Escola Secundária Homem Cristo Relatório realizado por: Ana Rita Correia, Ana Rita Monteiro, Bernardo Fernandes, Inês Martins e Joana Fidalgo Ano: 10º Turma: D Disciplina: Biologia e Geologia Ano Lectivo: 2010 / 2011
RELATÓRIO No passado dia 3 de Fevereiro de 2011, quinta-feira, a nossa turma realizou uma saída de campo à Estação Litoral da Aguda (ELA), sob orientação da Professora de Biologia e Geologia, Nélia Leonardo, e com o acompanhamento da Professora de Matemática, Margarida Rocha. Em aulas anteriores à visita, os alunos tiveram a possibilidade de se prepararem e de se informarem em relação aos objectivos e cuidados a ter na região. O principal objectivo desta visita foi estudar a fauna e a flora do substrato rochoso da zona entre marés, através de dados recolhidos directamente da praia da Aguda. Na madrugada do dia 3, o grupo reuniu-se na Estação de Comboios de Aveiro (às 8h00), com saída prevista para as 8h20. À hora indicada iniciou-se a viagem, com paragens em Cacia, Canelas, Salreu, Estarreja, Avança, Válega, Ovar, Esmoriz, Espinho e Granja. Nesta última, às 9h02, partimos para um novo comboio, com destino final à Aguda. Deslocámo-nos a pé até ao Aquário da Praia da Aguda, que foi oficialmente inaugurado a 21 de Novembro de 1997, fundado pelo Dr. Mike Webber. Fig. 1- O grupo no comboio. Fig. 2- O grupo ao chegar ao Aquário da Aguda. No local, a turma dividiu-se em pequenos grupos, dirigidos por diferentes investigadores especialistas na matéria: Dr.ª Isabel, Dr.ª Carla Domingues e Dr. Jaime Prata. Assim sendo, pousámos as mochilas no auditório do Aquário e deslocámo-nos até à praia, que apresentava maré baixa, como já tinha sido verificado numa tabela de marés. Numa primeira fase, todos os grupos ouviram uma explicação teórica sobre a zona entre marés. A zona entre marés só é possível devido à existência das marés. Estas, por sua vez, correspondem à subida e descida periódicas (2 vezes por dia, correspondendo, respectivamente, à maré alta e maré baixa) do nível das águas do mar, o que leva ao seu avanço e recuo. 2
Isto deve-se ao movimento de rotação da Terra (que está associado à sua força centrífuga e gravítica) e à força gravítica da Lua e do Sol. O desfasamento de 1 hora que se observa entre as marés deve-se ao movimento da Lua e à sua distância em relação à Terra. Diz-se que existem marés vivas quando estas têm maior amplitude do que o normal e, em geral, ocorrem de 15 em 15 dias. As marés mortas, por sua vez, correspondem às marés com menor amplitude aquando do quarto minguante e quarto crescente da Lua. É durante o Equinócio de Outono e da Primavera que surgem as maiores marés de todo o ano. Fig. 3- Explicação do Dr. Jaime Prata relativamente à formação das marés. A zona de marés portuguesa estende-se ao longo de 947km da costa e tem, aproximadamente, 100 metros de largura. A classificação da zona entre marés faz-se de acordo com a distribuição dos seres vivos na mesma. Desse modo, podemos dizer que existem 5 divisões para a zona entre marés: a franja supra-litoral, o eulitoral (superior, médio e inferior) e a franja sublitoral, também conhecida por bosque das Laminárias, que dificultam bastante a captura por parte dos predadores. Os seres vivos possuem adaptações a nível comportamental (caso dos mexilhões, que se agrupam para resistirem ao hidrodinamismo) e a nível fisiológico (presença de brânquias!) para poderem habitar nesses locais. Após mais alguns esclarecimentos sobre os cuidados a termos em relação ao piso e à protecção dos seres vivos, deslocámo-nos até às zonas mais próximas da maré, para observarmos toda a fauna e flora existente. Começámos por ver exemplos dos recifes da barroeira (Sabellaria alveolata), que são muito comuns e importantes para a zona. Os recifes possuem espécies endémicas, isto é, espécies cuja área de distribuição está restrita a esse mesmo local. De seguida, observámos as designadas esponjas (Hymeniacidon sanguínea), que possuem uma cor alaranjada e são animais coloniais, pois fundem o corpo uns nos outros. Em certas zonas, é possível identificar claramente o limite entre o eulitoral inferior e médio, graças à disposição quase rectilínea das esponjas e da barroeira nas rochas. Fig. 4- Limite entre o eulitoral inferior e médio 3
No eulitoral médio identificámos e caracterizámos os tradicionais mexilhões (Mytilus galloprovincialis). Esta é a zona perfeita para estes seres vivos habitarem, visto que há menos competição e estão, assim, livres de tantos predadores, em relação aos mexilhões que se situam 24 horas cobertos por água. São moluscos bivalves e filtradores, pelo que o seu consumo tem de ser cuidadoso. Nesse mesmo local, encontrámos as chamadas lapas (Patella vulgata), que são moluscos gastrópodes herbívoros. Ficámos a saber que as lapas possuem adaptações para se fixarem às rochas e resistirem à força das ondas. Quando vão à procura de alimento (até 6m de distância), libertam um rasto químico que as indica qual o caminho de regresso a casa. Algumas são impossibilitadas de regressar, ficando na rocha uma marca intacta, com a sua forma, no local onde habitavam. A Nucella lapillus, um búzio carnívoro, alimenta-se sobretudo de mexilhões ou cracas. Na altura, foi possível ver alguns dos ovos que esta espécie tinha libertado! Observámos ainda a cracas (Chthamalus stellatus e Chthamalus montagui) e algas como, por exemplo, a Corallina elongata. Fig. 5- Marcas preservadas na rocha (Lapas) Fig. 6- Nucella lapillus Algumas das espécies desenvolveram relações bióticas, como é o caso dos ouriços-do-mar e das algas vermelhas calcárias (Lithophyllum incrustans) que estão em perfeita harmonia simbiose. A maioria das anémonas apresenta um veneno urticante nos seus tentáculos, que pode ser perigoso para o ser humano. São alguns dos seres vivos que guardam água para os períodos de secura. Fig. 7- Simbiose entre o ouriço-do-mar e Lithophyllum incrustans As poças de marés são zonas onde há uma depressão na rocha, sendo um habitat particular que vai mudando à medida do tempo. A temperatura aumenta nesses locais quando a temperatura atmosférica é elevada e vice-versa. Diminuem a sua salinidade só quando chove, porque de resto aumenta (devido à evaporação de água doce, que aumenta a percentagem de sal). A temperatura média do Oceano Atlântico na costa norte é de 15ºC e a salinidade na costa é cerca de 33g/L, devido à água doce dos rios que desaguam no mar. 4
De seguida, procedemos à medição da temperatura e da salinidade em 3 poças de maré, com diferentes diâmetros. Concluímos que a poça que sofre mais alterações é a mais pequena (temperatura 11,9ºC e salinidade 34,5 g/l), pois tem menor quantidade de água. Assim, a poça ideal para os seres vivos seria a maior. Os investigadores, depois, falaram-nos sobre a História da Praia da Aguda. Inicialmente, esta região era conhecida por possuir uma estrutura que provocava muitos acidentes aos pescadores, que surgia do mar, partindo quase todos os barcos: o bico da Aguda. Em 1917 foram construídas as primeiras casas na Aguda, que pertenciam sobretudo aos pescadores de Espinho e da Afurada que se dedicavam à pesca do caranguejo pilado, que vendiam como fertilizante para a agricultura. A pesca do caranguejo pilado era característica da zona, pelo que o símbolo da ELA representa, assim, parte da história da Aguda. Contudo, nos dias de hoje é uma actividade em extinção: já só existem 7 barcos que se dedicam a esta prática! Fig. 8- Pescadores na Aguda Fig. 9- Barcos de pesca na Aguda As armadilhas utilizadas pelos pescadores são bastante perspicazes. Obedecem a um sistema que confunde os seres vivos: têm um funil com abertura maior por onde os seres vivos entram, que se vai estreitando e que os impede de sair. Fig. 10- Caranguejo Pilado Fig. 11- Dr. Jaime Prata a apontar para as armadilhas dos pescadores Prosseguimos até ao parque das Dunas da Aguda, onde já foram identificadas 63 espécies endémicas. Este parque foi iniciado em 2000. Existem várias aves que fazes os seus ninhos nas dunas, visto que se sentem seguras e protegidas. Quando estas dunas começaram a ser preservadas já se encontravam bastante destruídas. Em Abril de 2010 construíram-se protecções em redor das dunas, para evitar que as pessoas as degradassem. 5
As dunas são muito importantes para a protecção das regiões, pois impedem o avanço do mar, visto que a areia é permeável à água. Além disso, servem de suporte de vida a inúmeras plantas e animais. As plantas das dunas absorvem muita água em pouco tempo, pois têm as raízes muito compridas (até 10 metros de raio), folhas e caules grossos e são carnudas. As folhas são também pequenas, para pouparem água. Em suma, as dunas protegem todas as habitações que se situem próximo do mar. Visitámos uma pequena instalação que tinha várias informações relativas às dunas da Aguda, de onde pudemos recolher alguns panfletos alusivos às mesmas. Fig. 12- Dunas da Aguda De seguida, regressámos ao Aquário, a fim de podermos observar as espécies com mais detalhe. Vimos também algumas esculturas realizadas pelo Dr. Mike Webber. Alguns alunos compraram recordações e guias de campo. Fig. 13- No Aquário da ELA Fig. 14- Escultura realizada pelo Dr. Mike Webber Almoçámos, por fim, em frente ao Aquário da ELA. Visto que fazia bastante calor, houve quem aproveitasse para comprar um gelado! Depois de almoço, regressámos a Aveiro, onde chegámos passado cerca de 45 minutos depois. Na nossa opinião, esta saída de campo permitiu-nos alargar os nossos conhecimentos em relação à fauna e à flora estudada, assim como quais os cuidados a ter para não poluir o meio ambiente e, simultaneamente, respeitar todos os seres vivos. 6