CARTILHA DA DISCÓRDIA: RECORTES ACERCA DO KIT ANTI-HOMOFOBIA DO MEC

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Transcrição:

CARTILHA DA DISCÓRDIA: RECORTES ACERCA DO KIT ANTI-HOMOFOBIA DO MEC OLIVEIRA JR, Isaias Batista de (UEM) MAIO, Eliane Rose (UEM) INTRODUÇÃO Em uma sociedade, como a brasileira, constituída e estruturada pela diversidade, em que as diferenças são, com frequência, produzidas no curso das relações assimétricas, a promoção da cultura do reconhecimento da diversidade pode representar mais do que um irrenunciável compromisso de ordem ética. Com efeito, ao nos conscientizarmos de que a diversidade nos caracteriza como sociedade e como indivíduos, somos impelidos a procurar novas formas de configurar um fator de enriquecimento e de desestabilização das relações de poder (JUNQUEIRA, 2007). No contexto homofóbico brasileiro, é importante, então refletir sobre as condições da escola e de sua relação com políticas sociais que pretendem promover ações educativas para inclusão da diversidade sexual. A escola é vista, de acordo com Altmann (2001, 2003) como um local privilegiado de implementação de políticas públicas que promovam a saúde de crianças e adolescentes. É relevante destacar que, desde a década de 1920, a lei brasileira prevê educação sexual na escola. Entretanto, houve muita resistência para a sua efetivação, especialmente por setores vinculados a igreja católica (Borges, Meyer, 2008). Ainda hoje essa resistência existe e não se restringe a instituição eclesiástica, mais está diluída nas bancadas políticas que regem as leis desse país e em boa parte da sociedade, que incorporou seus valores, inclusive os/as professores/as que têm dificuldade de tratar o tema sexualidade, uma vez, que ao mesmo tempo em que esta é entendida e tratada como um instinto natural é, também, altamente vigiado como algo ameaçador e perigoso que precisa ser contido e disciplinado (JUNQUEIRA, 2007). 1

Surgiram então diversas ações educacionais com a intenção de promover a equidade de gêneros, a inclusão social e a constituição de uma cidadania para todos/as com o combate ao sexismo e a homofobia de acordo com Junqueira (2007), e que encontram respaldo nos seguintes documentos nacionais: 1) Constituição Federal; 2) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei 9394/96; 3) Parâmetros Curriculares Nacionais; 4) Programa Nacional de Direitos Humanos II; 5) Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos; 6) Plano Nacional de Políticas para as Mulheres; 7) Programa Brasil Sem Homofobia. Assim, ficou evidente o esforço em priorizar a instituição escolar no desenvolvimento de políticas afirmativas e de inclusão para essa população, já que é neste espaço que os jovens passam por inúmeras formas de discriminações e rotulações, de maneira que os sujeitos vistos como diferentes ou desviantes são, muitas vezes, obrigados a abandonar os estudos (Borges, Meyer, 2008). Nesse sentido e considerando os efeitos danosos das discriminações e desigualdades sociais relativos às sexualidades, o governo federal, criou em 2004, o programa Brasil Sem Homofobia (BRASIL, 2004). O programa federal Brasil Sem Homofobia (BRASIL, 2004) tem como princípios: a) a inclusão da perspectiva da não discriminação por orientação sexual e de promoção dos direitos humanos de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais, nas políticas públicas e estratégias do Governo Federal; b) a produção de conhecimento para subsidiar a elaboração, implantação e avaliação das políticas públicas voltadas para o combate da violência e à discriminação por orientação sexual e c) a reafirmação de que a defesa, a garantia e a promoção dos direitos humanos incluem o combate a todas as formas de discriminação e de violência incluindo a homofobia. Entre as ações previstas no campo da Educação pelo Programa encontram-se, dentre outros, a elaboração de diretrizes que orientem os Sistemas de Ensino na implementação de ações que comprovem o respeito ao cidadão e a não discriminação por orientação sexual ; o fomento e o apoio a cursos de formação inicial e continuada de professores na área da sexualidade, a formação de equipes multidisciplinares para avaliação dos livros didáticos, de modo a eliminar aspectos discriminatórios por 2

orientação sexual e a superação da homofobia ; o estímulo à produção de materiais educativos (filmes, vídeos e publicações) sobre orientação sexual e superação da homofobia, o apoio e divulgação de materiais específicos para a formação de professores (GARCIA, 2009, p.22-23). Prosseguindo com as ações previstas no programa federal Brasil Sem Homofobia, recentemente houve a tentativa frustrada de divulgação do kit antihomofobia nas escolas da rede pública de ensino médio. O projeto foi planejado e executado pela Global Alliance for LGBT Education (GALE); as ONG Reprolatina, Ecos Comunicação em Sexualidade e Pathfinder do Brasil; e a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais (ABGLT). Todas as etapas de planejamento e execução do projeto foram debatidas e acompanhadas pelo Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (MEC/SECAD, 2004). Desenvolvido ao longo de dois anos, o kit era composto por material didático incluindo: 06 Boleshs (Boletins Escola sem Homofobia), 01 Caderno (Escola sem Homofobia), Recursos Audiovisuais: Medo de Quê? Boneca na Mochila além de 03 vídeos: Torpedo, Encontrando Bianca e Probabilidade. Os quais seriam destinados aos profissionais da educação e distribuído para seis mil escolas públicas de ensino médio, a partir do segundo semestre de 2011. Nele, os/as professores/as encontrariam referências teóricas, conceitos e sugestões de atividades e oficinas para discutir com os alunos a diversidade sexual. Mas se o governo federal devido às pressões políticas e sociais recuou em relação à distribuição do referido material, estudo realizado em 2009 pela ONG Reprolatina mostra que o ambiente escolar é altamente homofóbico e necessita, sim, de políticas públicas de combate a essa forma de preconceitos. Em pesquisas realizadas em 11 capitais brasileiras, ouviram-se 1,4 mil pessoas envolvidas com o processo educacional, identificando que, na maioria das vezes, a hostilidade contra alunos LGBTT surge em forma de piadas ou brincadeiras potencialmente ofensivas, mas que nem sempre identificadas pelos envolvidos no processo educacional como homofobia (GUINOZA, 2011, p. 81). Pesquisa realizada, em 2002 pela UNESCO, revelou que, entre professores/as: 59,7% julgam ser inadmissível que uma pessoa tenha relações homossexuais; 21,2% gostariam de ter vizinhos homossexuais (UNESCO, 2004). Outra pesquisa, realizada 3

pelo mesmo organismo em 11 capitais brasileiras e no Distrito Federal, forneceu certa compreensão do alcance da homofobia no espaço escolar (nos níveis fundamentais e médios). Constatou-se, por exemplo, que: O percentual de professores/as que declaram não saber como abordar os temas relativos à homossexualidade em sala de aula vai de 30,5% em Belém a 47,9% em Vitória; Cerca de 12% de professores/as em Belém, Recife e Salvador, entre 14 e 17% em Brasília, Maceió, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Goiânia e mais de 20% em Manaus e Fortaleza acreditam ser a homossexualidade uma doença; 33,5% dos estudantes de sexo masculino de Belém, entre 40 e pouco mais de 42% no Rio de Janeiro, em Recife, São Paulo, Goiânia, Porto Alegre e Fortaleza e mais de 44% em Maceió e Vitória não gostariam de ter colegas de classe homossexuais; 17,4% no Distrito Federal, entre 35% e 39% em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, 47,9% em Belém, e entre 59 a 60% em Fortaleza e Recife dos pais de estudantes de sexo masculino declararam que não gostariam que homossexuais fossem colegas de seus filhos; Estudantes masculinos apontaram bater em homossexuais como o menos grave dos seis exemplos de uma lista de ações violentas (ABRAMOVAY et. al., 2004: 277-304). Em estudo organizado pela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) em 500 escolas públicas brasileiras, ao serem entrevistados, os alunos concordaram com as seguintes afirmações: Eu não aceito homossexualidade 26,6%. Pessoas homossexuais não são confiáveis 25,2%. A homossexualidade é uma doença 23,2%. Os alunos homossexuais não são normais 21,1% (GUINOZA, 2011, p. 81). Esses dados apontam a necessidade e urgência de capacitação dos/as agentes educacionais envolvidos nos diversos setores de ensino. O fornecimento de materiais educativos com vistas a causar debates acerca do tema, visando à redução do preconceito e homofobia e a implantação de políticas públicas de ações educativas com 4

vistas à igualdade, equidade de gênero, identidade de gênero e orientação sexual e o combate ao sexismo e heteronormatividade. JUSTIFICATIVA Estudos acerca da elaboração, distribuição, conteúdos e recuo por parte do MEC do chamado kit anti-homofobia com diretores escolares, pedagogos/as docentes da rede pública de ensino médio, são imprescindíveis para análise da opinião daqueles que fariam uso do material como recurso pedagógico. Fato esse que poderá contribuir para a inclusão do tema diversidade sexual no conteúdo programático escolar. Portanto, investigações são necessárias e fundamentais em torno do assunto, pois tal lacuna dificulta a adoção de uma visão positiva sobre o outro, que passa a ser percebido como diferente, desigual, inferior ou anormal, no que se refere à diversidade sexual. OBJETIVOS GERAL Conhecer a percepção das autoridades educacionais e equipe docente do ensino fundamental da rede pública de ensino estadual, sobre o Programa Escola sem Homofobia e o projeto conhecido como kit anti-homofobia. ESPECÍFICO Descrever o conhecimento de professores/as, diretores/as e pedagogos/as da rede pública de ensino médio dos municípios jurisdicionados ao Núcleo Regional de Educação de Apucarana-PR, quanto ao conteúdo, implantação, aceitação e reestruturação do projeto kit anti-homofobia, integrante do Programa Escola sem Homofobia. METODOLOGIA 5

Mediante autorização da Chefia Geral do Núcleo Regional de Apucarana- PR será feito contato com as escolas da rede pública estadual dos 16 municípios circunscritos a esse órgão: Apucarana, Arapongas, Bom Sucesso, Borrazópolis, Califórnia, Cambira, Cruzmaltina, Faxinal, Jandaia do Sul, Kaloré, Marilândia do Sul, Marumbi, Mauá da Serra, Novo Itacolomi, Rio Bom, e Sabáudia. Serão elaboradas listas com informações das escolas estaduais centrais adquiridas junto ao Núcleo Regional de Educação de Apucarana- PR. Para cada cidade será escolhida uma escola situada na zona urbana. Nos municípios com mais de uma escola estadual, será selecionada aquela que apresentar maior número de alunos/as. Caso haja unidades de ensino com mesmo número de alunos/as, será eleita aquela que apresentar maior Índice de Desenvolvimento Básico da Educação (IDEB). No caso de impossibilidade ou recusa da escola em participar do estudo, a mesma será substituída por uma escola suplente, nos municípios onde houver. Para a pesquisa serão entrevistados 48 sujeitos, sendo um(a) diretor(a) escolar, um pedagogo(a) e um(a) professor(a) de biologia de cada escola da rede pública de ensino estadual selecionada. A inclusão dos sujeitos no projeto deverá ocorrer por desejo em participar do estudo e mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), ficando uma via com o entrevistador e outra com o/a entrevistado/a. Para tanto, os/as mesmos/as serão contatados/as e informados/as quanto à natureza e objetivos e convidados/as a participar da pesquisa. Os sujeitos da pesquisa serão contatados na sala dos/as professores/as e após a anuência, serão marcadas as entrevistas em locais e horários determinados pelos/as mesmos/as. Previamente a coleta de dados, e com base na revisão da literatura e instrumentos disponíveis já utilizados em outras pesquisas, nacionais e internacionais será elaborado o roteiro das entrevistas. A coleta de dados se dará de forma individual, conforme disponibilidade dos entrevistados em seus respectivos locais de trabalho e será realizada mediante instrumento de pesquisa constituído de duas seções: indicadores sociodemográficos e entrevista. 6

Na seção relacionada aos indicadores sociodemográficos serão levantadas informações quanto ao sexo, idade, turno, séries de atuação, graduação, tempo de magistério ou na função, dentre outras, através da aplicação de questionário. A entrevista em profundidade será feita com o/a diretor/a escolar, pedagogo/a e docente da disciplina de Biologia e será registrada com o uso de um gravador e transcritas em sua íntegra. Na entrevista em profundidade serão realizadas perguntas relacionadas ao Projeto Escola sem Homofobia, no tocante ao kit anti-homofobia, tais como: 1) Você conhece o Projeto Escola sem Homofobia? E ao kit anti-homofobia? 2) Conhece em sua escola alunos homossexuais? Já presenciou alguma situação de homofobia? Como você no exercício da docência ou função combate o preconceito a alunos LGBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais)? 3) Acredita que um material composto por recursos audiovisuais facilitaria o tratamento do assunto e combate a homofobia? 4) Durante a divulgação do kit anti-homofobia na mídia você foi contra ou a favor da implantação do projeto? Por quê? 5) O atual governo suspendeu a distribuição do kit anti-homofobia para reestruturação e posterior distribuição. Em sua opinião quais assuntos devem ser abordados no combate a homofobia? Que tipos de recursos deve ser utilizado para tanto? Como elaborar um projeto de combate à homofobia de forma que seja aceitável para a comunidade escolar em que você está inserido? As informações obtidas serão analisadas conforme normas vigentes, ultrapassando a mera descrição dos dados, buscando explicações e estabelecendo relações entre eles. CONCLUSÃO 7

Pretende-se com esse trabalho analisar a opinião de educadores sobre o Projeto Escola sem Homofobia, acerca da elaboração, distribuição, conteúdos e recuo por parte do MEC do chamado kit anti-homofobia com diretores/as escolares, pedagogos/as docentes da rede pública de ensino médio e sua possível utilização como suporte pedagógico no tratamento de Temas Transversais no que se refere à prevenção da homofobia no contexto escolar. REFERÊNCIAS ALTMANN, H. Orientação sexual nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Estudos feministas, Florianópolis PoA, v.9, n.2, p.575-587, 2001. ALTMANN, H. Orientação sexual em uma escola: recortes de corpo de gênero. Cadernos Pagu, Campinas SP, n.21, p.281-315, 2003. ABRAMOVAY, M, Castro, MG; Silva, LB. Juventudes e sexualidade. Brasília: Unesco, 2004. BORGES, Z.N. Meyer, E.D. Limites de uma ação educativa na redução da vulnerabilidade à violência e à homofobia. Ensaio: aval. Públi. Educ., Rio de Janeiro, v.16, n.58, p. 59-76, jan/mar.2008. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Ministério da Saúde. Brasil Sem Homofobia: Programa de Combate a Violência e à Discriminação contra GLBT e Promoção da Cidadania Homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Gênero e Diversidade sexual na Escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos. Brasília: MEC/SECAD, 2007. GARCIA, MRV. Homofobia e heterossexismo nas escolas: discussão da produção científica no Brasil e no mundo. IX Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional, ABRAPEE. São Paulo, 2009. Disponível em http://www.abrapee.psc.br/documentos/cd_ix_conpe/ixconpe_arquivos/13.pdf 8

GUINOZA, M. Cartilha da Discórdia. Revista Brasileiros. São Paulo, n. 47, p. 80 e 81, jun. 2011. JUNQUEIRA, R. O reconhecimento da diversidade sexual e a problematização da homofobia no contexto escolar. In: SEMINÁRIO CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE: discutindo práticas educativas, 3.,2007, Rio Grande do. Anais...Rio Grande, RS: Ed. da FURG, 2007 UNESCO. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam. São Paulo: Moderna, 2004. 9