Acórdão-6ªC RO 03277-2009-038-12-00-8 TROCA DE UNIFORME. TEMPO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR. Os minutos despendidos pelo empregado para troca de uniforme, por se destinarem ao preparo para a execução dos serviços, constituem tempo à disposição do empregador e devem integrar a jornada de trabalho, a teor do que dispõe o art. 4º da CLT. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da 2ª Vara do Trabalho de Chapecó, SC, sendo recorrente COOPERATIVA CENTRAL OESTE CATARINENSE e recorrido JAIR RUDIMAR COLLING. Em face da sentença das fls. 201-3, que julgou procedentes em parte os pedidos deduzidos na inicial, recorre a ré às fls. 205-8v. Pretende desonerar-se do pagamento dos minutos destinados à troca de uniforme, ao argumento de que não pode ser punida por cumprir as exigências legais quanto à utilização da indumentária. Sucessivamente, requer que a condenação fique limitada ao tempo que exceder o limite de tolerância de dez minutos previsto em normas coletivas, bem como até fevereiro/2007, quando, segundo afirma, esse tempo 10893/2010
RO 03277-2009-038-12-00-8 -2 passou a ser registrado na jornada. fls. 214-5v. O autor apresenta contrarrazões às É o relatório. VOTO Conheço do recurso e das contrarrazões, por presentes os pressupostos legais de admissibilidade. MÉRITO 1 TROCA DE UNIFORME A sentença de primeira instância condenou a ré ao pagamento, como labor extraordinário, dos minutos destinados à troca de uniforme (11min por jornada) e seus reflexos. Insurge-se a ré contra a decisão, argumentando que os minutos destinados à troca de uniforme não podem ser considerados tempo à disposição da empregadora, tendo em vista que o obreiro, neste interregno, não está laborando. Acrescenta que a utilização de uniforme é uma exigência legal, não podendo ser penalizada pelo correto cumprimento da lei. Por fim, sustenta que as normas coletivas da categoria possibilitam a desconsideração dos minutos destinados à troca de uniforme devidamente registrados nos cartões-ponto. Por isso, requer sucessivamente que a condenação fique limitada ao tempo que exceder o limite de tolerância de dez minutos
RO 03277-2009-038-12-00-8 -3 previsto nos instrumentos, bem como até fevereiro/2007, quando, segundo afirma, esse tempo passou a ser registrado na jornada. Sem razão. Não procede a alegação de que o tempo destinado à troca de uniforme não pode ser considerado tempo à disposição do empregador por ser exigência legal a utilização de vestimenta própria. Com efeito, os trabalhadores das empresas do setor de alimentação usam uniforme por razões de saúde pública, sendo, por via de conseqüência, obrigatória a troca da vestimenta. No entanto, esses minutos, por se destinarem ao preparo para a execução dos serviços, constituem tempo à disposição do empregador e devem integrar a jornada de trabalho, a teor do que dispõe o art. 4º da CLT. Também não prospera a tese de que os minutos destinados à troca de uniforme podem ser desconsiderados com base nas normas coletivas da categoria. Isso porque, não obstante externar entendimento no sentido de que as cláusulas negociadas pelos sindicatos prevalecem sobre qualquer outra, pois a Constituição Federal assegura no art. 7, inciso XXVI, o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho, na hipótese presente, a disposição coletiva não se aplica. Senão vejamos. Dispõem as normas coletivas da
RO 03277-2009-038-12-00-8 -4 categoria: CLAÚSULA 15 CONTROLE DE HORÁRIO DE TRABALHO [...] Parágrafo Segundo: O espaço de tempo registrado no cartão-ponto, igual ou inferior a 10:0 (dez minutos) imediatamente anteriores e posteriores ao início da jornada normal de trabalho, inclusive para troca de uniforme, não será considerado como efetivamente trabalhado. (grifei, ACT 2007-2008, fl. 247) Nota-se que a cláusula coletiva prevê a desconsideração dos minutos gastos e registrados para troca de uniforme. No entanto, as partes convencionaram que o autor despendia diariamente 11 minutos para troca de uniforme, sendo que estes minutos não eram anotados nos cartões-ponto. Como a norma coletiva prevê a desconsideração dos minutos gastos para troca de uniforme, devidamente anotados nos cartões-ponto, e as partes convencionaram que os minutos despendidos pelo autor não estão anotados nos controles de jornada (fl. 200), não se aplica a disposição convencional ao caso presente. Por esses motivos, ficam rejeitados também os pedidos sucessivos. recurso. Isso posto, nego provimento ao Pelo que,
RO 03277-2009-038-12-00-8 -5 ACORDAM os Juízes da 6ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO. No mérito, por igual votação, NEGAR-LHE PROVIMENTO. Manter o valor provisório da condenação fixado na sentença. Custas na forma da lei. Intimem-se. Participaram do julgamento realizado na sessão do dia 08 de setembro de 2010, sob a Presidência da Exma. Juíza Ligia Maria Teixeira Gouvêa, os Exmos. Juízes Gracio Ricardo Barboza Petrone e Roberto Basilone Leite. Presente a Exma. Procuradora do Trabalho Cristiane Kraemer Ghelen Caravieri. Florianópolis, 10 de setembro de 2010. ROBERTO BASILONE LEITE Relator