ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA NAS SÉRIES INICIAS: UMA ABORDAGEM LÚDICA NO 4º ANO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Denis Rocha Calazans denisrc1@yahoo.com.br Alicia Caroline de Lima Silva aliciacaroline25@gmail.com Ana Beatriz Araújo da Silva ana.btz.araujo@gmail.com RESUMO O ensino de cartografia é um desafio para os professores da Educação Básica, já que a formação inicial desses professores em geral não os prepara adequadamente para trabalhar com essa temática. E isso ocorre nos cursos de formação de professores de Geografia e de Pedagogia. Dessa forma, o trabalho com a alfabetização cartográfica é relegado a segundo plano, trabalhado de maneira superficial e pouco significativa, isso quando não é esquecida, simplesmente não trabalhada nas séries iniciais e até mesmo no Ensino Médio. A alfabetização cartográfica deve ser encarada da mesma forma que a alfabetização para as letras e os números, pois ela possibilita a comunicação do aluno com o mundo através de sua leitura e de sua escrita, permitindo que o aluno relacione o mundo por ele construído às interpretações simbólicas que o cerca, propiciando a compreensão e a operacionalização espacial. Diante dessa realidade, foi criado um projeto de extensão, visando contribuir com o processo de alfabetização cartográfica de alunos de 4º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Orlando Araújo, na cidade de Maceió. O trabalho objetivou levar a elas o ensino de cartografia através de atividades lúdicas, centrado em um aprendizado significativo, auxiliando a formação de sujeitos capazes de interpretar e pensar criticamente o espaço geográfico. A execução de trabalho ficou a cargo do professor coordenador e das bolsistas, auxiliados pela professora regente. Os executores elaboraram atividades para trabalhar as questões de lateralidade, orientação, localização e regionalização do Brasil. Todas as atividades foram baseadas no princípio da ludicidade, buscando despertar nos alunos fundamentos do trabalho em grupo e da cooperação, além de estimular a produção do próprio conhecimento. A primeira etapa trabalhou os princípios de lateralidade e orientação e localização. A segunda se constituiu da elaboração de cinco mapas do Brasil, formando um quebra cabeça das regiões do IBGE. Cada mapa possuía uma cor diferente. Na terceira etapa os alunos deveriam montar o mapa, mas para conseguir as peças do quebra cabeça os alunos deveriam utilizar os princípios de orientação e localização. Cada grupo montou um mapa de uma só cor. Após a finalização do mapa eles foram estimulados a trocar regiões com os outros grupos e montar um mapa com uma região de cada cor. Por fim, os alunos fizeram a identificação das regiões e dos estados brasileiros. A realização desse trabalho promoveu a socialização dos alunos, o trabalho em equipe, estimulou o aprendizado e estimulou a participação dos alunos nas aulas. PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização Cartográfica. Aprendizagem significativa. Atividades lúdicas. 1 A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA A aprendizagem da linguagem cartográfica tem sido deixada de lado nas séries iniciais, fazendo o ensino da cartografia se restringir a colorir mapas e coisas do gênero (PISSINATI e ARCHELA, 2007). Porém, é preciso perceber que a 1
cartografia deve ir muito além. Já que por meio dela o aluno começa a perceber de forma mais clara tudo o que está a sua volta, de uma forma que o leva a se situar no espaço e saber, por meio da leitura do mapa, se localizar e entender o meio que o cerca, podendo, dessa forma, interagir e transformar. Assim, é importante que a cartografia seja inserida na vida dos indivíduos desde as séries menores do ensino fundamental, ou seja, que a alfabetização cartográfica seja somada à alfabetização para os números e as letras (PASSINI, 2012). É preciso fazer com que o aluno consiga compreender que a disciplina de geografia faz parte do seu cotidiano do mesmo jeito que todas as outras disciplinas. E para isso deve ser feita uma relação entre o que o aluno aprende em sala de aula e o que ele vive fora dela. Caso contrário, os alunos que não forem alfabetizados cartograficamente provavelmente apresentarão dificuldades para compreender as informações de um mapa, a direção norte, sul, leste, oeste ou simplesmente direita e esquerda. Saber ler um mapa, vai além de apenas saber dizer onde se localizam as coisas, um lugar, envolve tudo o que está a nossa volta. Envolve todas as disciplinas, pois a Geografia não é apenas uma disciplina que nos diz o nome dos países. A Geografia, e nesse caso a cartografia, possui um caráter interdisciplinar e multidisciplinar, tangenciando vários outros componentes curriculares. Portanto, alfabetizar cartograficamente é uma necessidade, pois sem esse conhecimento o aluno terá dificuldade de se sentir inserido no contexto espacial, faltando-lhe o sentido de pertencimento, tão importante para a ação sobre o espaço geográfico (OLIVEIRA e WANKLER, 2008). No entanto, a formação inicial dos professores de Geografia e Pedagogia não os capacita adequadamente para trabalhar com cartografia. Essa realidade foi constatada por Abreu e Carneiro (2006) que pesquisaram a formação de acadêmicos de Geografia em Pernambuco e concluíram que 90% dos formandos não sabia calcular uma distância em um mapa e que a maioria dos professores das series iniciais pulavam o assunto de cartografia. Castrogiovanni (2000) reforça essa realidade quando afirma que um dos primeiros problemas enfrentados pela escola na promoção da alfabetização cartográfica é que o professor que trabalha com Geografia, sendo formado especificamente na área ou não, não foi alfabetizado cartograficamente, portanto 2
seu conhecimento sobre o ensino de cartografia é baseado na repetição do que aprendeu na faculdade ou na memória de sua própria formação nas séries iniciais. Dessa forma, surgiu a ideia de levar a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Orlando Araújo, na cidade de Maceió, o projeto de alfabetização cartográfica com alunos do 4º ano da Educação Básica. O trabalho buscou também contribuir com o professor regente, apresentando alternativas metodológicas a sua prática pedagógica. 2 OBJETIVOS O objetivo principal desse trabalho foi levar a alfabetização cartográfica a alunos do 4º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Orlando Araújo, na cidade de Maceió, contribuindo com sua formação e sua autonomia. Para isso foi desenvolvido na escola um conjunto de atividades voltadas para a alfabetização cartográfica, sempre amparada pelo princípio da ludicidade. As atividades foram elaboradas pelos integrantes do projeto, sob a orientação do coordenador, e apresentadas a professora regente da escola parceira. O desenvolvimento de cada atividade teve como objetivo, além do ensino e da alfabetização cartográfica e da aprendizagem significativa, elaborar materiais, estratégias e metodologias que contribuíssem com as práticas da professora regente e despertar nos alunos o sentido de cooperação e respeito. 3 METODOLOGIA A realização desse trabalho teve início com uma revisão bibliográfica que indicou problemas relativos a alfabetização cartográfica nas escolas brasileiras e forneceu subsídios teóricos sobre a problemática abordada. Optou-se, nesse caso, por uma metodologia participativa (MOREIRA e CALEFFE, 2006), utilizando a técnica da observação participante, seguindo as orientações de Marconi e Lakatos (2005), na qual o pesquisador interfere e interage diretamente no e com o grupo pesquisado. A consecução das atividades foi dividida em etapas e organizadas em uma sequência que permitisse o acesse ao local onde o trabalho foi desenvolvido e a 3
elaboração de material específico fora desse ambiente, evitando, dessa forma, interferir no andamento das atividades normais da professora regente. A primeira etapa foi a apresentação do projeto ao diretor da escola, a coordenadora e a professora regente, no intuito de conseguir aprovação para a execução. Depois o projeto foi apresentado aos alunos. Em seguida foram montadas oficinas com os bolsistas para o desenvolvimento de conceitos e de materiais cartográficos voltados para a alfabetização cartográfica. Logo após essa etapa, foram realizadas atividades lúdicas de aplicação desses conceitos e utilização dos materiais produzidos. Para coletar dados sobre a eficácia do trabalho foi aplicado com os alunos um questionário inicial para levantar informações sobre os conhecimentos cartográficos e um outro questionário com a professora regente, com o intuito de entender como ela trabalha a cartografia com seus alunos. 4 RESULTADOS A primeira atividade realizada se baseou no trabalho de lateralidade, estimulando os alunos a identificar as direções direita e esquerda, à frente e atrás, acima e abaixo. Essa atividade antecipou o trabalho com os pontos cardeais. Os alunos foram levados a se movimentar pela sala obedecendo a comandos que determinavam o número de passos e a direção a ser seguida. A segunda atividade foi a elaboração de cinco mapas políticos do Brasil de cores diferentes, feito em material emborrachado. Esses mapas foram recortados e separados em cinco partes, cada uma delas correspondendo a uma das regiões do país (Figura 1 e 2). Além disso, foram elaboradas cinco mascaras (Figura 3), para que os alunos executassem os comandos sem o uso da visão. Fonte: os autores 4
A terceira atividade foi realizada em sala de aula. Nela, os alunos foram divididos em cinco grupos e identificados cada um por uma cor referente a um dos mapas; cada grupo deveria encontrar as partes do mapa de sua cor, guiando um dos membros do grupo, com os olhos cobertos pela máscara, com as direções necessárias para chegar ao local específico (Figura 4). A cada jogada a disposição das bancas no meio da sala era alterada, criando um novo labirinto, bem como o local em que a parte do mapa se encontrava (Figura 5). Na quarta atividade, os alunos montaram os mapas e identificaram as regiões e os estados, colocando sobre eles um pequeno retângulo com a sigla respectiva (Figura 6). Esse mapa se apresentava todas as regiões de uma só cor. Por fim, os grupos foram orientados a negociar entre si e montar um mapa com uma região de cada cor (Figura 7). Esse trabalho exigiu a interação de todos, para que no final todos os mapas estivessem coloridos e completos (Figura 8). A realização dessas atividades ocorreu no primeiro semestre de 2016 e tende a se estender pelo segundo semestre do mesmo ano, com a execução de novas 5
atividades. Os resultados obtidos são animadores e mostram que as atividades podem e dever ser replicadas em outras turmas. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalhar com alfabetização cartográfica nas séries iniciais é um desafio para os professores regentes, principalmente se estes não foram preparados, na sua formação inicial, para alfabetizar cartograficamente. O desenvolvimento desse projeto pôde contribuir com a formação acadêmica dos alunos e com a prática da professora regente. No caso dos alunos, tornou as aulas mais dinâmicas e criou uma nova perspectiva em relação ao estudo de Geografia. No caso da professora, propiciou uma reflexão sobre sua prática docente, além da aquisição de novos conhecimentos. O ensino de cartografia através de atividades lúdicas se mostrou muito eficiente, pois proporcionou motivação, engajamento, interesse, socialização e aprendizado aos alunos. REFERÊNCIAS ABREU, P. R. F.; CARNEIRO, A. F. T. A Educação Cartográfica na formação de Professores de Pernambuco. Revista Brasileira de Cartografia, nº58/01, p. 43-48, abril, 2006. CASTROGIOVANNI, A. C. Apreensão e compreensão do espaço geográfico. In: CASTROGIOVANNI, A. C. (Org.); CALLAI, H. C.; KAERCHER, N. A. Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2005. MOREIRA, H.; CALEFFE, L. G. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. OLIVEIRA, A. K. P.; WANKLER, F. L. Alfabetização cartográfica na escola: uma leitura feita através dos mapas. Revista Acta Geográfica, ano II, n. 4, p.55-65, jul/dez, 2008. PASSINI, E. Y. Alfabetização cartográfica e a aprendizagem de geografia. São Paulo: CORTEZ, 2012. Pissinati, M. C.; ARCHELA, R. S. Fundamentos da alfabetização cartográfica no ensino de geografia. Geografia, v. 16, n. 1, p. 169-195, jan/jun, 2007. 6