Filme: O chapéu do meu avô



Documentos relacionados
Duração: Aproximadamente um mês. O tempo é flexível diante do perfil de cada turma.

Por uma pedagogia da juventude

Gestão da Informação e do Conhecimento

Fonte:

Os encontros de Jesus. sede de Deus

difusão de idéias EDUCAÇÃO INFANTIL SEGMENTO QUE DEVE SER VALORIZADO

Roteiro da Biblioteca das Faculdades Coc Como Fazer Uma Pesquisa Teórica e Elaborar um Trabalho Acadêmico

A INTERNET COMPLETOU 20 ANOS DE BRASIL EM 2015.

Como mediador o educador da primeira infância tem nas suas ações o motivador de sua conduta, para tanto ele deve:

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Mini e-book HUMANA ENSINAMENTOS AS PRÓXIMAS GERAÇÕES PARA ALICERÇAR OS APRENDIZAGEM ORIENTAR E INCENTIVAR RICAMENTE

Para a grande maioria das. fazer o que desejo fazer, ou o que eu tenho vontade, sem sentir nenhum tipo de peso ou condenação por aquilo.

ABCEducatio entrevista Sílvio Bock

Material: Uma copia do fundo para escrever a cartinha pra mamãe (quebragelo) Uma copia do cartão para cada criança.

Vamos fazer um mundo melhor?

Roteiro VcPodMais#005

os botões emocionais Rodrigo T. Antonangelo

Família. Escola. Trabalho e vida econômica. Vida Comunitária e Religião

Colégio La Salle São João. Professora Kelen Costa Educação Infantil. Educação Infantil- Brincar também é Educar

Análise e Desenvolvimento de Sistemas ADS Programação Orientada a Obejeto POO 3º Semestre AULA 03 - INTRODUÇÃO À PROGRAMAÇÃO ORIENTADA A OBJETO (POO)

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

Aprendendo a ESTUDAR. Ensino Fundamental II

Realidade vs Virtualidade

Sistema de Ensino CNEC

A CRIAÇÃO DO MUNDO-PARTE II

No E-book anterior 5 PASSOS PARA MUDAR SUA HISTÓRIA, foi passado. alguns exercícios onde é realizada uma análise da sua situação atual para

Organizando Voluntariado na Escola. Aula 1 Ser Voluntário

Rio de Janeiro, 5 de junho de 2008

PARANÁ GOVERNO DO ESTADO

SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E VIDA MORAL. Monise F. Gomes; Pâmela de Almeida; Patrícia de Abreu.

Cinco principais qualidades dos melhores professores de Escolas de Negócios

Homens. Inteligentes. Manifesto

GRUPO IV 2 o BIMESTRE PROVA A

O MUNDO DAS FORMIGAS LAMANA, Isabel C. A. C. MESSIAS, Leidi Renata SPRESSOLA, Nilmara H.

Doença de Alzheimer: uma visão epidemiológica quanto ao processo de saúde-doença.

Questão (1) - Questão (2) - A origem da palavra FILOSOFIA é: Questão (3) -

LÍDER: compromisso em comunicar, anunciar e fazer o bem.

PROJETO PEDAGÓGICO 1

O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Rousseau e educação: fundamentos educacionais infantil.

DA UNIVERSIDADE AO TRABALHO DOCENTE OU DO MUNDO FICCIONAL AO REAL: EXPECTATIVAS DE FUTUROS PROFISSIONAIS DOCENTES

Como e por onde começar e os melhores formatos de conteúdo para você

Direitos Reservados à A&R - Reprodução Proibida

Os desafios do Bradesco nas redes sociais

Se você acredita que as escolas são o único e provável destino dos profissionais formados em Pedagogia, então, está na hora de abrir os olhos

PROJETO CONVIVÊNCIA E VALORES

Músicos, Ministros de Cura e Libertação

Filme: Bichos Urbanos

PROJETO MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA

PROJETO MEIO AMBIENTE NA SALA DE AULA

1. A Google usa cabras para cortar a grama

Tem a : Quem é nosso evangelizando?

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

5 Equacionando os problemas

Dedico este livro a todas as MMM S* da minha vida. Eu ainda tenho a minha, e é a MMM. Amo-te Mãe!


Caderno do aluno UM POR BIMESTRE: teoria, exercícios de classe, as tarefas de casa atividades complementares.

A LIBERDADE COMO POSSÍVEL CAMINHO PARA A FELICIDADE

PROGRAMA INTERAÇÕES IMPROVÁVEIS

Há 4 anos. 1. Que dificuldades encontra no seu trabalho com os idosos no seu dia-a-dia?

resolvam suas diferenças e façam as pazes. Deus não quer que seus filhos guardem ressentimentos.

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID


BOLETIM INFORMATIVO MAR/ABRIL 2013 [Edição 6]

Elvira Cristina de Azevedo Souza Lima' A Utilização do Jogo na Pré-Escola

ESTADO DE GOIÁS PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA DE GOIÁS SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO SANTA BÁRBARA DE GOIÁS. O Mascote da Turma

Ebook Gratuito. 3 Ferramentas para Descobrir seu Verdadeiro Potencial

INTRODUÇÃO. Fui o organizador desse livro, que contém 9 capítulos além de uma introdução que foi escrita por mim.

Encontrando uma tábua de salvação, 13 O exercício do luto, 17 A folha de bordo cor de prata: uma pequena história, 19

Ambiência escolar Marista: desafios da educação popular na evangelização

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

SÍNDROME DE DOWN: O MAIOR LIMITE É O. Senhor Presidente,

Jogos. Redes Sociais e Econômicas. Prof. André Vignatti

O papel do CRM no sucesso comercial

sinal de tristeza. Sinal de morte!

3 o ano Ensino Fundamental Data: / / Atividades de Língua Portuguesa Revisão Nome:

Desafio para a família

Para início de conversa 9. Família, a Cia. Ltda. 13. Urca, onde moro; Rio, onde vivo 35. Cardápio de lembranças 53

A formação moral de um povo

FACULDADE EÇA DE QUEIRÓS

Um Site Sobre Viagens...

Ler em família: viagens partilhadas (com a escola?)

coleção Conversas #17 - DEZEMBRO u s a r Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

Quem te fala mal de. 10º Plano de aula. 1-Citação as semana: Quem te fala mal de outra pessoa, falará mal de ti também." 2-Meditação da semana:

coleção Conversas #20 - MARÇO t t o y ç r n s s Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

Produtividade e qualidade de vida - Cresça 10x mais rápido

Equações do segundo grau

1 O número concreto. Como surgiu o número? Contando objetos com outros objetos Construindo o conceito de número

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL CURSO: PEDAGOGIA PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

Notícias do grupo. REUNIÃO DE PAIS 1º ANO B e C 1º SEMESTRE/2011 PROFESSORAS:CRIS E JULIANA 21/3/2011

A CRIAÇÃO DO MUNDO-PARTE II Versículos para decorar:

Lev Semenovich Vygotsky, nasce em 17 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, em Bielarus. Morre em 11 de junho de 1934.

tido, articula a Cartografia, entendida como linguagem, com outra linguagem, a literatura infantil, que, sem dúvida, auxiliará as crianças a lerem e

VOCÊ QUER LER EM INGLÊS EM APENAS 7 DIAS?

Era uma vez, numa cidade muito distante, um plantador chamado Pedro. Ele

O sucesso de hoje não garante o sucesso de amanhã

A consciência no ato de educar

7º ano - Criação e percepção - de si, do outro e do mundo

Transcrição:

Filme: O chapéu do meu avô Gênero: Documentário Diretor: Júlia Zakia Ano: 2004 Duração: 28 min Cor: Colorido Bitola: vídeo País: Brasil Disponível em: http://www.portacurtas.com.br/filme.asp?cod=2877 Aplicabilidades em Educação Comentários de Carla Miucci Ferraresi 1 O curta metragem O Chapéu do meu Avô é um filme sensível e poético, uma declaração de amor da documentarista, ao seu avô, dono de uma fábrica de chapéus. O resgate da história da fábrica de chapéus, por meio de depoimentos do avô, dos antigos funcionários, amigos, gravações e fotos de arquivo é um pano de fundo para o resgate da identidade e da história da diretora e de sua família, além de falar das condições de trabalho e do processo de produção da fábrica, há cerca de 60 anos. Público: Professores e alunos do Ensino Fundamental e Médio Disciplinas: História, Artes, Língua Portuguesa, Sociologia 1 Carla Miucci Ferraresi é bacharel em Ciências Sociais e História, Doutora em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Coordenadora Pedagógica e Docente do curso Documentário: História, Crítica e Produção, oferecido por Mnemocine: Memória e Imagem. Atua em projetos de formação para professores de Ciclo Fundamental II das redes pública e particular e para educadores de entidades sociais.

Temas transversais: Pluralidade Cultural, Ética, Trabalho e Consumo Objetivos de aprendizagem: Trabalhar com conceitos como memória, identidade, tradição, mudanças e permanências, respeito aos idosos. Seqüência de Atividades: Conversar sobre a linguagem cinematográfica Refletir sobre memória e sua função social Construir histórias de vida Conversando sobre a linguagem cinematográfica O discurso imagético do documentário é composto por imagens captadas por uma câmera móvel e dinâmica que representa o tempo presente, e por algumas imagens e fotos de arquivos que representam o tempo passado. O uso da montagem paralela na construção do discurso imagético é utilizado tanto para diferenciar os tempos passado e presente quanto para sinalizar processos de mudanças e permanências: a alternância de imagens de arquivo do avô quando era jovem, usando chapéu, com a dele mais velho, usando um chapéu do mesmo modelo, revela que apesar do tempo ter passado, existe uma permanência, uma continuidade no uso desse adereço, hábito que o avô ainda mantêm. A mesma dinâmica se repete na montagem paralela que mostra a chaminé da fábrica em preto e branco, remetendo-nos ao passado, e a chaminé da fábrica no presente, colorida; assim como imagens do interior da fábrica e do processo de produção dos chapéus. Essa questão da permanência e da tradição fica ainda mais clara quando a neta nos informa que seu avô sempre usou o mesmo modelo e a mesma cor de chapéu e que, por sua vez, era a mesma que seu bisavô usava. Questionado pela neta sobre o porquê dessa escolha, o avô responde que usa para sentir seu pai sempre perto dele. O chapéu, assim, não é definido como mera mercadoria. É antes portador de uma memória afetiva que atravessa gerações: da lembrança do bisavô, pelo avô e deste pela neta, que materializa essa lembrança em seu corpo por meio de uma tatuagem e também através da produção do próprio documentário.

As relações entre passado e presente, permanência e mudança continuam sendo reveladas quando dona Zenaide, avó da garota e esposa do Sr. Sérgio (avô), mostra sua foto aos 18 anos e em seguida tem seu rosto enquadrado pela câmera, que evidencia as marcas de expressão impressas pelo tempo e que contrastam com a juventude de um passado do qual a foto parece ser o único testemunho material, em meio às lembranças da própria avó. A construção da narrativa textual fica por conta da voz-off da neta, dos depoimentos do avô, amigos, parentes e ex-funcionários, que em suas falas, traçam uma visão saudosista e idílica do passado. As marchinhas também revelam o passado como um tempo bom, como a letra desta canção: tic, tac, tic, tac, tic, ai tempinho bom, tic tac tic, ai que maravilha é esse som Ou ainda nesta outra canção, que fala de um tempo em que as pessoas ainda tinham galinheiros em suas casas: Eu vou contar a história do galinheiro da minha avó Lá todas galinhas cantavam juntas corococó Todas menos uma que é tão sozinha que até da dó Vive no seu canto só chorando sempre só Por meio da metalinguagem, a diretora mostra as várias gerações de sua família como espectadoras de si mesmas - fazendo referência ao registro das imagens como testemunha do tempo e da memória. Nesse sentido o próprio documentário ganha status de registro histórico. Para refletir: a memória e sua função social A criança recebe do passado não só os dados da história escrita: mergulha suas raízes na história vivida, ou melhor, sobrevivida, das pessoas de idade que tomaram parte na sua socialização. Sem estas haveria apenas uma competência abstrata para lidar com os dados do passado, mas não a memória. (Ecléa Bosi. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Edusp, 1987, pg.31)

Um dos efeitos do excesso de informação que nos ameaça em nosso presente pode ser o desnorteamento. Para este contribui, também, a noção, insistentemente afirmada nestas últimas décadas, de que o mundo em que vivemos é a tal ponto distinto de tudo que o precedeu, além de transformar-se a um ritmo tão alucinante, que a história se teria tornado irrelevante. Isto traz o risco de uma espécie de amnésia coletiva, voluntária. 2 Nesse sentido, a função social da memória é a de buscar signos visíveis do que costumávamos ser, é tentar descobrir o que somos pela constatação do contraste com o que já não somos 3. É como se buscássemos uma revelação de uma identidade para tornar manejável nossa relação com um mundo que, movendo-se rapidamente demais, nos faz perder os pontos de referência. Porém o passado tende quase sempre a ser fugidio. Tende a ser quase irreconhecível na sua integridade, pois está sempre condicionado à visão e aos interesses do presente. O presente faz com que o passado tenda a ser visualizado como nuvens em constante mutação e movimento. Como constelações de estrelas às vezes encobertas, outras vezes mais visíveis. Além disso, por sua amplitude e diversidade o passado foge à capacidade de apreensão na sua inteireza - por qualquer ser humano. 4 Todavia, o passado é o principal suporte da identidade humana e como tal não pode se perder. Os gregos identificavam o passado esquecido com a própria morte. A mitologia grega expressa a preocupação com o esquecimento e com seu oposto, a lembrança, a recordação. Na mitologia grega a deusa da memória, Mnemosyne, é mãe de Clio, a musa que protege a História. A elas cabia a tarefa maior de fazer do homem um ser eterno, pois a a memória por ser fonte de imortalidade, é categoria fundamental do ser, matéria prima da vida, imperativo da sobrevivência. 5 A memória, portanto, precisa ser preservada para que o ser humano não perca a consciência de si mesmo. Se existe uma memória voltada para a ação, feita de hábitos, e uma outra que simplesmente revive o passado, parece ser esta a dos mais velhos, já libertos das atividades profissionais e familiares e com mais experiência de vida já que cronologicamente, viveram mais do que os demais membros da família. Ao idoso é dada 2 FLAMARION, Ciro. Tempo e História In http://www.historia.uff.br/artigos/cardoso_tempo.pdf 3 Idem 4 LOWENTHAL, David. Como Conhecemos o Passado. In: Projeto História 17. São Paulo: PUC, 1998. p 111. 5 NEVES, Lucilia de Almeida. Jardim do Tempo. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p 99.

a função social de unir o começo ao fim, de tranqüilizar águas revoltas do presente, alargando suas margens. 6 O personagem principal do documentário e os demais entrevistados são idosos que evocam de suas lembranças um passado compartilhado por experiências que envolvem a fábrica de chapéus. Isso significa que a memória individual de cada um deles está amarrada à memória do grupo, e esta última à esfera maior da tradição, que é a memória coletiva de cada sociedade. As lembranças individuais dos entrevistados no documentário sobre o tempo passado são perpassadas por uma história social: elas já viveram um determinado tipo de sociedade, com características marcadas e conhecidas, e sua memória atual pode ser delineada sobre um pano de fundo mais ou menos definido com base em experiências sociais compartilhadas. Quando um grupo trabalha intensamente em conjunto, há uma tendência de criar esquemas coerentes de narração e de interpretação dos fatos, que dão ao material de base uma forma histórica própria. 7 É assim que a fábrica de chapéus aparece em cada um dos depoimentos: uma experiência compartilhada por um grupo de ex-funcionários, cujas vidas foram marcadas, cada qual de uma forma e intensidade particular, pelo trabalho, o ambiente e as pessoas que se conjugavam no espaço da fábrica. Para o casal entrevistado, Leonora e Hélio, a fábrica de chapéus foi o cenário para o começo de seu romance. Ele, encarregado de colocar pêlos nos chapéus, conta que conheceu Leonora na fábrica e foi lá que começaram a namorar. Atualmente eles são casados e trazem o amor materializado na tatuagem que ele carrega gravada na pele, com as iniciais dos seus nomes dentro de um coração. Há também depoimentos de outros tantos, emocionados, lembrando dos tempos da fábrica: o do senhor Jaú, que conta-nos que trabalhava cantando, do outro exfuncionário que diz que sonha com a fábrica até hoje [sic], e ainda o que conta-nos sobre a morte da esposa e diz que sua doença é ficar pensando no que se passou. A fábrica e as lembranças daquele tempo, que aparecem fortemente evocadas nos depoimentos dos idosos, revelam olhares que se ocupam do passado. Essa postura revela-nos muito mais do que um estado de ânimo dos entrevistados: revela uma sociedade que empurra o idoso para a margem e a lembrança de tempos melhores se 6 Ecléa Bosi. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Edusp, 1987, pg 39. 7 BARTLETT, Frederic, Social factors in recall In T. Newcomb e E. Hartley, Reading in Social Psychology. N. York, Henri Holt, 1947.

converte na continuação da sua vida presente, que só parece ter significado se ele a recolher de outra época o alento. 8 O depoimento do segundo entrevistado, que fala que só vai esquecer quando morrer, sobre a época em que trabalhava na fábrica e sobre sua função no processo de produção, revela-nos o fardo da memória: no momento que o homem maduro deixa de ser um membro ativo da sociedade, ele passa a ter uma função própria: a de lembrar, a de ser a memória da família, do grupo, da instituição, da sociedade. Construindo histórias de vida Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho... (Henri Bergson. Matéria e Memória. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999 ) Agora que você já sabe que a memória é importante para a construção da história, que tal entrevistar um ou mais membros de sua família para que, por meio de suas histórias de vida, você possa resgatar parte da história de sua família e com isso, ajudar na construção e no fortalecimento de sua própria identidade? Você pode escrever a história em forma de narrativa. Organize as informações sobre os entrevistados: registrem seu local e data de nascimento, sua infância, sua formação, seus trabalhos, seus amores, suas viagens e tudo quanto achar interessante. Procure localizar a sua própria história em meio à história de vida da pessoa entrevistada: qual o seu grau de parentesco com a pessoa? Tem alguma passagem em sua vida em que essa pessoa esteve presente? Quais momentos vocês compartilharam juntos? Vocês têm alguma lembrança em comum? Qual? A idéia é que, ao final, você tenha não só uma história de vida, mas parte da história de sua família. Vamos lá? Mãos à obra! Bibliografia BERGSON, Henri. Matéria e Memória. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São P 8 Ecléa Bosi. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Edusp, 1987, pg 40.