UNINOVE UM BREVE HISTÓRICO DO PERÍODO JESUÍTICO NO BRASIL E O RATIO STUDIORUM



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Transcrição:

UNINOVE ANAIS DO IV ENCONTRO DE PESQUISA DISCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNINOVE UM BREVE HISTÓRICO DO PERÍODO JESUÍTICO NO BRASIL E O RATIO STUDIORUM Manuela Pereira de Sousa PPGE UNINOVE A Reforma Protestante foi um movimento que iniciou-se com caráter religioso mas que obteve repercussões na política, na economia, nas relações de trabalho, na cultura e, notadamente, na educação. Com a expansão dos ideais Reformistas, a hegemonia da Igreja Católica foi ameaçada e, conseqüentemente, a sua proposta educacional. Assim, a Contrareforma surge como um movimento reacionário da Igreja Católica que tinha como objetivo manter a soberania de seus pensamentos e a centralidade do poder na figura do papa. A educação jesuítica foi utilizada com o objetivo missionário da Contra-reforma, implementando o poder da Igreja entre os povos tidos como infiéis. O Ratio Studiorum plano de estudos da Companhia de Jesus foi fundamental para a consolidação dos objetivos da educação jesuítica, pois regulamentou todo o sistema escolar e as suas metas: a busca do homem perfeito e do bom cristão. Esse documento apresentava todas as diretrizes educacionais jesuíticas, sendo extremamente detalhado em relação à composição e organização de turmas, aos horários, aos programas e à disciplina. Compreender esse período da educação brasileira faz-se necessário, uma vez que, até o ano de 1759, os jesuítas obtiveram, praticamente, o monopólio sobre a educação brasileira e a sua influência pode ser sentida até os dias atuais. Palavras-chave: Educação Jesuítica, Ratio Studiorum, História da Educação. CONTEXTO HISTÓRICO: BREVES CONSIDERAÇÕES Antes de iniciar uma reflexão sobre a educação jesuítica no Brasil convém fazer algumas breves considerações sobre o contexto histórico envolvido. A Idade Média apresentava sua visão de mundo centrada no Divino, a Igreja mostrava-se soberana e, todo o conhecimento gerado estava centrado nesta concepção, qualquer conhecimento que não pertencesse a esta lógica era, de certa forma, rechaçado. De acordo com Keim (2010), com a passagem do mundo europeu da Idade Média para a Idade Moderna, alguns adventos transformaram aquela sociedade profundamente como, por exemplo, a imprensa que possibilitou que o povo tivesse acesso a textos escritos; o Renascimento que incitou novas

2 maneiras de organização social; as grandes navegações que iniciaram o processo que hoje denominaríamos de globalização, entre outros. Assim, As rupturas socioeconômicas do mundo Moderno desembocaram numa nova divisão do trabalho, no aparecimento das cidades e no desenvolvimento de uma mentalidade geradora de uma maior racionalização. (JARDILINO, 2009, p. 13). Desta forma, o homem, que durante toda Idade Média, fora fundamentalmente religioso, passou a olhar o mundo a partir de uma outra lógica, pautada em suas próprias experiências, em sua própria história. Nesta nova forma de pensar, surge a Reforma protestante que...está no marco das rachaduras provocadas pela ação histórica dos homens no estruturado mundo medieval (JARDILINO, 2009, p. 27), e que, criticava a soberania da Igreja, contestando a autoridade dos concílios eclesiásticos e do papa e voltava-se para a...sola Scriptura, ou seja, toda a autoridade religiosa estava centrada nas Escrituras Sagradas (p. 24). Assim, com a Reforma, o acesso a Deus é modificado possibilitando a livre interpretação da Bíblia. 1 Com a expansão do protestantismo, a Igreja Católica perde a hegemonia no pensamento e, consequetemente, a sua proposta educacional passa a ser ameaçada. Assim, à medida que a Reforma vai se consolidando enquanto movimento político, a Igreja Católica reage em um movimento denominado Contra-reforma. De acordo com Manacorda (2010), existiu uma grande resistência da Igreja Católica em relação ao livre-arbítrio provocado pela difusão do conhecimento das Sagradas Escrituras para as classes populares. Desta forma, há um grande esforço da Igreja Católica em substanciar o seu processo educativo em prol de seus objetivos. De 1545 a 1564 ocorre o Concílio de Trento que determina a necessidade de uma reforma dentro da própria Igreja Católica. Os Jesuítas foram a alma espiritual deste Concílio que decidiu por manter a centralidade do poder no Papa e, por conta disto, a obediência direta a ele. O Concílio de Trento providenciou a reorganização das escolas católicas, evocando explicitamente as antigas tradições. Reorganizou as escolas das igrejas metropolitanas (catedrais) e aquelas mais pobres, dos mosteiros e 1 Vale ressaltar que a Reforma Protestante teve seu início enquanto um movimento religioso, mas que por sua magnitude ultrapassa este âmbito e influencia movimentos de reforma nas demais áreas da sociedade como a política, a economia, o trabalho, a cultura e religião, e, principalmente, a educação. Na Reforma, colocava-se na educação básica a função de sustentar esta nova sociedade e esta nova forma de entendimento da religião. 2

3 conventos, regulamentou o ensino da gramática, das Sagradas Escrituras e da teologia, e introduziu o estudo da teologia também nos ginásios, submetendo tudo ao controle do bispo (Sessio V, Dexretum de reformatione apud MANACORDA, 2010, p. 247). De acordo com o autor, os jesuítas foram os impulsionadores da luta da Igreja Católica contra o protestantismo. E sua disciplina educativa foi utilizada a serviço do objetivo religioso. A educação jesuítica no Brasil A educação brasileira constitui-se por diversas fases. A educação jesuítica corresponde a mais extensa delas, abrangendo o período de 1549 ano da chegada dos jesuítas ao Brasil até 1759 ano da expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Para compreender o método pedagógico dos jesuítas no Brasil, faz-se necessário conhecer um pouco sobre a realidade da época e as suas características culturais, econômicas, políticas e religiosas. O Brasil, enquanto colônia, estrutura-se como um país dependente política e economicamente da sua Metrópole Portugal. Desta forma, pensa-se em um Estado sem autonomia cujo principal objetivo é gerar riquezas para a economia portuguesa. Quando os jesuítas chegaram ao Brasil, encontraram uma economia iniciando-se pela agricultura (principalmente por meio da monocultura da cana-de-açúcar) e organizando-se sob um regime escravocrata (primeiramente por meio dos índios e, posteriormente, sob os negros africanos). Tal sistema objetivava, principalmente, a obtenção de lucro para a Coroa Portuguesa e o início de um processo de povoamento e organização do Brasil, o que garantia de um certo modo, proteção e monopólio sobre a Colônia uma vez que, havia grande interesse pelas terras brasileiras em outros países da Europa. Tal realidade mostra-se oposta à missão jesuítica que se opunha à escravidão. Assim, pode-se dizer que nesse momento, havia um conflito de interesses: por um lado a Metrópole com a finalidade de Colonização em um projeto invasor com o objetivo da exploração e do lucro e, por outro lado, a Igreja com o seu projeto Missionário (HILSDORF, 2003). Os jesuítas tinham como principal objetivo, a conversão do gentio por meio da implantação do poder da Igreja entre os povos tidos como infiéis. Assim,... a sua espantosa atividade missionária, política e educadora, se apresentava subordinada às exigências ecumênicas da Igreja e aos supremos interêsses [sic] da religião. (AZEVEDO, 1971, p. 510). Em outras palavras,... os jesuítas são ativos missionários, vão ao encontro de novos fiéis, 3

4 fazem catequese e se põem a serviço do Papado, para reformar a centralização institucional e a unidade doutrinária da Igreja Católica... (HILSDORF, 2003, p. 4). O processo de educação dos jesuítas mostrou-se, principalmente sob o objetivo Missionário. Segundo Mattos (apud HILSDORF, 2003) pode-se dividir a educação jesuítica em dois períodos: o período heróico (1549-1570) e o período de consolidação e expansão (1570-1759). No período heróico, houve um deslocamento dos jesuítas para as aldeias indígenas, onde deveriam adotar os costumas e crenças desses povos. Desta forma, a catequese ocorria por contato e convencimento dos índios por meio de uma aproximação com a sua cultura. Porém, como o método não surgiu o efeito esperado pois os índios se mostravam muitas vezes não receptivos os jesuítas resolveram alterar e suprimir a cultura indígena com o objetivo da doutrinação. Aqui, havia o recolhimento das crianças das aldeias que eram levadas para as instituições então denominadas de Casas de Meninos onde lhes eram ensinado português, música e, obviamente, a doutrina cristã. O período de consolidação e expansão caracteriza-se pela atuação dos jesuítas em instituições escolares. Desta forma, os primeiros colégios vão surgindo no Brasil. Nestas instituições escolares objetiva-se oferecer ensino gratuito em atividade missionária, a todas as pessoas. Na prática, apenas os filhos dos colonos brancos acabaram as freqüentando. A estrutura e o currículo das instituições escolares baseavam-se no Ratio Studiorum documento datado de 1599 que definia o plano de estudos dos colégios. Dentre as suas características, definia-se o ensino de humanidades, retórica e filosofia com o objetivo de formar indivíduos letrados e eruditos (AZEVEDO, 1971). O Ratio Studiorum O Ratio Studiorum é criado para manter a soberania católica na educação. Ele é o plano de estudos da Companhia de Jesus e apresentou fundamental importância para consolidar os objetivos da educação jesuítica. Esse documento organizava e regia a atividade nos colégios e estabelecimentos de ensino. De acordo com Manacorda, no fim do século (1586-99) apareceu o Ratio Studiorum, que regulamentou rigorosamente todo o sistema escolástico jesuítico: a organização em classes, os horários, os programas e a disciplina. (MANACORDA, 2010, p. 248). O documento é um sistema de organização das instituições composto por regras e prescrições práticas. O objetivo do Ratio Studiorum é a formação do homem perfeito, do bom cristão (LEONEL FRANÇA, 1952). 4

5 O aluno deve desenvolver todas as suas faculdades, postas em exercício pelo homem que se exprime e adquirir a arte de vazar esta manifestação de si mesmo nos moldes de uma expressão perfeita.(leonel FRANÇA, 1952, p. 49). Ou seja, o objetivo da educação jesuítica era individual social, intelectual e religioso. E deveria possibilitar que o homem utilizasse os recursos existentes apenas para a as exigências da vida; contribuir para a elaboração de leis e da boa administração pública, dar à natureza racional do homem o esplendor, a perfeição e a magnitude inerentes a ela; assegurar a defesa do ensino e da difusão da religião católica e, por fim, encaminhar os homens ao seu destino salvar o homem e glorificar a Deus. (LEONEL FRANÇA, 1952). No que se tange a estrutura curricular no Ratio Studiorum, Eram previstos seis anos de studia inferiora, divididos em cinco cursos (três de gramática, um de humanidades ou poesia, um de retórica); um triênio de studia superiora de filosofia (lógica, física, ética), um ano de metafísica, matemática superior, psicologia e fisiologia. Após um repetitio generallis e um período de prática de magistério, passava-se ao estudo da teologia, que durava quatro anos. (MANACORDA, 2010, p. 248). De acordo com Leonel França (1952), no curso secundário o objetivo é essencialmente humanista, voltado mais para a arte do que para a ciência e abrange 5 classes: a gramática superior, média e inferior, a retórica e as humanidades. Quando se terminava a formação literária e humanística, o aluno passava a estudar as ciências até então constituídas a matemática, a astronomia e a física. Em relação à carga horária, o Ratio Studiorum determina cinco horas de aula por dia, divididas em duas horas e meia pela manhã e duas horas e meia a tarde. A metodologia adotada por esse plano de estudos mostra-se ampla e diversificada. De acordo com Leonel França (1952), entende-se por metodologia os procedimentos didáticos adotados para a transmissão dos conhecimentos. Segundo o autor, o método utilizado pelo Ratio Studiorum é ativo, em um processo de colaboração entre os professores e os alunos. A premiação por mérito era incentivada pelos jesuítas e os castigos físicos só eram utilizados em última circunstância; Os jesuítas não eram amigos dos castigos corporais. Não os suprimiram de todo, mas alistaram-se decididamente entre os quais mais contribuíram para suavizar a disciplina. (LEONEL FRANÇA, 1952, p. 60). 5

6 Nota-se que o Ratio Studiorum foi uma tentativa bem-sucedida de organizar e sistematizar a educação jesuítica sendo utilizado mundialmente, inclusive no Brasil. Os colégios e instituições escolares mantinham-se fiéis aos seus princípios gerais e orientações pedagógicas. Até 1759, os jesuítas mantiveram praticamente o monopólio sobre a educação brasileira. E foram os maiores responsáveis pela catequese do índio, convertendo os nativos ao catolicismo, mudando seus hábitos e idioma em um processo denominado, por muitos de aculturação indígena em prol de uma civilização cristã ocidental. Porém, não se pode negar a marca e a influência que a educação jesuítica deixou para o Brasil, mostrando-se extremamente abrangente e organizada aos seus objetivos. Assim, devemos procurar entender a educação jesuítica contextualizada a sua realidade e as características do seu tempo. REFERÊNCIAS AZEVEDO, F. de A cultura brasileira, 5ª edição, São Paulo: Melhoramentos, Editora USP, 1971. HILSDORF, M.L.S. História da Educação Brasileira: Leituras. São Paulo: Thomson Learning, 2003. JARDILINO, J, R. L. Lutero e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009 (Pensadores & Educação). KEIM, E, J. A educação e a revolução social de Martinho Lutero Eccos, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 219-237, jan./jun. 2010. LEONEL FRANÇA, S.J. O método pedagógico dos jesuítas: O Ratio Studiorum Introdução e Tradução. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1952. MANACORDA, M.A. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias, tradução Gaetano Lo Mônaco; revisão técnica da tradução e revisão geral Paolo Nosella, 13ª edição, São Paulo: Cortez, 2010. 6