Coordenador: Leonardo Barreto Moreira Alves MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL Promotor de Justiça Estadual 2ª edição 2016
DIREITO PROCESSUAL CIVIL Renato Bretz Pereira 1. DO PROCESSO DE CONHECIMENTO (MPE/SP/Promotor/2015) Sobrevindo fato novo no curso da ação revisional de alimentos, diante de alegação da parte interessada, poderá o Juiz considerá-lo ao proferir a sua sentença? A solução será a mesma se a ação estiver em grau de recurso de apelação ou especial? Fundamente. Direcionamento da resposta Informar que o art. 493 do CPC/2015 prevê expressamente que o órgão jurisdicional possa levar em conta fatos ocorridos após o ajuizamento da ação, por ocasião do julgamento da lide. Salientar que o parágrafo único do referido dispositivo e o art. 10 do CPC/2015 determinam a necessária oitiva das partes em tal situação. Acrescentar que o fato de uma sentença proferida em ação de alimentos poder ser objeto de rediscussão quando houver mudança no binômio necessidade do alimentante possibilidade do alimentando, faz com que a providência indicada no art. 493 se revele como medida de economia processual. Com efeito, a permissão para a discussão de fato novo, no processo em andamento, evita a propositura de uma nova ação em que a causa de te a prova de tal fato novo cuja discussão poderia ter ocorrido na ação anterior. Abordar a ocorrência de fatos novos quando o processo se encontra em fase de apelação fazendo referência ao art. 933 do NCPC. No que diz respeito ao recurso especial, informar que, via de regra, face à impossibilidade de reexame de prova que versa sobre matéria fática, não se mostra viável o conhecimento de fatos supervenientes pelo órgão jurisdicional. Tal regra, no entanto, comporta exceções segundo entendimento do STJ. Sugestão de resposta O CPC/2015 prevê expressamente a possibilidade de que o órgão julgador leve em conta fatos ocorridos após o ajuizamento da ação por ocasião do julgamento da lide. Nesse sentido, o disposto no art. 493 do referido diploma legal: 183
COLEÇÃO PREPARANDO PARA CONCURSOS - consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão. Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir. Salienta-se que os fatos novos passíveis de serem conhecidos de ofício pelo magistrado são aqueles que não implicam alteração do pedido ou a causa de pedir, uma vez que, em tais hipóteses, estaria havendo alteração da demanda proposta, o que depende de iniciativa das partes, bem como se sujeita a limites temporais e condições Cumpre ainda observar que o parágrafo único do artigo acima citado, em atenção ao Princípio do Contraditório, obriga o órgão jurisdicional a ouvir as partes antes de decidir. No mesmo sentido, o art. 10 do CPC/2015 veda qualquer decisão judicial proferida com base em fundamento sobre o qual as partes não tiveram a oportunidade de se manifestar. Não se pode olvidar, por outro lado, que o Princípio do Contraditório não se resume à mera possibilidade da parte ter ciência e se manifestar sobre os fatos novos. Mais do que isso, o referido princípio, o qual conta com previsão expressa no art. 5º, LV da C.F., também tem como consequência a prerrogativa da parte de produzir provas em relação a tais fatos novos. Nesse contexto, entendemos que é perfeitamente possível que o magistrado considere um fato novo ocorrido no curso da ação revisional. No entanto, o órgão jurisdicional deverá, obrigatoriamente, oportunizar às partes, antes de decidir, não só o direito de se manifestar sobre o fato novo, como também o de produzir provas a respeito do mesmo. tônoma, desde que haja alteração no binômio necessidade do alimentando possibilidade do alimentante, a consideração de fato superveniente pelo magistrado é medida de uma sentença que já leva em conta os fatos ocorridos após o ajuizamento da demanda evita a propositura de uma ação revisional de alimentos na qual se produziria prova a respeito de tais fatos. Cumpre ainda salientar que o art. 493 do CPC não faz restrição alguma a que o magistrado considere a ocorrência de fatos novos quando o processo se encontrar, inclusive, em grau de recurso. Acrescenta-se que o art. 933 do CPC/15 prevê expressamente a possibilidade de o relator levar em conta fato superveniente à decisão recorrida, desde que abra vista às partes para se manifestarem a respeito do aludido fato. tamente ser conhecidos pelo tribunal por ocasião do julgamento do recurso de apelação. 184
DIREITO PROCESSUAL CIVIL Todavia, a solução parece ser diversa caso tenha havido interposição de recurso especial ou extraordinário. Com efeito, tais meios impugnativos de decisões judiciais não se prestam ao reexame de prova incidente sobre matéria de fato (Súmulas 7 STJ e 279 do STF). Logo, não haveria possibilidade de se levar em conta fatos novos, uma vez que nem mesmo a existência de fatos alegada pelas partes no momento processual oportuno poderia ser objeto de reexame por parte dos tribunais superiores, os quais se limitam a apreciar matéria de direito envolvendo a aplicação da legislação federal ou constitucional. Excepcionalmente, segundo entendimento do STJ (REsp 887378), caso o fato novo implique perda total ou parcial do objeto do recurso especial ou extraordinário, referido fato poderá ser levada em conta pelo órgão julgador. (MPE/SP/Promotor/2015) É cabível a ação revisional de sentença de ação civil pública transitada em julgado, diante da modificação na situação fática existente na época em que foi proferida? Fundamente. Direcionamento da resposta que, nos dois últimos casos, a sentença que regulamenta tais relações tende a produzir efeitos prospectivos (futuros) e que, por este motivo, somente deverá prevalecer en- cisão. Argumentar ainda que, nos termos do art. 505, I do CPC/15, é perfeitamente possível a revisão de decisões transitadas em julgado que versam sobre relações jurídicas permanentes e sucessivas, desde que haja alteração nos pressupostos fáticos ou jurídicos que embasaram a decisão transitada em julgado. Sugestão de resposta As relações jurídicas decorrem da incidência de normas sobre situações de fato. Nesse sentido, atividade cognitiva realizada no processo de conhecimento consiste, basicamente, em coletar provas sobre as versões fáticas apresentadas pelas partes, veri- incidência. Logo, a sentença proferida em um processo de conhecimento versa, inegavelmente, sobre a existência de uma relação ou situação jurídica e sobre as consequên- ras decorrem de um fato jurídico que se consuma em um momento determinado, por ocasião da incidência da norma a um determinado fato. As relações jurídicas permanentes nascem a partir de um suporte fático que se prolonga no tempo, a exemplo do 185