PEDAGOGIA DAS DIFERENÇAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES X MULTICULTURALISMO



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Transcrição:

AEDB A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco - FFCLDB V Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia - SEGeT Sub-Tema: Gestão Universitária PEDAGOGIA DAS DIFERENÇAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES X MULTICULTURALISMO Sonia Pires Simões Resumo O presente artigo retoma algumas questões abordadas numa pesquisa, cujo tema foi: Percepções do Formando em pedagogia a respeito do multiculturalismo e do curso de pedagogia: estudo de caso, sua relevância está na importância e necessidade de nós, como educadores, estarmos atentos e principalmente capacitados a lidar com questões multiculturais, uma vez que atualmente esse tema vem sendo discutido, ganhando muito espaço e importância nos debates sobre educação. Palavras- chave: Multiculturalismo, Pedagogia das Diferenças e Educação 1. Introdução: De acordo com PRAXEDES (2004), a escola é um espaço público para a convivência fora da vida privada, íntima, familiar. Ao nos capacitarmos para a convivência participativa na escola, participamos de um processo de aprendizagem que também nos ensina como atuar no restante da vida social. A escola é percebida como voltada a oferecer a todos uma cultura básica comum, porém um dos maiores desafios para o educador, que valoriza as diferenças, é justamente acatar esse objetivo sem renunciar á diversificação. O desafio é o de conseguir que todos os alunos tenham acesso a essa cultura e dela se apropriem, mas, ao mesmo tempo, que tenham suas culturas valorizadas. Há varias décadas a escola vem transformando as desigualdades sociais e culturais em desigualdades de resultados escolares, devido à sua indiferença pelas diferenças Canen (2003). Por este motivo, é necessário orientar como o educador *Graduada em Pedagogia pela PROFESSORA TITULAR DA Aedb PUC.pedagoga da UERJ.Professora convidada da UERJ.

deve agir e trabalhar de forma pedagógica com essa questão. 2 Nesse horizonte de preocupações, o propósito da pesquisa a que se vincula o trabalho é de identificar até que ponto os alunos que estão se formando (futuros professores) receberam uma formação voltada á valorização da diversidade cultural levando em conta a pluralidade dos alunos sem abrir mão de um projeto de ensino consistente. Para a análise dessa questão e melhor estruturação do artigo, em um primeiro momento será delineada a perspectiva teórica, incluindo o significado do termo multiculturalismo, suas questões e abordagens, dialogando com a Pedagogia das diferenças, que propõem formas de atuação e inovações, por parte do professor, para minimizar o fracasso escolar que está diretamente ligado à desvalorização das diferenças, além de apresentar seu significado e questões que a permeiam. Em um segundo momento, será relatado de forma sucinta, o estudo de caso de caráter qualitativo tendo como técnicas de pesquisa qualitativa a observação, entrevista e análise de documentos, realizado durante o segundo semestre do ano letivo de 2005 com os alunos do 8º período do curso de Pedagogia. E em um terceiro momento, ao final, será apresentada a conclusão e recomendações referentes ao tema abordado. 1. Perspectiva teórica: Multiculturalismo e Pedagogia das Diferenças O multiculturalismo consiste na necessidade dos indivíduos compreenderem a sociedade como constituída de identidades plurais com base na diversidade de gênero, raça, classe social, padrões culturais e lingüísticos, habilidades e outros marcadores identitários (Canen & Oliveira, 2002). As posturas multiculturais variam, existindo diferentes abordagens, que são focadas no multiculturalismo com tendências mais liberais ou folclóricas e no multiculturalismo com tendências mais criticas (Grant, 1993 e McLaren, 1997; citados por Canen & Moreira, 1999). No primeiro não há a problematização das relações desiguais de poder, ou seja, não há um questionamento das desigualdades. Nesta abordagem, o multiculturalismo é tratado de forma exótica, folclórica, limitando-se à promoção de práticas de reconhecimento de padrões culturais diversificados (Canen 1997a e 1997b; Moreira 1999). Já a segunda abordagem, multiculturalismo crítico ou perspectiva intercultural crítica, (Canen &

3 Moreira, 1999), trabalha no sentindo de abrir espaço para vozes culturais anteriormente silenciadas, desafiando preconceitos e promovendo um horizonte emancipatório e transformador. Porém, críticas de autores pós-modernos e pós- colonialistas têm incentivado o refinamento da perspectiva intercultural crítica. Tais estudos evidenciam sensibilidade tanto à pluralidade de dimensões que constituem nossas identidades, o que implica não defini-las unicamente por marcadores mestres (gênero, raça, classe social, nacionalidade, religião, língua etc.), como ao processo de hibridização, tido como responsável pelo caráter difuso dos fenômenos culturais contemporâneos. Tal perspectiva, trabalha as diferenças dentro das diferenças, hibridiza as identidades e valoriza a construção das mesmas (Garcí Canclini, 1999; Dussel, Tiramonti e Birgin, 1998; citados por Canen & Moreira, 1999). Segundo Canen (2002) o conceito de hibridização ou hibridismo permite pensarmos na identidade de forma dinâmica, desafiadora de dualismos, essencialismos e dogmatismos. Pensar em identidade híbrida significa pensar em sujeitos com pertencimentos múltiplos de cultura, linguagem, gênero, raça etc, que não podem ser identificados nem classificados por um marcador apenas, como brancos ou negros, feminino ou masculino. Logo, não existem elementos únicos ou superiores de certas identidades sobre outras. O multiculturalismo tem como conceito central a identidade, que é pensada para além da essência, envolvendo construção. Ela é construída e reconstruída em vários espaços discursivos, sendo dividida em três: a identidade individual que é a de cada um; a coletiva que é quando um dos marcadores da identidade individual se junta a pessoas com o mesmo marcador e a institucional que é a de cada instituição, em que cada uma tem sua própria identidade, marcada por sua missão e projetos institucionais específicos O presente artigo, focará sua dissertação na abordagem critica e na pós- moderna, pois há um questionamento mais dinâmico das diferenças e das discriminações substituindo a visão do professor como conhecedor cultural por aquela de trabalhador cultural, ou seja: um agente cultural, que busca transformar relações desiguais e que cruza fronteiras culturais em seus discursos e práticas pedagógicas (Boyer-Baise & Gillette, 1998; citados por Canen & Oliveira, 2002). As praticas pedagógicas multiculturais devem ser pensadas como práticas que se constroem discursivamente, por causa de intenções voltadas ao desafio à construção das diferenças e dos preconceitos a ela relacionados. Por isso, este pode ser o caminho

4 central para a concepção de uma formação de professores multiculturalmente comprometidos (Canen & Oliveira,2002), na qual o respeito pelo Outro, não admite força, violência ou dominação; admite sim o diálogo, o reconhecimento e a negociação das diferenças. Logo, uma prática multiculturalemente orientada (Canen & Moreira, 2001), privilegia o diálogo, como elemento de sensibilização aos diferentes aspectos envolvidos na construção identitária, ou em questionamento a visões estereotipadas de grupos distintos. A educação multicultural pode ser caracterizada em duas dimensões: De um lado, a necessidade de promover a equidade educacional, valorizando as culturas dos alunos e colaborando para a superação do fracasso escolar. Por outro, a quebra de preconceitos contra aqueles percebidos como diferentes, de modo que se formem futuras gerações nos valores de respeito e apreciação á pluralidade cultural, e de desafio a discursos preconceituosos que constroem as diferenças (Canen & Oliveira, 2002). Perrenoud (2001) argumenta que a escola está acabando com as diferenças culturais e sociais, generalizando-as e estereotipando-as como desigualdades em relação ao rendimento escolar, por apresentarem aversão ao falar e respeitar tais discrepâncias, assumindo uma postura de indiferença pelas diferenças. Perrenoud acredita que é preciso abrir espaço para discussões e expor as diferenças, e não ocultá-las, como é de interesse de alguns. Considerar as diferenças é, então, colocar cada aluno diante de situações ótimas de aprendizagem. As pedagogias diferenciadas aceitam esse desafio e propõem inovações nas maneiras de resolver o problema. De acordo com Perrenoud (2001) atualmente, novas ferramentas estão sendo utilizadas para demonstrar que o fracasso escolar não é uma fatalidade: a pedagogia de suporte, a pedagogia diferenciada, a individualização dos percursos de formação, o ensino por ciclos, os estudos dirigidos e módulos no ensino médio, entre outras. Ou seja, o fracasso escolar pode ser combatido caso haja comprometimento e utilização de uma pedagogia de suporte para tal, uma pedagogia diferenciada para casos em que sejam necessárias atitudes especializadas, para alunos que precisam de uma atenção direcionada e individual. Mesmo que a educação fosse encarada de tal forma, nem sempre o sucesso é garantido. Assim sendo, os profissionais da educação acabam por se

5 decepcionarem com as inovações e tendem a voltar às antigas práticas. No entanto, essas iniciativas nem sempre produzem os resultados esperados e, às vezes, os professores se desestimulam e retornam ao ensino coletivo que tinham denunciado antes. Porém, as pedagogias diferenciadas não permitem isso, proporcionando a eles outras formas de atuação, propondo inovações para a resolução e saídas de tais problemas; pelo menos podemos minimizá-los, através de práticas dentro da sala de aula, com professores engajados para tais mudanças. É importante analisar que há muito tempo parte dos alunos encontra na escola uma cultura com a qual estão familiarizados, enquanto outros se sentem exilados. Todos os alunos participam de uma cultura que é adquirida com a sua família, seu bairro ou sua comunidade local, e sua classe social. Os alunos que cresceram entre livros e conversas intelectuais, ao entrarem na instituição escolar, só não estão familiarizados com as formas particulares dos trabalhos escolares e da relação pedagógica. No entanto as crianças que não cresceram nesse meio percorrem diversos obstáculos ao ingressarem na escola, porque nada faz sentido, nem os objetos, nem as atividades, até seu modo de falar é diferente do valorizado na escola. Quando um grupo compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas de utilização da linguagem. Em geral esta cultura valorizada na escola é a chamada por Perrenoud de cultura da elite sendo a das classes instruídas, cuja característica é visitar museus, teatros, a de leitura de grandes clássicos da literatura, e a freqüência a exposição de artes. Porém, esta cultura não passa de uma cultura entre outras, o que não impede que se reconheça que ela desempenha um papel dominante. Hoje, segundo Perrenoud (2001), a cultura de massa tem pouca relação com as culturas populares tradicionais. Sendo a cultura dos meios de comunicação de massa, dos programas de televisão assistidos pelo grande público, dos jogos, dos jornais populares. De acordo com Perrenoud (2001) alguns afirmam que a cultura de massa substituiu pura e simplesmente a cultura popular. Porém o mesmo argumenta que parece mais adequado dizer que a cultura popular ficou limitada à esfera cotidiana, à da família, do supermercado, das conversas de bar, das grandes multidões. Essa cultura popular freqüentemente está associada a indivíduos desempregados, com habitações precárias e falta de segurança.

6 A partir dessa analise apresentada acima, é possível concluir que o choque das culturas influenciam o fracasso escolar: as rejeições, as diferenças de costumes, os conflitos de valores contam tanto quanto o eventual elitismo dos conteúdos. Uma criança que se mantém limpa, que se dirige ao outro com educação, que é esforçada, que rejeita a violência, que mantém os livros sempre conservados, que tem capricho com suas coisas é uma criança apreciada na escola. No entanto, a criança que se mantém suja, cheirando mal, bagunceira, violenta, que fala palavrões, é uma criança rotulada pelos professores e colegas e desvalorizada no ambiente escolar. (Perrenoud, 2001) A distância não é somente cultural e social, é uma questão de afinidade e personalidade. Muitas vezes o que atribuímos ao caráter está relacionado com os valores, costumes e hábitos familiares. Para combater essa forma de elitismo Perrenoud (2001), propõem que é preciso interessar-se pelo trabalho escolar cotidiano, pela disciplina, pelos espaços e usos de tempos, língua, pela vestimenta, sendo necessário ir além da didática, é preciso formar professores capacitados a dominar a distância cultural para que a relação pedagógica e a gestão da sala de aula não sejam prejudicadas. Logo, é necessário que os professores, como educadores, contribuam para a formação de um sujeito que respeita o Outro e que sabe que é preciso valorizá-lo, e não apontá-lo como diferente e discriminá-lo, porque todos somos diferentes. Logo, com a formação de educadores baseada na pedagogia das diferenças e nas questões multiculturais os altos índices de fracassos escolares podem ser reduzidos. Por este motivo, é necessário uma formação de professores voltada para essas questões. Na qual, a Pedagogia das Diferenças e o Multiculturalismo devem ser temas tratados dentro do curso de formação de professores, uma vez que o maior desafio dos educadores é justamente promover uma educação de qualidade, visando o desenvolvimento pleno do aluno para que este obtenha sucesso. 2. Aspectos relevantes do estudo de caso, com alunos do oitavo período do curso de Pedagogia Conforme comentado anteriormente, foi realizado um estudo de caso de caráter qualitativo na qual, foi elaborado e distribuído um questionário com 12 (doze) perguntas para 30 (trinta) alunos do oitavo período de Pedagogia do ano de 2005 da UFRJ, contendo questões

7 referentes ao conteúdo abordado ao longo do curso, focando questões multiculturais e da pedagogia das diferenças. A análise de dados identificou que, de acordo com as respostas do questionário, é forte a presença de professores e alunos que possuem preconceitos em relação aos colegas e que a discriminação ainda está muito presente no ambiente escola, sendo necessário formar professores engajados em questões de valorização do Outro. De acordo com os discursos dos alunos do oitavo período, foi possível analisar que há muitos educadores que mantêm seu olhar sobre os educandos por aquilo que lhes falta, deixando de considerar os múltiplos marcadores identitários que desenham o ser humano. Os professores mencionados nas respostas compreenderam que há diversas formas de expressar e legitimar os preconceitos, que sempre contribuirão para a depreciação de um grupo cultural. Por este motivo, não devem, de forma alguma, encontrar lugar nas ações educacionais. Todos, ao discursarem sobre que atitude tomariam se escutassem um aluno rotulando o outro, demonstraram terem o conhecimento de que o diálogo é a melhor maneira de trabalhar os preconceitos, porque a partir do discurso podemos inserir conceitos de valorização e respeito ao Outro, questionando a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política, as formas de privilégio e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. É claro que não devemos nos limitar somente ao diálogo, sendo necessário ministrar atividades que favoreçam a internalização desses conceitos, para que os alunos respeitem a diversidade, questionando o monoculturalismo e evidenciando as contradições socioculturais, fazendo vir à tona as diferenças e as ausências de muitas vozes que foram caladas pelas metanarrativas da modernidade. Os alunos do oitavo período demonstraram ter conhecimento do que seja multiculturalismo e Pedagogia das diferenças, apesar de a última ser objeto de dúvidas, por não terem aprendido com profundidade. De acordo com as respostas, as questões multiculturais estão mais internalizadas do que as da Pedagogia das diferenças. 3. Considerações Finais

8 Dentre as diversas concepções de multiculturalismo na atualidade, o trabalho partiu do olhar do Multiculturalismo crítico, que questiona a origem das diferenças, criticando a exclusão social, política, e as formas de privilégio e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. Questiona o monoculturalismo e evidencia as contradições socioculturais, fazendo vir, à tona, as diferenças e as ausências de vozes culturais anteriormente silenciadas. O presente artigo argumenta que, o professor, como educador, necessita estar capacitado para oferecer, aos seus alunos, uma cultura básica comum, sem ignorar que, nas sociedades contemporâneas, vivemos diretamente com indivíduos diferentes, culturalmente, socialmente, etnicamente, etc. Enfim, precisamos saber lidar com a diversidade, olhando para o Outro com respeito. Por isso, foi utilizado como referencial teórico o Multiculturalismo e a Pedagogia das diferenças, uma vez que ambos tratam da valorização da diversidade. As idéias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial, comportamental, econômica, dentro de uma sociedade heterogênea. A Pedagogia das diferenças dedica-se ao ensino de forma que se possa atender às diferenças existentes dentro de sala de aula. Para tal, preconiza que é essencial um trabalho observativo e investigativo, de modo a que se possa interar-se das expectativas, dificuldades e motivações dos alunos, para pensar nas estratégias para agir. Considerar as diferenças, então, é colocar cada aluno diante de situações ótimas de aprendizagem. As pedagogias diferenciadas aceitam esse desafio e propõem inovações nas maneiras de resolvê-lo. Nós como futuros educadores, precisamos lutar, por uma educação que englobe valores de tolerância e respeito à pluralidade cultural, com a finalidade de combater qualquer tipo de exclusão, seja dentro ou fora da sala de aula, em um mundo eminentemente plural.

4. REFERÈNCIAS: 9 BELAS, José Luiz. Estudo de caso na prática educacional http://www.jlbelas.psc.br/texto15.htm. Acesso em: Julho de 2004. 1998. Disponível em: CANEN, Ana & MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa. Reflexões sobre o multiculturalismo na escola e na formação docente. In: CANEN, Ana; MOREIRA, A F B. (orgs.). Ênfases E Omissões no Currículo. São Paulo: Ed. Papirus, 2001. CANEN, Ana. Competência pedagógica e pluralidade cultural: eixo na formação de professores?. Cad. Pesq. n. 102 nov 1997. CANEN, Ana & OLIVEIRA, Ângela M. A. Multiculturalismo e currículo em ação: um estudo de caso. Revista Brasileira de Educação. Set/ Out/ Nov/ Dez nº 21, 2002. CANEN, Ana. Sentidos e dilemas do multiculturalismo: desafios curriculares para o novo milênio. In: LOPES, Alice Casimiro & MACEDO, Elizabeth. (orgs.).currículo: debates contemporâneos.2 vol.são Paulo: Cortez, 2002. PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos de uma sociologia do fracasso. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. PRAXEDES, Walter. A diversidade humana na escola: reconhecimento multiculturalismo e tolerância. Revista Acadêmica Novembro nº 42, 2004 Ano IV. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/042/42wlap.htm. Acesso em: Setembro de 2005. SIQUEIRA, Holgonsi Soares Gonçalves. Multiculturalismo: tolerância ou respeito pelo Outro?. Jornal a razão 26 de junho, 2003. Disponível em: http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/multicultura.html. Acesso em: Setembro de 2005.