INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

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Transcrição:

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

A filosofia é uma prática discursiva [...] que tem a vida por objeto, a razão por meio e a felicidade por fim (COMTE-SPONVILLE, Apresentação da Filosofia, 2002, p.15). Finalidade Principal da Filosofia: Felicidade. Pensar melhor, agir melhor, viver melhor, ser mais feliz.

Há três mil anos, não havia explicações científicas para grande parte dos fenômenos da natureza ou para os acontecimentos históricos, assim, para buscar um significado para esses fatos as pessoas se utilizavam do mito como forma de explicação. MITO: vem do vocábulo grego mythos, que significa contar ou narrar algo. Mito é uma narrativa que explica através do apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza, o surgimento de alguma coisa (JAPIASSÚ, Dicionário Básico de Filosofia. 1996, p. 183).

Explica aspectos essenciais da realidade: origem do mundo, funcionamento da natureza e dos processos naturais, as origens de um povo, seus valores. Explicações: discurso fictício, imaginário. As lendas e narrativas míticas: fruto da tradição cultural. Principais poetas e poemas mitológicos gregos: Homero, autor de Ilíada e Odisseia; e Hesíodo, autor da Teogonia. Homero e Hesíodo registraram poeticamente lendas recolhidas das tradições dos diversos povos que sucessivamente ocuparam a Grécia desde o período arcaico (1500 a.c.). Tradição oral.

Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e heróis. Antropomorfismo: os deuses descritos na mitologia grega apresentavam características, feições e formas humanas (traços físicos e psicológicos, sentimentais como a raiva, a inveja, amor etc.) Objetivos: 1) transmitir tradições culturais, religiosas; 2) explicar fatos que a ciência ainda não havia explicado; Os mitos e a sociedade grega: a cultura, a religião, a educação e a formação espiritual do homem grego eram baseadas na tradição mitológica.

Quando nasceu Afrodite, os deuses banquetearam. Póros: abundância, oportunidade. Penúria (Pênia, Pínia, a pobreza,): vivia sempre faminta, sedenta. Póros, embriagado de néctar, entrou nos jardins de Zeus e adormeceu. E Pínia teve relações sexuais com ele, concebendo Éros (Cupido). Éros tornou-se seguidor e ministro de Afrodite porque foi gerado durante as suas festas natalícias; e também era por natureza amante da beleza, e Afrodite era muito bela. Éros herdou do pai e da mãe suas características mais evidentes, ora faminto e sedento, ora envolvente e astuto. Apaixonados: ansiosos e insatisfeitos (Penúria); plenos, completos, abundantes (Póros).

Autoridade dos poetas: o mito era narrado pelo poeta escolhido por algum deus, que mostrava os acontecimentos passados e permitiam que eles vissem as origens de todos os seres e coisas para que assim pudessem transmitir aos ouvintes. Poeta: porta-voz da sabedoria dos deuses. Poemas mitológicos: frutos da revelação divina.

As viagens marítimas. Vida urbana (política): valorização do discurso racional. Ágora. A utilização do logos (razão) para resolver os problemas da vida estaria vinculado ao surgimento da pólis, cidade-estado grega. Escravidão: permitia o ócio criativo. Comércio: intercâmbio cultural. Condições sociais, econômicas e geográficas.

Portos e entrepostos comerciais: ponto de encontro das caravanas provenientes do Oriente (Mesopotâmia, Pérsia, talvez Índia e China). Diferentes culturas (interesses comerciais comum, tolerância). Colônias gregas do mar Jônico: cosmopolitas, pluralismo cultural, diversas línguas, tradições, cultos e mitos. O caráter global, absoluto, da explicação mítica teria se enfraquecido no confronto entre os diferentes mitos e tradições, revelando sua origem cultural. Diferentes tradições: relativização e enfraquecimento dos mitos Sociedade dedicada às práticas comerciais e aos interesses pragmáticos: tradições míticas e religiosas vão perdendo sua importância.

A Filosofia: nova explicação sobre a origem, sobre a ordem do mundo, baseada em argumentos racionais. A partir da constatação de que os mitos não eram suficientes para responder às necessidades humanas de conhecimento, surgiram as explicações filosóficas (por volta do século VII ou VI a.c.), que utilizavam a capacidade de reflexão do Homem com o objetivo de conhecer a verdade. O que a diferencia dos mitos é seu objetivo de explicar logicamente e racionalmente os fatos (REALE, História da Filosofia: filosofia pagã antiga.1993, p. 25).

Séc. VI a.c., em Mileto (colônia grega). 1º Filósofo: Tales de Mileto (623 543 a.c.). Primeiros filósofos da escola jônica: explicação do mundo natural, baseada essencialmente em causas naturais (Naturalismo). O mito sobrevive ainda que vá progressivamente mudando de função, passando a ser antes parte da tradição cultural do povo grego do que a forma básica de explicação da realidade. O pensamento filosófico não rompe totalmente com o pensamento mítico.

Objeto de investigação dos primeiros filósofos: o mundo natural. Explicar fenômenos e processos naturais a partir de causas puramente naturais. Primeiros filósofos: pré-socráticos, cosmológicos, naturalistas, filósofos da phýsis (natureza, em grego). A causalidade: nexo causal entre fenômenos naturais (relacionar um efeito a uma causa que o antecede e o determina).

Explicação causal: caráter regressivo (análise do antecedente). Para evitar que isso aconteça, surge a necessidade de se estabelecer uma causa primeira, um primeiro princípio, que sirva de ponto de partida para todo o processo racional. Arché (arqué): elemento, substância primordial, princípio fundamental, matéria-prima que teria gerado o mundo e os seres nele existentes.

Cosmo: ordem (oposição ao caos). Ordem do cosmos é ordem racional: razão (existência de princípios e leis que regem, organizam essa realidade). Logos: discurso (difere do mito, narrativa de caráter poético que recorre aos deuses e ao mistério). O logos: uma explicação, em que razões são dadas. MITO X LÓGOS: PIERRE GRIMAL (P. 180). Essas razões: são fruto do pensamento humano aplicado ao entendimento da natureza (não de uma inspiração ou de uma revelação). O logos é, portanto, o discurso racional, argumentativo, em que as explicações são justificadas e estão sujeitas à crítica e à discussão. As teorias formuladas na escola Jônica: não eram dogmáticas, mas passíveis de serem discutidas, de suscitarem divergências e discordâncias, de permitirem formulações alternativas.

Kósmos: mundo ordenado, organizado. Lógos: conhecimento, pensamento racional, discurso racional. Cosmologia: conhecimento racional acerca da origem, da ordem do mundo ou da natureza.

Efeito das secas no Egito: água é vida. Vida animal e vegetal necessita de água. A água pode assumir os três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. A maior parte da superfície do planeta é formada pela água. O corpo humano e o corpo dos animais é composto por água. Primeira concepção monista da filosofia, pois considera que tudo o que existe pode ser reduzido a um princípio único ou realidade fundamental.

Princípio (arché) não seria a água porque ela já era derivada de algo. Existia um princípio anterior a água e aos outros elementos. Ápeiron: indeterminado, ilimitado, infinito. Ápeiron: espacialmente indefinido, não apresenta uma forma clara. Conteria em si todos os elementos: algo supremo, superior, que não pode ser observado, captado pelos sentidos. O cosmos se manteria por compensações cíclicas entre os contrários (as estações do ano), até ser absorvido no ápeiron e recriado novamente a partir deste.

Ar infinito: indeterminado, não tem uma forma clara. Está presente na água de Tales: H2O. Essencial para a vida dos seres vivos. É a causa do movimento da natureza: vento move nuvens, que criam as correntes marítimas, que movem os oceanos. Ar envolve, circunda todas as coisas, todo o planeta.

Este kosmos, não o criou nenhum dos deuses, nem dos homens, mas sempre existiu e existe e há de existir. O mundo é regido pelo Devir: vir a ser, mudança, movimento, transformação. Realidade é dinâmica (tudo flui): a vida é uma constante transformação, é um contínuo movimento, as coisas mudam e se transformam continuamente, o movimento rege a vida. Não se entra duas vezes no mesmo rio. As águas que fluem são outras; Nós mesmos somos e não somos (DIELS, H; KRANZ, W. Os Pré-socráticos, Fragmento 49).

A causa do devir é a luta (conflito, guerra, oposição, embate) entre os elementos opostos da Natureza (frio-quente, dia-noite, claro-escuro entre outros). O movimento (a mudança) é o resultado do conflito existente entre aqueles elementos. a luta (a guerra), é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas. O fogo é o elemento que melhor simboliza a luta entre os elementos contrários da natureza: o fogo deve a sua existência à destruição daquilo que consome. Por isso, traz consigo a força simbólica da guerra entre os opostos. Quando os seres humanos morrem eles ficam mais frios, perdem o calor.