padrão para abordagem, de usuários e dependentes de drogas, por ocasião das audiências foram estabelecidas algumas premissas. Os especialistas nos informaram que em muitos casos, a primeira vez que o usuário falará com alguém seriamente sobre o assunto, esse alguém será o Juiz ou o Promotor de Justiça. Por isso, se essa primeira abordagem do Juiz e do Promotor forem referenciadas por padrões técnicos, teremos melhores chances de prevenir (prevenção secundária), dar atenção e reinserir o usuário ou dependente na sociedade, alcançando a desejada recuperação, diminuindo a reincidência. Para isso uma visão rápida de alguns conceitos precisa ser estabelecida.

Temos preconceitos em relação ao usuário de drogas? Vamos pensar no usuário de drogas. Que imagem vem à mente? Provavelmente daquele individuo com vocabulário escasso, recheado de gírias, uma maneira de se vestir um tanto diferente... Porém, é importante não nos atentarmos a nenhum estereotipo e principalmente, termos em mente algumas classificações, que são importantes para avaliar o uso de substâncias psicoativas. Ao tratarmos do uso de drogas, temos uma escala gradativamente progressiva: USO/ABUSO/DEPENDÊNCIA PREVENÇÃO PRIMÁRIA Não uso Uso experimental Uso esporádico PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Uso freqüente Uso pesado Uso abusivo Dependência TRATAMENTO PREVENÇÃO TERCIÁRIA USO: qualquer consumo de uma substância. ABUSO: uso com problemas, uso nocivo. DEPENDÊNCIA: uso compulsivo, com perda de controle, problemas sérios. Na dependência verifica-se a presença de: o Tolerância o Síndrome de Abstinência

A comunidade cientifica caracteriza a prevenção em três níveis: Prevenção primária: tem por objetivo evitar a experimentação de qualquer substância psicoativa ou adiar essa experimentação. Comum ser aplicada nas escolas. Prevenção secundária: seu objetivo é evitar que o uso ocasional torne-se freqüente ou atinjam níveis de dependência. Uma prática muito produtiva nos sistemas penais. Prevenção terciária: ações ligadas ao tratamento da dependência química, tais como: encaminhamentos, prevenção às recaídas e reinserção social do dependente. Quais as finalidades dos programas de prevenção? Muitas vezes o problema relacionado ao uso de drogas com o qual nos deparamos pode ser encaminhado a programas de prevenção. Esses programas trabalham na ampliação a rede social pessoal (mãe, pai, irmãos, amigos, padrinhos, avós, colegas...), o acesso a recursos sociais e a otimização de fatores de proteção ao uso de drogas existente na rede social do indivíduo, através de abordagens motivacionais, com intervenções breves. É importante também percebermos que nem todas as drogas têm efeitos semelhantes, pois a atuação das drogas no sistema nervoso central SNC pode ser diferente.

Classificação pela atuação no SNC Estimulantes do SNC Depressoras do SNC Perturbadoras do SNC Anfetaminas Álcool De origem vegetal: Anfetaminas modificadas: Ecstasy Soníferos ou Hipnóticos Ansiolíticos Mescalina (do cacto) THC (da maconha) Cocaína Opiáceos: Psilocibina (de cogumelos) Lírio, trombeteira, saia branca Nicotina Cafeína Crack *Naturais: Morfina e Codeína *Sintéticos *Semi-sintéticos: Heroína Solventes Inalantes Santo Daime De origem sintética: LSD-25, Anticolinérgicos Com relação à classificação legal das drogas (lícitas e ilícitas) cabe somente ressaltar que a influência do álcool tem contribuído para o aumento da criminalidade, sem falar dos problemas sociais e de saúde relacionados ao seu uso. O álcool também é hoje considerado a porta de entrada para drogas ilícitas. De qualquer forma, o padrão de abordagem que ora estamos apresentando poderá ser utilizado de maneira geral, independentemente de sua classificação. Como são as abordagens técnicas? Entrevista Motivacional Se você tratar um indivíduo como ele é, ele permanecerá assim, mas se você tratá-lo como se ele fosse o que deveria e poderia ser, ele se tornará o que deveria e poderia ser. (Johann Wolfgang von Goethe) A entrevista motivacional é uma abordagem criada para ajudar o individuo a desenvolver um comprometimento e a tomar a decisão de mudar. No que se refere ao processo de mudança, os psicólogos James Prochaska e Carlo DiClemente desenvolveram um modelo de como ocorre a mudança, a roda

da mudança. Esse modelo é representado por seis estágios e será a nossa base teórica que permitirá uma recomendação prática de abordagem a ser utilizada por juízes e promotores de justiça. Pré-ponderação Ponderação Determinação Ação Manutenção Recaída Saída Permanente Manutenção Recaída Ponderação Pré-ponderação Ação Determinação O estágio de Pré-ponderação é o ponto de partida para o processo de mudança. Neste ponto a pessoa ainda não está considerando a possibilidade de mudança, antes da primeira volta na roda a pessoa ainda nem considerou que tem um problema ou que precisa realizar uma mudança. Neste estágio, se a pessoa é abordada e diz-se a ela que tem um problema, ela pode ficar mais surpresa do que na defensiva. Uma pessoa no estágio de pré-ponderação necessita de informação e feedback para tomar consciência de seu problema e da possibilidade de mudança. Uma vez que alguma consciência do problema tenha surgido, a pessoa entra em um período caracterizado pela ambivalência ou seja, o estágio de

ponderação. O ponderador tanto considera a mudança como a rejeita. A tarefa do profissional neste estágio é a de inclinar a balança em favor da mudança. O estágio de determinação pode ser comparado a uma janela que se abre para as oportunidades / mudanças, por um determinado período de tempo. Se durante esse tempo a pessoa entra em ação, o processo de mudança continua. O profissional deverá ajudar o individuo a determinar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança. O papel não é de motivar, mas sim de adequar, no sentido de ajudar a pessoa a encontrar uma estratégia de mudança que seja aceitável, acessível, adequada e eficaz. No estágio de ação a pessoa engaja-se em ações específicas para chegar a uma mudança. O papel do profissional é o de ajudar esse individuo a dar passos rumo à mudança. No estágio da manutenção o objetivo é manter a mudança obtida no estágio anterior e evitar a recaída. Essa manutenção pode exigir um conjunto de habilidades e estratégias diferentes das quais foram necessárias para a obtenção da mudança. O profissional deve ajudar a pessoa a identificar e utilizar estratégias de prevenção à recaída. Na recaída, a tarefa do individuo é recomeçar a circular pela roda em vez de ficar imobilizado nesse estágio. O profissional deve auxiliar a pessoa a renovar os processos de ponderação, determinação e ação, sem que este fique imobilizado ou desmoralizado devido à recaída.

ABORDAGENS MOTIVACIONAIS EFICAZES Oferecer ORIENTAÇÕES Remover BARREIRAS Proporcionar ESCOLHAS Diminuir o aspecto DESEJÁVEL do comportamento (custo-benefício) 1 Praticar EMPATIA Proporcionar FEEDBACK Esclarecer OBJETIVOS AJUDAR ativamente Intervenção Breve O aconselhamento relativamente breve pode ter um impacto substancial, pois conforme alguns estudos foram verificados que os efeitos da intervenção breve, bem planejado, parecem comparáveis aos resultados de tratamentos mais extensos. O primeiro impacto das intervenções breves é motivacional e seu efeito é desencadear um processo de mudança cognitivo-comportamental. Portanto, é importante visualizar sempre em uma abordagem em que estágio da roda da mudança o indivíduo se encontra. Ingredientes ativos do Aconselhamento Breve Eficaz Segundo Miller e Sanchez, com os resultados e estudos da terapia breve, foram identificados seis elementos que parecem ser os princípios ativos comum às intervenções breves eficazes. Podemos chamar de FRAMES esses seis elementos. F feedback (devolução) R -responsibility (responsabilidade) A advice (recomendações) M menu (Inventário) E empathy (empatia) S self-efficacy (auto-eficácia) FEEDBACK (DEVOLUÇÃO) Devolutiva ao indivíduo de sua história, de forma a oportunizar a reflexão sobre sua situação no momento.

RESPONSIBILITY (RESPONSABILIDADE) Enfatizar a responsabilidade do individuo no seu processo de mudança. ADVICE (RECOMENDAÇÕES) Aconselhamento sobe a rede social de proteção do uso de drogas existente. Podem, também, ser recomendado à participação em programas sócio-educativos, inclusão em sistema de ensino, participação em grupos de mutua-ajuda e os modelos existentes de tratamento. MENU (INVENTÁRIO) Oferece uma série de estratégias alternativas para modificação de seu comportamento-problema, por outro lado, cria a oportunidade para que o indivíduo escolha as estratégias que se adequam às sua realidade. EMPATHY (EMPATIA) A empatia é um forte determinante da motivação e da mudança. Mesmo quando confrontados através do feedback, isso pode ser feito de maneira altamente empática. SELF-EFFICACY (AUTO-EFICÁCIA) A auto-eficácia refere-se à crença de uma pessoa na sua capacidade de realizar mudanças. A meta é persuadir o indivíduo de que ele pode promover uma mudança bem sucedida. Como deve ser a abordagem técnica do juiz e do promotor de justiça? Como vimos anteriormente ao falarmos dos estágios, o desafio do juiz ou do promotor de justiça é fazer com que se abra aquela janela do estágio da determinação (oportunidades / mudanças) a fim de que o usuário ou dependente resolva entrar em ação (diga que quer ajuda para sair das drogas) e ingresse na roda da mudança.

Uma vez que isso aconteça, o processo de mudança continua e mesmo que ocorra a recaída (ele não agüentou ficar mais de um mês sem usar drogas e teve uma recaída) ainda assim a processo de mudança avançará e a cada volta na roda, haverá uma evolução tal qual uma espiral produtiva. Note-se que a recaída, depois que tiver iniciado o processo de mudança, não gerará reincidência, e fará parte do próprio processo evolutivo. Os dados iniciais da experiência piloto realizada inicialmente no 3º Juizado Especial Criminal de Curitiba, que já conta com quase 2 (dois) anos, demonstraram que o ingresso na roda da mudança e o encaminhamento à equipe técnica reduziu a apenas 1%(um por cento) o índice de reincidência em 8(oito) meses de tabulação de dados.

Independente de maiores aprofundamentos na base teórica e sem querer abranger a complexidade que envolve o estudo científico que tomamos por referência, apresentamos uma síntese da proposta de abordagem. A fim de colaborar com a praticidade recomendada em uma operação, apresentamos um esboço do plano de abordagem desenvolvido especialmente para ser aplicado por Promotores de Justiça e Juízes de Direito nas audiências, esperando contar com a experiência agregada e o auxilio de todos para melhorar, ampliar e aperfeiçoar este estudo inicial: 1º passo ESTABELECER O RAPPORT. DEMONSTRAR INTERESSE - Estabelecimento de vínculo empático com o usuário. Se apresentar, dizer do objetivo de ouvir e ajudar. Falar de amenidades que possam colaborar para estabelecer uma boa qualidade no relacionamento inicial. A seguir, se perceber uma boa abertura, procurar saber um pouco mais dos motivos pelos quais ele está no fórum em uma conversa informal: Meu nome é... sou o juiz ou promotor responsável por este caso e pretendo ouvir o que você tem a dizer a fim de encontrar uma melhor solução... Como estão as coisas na sua vida? Você sabe porque está aqui? Nosso objetivo é auxilia-lo a encontrar uma solução para este caso, está bem?.. 2º passo CHAMAR À REFLEXÃO A forma de indagação passa a ser importante quando ela induz a pessoa a responder pela sua própria ação. Ele normalmente já criou a expectativa de que o juiz ou o promotor vão reprimir sua ação, dar uma bronca, ameaçar (para que ele continue vitimizado: eu não fiz nada eu só faço mal para minha saúde e ninguém tem nada com isso...) Entretanto, a idéia é dar poder a ele usuário ou dependente (empoderamento) para que ele reflita: Qual a SUA opinião ou sua avaliação sobre o SEU consumo atual de...(mencionar qual a substancia ou álcool)?

Como VOCÊ avalia (vê ou como interpreta) o SEU uso de drogas? Aqui nesse momento o silêncio é uma técnica de empoderamento. Faz a pergunta e mantém o silêncio (a palavra está com ele). Isso obriga a reflexão e independentemente da resposta, avança no processo de abordagem para obter a percepção da responsabilidade. 3º passo ATRIBUIR RESPONSABILIDADE A pessoa deve estar ciente sobre a responsabilidade de sua ação: O que VOCE pretende fazer com relação ao SEU consumo de... VOCE pretende fazer alguma coisa (tomar alguma providência ou fazer algo) em relação ao SEU consumo de.... Algumas pessoas, nesta etapa já começam a perceber que são eles os responsáveis por seus destinos e que nós outros (juízes, promotores) não vamos resolver a questão por eles e eles é que terão de dizer alguma coisa. 4º passo OPINAR HONESTAMENTE Falar de forma clara e precisa, usando padrões objetivos. Usar relatos de outros casos, estudos, pesquisas (que sejam verdadeiros) por exemplo.: Como Juiz (Promotor de Justiça) e de acordo com a minha experiência de... anos como profissional percebi em centenas de casos que atuei que a pessoa começa como usuário, depois passa a dependente, quando ocorre a perda do controle em relação ao uso alguns ainda conseguem manter o emprego, outros não tem como sustentar a dependência e começam a cometer pequenos furtos em casa, o relógio do pai, o tenis do irmão, dinheiro da bolsa da mãe, as pessoas perdem a confiança nele, trancam as portas, ele começa a mentir, dizer que foi assaltado, passa a emprestar dinheiro de familiares, amigos, não paga, avança para outros furtos na vizinhança... Relatar fatos verdadeiros que ocorrem no dia a dia do usuário ou dependente pesquisas, dados, livros, experiências de outros processos que são todas muito semelhantes... Ele deve perceber que estamos falando exatamente a

verdade! E quando perceber que algumas dessas situações aconteceu com ele, a janela se abre e é o momento de encaminha-lo para a equipe técnica que iniciará ele na roda da mudança em um processo evolutivo que eliminará ou diminuirá a reincidência. Ao falar da perda de controle em relação ao uso, pode haver confronto e justificativas ao nos deparamos com essa situação é bom dizer que nos casos em geral é assim (estamos falando da nossa experiência de outros casos). No caso dele, com o auxilio da equipe técnica, certamente ele poderá demonstrar que tem condições de controlar o seu consumo ou sua dependência. Afirmar que sabemos das dificuldades. É difícil, mas, é possível, desde que ele queira. 5º passo DAR OPÇÕES DE ESCOLHA Oferecer soluções para a situação deles, retirar as barreiras (que eles imaginam). Mostrar claramente as alternativas processuais e deixar que a pessoa decida o que lhe seja melhor: Vamos discutir as alternativas que você tem para não ser prejudicado ainda mais por este processo? Você tem direito a transação penal, suspensão condicional do processo, e poderá ter auxílio dos técnicos da nossa equipe. Em alguns casos, mesmo que seja caso de arquivamento (como o objetivo é auxiliar o usuário ou dependente) desde que ele deseje, é adequado o encaminhamento aos profissionais que o introduzirão na roda da mudança inscrevendo-o em grupos educacionais ou oficinas de prevenção, viabilizarão a rede individual, melhorarão a alto estima do cidadão para reinserção social e saída definitiva do consumo pessoal ou dependência. DICAS Salientamos, ainda, importante, variar as abordagens e evitar sempre o confronto, deixando claro o nosso objetivo de auxiliá-lo a encontrar soluções através da participação nas oficinas de prevenção ou mediante tratamento clínico, e que,

somente se ele rejeitar estas opções, então será processado judicialmente (casos excepcionais em que o processo deve ser instruído e que poderá resultar em uma condenação). Quando o usuário se decidir pelo acompanhamento informá-lo sobre a assistência que receberá de acordo com a orientação da equipe técnica. Se não chegarmos ao ideal, certamente chegaremos mais além do que teríamos ido sem nosso esforço. É o primeiro passo. Roberto Portugal Bacellar Adriana Accioly Gomes Massa