Título: Consumo Reverso: Compostagem Caseira com Cultivo de Horta Urbana na Região Central de Porto Alegre, RS. Autores: Marília Cerciná (1) & Gladys Falavigna (2) Filiação: Pós-graduação em Educação para Sustentabilidade, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, São Francisco de Paula, São Francisco de Paula, Brasil. marilia.eco@gmail.com (1) ; gladisfalavigna@gmail.com (2) INTRODUÇÃO Ações que visam a sustentabilidade são práticas necessárias no contexto atual global que precisam ser cada vez mais corroboradas pois, nossa sociedade urbana e industrializada, necessita encontrar maneiras de diminuir seu processo de (des)envolvimento de forma a reduzir o grande impacto de suas ações no meio ambiente. Descartar os resíduos sólidos domiciliares, para responsabilidade pública, é a gestão vigente para os resíduos sólidos urbanos - RSU, porém sua situação dá sinais de alerta. Mudar a forma de planejamento urbano envolvendo a conscientização da população no tocante à responsabilidade de seu consumo e descarte torna-se uma necessidade, pois já são poucos os lugares para depósito de todo o material sólido urbano coletado nas cidades. A gestão dos RSU está vinculada a lógica do poluidor-pagador : se descarta o material e se paga para que o recolhimento seja feito. Geralmente o deposito desse rejeito é nas periferias das grandes cidades, onde se concentra a maior parte da população de baixa renda ou depositado em outros municípios vizinhos menores. São chamados de Lixões, em que os sólidos são deixados a céu aberto sem controle algum de vetores transmissores de doenças e microfauna patógena e sem que haja separação da qualidade de cada material. A gestão atual é planejada ceifando a responsabilidade de consumo de cada cidadão e cidadã diante do descarte, sendo esta apenas feita através de pagamento pelo recolhimento do que não se quer mais. Já a lógica do consumo reverso coloca a
população como responsável por tudo o que compra e descarta sendo cada qual responsável por gerenciar seu próprio material solido doméstico. O gerenciamento do sólido doméstico não é padronizado e usa-se muito da criatividade para maneja-lo reutilizando e reciclando de distintas maneiras e conforme o espaço disponível para tal. A Lei Nacional dos Resíduos Sólidos Urbanos- LRSU oferece no capitulo II, definições desse modelo como responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos e rejeitos gerado, bem como para reduzir impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrente do ciclo de vida dos produtos, nos termos dessa lei nacional nº 12.305/2010. Dessa forma, esta pesquisa tem como tema a compostagem caseira para cultivo de horta urbana. O objetivo do trabalho foi promover a prática da compostagem caseira com o resíduo orgânico doméstico, por meio da implementação de uma horta urbana com a terra produzida da compostagem, em prédio residencial na zona central de uma metrópole, especificamente no terraço do condomínio. As práticas desenvolvidas pela presente pesquisa são relevantes para que a educação aconteça dentro de um modelo sustentável priorizando o consumo reverso como metodologia principal. METODOLOGIA O consumo reverso nasce com base na logística-reversa que viabiliza a devolução dos materiais de embalagem para o seu fornecedor. O consumo reverso viabiliza as possibilidades de reciclagem de materiais orgânicos e secos em nível doméstico através da compostagem caseira agregando, assim, a responsabilidade da gestão dos resíduos sólidos por cada individuo urbano. A metodologia de pesquisa, segundo GIL, 2002, é descritiva e participativa, para a qual os instrumentos utilizados foram questionário e observações. O trabalho desenvolvido, localizado na Rua Duque de Caxias, centro da capital Porto Alegre, RS teve um total de 14 pessoas participantes da pesquisa que abrangeu entrevista, oficina e ações do cotidiano. Dessas, 10 são moradoras do condomínio sendo que 4 pessoas não residentes contribuíram para incentivar e aumentar
o material na composteira. Uma criança teve participação atuante. O trabalho de sensibilização, que pretendeu agregar a maior quantidade de moradores na ação de compostar, ocorreu da seguinte forma: distribuição de um folder, colocado por baixo da porta de cada residência; visita nos apartamentos com aplicação de questionário; convite para oficina de compostagem caseira; mutirão com piquenique e entrega de material impresso sobre o tema no final da atividade e teve início em meados de 2013. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em 14 meses (agosto de 2013 a novembro de 2014) conseguiu-se uma produção de 13 caixas de terra para uma proporção de quatro pequenos baldes de orgânico e folhas secas por caixa. A média de material curtido por mês foi de aproximadamente uma caixa. Porém, a tendência é de aceleração do processo na velocidade de curtição, conforme o aumento da quantidade de composto produzido. O material pronto pode ser misturado com material orgânico úmido à composteira, acelerando o processo de decomposição do material mais novo (DMLU, 2002). O material orgânico é obtido conforme acontece a prática de cozinhar. Quanto maior era a frequência do preparo dos alimentos no condomínio urbano, maior era a quantidade de material orgânico gerado. Considerando que houve períodos, os meses de janeiro e fevereiro de 2014, que não ocorreu aumento da composteira por falta de material produzido. A pesquisa iniciou com a prática da compostagem caseira em apenas um apartamento do edifício Anele, em Porto Alegre. Depois de dois meses, as moradoras de outro apartamento também adotaram a prática em duas ocasiões. Houve encontros ocasionais, entre os moradores do prédio pelo uso do espaço coletivo. Nesses encontros, sugestões e duvidas foram abordadas, inclusive colocando a compostagem como uma maneira eficiente e simples de revitalização do espaço. Lentamente houve um número crescente de pessoas se interessando pelo cultivo, porém a demanda maior ainda foi das pessoas do apartamento que iniciaram as ações. A convivência entre as mesmas estimularam às práticas sustentáveis entre todas. Conversas nos encontros da cozinha, no momento de preparo das refeições, foram relevantes para desenvolver o raciocínio na lógica no consumo reverso. Para os demais moradores do prédio, visitas na hora do mate, também proporcionaram diálogo sobre o tema. Assim, a sensibilização para a ação de compostar foi sendo construída no condomínio. No início do trabalho, não havia recipientes suficientes na cozinha da academica para o
manejo adequado do material sólido doméstico. A partir de agosto de 2013, a pesquisa deu início a um processo de conscientização entre os moradores, através de diálogos individuais e coletivos (reuniões de moradores), para possibilitar a prática de não misturar o sólido da cozinha. Foram organizados três recipientes com as seguintes especificações: seco, orgânico e rejeito e passada, essa informação, para os demais apartamentos. Os benefícios da compostagem foram, entre outros, a diminuição da quantidade de resíduos finais dispostos em aterro, conforme o previsto na PNRS Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010; reciclabilidade do sistema de consumo; produção de adubo orgânico de qualidade produzido na própria residência; solidificação de um espaço disseminador de boas práticas de reciclagem (compostagem) para os resíduos sólidos orgânico e seco; contribuição para o processo de gestão adequada dos resíduos orgânicos no âmbito das atividades humanas; horta urbana, sensibilização e troca de saberes entre os moradores do prédio. CONCLUSÃO No decorrer desta pesquisa, constatamos que a determinação e a organização para viver uma vida dedicando-se a hábitos sustentáveis que estão em constante progressão pelo mundo são merecedoras de valorização. Consideramos como o melhor estímulo para a continuidade de ações alternativas, como hábito de vida, ver a multiplicação das ações de forma criativa sobre as práticas sustentáveis. Conseguimos despertar a sensação de dever cumprido através da percepção de mudanças que estão progressivamente mais próxima das pessoas. Mesmo que a ação desenvolvida nesse trabalho não seja a melhor ou a única, acreditamos que a mudança da gestão do descarte é fundamental para uma cultura da responsabilidade do consumo e políticas públicas. Apesar da aceitação do trabalho pelos moradores participantes da pesquisa, sabemos que ainda é pequena a iniciativa deles em relação a levar o material orgânico até a composteira. Por isso, acreditamos na importância de promover mais oficinas que aos poucos transformem o ambiente, que com elas se torna visivelmente mais agradável para permanência e convivência das pessoas naquele espaço. Ações como essas são uma forma de sensibilizar os moradores, como exemplo, o trabalho da horta urbana, que funcionou como estímulo nas ações de compostar. Por isso, a continuidade do diálogo, com informativos afixados no mural da entrada do prédio, ou por meio da realização de
oficinas/mutirão sobre a compostagem caseira, proporciona a adquiri-la como hábito de vida estimulando aos demais moradores para que pratiquem ações semelhantes. BIBLIOGRAFIA. Lei nº 12.305/2010. Institui a Politica Nacional de Resíduos Sólidos PNRS. Brasília-DF. GIL, A. C. 2002. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. - São Paulo: Atlas. Disponível em: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/dmlu/default.php?p_secao=89. DMLU Departamento Municipal de Limpeza Urbana. Porto Alegre, 2014.