O ESTRESSE DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO NO ENSINO NOTURNO Cloves Amorim Renate Brigite Vicente Ana Cristina Gonçalves Silva Luana Isabela Guerreiro Theresinha Vian Rambo Valcemir Teixeira (Curso de Psicologia - PUCPR) O trabalho em si não traz sofrimento, mas é a forma como o trabalho está organizado que impinge sofrimento aos trabalhadores. Muitos estudos têm apontado a ocorrência de situações estressantes que prejudicam o desempenho e a saúde dos docentes. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a presença do estresse em docentes universitários que atuam no turno noturno em uma Universidade Particular na cidade de Curitiba-PR. Participaram 39 professores. Essa amostra foi casual e representa profissionais dos centros de ciências humanas, ciências exatas e do centro de ciências biológicas e da saúde; que responderam individualmente ao ISSL (Inventário de Sintomas de Stress de Lipp para Adultos). Os resultados apontam para elevada incidência do estresse em professores Universitários do turno noturno, 64% dos participantes apresentaram estresse, sendo que destes, 74% estão na fase de Resistência e 24% na fase de Exaustão. Encontrou-se prevalência no gênero feminino (81%), em comparação com o gênero Masculino(52%). 76% dos professores apresentaram predominância de sintomas físicos apenas 24% predominância de sintomas psicológicos. Nenhum professor apresentou estresse na fase de alarme ou de quase-exaustão. Conclui-se que, como em qualquer área profissional, proporcionar aos professores informações e recursos para enfrentar o estresse contribui para a melhoria da qualidade de ensino, para a qualidade de vida e evidentemente para o êxito da função docente. Palavras chave: Professor Universitário, Estresse, mal-estar docente, estresse do professor.
972 INTRODUÇÃO A literatura científica brasileira sobre a saúde dos professores é escassa, especialmente quando aborda o estresse e a síndrome do desgaste (Burnout). Segundo DELCOR et. Col. ( 2004), foi somente na década de 90 que surgiram as principais publicações brasileiras na área, em particular se destaca a pesquisa coordenada por Wanderley Codo, docente da UNB, que estudou 1440 escolas e 30 mil professores de primeiro e segundo graus. Com o aumento das exigências e responsabilidades dos professores, num mundo em rápidas transformações, a força de trabalho dos professores se insere nas relações sociais da forma valor/trabalho, sendo portanto uma força de trabalho proletarizada e, na compreensão de NUNES (2003), expostos ao sofrimento físico e psíquico como os demais trabalhadores proletarizados. Quando se trata do coletivo dos professores universitários, o ambiente organizacional exerce forte influência no desenvolvimento profissional. Recentemente o professor Miguel Zalbaza realizou uma fina análise da dimensão profissional do docente universitário, apontando os direitos e deveres do profissional como trabalhador de uma instituição, seja pública ou privada. Descreve o emaranhado de redes nas quais o fazer docente se encontra e finalmente aponta para a satisfação ou a insatisfação na carreira e afirma que a satisfação é excelente mecanismo de enfrentamento do estresse e do burnout. (ZABALZA, 2004).
973 Segundo TOMÉ E VALLADARES(1996), analisando a situação atual da universidade encontramos uma grande distância entre o ontem e o hoje desta instituição: o paraíso do professor dedicado ao estudo pesquisa e docência a um grupo seleto de estudantes, homogêneo, numericamente reduzido, altamente motivado com metas profissionais claras e acessíveis e a situação atual, de um ensino de massa, com professores sobrecarregados de alunos, de matérias,com alunos que não tem claro para que estão na universidade, sem ver a relação entre os estudos e a profissão futura, sem grandes oportunidades para uma formação eficaz. São causas do estresse do professor universitário. Geralmente os professores universitários são idealistas e necessitam sentirem-se úteis e eficientes diante de seus clientes e os resultados que produzem neles. Mas há limitações impostas pela realidade do ambiente de trabalho. Aparecem então os conflitos gerados pelas expectativas pessoais, que geram desprazer, pois percebem o desequilíbrio que há entre aspirações e recursos que ameaçam a imagem profissional e pessoal e o juízo negativo da sua competência. A profissão docente sofre da síndrome de estresse em todos os níveis, muitas vezes chamado de mal estar docente. É necessário reconhecer as causas e promover as mudanças necessárias, na concepção de universidade e também na concepção do papel de professor, uma vez que esses têm sido fontes de sofrimento psíquico. Atualmente o professor se encontra num dilema entre dedicar mais tempo ao ensino ou a pesquisa, pois são tarefas complexas e exigentes que requerem um esforço considerável e grande quantidade de tempo. Some-se ainda as exigências relativas à alta produtividade científica, a falta de uniformidade no
974 modelo de currículos e relatórios, as exigências das revistas científicas, o tecnostress ou o stress hig tech, ter que trabalhar à noite, domingos e feriados. Portanto são inúmeros os fatores que tornam o professor vulnerável ao desenvolvimento do estresse. WITTER (2002) docente da PUCCAMP, elaborou uma longa lista de variáveis que aumentam ou que propiciam a redução do estresse docente: são as seguintes variáveis que aumentam o estresse do professor falta de formação científica, agressividade, punição e injustiça; cultura organizacional baseada na ameaça e na opressão, falta de comunicação, demandas além das possibilidades do professor; pressão de tempo, restrição ao desenvolvimento pessoal e restrição ao desenvolvimento da criatividade. Elencou entre as variáveis que propiciam a redução do estresse as seguintes: 1. Sistema aberto de administração; 2.Fornecer apoio social; 3.Liderança nãocoercitiva; 4.Ambiente físico agradável; 5.Satisfação no trabalho; 6.Garantir a motivação; 7. Garantir a auto-realização;8. Adequada gestão de conflitos. Portanto, o fenômeno do estresse docente é produzido por fatores internos e externos ao professor. A gestão democrática e participativa parece ser uma estratégia de excelência na criação de clima produtivo e agradável ao docente. Pereira e Mota, em trabalho apresentado no XII ENDIPE (2004) afirmam que Os professores brasileiros enfrentam a realidade da defasagem que há entre o trabalho como deve ser e a realidade do trabalho. Com isso estão se sentindo frustrados, não corresponderem às exigências que lhe são dirigidas, mas por outro lado poderiam até sentir um certo alívio, se o seu esforço fosse reconhecido, mas
975 todo os seus investimento afetivo e cognitivo passa muitas vezes despercebido, aumentando o seu sofrimento. A idéia de que o estresse socialmente induzido é um fator precipitante de todas as enfermidades, não só as psicossomáticas, está ganhando espaço na conceituação sobre etiologia. São fatores estressantes individuais; a)motivação para profissão; b)formação profissional; c) Satisfação. São fatores estressantes contextuais: a) mudança na função social nas instituições escolares e no quadro de professores; b)mudanças no apoio social aos docentes; c) inadequação na formação doente em relação a realidade atual;d)inadequação salarial. Outros fatores estressantes ambientais dizem respeito aos fatores do ambiente de trabalho, tais como: a) os recursos com os quais a escola conta, sua disponibilidade e organização; b) as relações interpessoais que se estabelece entre a direção e a comunidade educativa da escola; c) a capacidade de atualização e capacitação contínuas; d) a organização que o docente tem do seu próprio trabalho. Sabe-se que o estresse dos professores é um problema importante, porque a insatisfação e a falta de perspectiva de crescimento os desestimula, e estes passam a ver seu trabalho como um fardo pesado sem gratificações pessoais, ocasionando queda de desempenho, frustração, alteração do humor, e outras conseqüências físicas e mentais. Considerando a importância do tema na vida dos professores, esta pesquisa teve como objetivo o levantamento dos níveis e fases de estresse em professores universitários de uma Instituição privada na cidade de Curitiba-PR.
976 MÉTODO Participantes: Participaram da pesquisa 39 professores universitários que atuam no ensino noturno, com idades variando entre 28 a 60 anos, sendo 23 do sexo masculino e 16 do sexo feminino. Material Utilizou-se o Inventário de Sintomas de Stress de Lipp para adultos (ISSL). O ISSL se constitui de uma lista de sintomas físicos e psicológicos, divididos em três quadros, sendo que cada quadro corresponde a uma fase do modelo de Selye (1956). Ou seja, fases de alerta, resistência e exaustão. O ISSL permite diagnosticar se a pessoa tem estresse em que fase do estresse se encontra (alerta, resistência e exaustão) e se sua sintomatologia é mais típica da área somática ou cognitiva. Procedimentos Os docentes foram abordados pelos pesquisadores e informados do objetivo da pesquisa e então convidados a preencher o instrumento. Foi solicitado o preenchimento na presença do pesquisador e a devolução imediata.
977 Resultados A análise realizada com 33, 3% dos professores da área de Ciências Humanas, 41 % da área de Ciências Exatas e 25,7% na área de Ciências Biológicas e da Saúde. Participaram 39 professores, sendo 58,9% do sexo masculino e 42,1% do sexo feminino; com faixa etária entre 28 a 60 anos. Destes, 08 professores com nível de doutorado, 09 mestres, 02 especialistas, 10 com graduação e 10 não informaram. 64% dos professores apresentavam estresse e 36% não. Houve predominância de gênero, 81% dos participantes com estresse eram do sexo feminino e entre os homens este indicativo caiu para 52%. Em relação as fases, 76% dos participantes estavam na fase de resistência e 24% na fase de exaustão Discussão e conclusão Os dados encontrados concordam com as respostas já registradas na literatura em outros trabalhos, tais os apresentados por BENEVIDES-PEREIRA (2002) e BARONA (2003). Quando se encontra maior freqüência de níveis de estresse em professoras universitárias pode-se inferir que na nossa cultura a mulher é responsável por
978 diferentes atividades extra mundo do trabalho e que portanto fica mais vulnerável ao desequilíbrio que gera estresse. Outro dado relevante é o período em que ocorreu a coleta de dados, provavelmente, no segundo semestre, nos meses finais do ano, a freqüência de pessoas estressadas no magistério seja maior. Considerando que muitos aspectos do trabalho docente demanda um bom nível de funcionamento cognitivo, na fase de resistência, encontram-se sintomas como a falta de memória e a sensação de mal estar generalizado e maior vulnerabilidade a enfermidades. Segundo LIPP (1996) esses sintomas influenciam de forma negativa a atuação do professor, tanto nos aspectos técnicos quanto no seu relacionamento com os alunos. Já na fase de exaustão os sintomas são: cansaço excessivo, irritabilidade sem causa aparente, perda do senso de humor, insônia e hipersensibilidade emotiva. Seria interessante realizar estudos sobre o Burnout em professores, porque assim, poderíamos diferenciar o âmbito e as origens do estresse, discriminando fatores da vida em geral do estresse causado pelo trabalho. Quando se encontra predominância de sintomas físicos, pode se inferir, que ao aplicar o instrumento ISSL em professores do turno noturno e de uma instituição privada, eles já trabalharam nos dois turnos anteriores. Finalmente, é desejável que nas Instituições se desenvolvam programa de prevenção ao estresse. Além de melhorar a qualidade de vida, o desempenho docente, diminuir o absenteísmo e melhorar as relações interpessoais.
979 REFERENCIAS BARONA, E. G. Analisis pormenorizado de los grados de burnout y técnicas de afrontamiento del estrés docente em profesorado universitário. En Anales de Psicologia. Múrcia España, vol. 19, n. 1, 145-158, 2003. BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. Burnout: quando o trabalho ameaça o bemestar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. DELCOR, N. S. et. Col. Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20 (1):187-196, jan. - fev., 2004. LIPP, M. O Stress do Professor. Campinas: Papirus, 2002. NUNES, M. Trabalho docente: proletarização e sofrimento psíquico. Em MORATTI, M. R. L. (org.) Formação de Professores. Araraquara SP: J. M. Editora, 2003. WITTER, G. P. Produção científica e estresse do professor. Em LIPP, M. ( org.) O Stress do professor. Campinas: Papirus, 2002.
ZABALZA, M. O ensino universitário. Porto Alegre: Artmed, 2004. 980