OS CONHECIMENTOS CARTOGRÁFICOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UM ESTUDO DE CASO COM ALUNOS DO 5º ANO

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1 OS CONHECIMENTOS CARTOGRÁFICOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UM ESTUDO DE CASO COM ALUNOS DO 5º ANO Aline Beatriz Ludwig Universidade Federal de Santa Catarina Rosa Elisabete Militz Wypyczynski Martins Professora do Departamento de Geografia da UDESC Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC RESUMO: Este trabalho resulta de parte dos estudos de uma pesquisa de Mestrado em Geografia em andamento na Universidade Federal de Santa Catarina. Nosso objetivo é compreender como os alunos expressam seu entendimento do espaço geográfico por meio da linguagem cartográfica em suas representações e também contribuir com o processo de aprendizagem das crianças, principalmente no que se refere ao entendimento do espaço geográfico. Nos anos iniciais tem-se como meta principal alfabetizar as crianças para a escrita e leitura das palavras, no entanto, entendemos também que juntamente com a alfabetização das palavras deve ocorrer a alfabetização da linguagem cartográfica. As autoras, Simielli (2013), Almeida & Passini (2015), Passini (2012), Almeida (2011), Oliveira (2010) Francischet (2010), Callai (2010). defendem que a introdução dos conhecimentos cartográficos no ensino formal, seja feito desde os primeiros anos de escolaridade. No entanto, ainda há muitos desafios a serem superados no que se refere à cartografia escolar, as crianças chegam ao quinto ano do ensino fundamental sem a construção das noções e das elaborações conceituais que corresponderiam à alfabetização cartográfica (CASTROGIOVANNI, 2010). Neste sentido, que propomos a aplicação de uma atividade para alunos do 5º ano de escola pública, esta proposta consiste na elaboração de mapas mentais. Estas representações serão analisadas com base na metodologia proposta por Kozel (2001). A partir destes resultados, esperamos compreender como as crianças expressam seu entendimento do espaço geográfico por meio de suas representações e observar as possíveis dificuldades apresentadas pelos alunos durante a atividade. 1

2 Palavras-chave: Ensino de Geografia, Cartografia Escolar, Alfabetização Cartográfica. INTRODUÇÃO Ao refletirmos sobre a importância do conhecimento geográfico na vida das pessoas é inevitável nos questionarmos sobre as reais contribuições da Geografia escolar na formação do cidadão. O conhecimento geográfico permite que o aluno conheça, analise e interprete o espaço geográfico em suas diferentes escalas. Ao estudar as interações homem/natureza o aluno deve perceber-se como sujeito pertencente à sociedade, capaz de modificar e transformar o espaço. Partindo da observação do meio mais próximo do aluno, da sua localização, onde serão construídos os conceitos que permitirão à criança compreender sua realidade e transformá-la. Essa capacidade de observação já existe na criança antes de sua vida escolar, registrada pela experiência acumulada e se constitui num rico material a ser explorado pelo professor. Ao valorizar as informações levadas para a aula, pelas crianças, do ambiente rural ou urbano, de baixa renda ou das classes médias, o professor irá construir uma visão mais abrangente, incluindo diferentes formas da criança aprender o significado do mundo. No ensino formal os conhecimentos geográficos estão presentes desde os primeiros anos do ensino fundamental, devem ser estimulados desde cedo nas crianças, pois elas também são sujeitos do espaço geográfico, interagem e tem suas próprias concepções de mundo, ainda que de forma limitada. A partir dos estudos da Sociologia da Infância, é preciso entender que a criança é também um ser humano do hoje, do presente, e não apenas algo que ela poderá vir a ser, precisa ser compreendida a partir de si mesma e do seu próprio contexto. Um sujeito social, que não está passivo em seu processo de socialização, faz história e produz cultura. Para Sarmento (2008) as crianças são produtores culturais, e por meio destas culturas da infância exprimem os modos diferenciados através dos quais as crianças 2

3 interpretam, simbolizam e comunicam as suas percepções do mundo, interagem com outras crianças e com os adultos e desenvolvem a sua ação no espaço público e privado. Os anos iniciais se caracterizam pelo processo de alfabetização da escrita e da leitura das palavras, na Geografia não é diferente, assim como nas demais ciências. Todo conhecimento deve fazer parte da alfabetização que não se esgota nos dois primeiros anos do ensino fundamental. É preciso que a escola considere o estágio de desenvolvimento das crianças e a percepção que elas têm do mundo, possibilitando varias formas de aprender. Entendemos a Geografia como um meio de enriquecer este processo de alfabetização porque é no espaço geográfico que as crianças têm as múltiplas possibilidades de perceber a realidade. É no espaço geográfico que as crianças buscam e encontram os símbolos e os seus significados. Ler e escrever em Geografia não é apenas se localizar e descrever, mas compreender as dinâmicas da organização espacial nos seus mais diversos aspectos, seja econômico, social, físico, entre outros. Callai (2003) acrescenta que a disciplina de Geografia deve fornecer aos alunos condições necessárias para a leitura do mundo que os rodeia, instrumentalizando-os a reconhecer os mecanismos que geram as mudanças no espaço. Ressaltando a importância do ensino de Geografia nos dias atuais, Cavalcanti (1998, p.24) destaca o valor do desenvolvimento do raciocínio espacial por parte dos alunos; da disciplina possibilitar o desenvolvimento de modos do pensamento geográfico. Ela afirma ainda que O ensino de Geografia deve visar ao desenvolvimento da capacidade de apreensão da realidade do ponto de vista da sua espacialidade. Isso porque se tem a convicção de que a prática da cidadania, sobretudo nesta virada de século, requer uma consciência espacial. [...]. A Geografia deve proporcionar a construção de conceitos que possibilite ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com responsabilidade. Esse 3

4 presente não pode ser visto como algo parado, estático, mas sim em constante movimento. OS CONHECIMENTOS CARTOGRÁFICOS NOS ANOS INICIAIS Há um consenso entre autores, Callai (2003), Cavalcanti (1998), Kaercher (2012), de que a geografia contribui para formação da cidadania. No entanto, Cavalcanti (1998), Kaercher (2012) acrescentam que a prática da cidadania requer uma consciência espacial e esta deve ser construída no decurso da formação humana, incluindo a formação escolar. Do simples deslocamento diário dos indivíduos ou por outras questões mais complexas, a consciência espacial se apresenta como essencial a existência do homem. A consciência espacial mencionada refere-se ao entendimento do espaço, onde estamos inseridos, elemento de nossa organização social. Para tal entendimento do espaço e um ensino de geografia de forma efetiva, fazem-se necessários os conhecimentos cartográficos. Nesse sentido, Francischett (2002, p. 42) destaca a importância em apreender alguns conceitos cartográficos: A Cartografia, no contexto do ensino da Geografia, baseia-se na aprendizagem de conceitos básicos como: representação espacial, mapas cartas, plantas, fotografias aéreas, imagens de satélite e globo. A compreensão destes conceitos é importante para o entendimento do espaço. No nosso entendimento, um ensino de geografia de forma significativa necessariamente pressupõe a compreensão dos conhecimentos cartográficos, visto que a ciência geográfica se utiliza dos conhecimentos cartográficos para que as informações levantadas por ela sejam representadas de modo sistematizado, possibilitando, assim, uma visão ampla da distribuição espacial e das relações entre os fenômenos geográficos, facilitando sua compreensão. Neste sentido são muito claras as palavras de Passini (2007, p. 148): O ensino de Geografia e o de Cartografia são indissociáveis e complementares: a primeira é conteúdo e a outra é forma. Não há possibilidade de se estudar o espaço sem representá-lo, assim como não podemos representar um espaço vazio de informação. 4

5 Os conhecimentos cartográficos estão permeados na Geografia Escolar durante todo o ensino básico. Estes por sua vez vão muito além de uma técnica e um conjunto de conteúdos, deve ser compreendida como uma linguagem, pois ela constituída de símbolos e significados; uma linguagem gráfica que constrói, reconstrói e acima de tudo expressa informações. Aplicada na escola, os conhecimentos cartográficos tem a função de auxiliar na aprendizagem espacial de crianças e adolescentes para a compreensão das formas pelas quais a sociedade organiza seu espaço (ALMEIDA; PASSINI, 2015). Essas autoras também destacam que a orientação, localização e representação devem ser desenvolvidas e aprofundadas desde os anos iniciais do ensino fundamental, pois são essenciais ao entendimento dos conhecimentos geográficos. Estudar a linguagem cartográfica desde os primeiros anos escolares possibilita à criança desenvolver a percepção do seu espaço de vivência, para mais tarde ter capacidades cognitivas mais complexas sobre suas aplicações e possibilidades de entendimento do espaço. No entanto, Katuta (2012) alerta a alguns equívocos, é preciso conceber a alfabetização de forma mais ampla, esse processo não deve ser entendido como mera decodificação das convenções e do alfabeto cartográfico. Equivoca-se quem defende que o aluno será leitor de mapas se apenas construí-los (KATUTA, 2012, pg. 138). Para autora supracitada, não basta à criança desvendar o universo simbólico dos mapas, é necessário criar condições para que o aluno seja leitor crítico de mapas ou um mapeador consciente. Desta forma, a iniciação aos conhecimentos cartográficos deve acontecer gradualmente por meio de um processo de alfabetização desde os primeiros anos escolares das crianças. Nas palavras de Passini (1994, p. 26), A Educação Cartográfica ou alfabetização para a leitura de mapas deve ser considerada tão importante quanto à alfabetização para a leitura da escrita, [...] significa preparar o aluno para fazer e ler mapas. 5

6 Do exposto até o momento consideramos os conhecimentos cartográficos são de fundamental importância, pois tais atividades fazem parte do processo de ensinoaprendizagem que os alunos do ensino fundamental devem vivenciar para tornarem-se aptos a elaborar e interpretar mapas, além disso, desenvolverem habilidades e capacidades na leitura do espaço geográfico. Passini (2012) denomina esse processo de iniciação de Alfabetização Cartográfica, como uma metodologia que estuda os processos de construção dos conhecimentos conceituais e procedimentais que desenvolvam habilidades para que o aluno possa fazer as leituras do mundo por meio das suas representações. Para a mesma autora este processo, tem como proposta metodológica fundamental a formação do sujeito: de produtor de mapas e gráficos e leitor eficientes dessas representações. Essa vivência possibilita ao aluno ressignificar o espaço de sua vivência, avançando do conhecimento espontâneo ao conhecimento sistematizado (2012). METODOLOGIA E OBJETIVOS A apreensão do espaço, assim como suas representações (mapas, gráficos, entre outros), são indispensáveis ao aprendizado dos temas relacionados à Geografia. A Alfabetização Cartográfica é iniciada a partir da construção da noção de espaço pela criança, por meio de um processo no qual ela elabora conceitos espaciais a partir de sua interação em seu meio, desta forma a criança perceberá o seu espaço de ação antes de representá- lo, e, ao representá-lo usará símbolos (ALMEIDA; PASSINI, 2015). Neste sentido propomos a elaboração de mapas mentais (o recorte espacial será acordado juntamente com a professora) com o objetivo de compreender como os alunos expressam seu entendimento do espaço geográfico por meio da linguagem cartográfica em suas representações e também contribuir com o processo de aprendizagem das crianças, principalmente no que se refere ao entendimento do espaço geográfico. Elegemos esta estratégia pedagógica, por compartilhar do entendimento de Kozel (2010) sobre mapas mentais, segundo essa autora as representações provenientes 6

7 das imagens mentais não existem dissociadas do processo de leitura que se faz do mundo. E nesse aspecto os mapas mentais são considerados como uma representação do mundo real visto através do olhar particular de um ser humano, passando por seu aporte cognitivo, sua visão de mundo e intencionalidades. Considerando os alunos enquanto agentes de representações, a mesma autora alega que os mapas mentais podem ser elaborados com objetivos variados, com o intuito de desvendar trajetos, lugares, conceitos e idéias. (KOZEL, 2010, p.5). A leitura e interpretação dos mapas mentais será baseada na metodologia proposta por Kozel (2001), com possibilidade de acréscimo de itens de análise, devido às especificações que possam surgir nas representações. A atividade será direcionada ao 5º ano do ensino fundamental de escola pública por acreditarmos que estes já tenham tido uma iniciação cartográfica formal nos anos anteriores e por estarem finalizando um ciclo de aprendizagem. Baseada na idéia de que o aluno deve construir noções espaciais através de ações no espaço conhecido, esta estratégia pedagógica serve de base para se explorar elementos do espaço vivido (exemplo sala de aula) - para o espaço representado (mapa mental); as relações espaciais dos objetos em função de um ponto de referência; desses objetos entre si; e dos mesmos em relação aos sujeitos (alunos). RESULTADOS PRELIMINARES A partir dos resultados esperamos contribuir para as discussões a cerca da temática, assim como analisar a importância dos conhecimentos cartográficos nos anos iniciais do ensino fundamental I, compreender como as crianças expressam seu entendimento do espaço geográfico por meio de suas representações e observar as possíveis dificuldades apresentadas pelos alunos durante a atividade. A utilização deste recurso não se encerra na sua construção, podendo ser explorado de diversas formas. Propor atividades que envolvam o espaço real com a representação. Dessa forma, irá transferir as suas relações espaciais para a representação construída em sala de aula. 7

8 REFERÊNCIAS ALMEIDA R. D. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, ALMEIDA, R.; PASSINI, Elza Y. O espaço geográfico: ensino e representação. São Paulo: Contexto, ARCHELA, Rosely S. Imagem e representação gráfica. Geografia, Londrina, v. 8, n. 1, p. 5-11, jan./jun CAVALCANTI, Lana de S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Papirus, CALLAI, H. C. Do Ensinar Geografia ao produzir o pensamento geográfico. In: REGO, N. et al. Um pouco do mundo cabe nas mãos; geografizando em educação o local e o global. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p CALLAI, Helena C. A Geografia ensinada: os desafios de uma educação geográfica. In: MORAIS, E. M.; MORAES, L. B. Formação de professores: conteúdos e metodologia no ensino de Geografia. Goiânia: NEPEG/Vieira, p CASTROGIOVANNI. Antonio C. Apreensão e compreensão do espaço Geográfico. In: ; CALLAI, Helena C.; KAERCHER. Nestor A. (Orgs.). Ensino da Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 7. ed. Porto Alegre: Mediação, p FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. A cartografia no ensino de geografia: abordagens metodológicas para o entendimento da representação. Cascavel: EDUNIOESTE, A Cartografia no ensino da Geografia: construindo os caminhos do cotidiano. Rio de Janeiro: Kroart, A Cartografia no ensino de Geografia: aprendizagem mediada. Cascavel: EDUNIOESTE, KAERCHER, N. A. O gato comeu a geografia crítica? Alguns obstáculos a superar no ensino-aprendizagem de geografia. In: PONTUSCHKA, N.N; OLIVEIRA, A. U. de (Orgs.) Geografia em Perspectiva: ensino e pesquisa. 3ª Ed., São Paulo: Contexto, p KATUTA, Ângela M. A linguagem cartográfica no ensino superior e básico. In: PONTUSCHKA, Nídia N.; OLIVEIRA, Ariovaldo U. (Orgs.). Geografia em perspectiva: ensino e pesquisa. São Paulo: Contexto,

9 KOZEL, Salete. Representação do espaço, sob a ótica dos conceitos: mundo vivido e o dialogismo. In: Encontro Nacional dos Geógrafos, 16º, Porto Alegre, Anais, p.11.. Das imagens às linguagens do geográfico: Curitiba a capital ecológica. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo USP: São Paulo, OLIVEIRA, Lívia de. Estudo Cognitivo do mapa. In: ALMEIDA, Rosângela Doin de. Cartografia escolar. 2ed. São Paulo, Contexto PASSINI, Elza Yasuko. Alfabetização cartográfica e a aprendizagem de Geografia. 1ª.ed.-São Paulo: Cortez, Alfabetização Cartográfica e o livro didático: uma análise crítica. Belo Horizonte: Lê, SARMENTO, Manuel Jacinto. Sociologia da Infância: correntes e confluências. In: SARMENTO, Manuel Jacinto; GOUVEA, Maria Cristina Soares de (Orgs). Estudos da infância: educação e praticas sociais. Petrópolis: Vozes, p SIMIELLI, Maria E. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, Ana Fani A. (org.). A Geografia em sala de aula. São Paulo: Contexto, p (Repensando o Ensino). 9