A INCLUSÃO DO JOVEM BRASILEIRO NO MERCADO DE TRABALHO



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Transcrição:

A INCLUSÃO DO JOVEM BRASILEIRO NO MERCADO DE TRABALHO Luciany Oliveira Ferraz UNINOVE luciany.oferraz@sp.senac.br Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar uma reflexão sobre os jovens estudantes do ensino médio que enfrentam dilemas entre educação e trabalho. A necessidade da inserção prematura ao mercado de trabalho compromete a dedicação e a motivação aos estudos, mesmo que os jovens compreendam que a educação é fundamental para a empregabilidade. Palavras-chaves: Jovem.Educação.Trabalho. Introdução O objeto de estudo deste trabalho está direcionado em analisar os dilemas dos jovens estudantes do ensino médio ao ingressar no mercado de trabalho. O principal desafio foi compreender os conflitos gerados no primeiro emprego, principalmente com a conciliação entre trabalho e escola, pois mesmo compreendendo que a educação é fundamental para a empregabilidade, o cansaço e a exigência da jornada de trabalho influenciam para que este jovem questione a importância do ensino médio para esta nova realidade, podendo esta análise resultar na desmotivação ou evasão escolar. Nas famílias que vivem em condições socioeconômicas precárias, identificamos a necessidade de inserir prematuramente os jovens no mercado de trabalho, e o incentivo familiar é direcionado para sobrevivência e aumento da renda familiar através do trabalho, deixando a educação e qualificação profissional em segundo plano. Nas análises das políticas educacionais encontramos divergências do recorte etário direcionado ao público juvenil, esta realidade proporciona a pluralidade da situação socioeconômica do jovem brasileiro, comprometendo o acompanhamento e desenvolvimento dos indicadores sociais dos jovens.

Os suportes teóricos que sustentam as reflexões propostas estão em autores como CHARLOT, SPOSITO e MORAES, que contribuíram para a perspectiva metodológica e ao referencial deste trabalho. As reflexões deste trabalho encerram-se com as conclusões finais, onde através do desenvolvimento do referencial teórico expressam os dilemas enfrentados pelo jovem estudante do ensino médio e trabalhador. 1 - O que é ser jovem? Conceitos e Contradições. A definição simplificadora de juventude seria considerá-la apenas uma etapa de preparação para a vida adulta, mas este tema apresenta múltiplas considerações. A maioria dos estudos sobre juventude reflete um dilema conceitual, não existe confluência nos estudos teóricos, na classificação etária e nas pesquisas empíricas. Para Bourdieu, a juventude é apenas uma palavra, uma tipologia manipuladora. o fato de falar dos jovens como se fosse uma unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses em comuns, e relacionar estes interesses a uma idade definida biologicamente já constitui uma manipulação evidente (Bourdieu 1978, p113). No contexto histórico, no inicio do século XX os jovens não formavam uma categoria social, socializavam apenas com outras gerações, sendo treinados por adultos e posteriormente, passaram a ser afastados da vida social e segregados em escolas, com o objetivo de aprender as normas e regras da vida em sociedade, e a partir de então estrutura-se uma categoria social específica (GALLAND, 1997). Para Abramo a compreensão dos jovens como sujeitos de direitos, emerge apenas nos anos 90 devido ao desenvolvimento das mobilizações sociais e políticas (ABRAMO, 2005).

Na análise sobre a natureza demográfica do jovem brasileiro, encontramos divergências no recorte etário, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, considerou no senso de 2010-2011 como população jovem pessoas com idade entre 15 a 24 anos, a Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), desde 2005 descreve o público jovem em subgrupos etários de 15 a 29 anos para favorecimento das políticas públicas, classificando o jovem brasileiro em: de 15 a 17 anos (jovem-adolescente); 18 a 24 anos (jovem-jovem) e 25 a 29 anos (jovem-adulto). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no art.2 considera como criança, para efeitos legais, a pessoa de até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos, e nos casos excepcionais, mas expressos em lei o Estatuto poderá ser utilizado para pessoas entre dezoito e vinte e um anos (ECA, 1994). A divergência do recorte etário está presente nas legislações, pesquisas, programas e políticas públicas direcionadas ao público juvenil, promovendo a pluralidade da situação socioeconômica do jovem brasileiro, comprometendo o acompanhamento e desenvolvimento dos indicadores sociais da juventude pelo poder público. 2 - O perfil do jovem brasileiro A juventude é um dos grandes desafios do país, muitos jovens ainda abandonam a escola comprometendo sua inserção no mercado do trabalho, tornam-se pais e mães, coabitando com familiares e dependendo financeiramente destes ou do Estado. Em busca de sobrevivência e renda familiar este jovem começa a dedicar-se ao trabalho comprometendo seus estudos. De acordo com os dados de Projeção Populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na revisão de 2008 apontam que em 2007 os jovens brasileiros com idade entre 15 e 29 anos somavam 50,2 milhões de pessoas com projeção de 51,3 milhões para 2010. As projeções indicam que a tendência de crescimento da população jovem deverá se reverter, havendo uma redução progressiva no número de jovens absolutos no Brasil, que chegará em 2050 em torno de 49,5 milhões. O processo de envelhecimento do país está refletindo no número total de jovens, a pesquisa realizada pelo Instituto Cidadania em 2003 aponta a condição socioeconômica do país como responsável no impacto da redução da população jovem no Brasil, mas

quando analisamos os índices de morte por violência no país os jovens lideram este ranking, sendo um reflexo da violência envolvida na busca pela sobrevivência (IBGE, 2008). Para fortalecer esta afirmação, de acordo com os dados de 2007 da Pesquisa Nacional por amostra de Domicílio (PNAD) - IBGE, 30% dos jovens brasileiros podem ser considerados pobres, pois vivem em famílias com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo, 15% é oriundo de famílias com renda domiciliar per capita superior a dois salários mínimos e 53% possuem renda entre meio e dois salário mínimos. A distribuição dos jovens brasileiros está equilibrada na categoria sexo, mas nos índices de pobreza as mulheres estão 53% acima dos homens. Por outro lado observa-se que os jovens de família de baixa renda estão concentrados na região Nordeste com 51,7% do total do país, com 19,3% constituída de famílias pobres da área rural. Nota-se, ainda, que os jovens pobres são majoritariamente não brancos com 70,9% (IBASE e Instituto Pólis, 2005). Analisando os índices acima podemos concluir que existe grande desigualdade social entre jovens brancos e negros em relação a sua origem regional, cor da pele e renda familiar mensal. A soma destes fatores estará impactando nas oportunidades sociais e culturais destes jovens, pois o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006 apontou em seu relatório que o número de jovens negros analfabetos é duas vezes maior que o total de jovens brancos analfabetos entre 15 e 29 anos, no ensino médio 58,7% dos jovens brancos estavam estudando, contra 39,3% jovens negros, no ensino superior a desigualdade é ainda maior onde 19,8% são de jovens estudantes brancos, enquanto para os negros é de apenas 6,9%. A desigualdade aumenta nos índices de saúde, mortalidade e de inserção no mercado de trabalho. Com a densidade de jovens no país, surge a demanda para desenvolver as políticas da juventude e apenas em 2005, surge a Secretaria Nacional da Juventude e o Conselho Nacional da Juventude, definidos como um programa de emergência voltado aos jovens entre 14 e 18 anos, que estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Em 2007 a Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), sugere uma reformulação das políticas nacionais vinculadas à educação, saúde, esporte e cultura, direcionadas aos jovens brasileiros, aumentando a escala de cobertura para jovens de 18 a 29 anos que não concluíram o ensino médio, não trabalham e vivem com renda per capita de meio salário mínimo, esta alteração deu origem a um único programa titulado de Pró Jovem

Integrado, com gestão compartilhada entre a Secretaria Nacional da Juventude e os ministérios federais envolvidos (IPEA, 2009). No país existe a necessidade e demanda para o desenvolvimento de uma política nacional de juventude, para que esta possa beneficiar efetivamente os jovens brasileiros principalmente os socialmente vulneráveis. As atuações públicas devem deixar de desenvolver um papel emergencial, mas sim funcional, para que os jovens consigam através da aprendizagem e qualidade de vida, inserção no mercado de trabalho, como um agente social ativo. 3 - Políticas públicas para o jovem brasileiro: A sociedade reconhece o jovem como um agente social, sujeito a direitos e deveres, mas quando analisamos as políticas públicas brasileiras identificamos a necessidade de inserir o jovem neste contexto, desde a esfera municipal à federal, esta situação do país reflete de forma preocupante a falta de investimento na juventude no Brasil, evidenciando as taxas de evasão escolar, mortalidade, déficit educacional e a falta de oportunidades no mundo do trabalho. O desenvolvimento do país será um reflexo do resultado econômico e social dos jovens brasileiros, a falta de políticas públicas de desenvolvimento da juventude estará refletindo nas perspectivas de desenvolvimento nacional. A juventude esta contemplada na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, mas não ocorre explicitamente uma menção aos direitos dos jovens, gerando uma invisibilidade e margem de interpretação. Em consequência, a Organização das Nações Unidas ONU, recomenda que a progressão dos direitos humanos fosse especificada por faixa etária, e que os países aplicassem políticas integradas a juventude, que estabeleçam vínculos com o Programa Mundial de Ação para a Juventude (PMAJ), e que dedicasse atenção especial aos direitos dos jovens considerados vulneráveis (IPEA, 2009). Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA) de 2007, o jovem brasileiro entre 15 e 19 anos corresponde a 26,54% da população total, sendo 29,8% considerados jovens e pobres, aumentando a precariedade nos índices de saúde, educação e trabalho (IBGE, 2008). O jovem brasileiro representa 60,74% do total de desempregados no país, contribuindo para o aumento da vulnerabilidade econômica e social, o óbito por

violência vem aumentando a mortalidade entre os jovens, principalmente os do sexo masculino, pobres, negros, com baixa escolaridade e provenientes de famílias com baixa renda. Numa faixa etária entre 14 e 29 anos, as mortes violentas representaram em 2007, o percentual alarmante de 67,7% (IBGE, 2008). 4 Porque os jovens abandonam o ensino médio: A Constituição Federal de 1988 declara que a educação é direito de todos e dever do Estado, mesmo com a garantia de lei o acesso à escola pública ainda é preocupante o número de jovens brasileiros que não concluem ou abandonam o ensino fundamental e médio. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica nos artigos 205 e 206 repetem os conceitos da Constituição Federal, acrescentando os princípios da valorização da experiência extra-escolar, vinculação entre educação e trabalho e práticas sociais, sendo a educação um dever da família e do Estado, (LDB, 1996). A política educacional brasileira está fortemente orientada ao neoliberalismo, o país necessita adequar a educação às reais necessidades dos estudantes e de seus familiares, onde o rendimento para a sobrevivência é mais necessário que a educação. A pesquisa do IBGE de 2007 apontou que existem quase 1,5 milhões de analfabetos no país, um resultado influenciado pela idade, região demográfica, e restritas oportunidades de acesso a educação. O analfabetismo no Brasil é maior entre os jovens de 25 a 29 anos, pois representam 4,4% dos analfabetos do país, os jovens entre 18 e 24 anos com 2,4% e 1,6% com idades entre 15 a 17 anos. Outro resultado preocupante é que 32% dos jovens entre 15 e 17 anos ainda não concluíram o ensino fundamental e apenas 13% da população de 18 a 24 anos freqüenta a educação de ensino superior (IBGE, 2007). Segunda Charlot (1996), os fatores que fazem os jovens abandonar a escola são: a baixa qualidade do ensino público, a inadequação das escolas aos jovens das camadas populares, professores submetidos a trabalhos incompatíveis com a formação e o ensino público brasileiro ainda não garante aos seus alunos as condições necessárias para o desenvolvimento de uma relação pessoal significativa com o saber, tão relevante para o êxito da aprendizagem.

As argumentações de Charlot refletem as expectativas dos estudantes do ensino médio que ao ingressar no mundo do trabalho passam a ser críticos e questionam sobre contribuição da escola para a sua empregabilidade. O Instituo Unibanco, realizou uma pesquisa no estado de Minas Gerais, em 46 escolas públicas e ainda foi à residência de 600 jovens que largaram os estudos entre 2006 e 2009, com o objetivo de identificar os fatores intra e extraescolares responsáveis pelo abandono do ensino médio, os autores analisaram dados primários e secundários, bem como escutaram 3365 alunos sobre os motivos que levam os jovens a deixar de estudar, a pesquisa confirmou que o abandono do ensino médio está relacionado com: 23% condições socioeconômicas, 20% ao gênero masculino, 35% devido à gravidez, 77% por defasagem e atraso no decorrer nos anos letivos e 3,5% associam a escolaridade materna a permanência no ensino médio (Instituto Unibanco, 2010). O índice de abandono do ensino médio esta relacionado diretamente com a desmotivação do jovem, podendo ser gerada pela necessidade de trabalhar para ajudar a família, precariedade do ensino e defasagem da idade-série, o jovem não consegue associar uma aprendizagem significativa durante o ensino médio para motivá-lo a manter a jornada de trabalho e estudo. Segundo relatório do IPEA (2009), os jovens com 15 anos que não sabem ler ou escrever um bilhete simples, ainda se encontravam no patamar de 10% em 2007, é uma taxa elevada quando comparada aos países como: Uruguai, Argentina e Chile, cujas taxas variam entre 2% e 4%. A educação deve preparar cidadãos capazes de exercer seus direitos e deveres, onde através do conhecimento consigam construir uma vida digna e justa. 5 - A inserção do jovem no mercado de trabalho. A carência educacional do Brasil inibiu o desenvolvimento econômico em décadas, e está comprometendo a construção da infra-estrutura do país devido à falta de mão de obra qualificada. Segundo o jornal Estado de São Paulo, em duas décadas a China conseguiu matricular cerca de 20 milhões de jovens, superando os Estados Unidos com o número de 16 milhões de jovens. A maioria dos professores é formada nas melhores universidades do mundo, chegando à formação de 850 mil profissionais, contra 1,1 milhões dos Estados Unidos. Não podemos deixar de reconhecer o potencial dos investimentos educacionais da China, o país se tornará um competidor insuperável em

várias áreas daqui a quinze ou vinte anos, quando todos estes jovens estiverem inseridos e ativos no mercado de trabalho (MORAES, O grande salto da educação chinesa, O Estado de São Paulo, 07/08/2005). O Brasil deve observar os resultados da China, seguindo o exemplo do desenvolvimento da nação, com investimentos educacionais que promovam um ensino de qualidade. Há um ditado chinês que ensina: Se você desejar um ano de prosperidade cultive grãos, se desejar 10 anos de prosperidade cultive árvores, se desejar 100 anos de prosperidade cultive gente. A UNESCO possui uma escala para classificar os países, segundo o nível de educação, e em testes realizados no Brasil, verificou que 50% dos jovens apresentam incapacidade de ler um texto simples e de fazer contas elementares. Entre os 41 países estudados o Brasil ficou em 37 lugar na prova de leitura e em último na prova de aritmética (MORAES, 2006). Na sociedade, o ensino de qualidade reflete diretamente na inserção do jovem no mercado de trabalho. Segundo artigo publicado pelo jornal a Folha, verificou-se que 180 mil jovens disputam 872 vagas em grandes empresas do Brasil, uma desproporção impressionante, mais assustador é saber que estes jovens foram excluídos das vagas, por não possuírem os conhecimentos mínimos exigidos pelas empresas, como: domínio na língua portuguesa, em informática e no inglês (MORAES, 180 mil jovens não conseguiram ocupar 872 empregos, Folha de S. Paulo, 20/07/2003). A moeda do século XXI é o conhecimento, para atender esta demanda, os trabalhadores são obrigados a adquirir uma variedade de informações e novas habilidades para sobreviverem no mercado de trabalho. Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), afirma que o cultivo da educação constitui o mais importante elemento da estratégia de desenvolvimento de qualquer país (OCDE, Literacy, Economy and Society, Paris, 1995). Segundo dado do IBGE, de 1982 a 2007, ocorreu um aumento do número de jovens que trabalham e estudam, e a proporção de jovens que só estudam dobrou nos últimos 25 anos, sugerindo que os jovens brasileiros estão se dedicando aos estudos retardando sua entrada nas atividades econômicas. Um índice preocupante é o aumento dos jovens que não estudam e não procuram emprego que passou de 3,8% em 1982 para 7,2% em 2007. (IBGE, 2007).

A educação no Brasil é preocupante, pois os novos empregos exigirão habilidades analíticas e de interação com as novas tecnologias. Analisando as pesquisas sobre educação, podemos concluir que os jovens brasileiros estarão despreparados para o mercado de trabalho, refletindo um desperdício do investimento educacional, pois a educação não está conseguindo desenvolver profissionais qualificados para o mercado de trabalho. Considerações Finais Considerando o levantamento teórico, podemos afirmar que a precariedade no processo de educação do ensino médio e a necessidade do jovem inserir-se prematuramente no mercado refletem na defasagem e no abandono escolar. Na análise do perfil do jovem brasileiro, identificamos que para as famílias de baixa renda é necessário que os jovens trabalhem para auxiliar na renda familiar, este cenário mudará quando ocorrer a melhoria da condição socioeconômica destas famílias.

Enquanto a sobrevivência é um fator necessário para o jovem brasileiro a educação estará sempre em segundo plano. O poder público poderá exigir das famílias o direito de manter a educação de seus filhos quando proporcionar condições socioeconômicas digna para os brasileiros. Referências Bibliográficas ABRAMO, H. Retratos da juventude brasileira: análise de uma pesquisa nacional. São Paulo: Instituto Cidadania, Fundação Perseu Abramo, 2005. BOURDIEU, Pierre. A juventude é apenas uma palavra. Paris: R Association des Ages, 1978. BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Ed. Marco Zero, 1883, pp. 112-121.

BRASIL. Constituição Federal. Cap. III Seção 1 da Educação.1988. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei de Criação nº 8.074, de 21 de outubro de 1992, Decreto de Regulamentação nº 39.059, de 16 de agosto de 1994. CHARLOT Bernard, 1996, Relação com o saber e com a escola entre estudantes de periferia, in Cadernos de Pesquisa, n. 97, São Paulo. CASTRO, Jorge Abraão de, AQUINO, Luceni C.; ANDRADE, Carla Coelho (org.). Juventude e políticas sociais no Brasil. Brasília: IPEA, 2009. GALLAND, O. Sociologie de la jeunesse. Paris: Armand Colin, 1997. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2007. Disponível em www.ibge.gov.br. Acesso em 15 junho 2011. INSTITUTO UNIBANCO. Porque você perde seus alunos? Editora Abril, São Paulo, nov, 201º. Seção Educar para Crescer. Disponível em http://educarparacrescer.abril.com.br/institucional/busca/busca.shtml?qu=unibanco+ -+ESPECIAL+ENSINO+MEDIO. Acesso em 15 junho 2011. MORAES, Antônio Ermírio de Moraes. Educação pelo amor de Deus. São Paulo: Ed. Gente, 2006. SPOSITO, M. P. A sociabilidade juvenil e a rua: novos conflitos e ação coletiva na cidade_ 7HPSR_6RFLDO Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 5, n. 1-2, p.161-178, nov.1994.