Excelentíssima Senhora Ministra CARMEN LÚCIA Presidente do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

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Excelentíssima Senhora Ministra CARMEN LÚCIA Presidente do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL O SOLIDARIEDADE, partido político devidamente registrado no Tribunal Superior Eleitoral e com representação no Congresso Nacional (doc. 1), inscrito no CNPJ n. 18.532.307/0001-07, estabelecido ao SRTVS Qd. 701, Bloco 0, Sala 278, Ed. Multiempresarial-DF - Asa Sul - Brasília - DF, CEP: 70.340-000, representado, na forma do seu Estatuto Social, por seu Presidente Paulo Pereira da Silva, vem, por intermédio de seus advogados com procuração específica (doc. 2), com amparo no art. 102, inciso I, alíneas a e p da Constituição Federal, ajuizar AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE com requerimento de medida cautelar tendo por objeto os artigos 8º, 2º e 5º, 1º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, a fim de que seja dada interpretação a esses dispositivos conforme o art. 57, 4º, CF, com vistas a fixar o entendimento de que a proibição prevista para a recondução do Presidente da Câmara dos Deputados na mesma legislatura também se aplica ao deputado que tenha sido eleito para completar o mandato de Presidente em razão de vacância definitiva, nos termos das razões que se seguem.

DISPOSITIVOS IMPUGNADOS - CABIMENTO DA ADIN Os artigos impugnados possuem a seguinte redação: Art. 5º Na segunda sessão preparatória da primeira sessão legislativa de cada legislatura, no dia 1º de fevereiro, sempre que possível sob a direção da Mesa da sessão anterior realizar-se-á a eleição do Presidente e dos demais membros da Mesa e dos suplentes de Secretários, para mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. 1º Não se considera recondução a eleição para o mesmo cargo em legislaturas diferentes. Art. 8º (...) 2º Se até 30 de novembro do segundo ano de mandato verificar-se qualquer vaga na Mesa, será preenchida mediante eleição, dentro de cinco sessões, observadas as disposições do artigo precedente. Ocorrida a vacância depois dessa data, a Mesa designará um dos membros titulares para responder pelo cargo. O art. 102, I, a, da Constituição Federal, dispõe que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal, sendo pacífico que, dentre os atos normativos federais, figuram aqueles dotados de generalidade e abstração. Além de propostas de emenda à Constituição, leis e medidas provisórias, são passíveis de controle concentrado de constitucionalidade os decretos legislativos e resoluções, inclusive os regimentos internos de Casas Legislativas, conforme doutrina do Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO: Decretos legislativos e resoluções. Estas duas espécies normativas veiculam atos privativos do Congresso Nacional ou de cada uma de suas Casas, tendo força de lei. Sujeitam-se, consequentemente, ao controle de constitucionalidade, tanto formal quanto

material. (...) Já as resoluções são o veículo formal da edição de determinados atos, como os Regimentos Internos das casas legislativas (tanto do Senado Federal como o da Câmara dos Deputados, quanto o regimento comum do Congresso), (...) sendo suscetíveis, igualmente, de controle abstrato. 1 No mesmo sentido, LUIZ GUILHERME MARINONI: São passíveis de controle de constitucionalidade leis federais de qualquer forma ou conteúdo. As leis complementares, as leis ordinárias, as leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos legislativos, as resoluções das Casas Legislativas, os decretos presidenciais, os regimentos internos dos Tribunais Superiores, (...), entre outros, podem ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade. 2 Especificamente no que toca ao controle de constitucionalidade de norma integrante do Regimento Interno de Casas Legislativas há precedente do Supremo Tribunal Federal (ADI 4587, Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJ 18/06/2014): AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 147, 5º, DO REGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS. PAGAMENTO DE REMUNERAÇÃO AOS PARLAMENTARES EM RAZÃO DA CONVOCAÇÃO DE SESSÃO EXTRAORDINÁRIA. AFRONTA AOS ARTS. 39, 4º, E 57, 7º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE VEDAM O PAGAMENTO DE PARCELA INDENIZATÓRIA EM VIRTUDE DESSA CONVOCAÇÃO. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. I O art. 57, 7º, do Texto Constitucional veda o pagamento de parcela indenizatória aos parlamentares em razão de convocação extraordinária. Essa norma é de reprodução obrigatória pelos Estados-membros por força do art. 27, 2º, da Carta Magna. 1 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no Direito Brasileiro. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 177-178. 2 MARINONI, Luiz Guilherme; SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de Direito Constitucional, 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 1006.

II A Constituição é expressa, no art. 39, 4º, ao vedar o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória ao subsídio percebido pelos parlamentares. III Ação direta julgada procedente Mais recentemente, na ADI n. 5.498-DF, Ministro MARCO AURÉLIO, o Supremo Tribunal Federal conheceu da ação e discutiu a interpretação constitucional do art. 187, 3º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados que dispõe sobre a forma/ordem de votação dos deputados no processo de impeachment. É cabível, portanto, a presente ação direta de inconstitucionalidade para que se afastem interpretações do Regimento Interno da Câmara dos Deputados que violem a Constituição Federal. LEGITIMIDADE DO PARTIDO POLÍTICO O REQUERENTE é partido político com representação no Congresso Nacional e, portanto, detém a legitimidade para formalização de ação direta de inconstitucionalidade, tendo em vista o disposto no art. 103, VIII da Constituição Federal. Ademais, de acordo com jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, são os partidos políticos legitimados universais, não lhes sendo imposta a exigência de demonstração da pertinência temática para o ajuizamento de ação direta, tal como decidido no julgamento da ADI 1.407-MC, Min. CELSO DE MELLO, DJ de 24/11/2000. De qualquer forma, mesmo que assim não fosse, o partido REQUERENTE tem pleno interesse na solução da controvérsia posta nesta ação, uma vez que afeta a eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados.

Assentada, portanto, o cabimento da ação e a legitimidade ativa do SOLIDARIEDADE para ajuizamento desta ação de inconstitucionalidade, remanesce a demonstração da interpretação conforme das referidas normas regimentais, o que faz no próximo tópico. INTERPRETAÇÃO CONFORME A MATÉRIA NÃO É INTERNA CORPORIS Como dito, o objeto desta ação busca conferir interpretação conforme dos artigos 5º, 2º e 8º, 1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, de modo a interpretalos com o disposto no 4º do art. 57 da Constituição Federal. Primeiramente, é bom que se diga que a questão não é interna corporis por duas razões fundamentais: (a) as violações à Constituição Federal, ainda que ocorridas no âmbito de procedimentos parlamentares, não são, de acordo com a Jurisprudência do STF, questões interna corporis; (b) a eleição do Presidente da Câmara dos Deputados possui relevante papel na condução do país, especialmente no momento atual, quando o Presidente da Câmara dos Deputados é o primeiro na linha sucessória da Presidência da República. Quando há possível violação à Constituição, não há questão interna corporis. O Supremo Tribunal Federal tem considerado possível o controle da regularidade procedimental quando há inobservância da Constituição Federal. Ou seja, esta Corte admite mesmo o controle da regularidade do devido processo legislativo sempre que haja violação da Constituição Federal. Trata-se de modalidade excepcional de controle preventivo da constitucionalidade das leis. No presente caso, requer-se a observância de norma expressa da Constituição que trata da eleição de

Presidente da Câmara dos Deputados. Mesmo sob o prisma da autocontenção da jurisdição constitucional, a controvérsia constitucional a propósito da definição central da eleição da Presidência da Câmara dos Deputados constitui matéria fundamental para o funcionamento regular da democracia. O que está em questão é a necessidade de definição clara, prévia e segura das regras do jogo. A grave insegurança jurídica que gravita em torno do tema desestabiliza um dos Poderes da República, na medida em que cria incertezas em relação aos possíveis candidatos, atrapalhando o processo eleitoral. Esta Suprema Corte, aliás, recentemente, já definiu que parlamentares com denúncias criminais recebidas pelo próprio STF não podem exercer o cargo de presidente das casas legislativas (ADPF n. 402-DF, Min. MARCO AURÉLIO). Ou seja, o estabelecimento de regras claras para o ocupante do cargo de Presidente da Câmara dos Deputados é essencial para que o respectivo processo eleitoral transcorra normalmente, sem máculas ou vícios, evitando-se posteriores impugnações e, com isso, insegurança jurídica. Insista-se, não é caso de se aplicar o parâmetro tradicional de autocontenção judiciária segundo o qual não cabe ao Poder Judiciário interferir em questões políticas. O princípio da inafastabilidade da jurisdição deve prevalecer nesses casos, sobretudo no tocante à observância da questão central envolvendo a eleição do Presidente da Câmara dos Deputados: os impedimentos de possíveis candidatos. Ao garantir a obediência a parâmetros constitucionais, o Judiciário contribuirá para a legitimação do resultado final.

É igualmente inaplicável a regra de autocontenção judicial segundo a qual descabe ao Supremo Tribunal Federal intervir nas chamadas questões interna corporis ao Parlamento. A fixação de parâmetros para o próximo Presidente da Câmara dos Deputados não é questão interna corporis, tanto é, como dito, que esta Corte já determinou que réu em processo criminal não pode exercer esse cargo. Pois bem. O que se busca nesta ação é que sejam afastadas interpretações inconstitucionais aos artigos 5º, 2º e 8º, 1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. A Constituição Federal, em seu 4º, do art. 57, estabelece que serão realizadas sessões preparatórias pelas Casas Legislativas, antes do início dos trabalhos ordinários, destinadas à posse dos seus membros e eleição das suas respectivas Mesas Diretoras, para um mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição subsequente. Essa é a redação do dispositivo constitucional: Art. 57 (...) 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro do primeiro ano da legislatura, para posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. A Constituição, portanto, é clara ao vedar a recondução do Presidente da Câmara dos Deputados na eleição imediatamente subsequente.

A dúvida, no entanto, reside quando há vacância do cargo de Presidente da Câmara dos Deputados no curso do mandato e outro parlamentar é eleito para complementar o biênio, conforme disposto no art. 8º, 2º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, assim redigido: Art. 8º (...) 2º Se até 30 de novembro do segundo ano de mandato verificar-se qualquer vaga na Mesa, será preenchida mediante eleição, dentro de cinco sessões, observadas as disposições do artigo precedente. Ocorrida a vacância depois dessa data, a Mesa designará um dos membros titulares para responder pelo cargo. A discussão é se esse deputado que foi eleito para complementar o mandato de Presidente (mandato tampão) ou mesmo de outro cargo na Mesa teria ou não condição de disputar uma nova eleição para o mesmo cargo, na mesma legislatura. Essa interpretação inconstitucional se baseia na premissa de que o parlamentar, uma vez eleito, mesmo que para completar o tempo do mandato do outro, não teria tido a oportunidade de cumprir os dois anos do mandato. Outra razão estaria no fato de que a Constituição não trata dessa situação específica, do chamado mandato tampão e, neste caso, não seria aplicável a vedação do 4º do art. 57, da CF. Esse entendimento não se sustenta, data vênia. A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados é o órgão de direção dos trabalhos legislativos e dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados e compõe-se de Presidência e de Secretaria, constituindo-se, a primeira, do Presidente e de dois Vice-Presidentes e, a segunda, de quatro Secretários. A Mesa conta ainda com quatro suplentes de

Secretários e suas decisões são tomadas por maioria de votos, em reunião da qual participam todos os seus membros titulares. A Constituição Federal conferiu autonomia às Mesas das duas Casas do Congresso Nacional para decidirem sobre matérias de sua competência e dois anos de mandato. As atribuições da Mesa e de cada um dos seus membros estão definidas nos respectivos regimentos internos. A eleição que se realiza a cada dois anos, em sessão preparatória, é a forma pela qual o deputado pode integrar a Mesa Diretora. Entretanto, o deputado eleito poderá, por alguma razão, não cumprir integralmente os dois anos de mandato da Mesa Diretora. Neste caso, conforme disposto no art. 8º, 2º, o Regimento Interno da Câmara dos Deputados estabeleceu duas formas para o preenchimento dessa vaga: a primeira por meio da realização de nova eleição se a vaga surgir até o dia 30 de novembro do segundo ano do mandato; a segunda, por designação da própria Mesa, para que um dos seus membros responda pelo cargo, se a vaga surgir após aquela data. Não há dúvida de que o candidato a esta vaga estará sujeito às mesmas condições e restrições do seu antecessor. Não se trata de um mandato à parte ou de um outro tipo de mandato, mas sim do mesmo, vale dizer, de Presidente da Câmara dos Deputados. É importante que se diga que tanto a Constituição Federal quanto Regimento Interno da Câmara dos Deputados foram enfáticos ao vedarem a hipótese de reeleição dos membros da Mesa para os mesmos cargos na mesma legislatura. Nesse aspecto, o legislador considerou o princípio da unidade da legislatura, para permitir a reeleição apenas no caso de legislaturas diferentes.

Observa-se, ainda, que a Constituição Federal adotou a expressão recondução ao invés de reeleição, para tornar claro que o parlamentar que tenha ocupado um cargo na Mesa não poderá, em nenhuma hipótese, ser reconduzido a este mesmo cargo na mesma legislatura, seja por meio de eleição ou de indicação, conforme as situações previstas no Regimento Interno de cada Casa Legislativa. Na dicção do parágrafo 1º do art. 5º do Regimento Interno, ficou expressa a determinação do legislador em somente autorizar a candidatura para o mesmo cargo na Mesa em legislaturas diferentes. Art. 5º Na segunda sessão preparatória da primeira sessão legislativa de cada legislatura, no dia 1º de fevereiro, sempre que possível sob a direção da Mesa da sessão anterior realizar-se-á a eleição do Presidente e dos demais membros da Mesa e dos suplentes de Secretários, para mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. 1º Não se considera recondução a eleição para o mesmo cargo em legislaturas diferentes. A expressão recondução adotada pela Constituição Federal no dispositivo que impede o deputado que ocupou um cargo na Mesa possa concorrer ao mesmo cargo na eleição subsequente evidencia a intenção do legislador em impossibilitar a aplicação do instituto da reeleição. Assim, o parlamentar que tenha completado o mandato no primeiro biênio não poderá concorrer ao mesmo cargo na Mesa Diretora na mesma legislatura. Em legislaturas diferentes, não há essa restrição. Essa interpretação, além de estar de acordo com o art. 57, 4º da Constituição Federal, também se harmoniza com o

princípio da isonomia entre os postulantes ao cargo, a fim de evitar que o parlamentar que esteja no cargo de Presidente possa ter benefícios e privilégios na disputa eleitoral em relação aos seus concorrentes, já que terá mais poder para firmar, por exemplo, alianças e acordos com seus pares. A chamada paridade de armas deve ser observada neste caso, considerando que o atual ocupante do cargo tem privilégios que os demais candidatos não possuem, como deslocamento com avião da FAB, residência oficial, disponibilidade para realizar confraternizações, maior número de funcionários, muitos cargos à disposição, etc. Além disso, isso é o mais importante, as regras da eleição para o novo Presidente da Câmara dos Deputados nesses casos de escolha quando já transcorrido metade da legislatura é feita pelo próprio Presidente, nos termos do art. 6º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, assim redigido: Art. 6º No terceiro ano de cada legislatura, em data e hora previamente designadas pelo Presidente da Câmara dos Deputados, antes de inaugurada a sessão legislativa e sob a direção da Mesa da sessão anterior, realizar-se-á a eleição do Presidente, dos demais membros da Mesa e dos Suplentes dos Secretários. O art. 7º, RICD, por sua vez, ao tratar das regras dessa eleição, atribui ao Presidente da Câmara dos Deputados a condução dos trabalhos, como designação de Secretário, leitura dos nomes, proclamação do resultado, posse dos eleitos, etc. Ora, é absolutamente incongruente se permitir que o próprio candidato fixe unilateralmente as regras da eleição e, o pior, conduza o processo eleitoral. A situação, com todo o respeito, caso prevaleça, é absolutamente esdrúxula, o que

obriga a manifestação firme desta Corte, evitando-se a teratologia. Pode-se dizer, é bem verdade, que o instituto da reeleição foi adotado para o Poder Executivo e, portanto, também poderia, eventualmente, ser aplicado aos demais Poderes da República. Ocorre, no entanto, que para o Poder Executivo a eleição é por meio de voto popular, o que é bem diferente dos Poderes Legislativo e Judiciário, nos quais a escolha para presidente é feita pelos respectivos pares. Essa distinção é fundamental para que não se entenda aplicável aos Poderes Legislativo e Judiciário o instituto da reeleição. A rotatividade na escolha de Presidentes do Legislativo e do Judiciário é salutar e, por isso, tem assento legal. Quanto ao Poder Legislativo, a regra é constitucional (art. 57, 4º); já quanto ao Poder Judiciário, a vedação é prevista na LOMAN, art. 102, cuja redação é a seguinte: Art. 102 - Os Tribunais, pela maioria dos seus membros efetivos, por votação secreta, elegerão dentre seus Juízes mais antigos, em número correspondente ao dos cargos de direção, os titulares destes, com mandato por dois anos, proibida a reeleição. Quem tiver exercido quaisquer cargos de direção por quatro anos, ou o de Presidente, não figurará mais entre os elegíveis, até que se esgotem todos os nomes, na ordem de antigüidade. É obrigatória a aceitação do cargo, salvo recusa manifestada e aceita antes da eleição. Recentemente, aliás, em julgamento realizado no último dia 14/12/2016, o Plenário desta Corte, nos autos da ADI n. 5.310-DF, Min. CARMEN LÚCIA, considerou inconstitucional regra do TJRJ que permitia a reeleição do Presidente. A decisão foi assim noticiada pelo site do Tribunal, merecendo atenção os trechos destacados:

Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão nesta quartafeira (14), considerou inconstitucional norma do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) que permite a reeleição de desembargadores para cargos de direção após o intervalo de dois mandatos. Por sete votos a três, os ministros julgaram procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5310, ajuizada pela Procuradoria Geral da República, por entenderem que a norma contraria o disposto na Lei Orgânica da Magistratura Loman (Lei Complementar 35/1979). A relatora da ação, ministra Cármen Lúcia, observou que a Loman, em seu artigo 102, é clara ao vedar a reeleição para cargos de direção dos tribunais de justiça. Segundo a lei, quem tiver exercido quaisquer cargos de direção por quatro anos, ou o de presidente, não figurará mais entre os elegíveis, até que se esgotem todos os nomes, na ordem de antiguidade. A ministra salientou que, de acordo com diversos precedentes do STF, a Loman foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. A presidente do STF destacou que a jurisprudência do STF é no sentido de que, até se elabore outro estatuto da magistratura, conforme estabelece o artigo 93 da Constituição, a eleição nos tribunais deverá ser regulada pela Loman. Segundo ela, ao permitir nova eleição de desembargador para cargo no órgão diretivo do tribunal, mesmo se observando o intervalo de dois mandatos, o plenário do TJ-RJ inovou e, dessa forma, contrariou as balizas fixadas pela lei. A relatora lembrou que o Judiciário é um poder nacional e seus membros devem estar submetidos a regras uniformes. Ela frisou que a Loman define regime jurídico para a magistratura, viabilizando tratamento nacional válido para todas as instâncias e tribunais para as questões do Judiciário, garantindo a necessária independência e autonomia que possibilitem a prestação jurisdicional pelos órgãos locais, mas sem deixar de se ter um estatuto constitucional a ser obedecido por todos. A caracterização das normas da Loman como meramente programáticas, ou não vinculantes, para

o Legislativo e Judiciário estaduais abriria uma via perigosa para a concessão ilimitada de privilégios e, ao fim e ao cabo, poderia dar ensejo a um quadro instável de troca institucional de boas vontades entre os poderes locais incompatível com a independência assegurada constitucionalmente ao Poder Judiciário, afirmou a presidente. Acrescente-se, ainda, que o art. 14, 5º da Constituição, ao tratar do instituto da reeleição no âmbito do Poder Executivo, equipara aquele que foi eleito para cumprir o chamado mandato tampão com aquele que foi eleito regularmente para cumprir o mandato por inteiro. Em ambos os casos, é permitida uma única reeleição. A propósito, dispõe a norma: Art. 14 (...) 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. Se não houvesse essa equiparação, ou melhor, se não se considerasse como efetivo exercício de mandato o período do mandato tampão, poder-se-ia cogitar da possibilidade de um mesmo político exercer o mesmo cargo eletivo por três vezes consecutivas. Uma como tampão e duas outras vezes de forma regular, o que definitivamente não é permitido na Constituição, mesmo para o Poder Executivo. Não há dúvida em dizer que o chamado mandato tampão se equipara ao mandato regular e, por isso, aquele que ocupa o cargo nessa situação está sujeito às mesmas condições e restrições do seu antecessor. o seguinte posicionamento: A propósito, na Consulta n. 1.577, o TSE externou Consulta. Cargo eletivo majoritário. Poder Executivo. Exercício. Mandato tampão. Reeleição. Pretensão. Candidatura. Impossibilidade.

1. O candidato que exerceu um primeiro mandato no Poder Executivo, denominado "tampão", e foi reeleito para um segundo, não pode concorrer no pleito subsequente, sob pena de configurar o exercício de três mandatos consecutivos. 2. A teor do que disposto pelo art. 14, 5o e 7, da Constituição Federal, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins até o segundo grau do prefeito reeleito também não poderão candidatar-se ao referido cargo no pleito subsequente. Consulta respondida negativamente Se esse é o raciocínio aplicado ao Poder Executivo, o mesmo deve ocorrer ao Poder Legislativo. O mandato tampão, seja no Poder Executivo seja no Poder Legislativo, deve ter a mesma interpretação. Se se equipara a um mandato regular, deve ser computado para fins de reeleição. Ou seja, no Poder Executivo, a reeleição daquele que ocupou mandato tampão poderá ocorrer uma única vez, porque assim permite o art. 14, 5º, CF. Já no Poder Legislativo, aquele que ocupou o mandato tampão não poderá concorrer à reeleição, na mesma legislatura, porque assim veda o art. 57, 4º, CF. Se assim não se entender, o atual Presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo, poderá ocupar o mesmo cargo por três vezes consecutivas: agora com o mandato tampão, no próximo biênio (nessa mesma legislatura) e no primeiro biênio da próxima legislatura. Essa interpretação não encontra amparo em dispositivo constitucional algum, nem, mutatis mutandis, na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.

INTERPRETAÇÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS - PREVALÊNCIA Há quem defenda que o art. 57, 4º da Constituição Federal não seria explícito acerca da possibilidade ou não da reeleição de quem tenha sido eleito para completar o mandato de Presidente que renunciou. O relato da norma, segundo essa corrente, seria possível afirmar que ambas as interpretações são plausíveis e razoáveis. Nessa linha de raciocínio, havendo duas interpretações plausíveis e razoáveis, esta Corte tem prestigiado a interpretação dada pela própria Casa Legislativa. Isso se deu, inclusive, na referida ADI n. 5.498-DF, Ministro MARCO AURÉLIO, na qual se discutiu a interpretação do art. 187, 3º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados que dispõe sobre a forma/ordem de votação dos deputados no processo de impeachment. Ou seja, havendo duas interpretações constitucionais, o Supremo Tribunal Federal deve ser deferente para com a decisão política tomada pela respectiva Casa Legislativa. Na história recente da Câmara dos Deputados, o questionamento sobre a possibilidade de reeleição de quaisquer dos ocupantes de cargos da Mesa foi levantado poucas vezes. Na verdade, apenas nas reuniões que antecederam a reeleição do Deputado ULYSSES GUIMARÃES, para o biênio 1987/1988, que esse tema foi exaustivamente discutido, tendo sido chamada, para elucidar a questão, a Comissão de Constituição e Justiça, ocasião em que restou decidido que poderia haver a reeleição apenas e exclusivamente em

legislaturas distintas, o que ocasionou inclusive a mudança no Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Antes, a CCJ somente havia sido provocada uma vez sobre esse tema, em 12/11/80, para pronunciar-se sobre a candidatura do Deputado HOMERO SANTOS, Primeiro Vice-Presidente da Casa, que pretendia concorrer no biênio 1981/1982, para a Presidência da Câmara dos Deputados. A decisão da CCJ, em parecer do Relator, Deputado ERNANY SATIRO, aprovado por grande maioria, foi no sentido de que ele não poderia concorrer a qualquer cargo na Mesa, na mesma legislatura. No parecer, o Relator afirma que "parece desnecessário dizer mais, para chegarmos à conclusão irretorquível de que nenhum dos membros da atual Mesa da Câmara dos Deputados pode ser eleito para qualquer outro de seus cargos, no próximo biénio, o que vale dizer, nesta legislatura". O Relator disse mais: "Se o texto constitucional pode dar margem a dúvida, por certa imprecisão, de que fala o mestre Miguel Reale, o Regimento Interno da Câmara afasta essa dúvida, como ensinam quase todas as autoridades". O texto regimental à época era expresso no sentido da proibição da reeleição para quaisquer cargos da Mesa, mesmo em legislaturas distintas: Art. 13. À Mesa da Câmara compete a direção dos trabalhos legislativos e a supervisão dos Serviços Administrativos da Casa. 5º O mandato da Mesa é de dois anos proibida a reeleição. Embora a situação retratada nessa decisão da CCJ não seja completamente idêntica a que se põe a debate nesta ocasião, o fato é que parece não haver dúvida de que a intenção do Poder Legislativo, na linha do que dispõe a Constituição, sempre foi a de vedar a recondução do Presidente, ainda que seja

nessa hipótese de eleição para complementar o mandato em razão de vacância permanente do Presidente. Em suma, mesmo admitindo que sejam possíveis duas interpretações constitucionais sobre a questão, deve prevalecer a tendência da Câmara dos Deputados de interpretar restritivamente a possibilidade reeleição do Presidente da Câmara dos Deputados. A mudança no Regimento Interno foi apenas para permitir a reeleição em legislaturas distintas, nunca na mesma legislatura. MEDIDA CAUTELAR A Constituição Federal na alínea p do inciso I de seu art. 102, e a Lei n. 9.868/99, em seus arts. 10 a 12, autorizam o Supremo Tribunal Federal a deferir medidas cautelares nos casos em que se façam presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, tal como amplamente assentado na jurisprudência do STF, como se pode verificar por mera ilustração no julgamento da ADI 4.062-MC, Min. JOAQUIM BARBOSA, DJ de 19/06/2008 e da ADI 3.923-MC, Min. EROS GRAU, DJ de 15/02/2008. No caso, fumus boni iuris pode ser facilmente depreendido dos argumentos esgrimidos no item anterior da presente petição. É evidente que a Constituição Federal veda a recondução ou reeleição do Presidente, dentro da mesma legislatura, ainda que o Deputado que pretende ser reconduzido tenha sido eleito apenas para complementar o mandato do Presidente que renunciou. Como dito, o mandato tampão se equipara ao mandato regular e, portanto, aquele que ocupou o cargo naquela situação está sujeito às mesmas condições e restrições do seu antecessor ou daquele que cumpriu o mandato por inteiro.

Por outro lado, o periculum in mora decorre da insegurança jurídica da próxima eleição para Presidente da Câmara dos Deputados, a ser realizada em fevereiro de 2017. Não há dúvida de que a incerteza sobre a candidatura do atual Presidente, Deputado RODRIGO MAIA, pode atrapalhar e viciar o processo eleitoral. Essa incerteza influencia as alianças e as estratégias que já estão sendo tomadas pelos candidatos. A urgência na definição de uma interpretação conforme à Constituição decorre, também, da possibilidade de haver impugnações posteriores, o que vai fazer com que a Câmara dos Deputados ainda fique mais exposta perante a opinião pública. É urgente que seja definida a questão, com o estabelecimento de um parâmetro constitucional e, assim, haja uma certeza jurídica a respeito do próximo Presidente da Casa. Não é demais lembrar, como dito, a situação peculiar do momento atual do país, na qual o Presidente da Câmara dos Deputados passou a ser o primeiro na linha sucessória do Presidente da República. Nem se diga que o fato de a eleição ser apenas em fevereiro/2017 afastaria a urgência. O momento de acertos e alianças é agora, e não apenas na data da eleição. É necessário um tempo para que a campanha seja realizada com segurança e harmonia. Por essas razões, sendo imprescindível a rápida análise da pretensão posta nesta petição, requer desde logo o SOLIDARIEDADE que não se aplique, na espécie, o rito previsto no art. 12 da Lei 9.868/99, permitindo o julgamento da cautelar com a maior brevidade possível, ainda que seja monocraticamente, considerando o recesso do Poder Judiciário que se aproxima e a eleição marcada para fevereiro/2017.

PEDIDOS Ante o exposto, o SOLIDARIEDADE requer, inicialmente, a concessão de medida cautelar para emprestar aos artigos 8º, 2º e 5º, 1º do Regimento Interno da Câmara dos Deputados interpretação conforme o art. 57, 4º, CF, com vistas a fixar o entendimento de que a proibição prevista para a recondução do Presidente da Câmara dos Deputados na mesma legislatura também se aplica ao deputado que tenha sido eleito para completar o mandato de Presidente em razão de vacância definitiva. Ao final, concedida a cautelar e seguidos os procedimentos previstos nos arts. 8º e 9º da Lei n. 9.868/99, que seja julgada procedente a presente ação direta de inconstitucionalidade, declarando-se que a única intepretação constitucionalmente adequada aos artigos é a ora propugnada. Requer, ainda, que as publicações e intimações sejam feitas em nome do advogado TIAGO CEDRAZ LEITE OLIVEIRA (OAB/DF 23.167), sob pena de nulidade. Brasília, 15 de dezembro de 2016. CAROLINE LACERDA OAB/DF 42.238