AS AÇÕES DO PODER PÚBLICO E O CENTRO HISTÓRICO FERROVIÁRIO DE PONTA GROSSA (PR) 146 ONOFRE, Layane de Souza MONASTIRSKY, Leonel Brizolla Introdução A ferrovia se caracterizou enquanto um importante elemento na história econômica do Brasil. Esse desenvolvimento também foi definitivo tanto nas cidades quanto em várias regiões brasileiras especialmente aquelas que compunham o sistema de produção de matéria prima exportável com um porto marítimo (MONASTIRSKY, 2006). Essa implantação e primeiras décadas de funcionamento da ferrovia do Brasil (final do XIX e início do século XX) proporcionou à ferrovia uma simbologia além da sua importância econômica e social houve a mitificação da ferrovia e o seu vasto patrimônio se configurou em patrimônio cultural do Brasil. (MONASTIRSKY, 2006). Na cidade de Ponta Grossa, cidade ferroviária desde 1892, a ferrovia se instalou na periferia da cidade. Junto com o pátio de manobras de trens, duas estações ferroviárias (passageiros e cargas), depósitos de mercadorias e oficinas. Porém, com o crescimento da cidade ao longo do século XX, o perímetro urbano absorveu esse centro ferroviário e o poder público se viu obrigado a retirar as instalações férreas e transferi-los para outro lugar. Assim, se faz preciso o estudo do centro histórico ferroviário da cidade de Ponta Grossa, a fim de compreender essas modificações sofridas nos últimos anos tempo e quais medidas estão sendo tomadas ou propostas para a melhoria da paisagem. Objetivos Este trabalho é estruturado a partir de um objetivo geral e dois específicos. Analisar as propostas e ações do poder público no município de Ponta Grossa com relação ao Centro Histórico Ferroviário, através da identificação de projetos já existentes, utilizados ou não, pelo Poder Público, com relação à ocupação do Centro Histórico Ferroviário. O segundo objetivo específico consta nas análises políticas públicas da cidade, com relação às transformações que ocorrem no Centro Histórico Ferroviário. Metodologia As metodologias usadas para embasar o estudo são as consultas bibliográficas, de livros, relatórios, artigos científicos, teses, dissertações e demais documentos que tratam da temática. Feito também as consultas aos projetos apresentados com relação à área central da ferrovia em Ponta Grossa. Para a realização da pesquisa, faz-se necessário as entrevistas com pessoas que possam informar sobre as ações do poder público, como os Secretários de Obras e Planejadores Urbanos da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, com gestão atual e outras gestões. Através também de entrevista com engenheiros, arquitetos e geógrafos que discutem o tema. Em um âmbito mais específico entrevista com responsáveis que pensam o planejamento da cidade através do Instituto de Planejamento Urbano de Ponta Grossa (IPLAN).
147 Resultado e Discussões Com a retirada dos trilhos do Pátio Central da RFFSA, hoje centro da cidade de Ponta Grossa, iniciou-se o processo de reocupação da área. Foram apresentados e apreciados vários projetos (nos governos Wosgrau e Paulo Cunha - 1989/1996) (MONASTIRSKY, 1997), com destaque para quatro: um previa a construção de um shopping center horizontal que ocuparia quase que totalmente a área do antigo pátio; o segundo previa um parque histórico em que a ferrovia teria destaque; um projeto alternativo (que não concorreu à licitação, mas foi bastante comentado) previa o aproveitamento das linhas férreas e estações existentes e os aproveitava para a implantação de um metrô de superfície (com a preocupação da manutenção do patrimônio histórico); e o quarto, que foi implantado, o Parque Ambiental (que não faz referência à memória ferroviária). Segundo as pesquisas junto à população, parte significativa dos entrevistados, especialmente os adultos e idosos, reclamaram da saída da ferrovia e da falta de preocupação com a memória ferroviária. FOTOGRAFIA 1 - ESTAÇÃO FERROVIÁRIA PONTA GROSSA
148 FOTOGRAFIA 2 - ESTAÇÃO FERROVIÁRIA PARANÁ FOTOGRAFIA 3 - LOCOMOTIVA 250 Nos governos Jocelito Canto e Péricles Holleben (1997/2000) houve a preocupação da manutenção da memória ferroviária com o restauro das duas principais estações e bom uso
para o Depósito de cargas (todos tombados pela Secretaria de Cultura do Paraná). O Governo Pedro Wosgrau (2004/2012), foi negligente com esse patrimônio e a Estação Ponta Grossa, usada como biblioteca municipal, deteriorou-se com a ação de vandalismo e falta de manutenção. Segundo pesquisas junto ao Poder Público Municipal, o atual governo, Marcelo Rangel (2013/) buscará o restauro da Estação principal e bom uso para os demais equipamentos, como a volta de um espaço para artes no antigo depósito, que o governo Pedro Wosgrau havia transformado em mercado de hortifrutigranjeiros. A sociedade demonstra nas pesquisas que se preocupa com a preservação do patrimônio cultural ferroviário e enfatiza o desejo da implantação de um museu ferroviário em Ponta Grossa, instalado preferencialmente na Estação Ponta Grossa, também conhecido como Estação Saudade. Segundo arquiteta do IPLAN, uma das metas dessa gestão é a de prover Parque Ambiental árvores e de equipamentos de lazer e deslocamento da população, como ciclo faixas e a retirada do terminal central viário e, paralelamente, promover o devido destaque para o conjunto histórico ferroviário do centro da cidade. 149 Considerações Finais Com o novo modelo urbano estabelecido, onde tudo se renova em tempo rápido, o que antes fazia sentido à cidade, hoje já se perdeu, sendo comprovado em qualquer escala, desde as pessoas que não possuem um amplo conhecimento até os políticos, agentes esses, que deveriam investir em melhorias públicas, levando em consideração um dos aspectos que originaram esta e diversas outras cidades. A realidade de Ponta Grossa não é diferente. Como visto a cidade contava com a presença dos equipamentos ferroviários que compunham uma paisagem histórica importante, que ao longo dos anos, não teve a manutenção por parte do poder público em que as edificações se deploraram e hoje se encontram em situação precária. A Estação Ferroviária Ponta Grossa, depois de alguns anos abandonada, passou a ser sede da Biblioteca Municipal, mas como essa função foi exercida sem a devida preocupação de associá-la a sua importância histórica, muitos usuários a depredaram. Com a retirada da biblioteca a situação piorou e a estação ficou abandonada para a ação de vândalos que quebraram parte das janelas centenárias e imobiliário interno, como a escada em espiral feita em madeira e guichê de venda de passagens raras belezas. Atualmente, enquanto não se instala o desejado Museu Ferroviário, a gare da estação é usada por comerciantes de artesanatos aos sábados e, eventualmente, por shows, exposições de carros antigos o que diminui a ação de depredação. Por esses motivos e a fim de revitalizar esse centro histórico ferroviário, o poder público busca algumas melhorias, que vão dar mais visualidade e conforto. Um dos projetos é o Plano de Mobilidade Urbana, tomado a frente pelo IPLAN, onde a proposta é a redistribuição do terminal central em outros cinco terminais, o que favoreceria a circulação de pessoas e transporte, pois esses terminais ficariam em locais centrais, porém desafogando o único terminal existente e assim sua desinstalação no centro histórico ferroviário, formado hoje pelo Terminal Central, Parque Ambiental, Shopping Palladium e Paraguaizinho. Essa ação, além de desafogar o fluxo viário do centro da cidade, proporcionará maior visibilidade e menor ação destrutiva para com os patrimônios culturais centenários da antiga ferrovia. Referências Bibliográficas
CAMARGO, H. L. Patrimônio histórico e cultural. São Paulo: Aleph, 2002. MONASTIRSKY, L.B. Ferrovia: Patrimônio Cultural. Estudo sobre a ferrovia brasileiraa partir da região dos Campos Gerais (PR). Tese de Doutorado. Florianópolis: UFSC/CFH/PPGGeo, 2006. MONASTIRSKY, L.B. Cidade e ferrovia: a mitificação do pátio central da RFFSA, em Ponta Grossa (PR). Dissertação de Mestrado. Florianópolis: UFSC/CFH/PPGGeo, 1997.. 150