CAPÍTULO VII PREVISÕES DE ENCHENTES

Documentos relacionados
10.3 Métodos estatísticos

PREVISÃO DE EVENTOS HIDROLÓGICOS

Hidrologia. 3 - Coleta de Dados de Interesse para a Hidrologia 3.1. Introdução 3.2. Sistemas clássicos Estações meteorológicas

Capítulo 3: Elementos de Estatística e Probabilidades aplicados à Hidrologia

Pontifícia Universidade Católica de Goiás Engenharia Civil. Bacias Hidrográficas. Professora: Mayara Moraes

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. CC54Z - Hidrologia. Introdução a hidrologia estatística. Prof. Fernando Andrade Curitiba, 2014

PRECIPITAÇÕES EXTREMAS

Aula PRECIPITAÇÃO

Estatística de Extremos Vazões Máximas e Mínimas

Capítulo 151 Distribuição de Gumbel e Log-Pearson Tipo III

ENGENHARIA AGRONÔMICA HIDROLOGIA. Bacias Hidrográficas. Prof. Miguel Toledo del Pino, Eng. Agrícola Dr. 2018

HIDROLOGIA BÁSICA Capítulo 5 - Hidrologia Estatística 5 HIDROLOGIA ESTATÍSTICA 5.1

Método Kimbal...P= m/n+1; observando que para P menor ou igual a

HIDROLOGIA AULA 14 HIDROLOGIA ESTATÍSTICA. 5 semestre - Engenharia Civil. Profª. Priscila Pini

ANÁLISE DE SÉRIE HISTÓRICA DE VAZÃO. ESTUDO DE CASO: RIO PARNAÍBA

PROGRAMA ANALÍTICO DE DISCIPLINA

PLANO DE ENSINO. Semestre letivo

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NO JUAZEIRO DO NORTE

Ciclo Hidrológico. Augusto Heine

HIDROLOGIA E RECURSOS HÍDRICOS. Os exames da disciplina de Hidrologia e Recursos Hídricos (LECivil) realizam-se nas seguintes datas e locais:

10. Aplicação das Técnicas de Probabilidade e Estatística em Hidrologia

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITECTURA SECÇÃO DE HIDRÁULICA E DOS RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTAIS

Hidrologia Aplicada Carga Horária: 72 horas Prof a Ticiana M. de Carvalho Studart

Recursos Hídricos e Manejo de Bacias Hidrográficas Profa. Cristiana C. Miranda RECORDANDO NOSSA AULA DE INFILTRAÇÃO..

DETERMINAÇÃO DO PERÍODO DE RETORNO DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA POR MEIO DA DISTRIBUIÇÃO DE GUMBEL PARA A REGIÃO DE GUARATINGUETÁ SP

ESCOAMENTO SUPERFICIAL Segmento do ciclo hidrológico que estuda o deslocamento das águas sobre a superfície do solo.

CAPÍTULO VII PREVISÕES DE ENCHENTES 7.2. PREVISÃO DE ENCHENTES EXECUTADO POR MÉTODOS INDIRETOS.-

CAPITULO 5 INFILTRAÇÃO

VIII-Castro-Brasil-1 COMPARAÇÃO ENTRE O TEMPO DE RETORNO DA PRECIPITAÇÃO MÁXIMA E O TEMPO DE RETORNO DA VAZÃO GERADA PELO EVENTO

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITECTURA SECÇÃO DE HIDRÁULICA E DOS RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTAIS

ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE

HIDROLOGIA E RECURSOS HÍDRICOS. Os exames da disciplina de Hidrologia e Recursos Hídricos (LECivil) realizam-se nas seguintes datas e locais:

ANÁLISE DE FREQUENCIA E PRECIPITAÇÃO HIDROLOGICA DE CINCO ESTAÇÕES AGROCLIMATOLÓGICAS DA REGIÃO CENTRO- SUL DA BAHIA

2.1. O CICLO HIDROLÓGICO: ALVO DOS ESTUDOS HIDROLÓGICOS

IV INFLUÊNCIA DA EXTENSÃO DA SÉRIE HISTÓRICA DE VAZÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES CRÍTICAS DE ESCOAMENTO DO RIO PARDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA: HIDROLOGIA APLICADA

Hidráulica e Hidrologia

Como praticamente vivemos sobre bacias hidrográfica (bacias de drenagem) é fundamental que saibamos analisar, tanto o período de retorno como a

PHA Hidrologia Ambiental. Bacias Hidrográficas

O objetivo do trabalho foi compreender o comportamento hidrológico da sub-bacia hidrográfica do rio Jacaré, a fim de levantar dados e informações

Ciências do Ambiente

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE GRUPO DE ESTUDOS E SERVIÇOS AMBIENTAIS PARECER TÉCNICO

ESTIMATIVAS DE VAZÕES MÁXIMAS PARA CURSOS D ÁGUA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAPEMIRIM

2 Determine a razão de bifurcação média geométrica da rede hidrográfica abaixo representada.

ANÁLISE DAS PRECIPITAÇÕES MÁXIMAS E DOS EVENTOS EXTREMOS OCORRIDOS EM SÃO LUÍZ DO PARAITINGA (SP) E MUNICÍPIOS VIZINHOS

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. CC54Z - Hidrologia. Precipitação: análise de dados pluviométricos. Prof. Fernando Andrade Curitiba, 2014

Universidade Federal de Pelotas Centro de Engenharias. Disciplina de Drenagem Urbana. Professora: Andréa Souza Castro.

A água é um recurso natural finito, necessário a quase todas as atividades do ser humano. São preocupações mundiais: a poluição e a falta de água.

Saneamento Urbano I TH052

HIDRÁULICA APLICADA II

Saneamento Urbano I TH052

Bacias Hidrográficas. Universidade de São Paulo PHA3307 Hidrologia Aplicada. Escola Politécnica. Aula 3

MODELAGEM DA SUSCETIBILIDADE À OCORRÊNCIA DE INUNDAÇÃO NO MUNICÍPIO DE MANACAPURU/AM

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL CPRM DIRETORIA DE HIDROLOGIA E GESTÃO TERRITORIAL DHT

Métodos Estatísticos

Ecologia e Conservação de Ambientes Aquáticos. Dayse Resende Paulo Pompeu

HIDROLOGIA AULA semestre - Engenharia Civil. ESCOAMENTO SUPERFICIAL 2 Profª. Priscila Pini

MEMORIAL DE CÁLCULO DIMENSIONAMENTO DA TUBULAÇÃO DE ÁGUA PLUVIAL

9 - Escoamento Superficial

PHA Hidrologia Ambiental. Escoamento Superficial e Análise do Hidrograma de Cheia

ENGENHARIA DE AGRIMENSURA E CARTOGRÁFICA HIDROLOGIA. Hidrologia & Ciclo Hidrológico. Prof Miguel Angel Isaac Toledo del Pino CONCEITO ATUAL

10 Estimativa de vazões de cheias Determinar a vazão de pico de cheias. Métodos para estimativa de vazões de cheias: Fórmulas empíricas

PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA EM HIDROLOGIA

IMPACTOS AMBIENTAIS AOS -CANALIZAÇÕES E RETIFICAÇÕES-

2.5 Caracterização Fisiográfica da Bacia Hidrográfica

AULA 6 ESCOAMENTO PERMANENTE DE FLUIDO INCOMPRESSÍVEL EM CONDUTOS FORÇADOS. Prof. Geronimo Virginio Tagliaferro

HIDROLOGIA ENGENHARIA AMBIENTAL

Distribuição Normal. Prof a Dr a Alcione Miranda dos Santos. Abril, 2011

Estatística Aplicada

DRENAGEM EM OBRAS VIÁRIAS. Waldir Moura Ayres Maio/2009

DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL DE CHUVAS INTENSAS EM PIRACICABA, SP Ronalton Evandro Machado 1 *; Liebe Santolin Ramos Rittel Bull 2 ; Paulo César Sentelhas 3

ANÁLISE DOS EVENTOS PLUVIAIS EXTREMOS

Professora: Amanara Potykytã de Sousa Dias Vieira HIDROLOGIA

INSTRUMENTO DE APOIO A GESTÃO DE ZONAS INUNDÁVEIS EM BACIA COM ESCASSEZ DE DADOS FLUVIOMÉTRICOS. Adilson Pinheiro PPGEA - CCT - FURB

PROPOSTAS PARA USOS ALTERNATIVOS DOS RESERVATÓRIOS PARA CONTROLE DE CHEIAS

ESTATÍSTICA. x(s) W Domínio. Contradomínio

PROVAS Ciência da Computação. 2 a Prova: 13/02/2014 (Quinta) Reavaliação: 20/02/2014 (Quinta)

Hidrologia Carga Horária: 64 horas Prof a Ticiana M. de Carvalho Studart

ESTRADAS E AEROPORTOS DRENAGEM DE VIAS. Prof. Vinícius C. Patrizzi

ENGENHARIA FÍSICA. Fenômenos de Transporte A (Mecânica dos Fluidos)

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ ESALQ/USP LEB 1440 HIDROLOGIA E DRENAGEM Prof. Fernando Campos Mendonça

13 DOTAÇÕES DE REGA 13.1 Introdução 13.2 Evapotranspiração Cultural 13.3 Dotações de Rega 13.4 Exercícios Bibliografia

Vazão da Aquapluv Style: 418 l/min, quando instalada com 0,5% de declividade, ou seja, 5 mm de inclinação por metro.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE GESTÃO E MANEJO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS CICLO HIDROLÓGICO

Capítulo IX - Conclusões. IX - Conclusões

202 Engenheiro Jr. (Eng. Hídrica ou Civil)

PHD 0313 Instalações e Equipamentos Hidráulicos

HIDROLOGIA BÁSICA RESUMO

Fundação Carmelitana Mário Palmério-FUCAMP Curso de Bacharelado em Engenharia Civil. Hidrologia Aplicada C A R O L I N A A.

BIOESTATISTICA. Unidade IV - Probabilidades

Estatística p/ TCE-PR Teoria e exercícios comentados Prof. Jeronymo Marcondes. Resolução prova Estatística p/ TCE-PR, área atuarial.

CC54Z - Hidrologia. Definições, aspectos gerais e o ciclo hidrológico. Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Unidade I ESTATÍSTICA APLICADA. Prof. Mauricio Fanno

Método da Regionalização Hidrográfica. (Vazão firme regularizada Caso: Guarulhos -Tanque Grande) 1

OBTENÇÃO DO FATOR DE FREQUÊNCIA PARA ESTAÇÕES PLUVIOMÉTRICAS DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO UTILIZANDO MÉTODO ESTATÍSTICO ADAPTADO

IX-002 COMPARAÇÃO DE EQUAÇÕES DE CHUVAS DE JOINVILLE SC, APLICADAS A PROJETOS DE DRENAGEM URBANA.

Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Engenharia Departamento de Engenharia Civil

Transcrição:

CAPÍTULO VII PREVISÕES DE ENCHENTES 7.0. Enchentes e Inundações.- No capítulo anterior apresenta a classificação das cheias segundo Horton, ou seja; as cheias tipo 1, 2 e 3 são aquelas em que a chuva causa modificação na hídrógrafa. Entretanto, apenas as cheias do tipo 2 e 3 causam escoamento superficial propriamente dito, podendo ser consideradas enchentes. Para efeitos deste capítulo considera-se enchente o fenômeno da ocorrência de vazões relativamente grandes e que, normalmente, causam inundações, isto é, as águas extravasam da calha do rio; que corresponde a uma precipitação que causou grande escoamento superficial. Para o ponto de vista da Engenharia, uma enchente pode não causar uma inundação se obras forem feitas; por outro lado, mesmo não havendo um grande escoamento superficial, poderá acontecer uma inundação, caso haja alguma obstrução na calha natural do rio. Neste capítulo se tratará do cálculo de enchentes para projeto de obras de controle desses eventos, resguardando um determinado risco para uma obra com n anos de vida útil; sabemos entretanto que na totalidade das vezes temos um histórico de vazões máximas para um certo número de anos, na maioria das vezes não mais que 30 anos, e temos a necessidade de extrapolar dados que se repetem uma vez pelo menos em 100 anos, de 200 anos, de 500 anos, ou outro valor qualquer. Neste capítulo vamos nos deparar em situações em que temos o histórico das vazões máximas, e situações em que somente temos dados referente a precipitações, desta forma teremos que fazer a distinção de estudo. 7.1. Previsões de Enchentes com os Dados de Vazão. Análise dos Dados. Para que um fenômeno seja completamente aleatório, ele deve depender de um número muito grande de fatores, tendo cada fator um peso muito pequeno e parecido. Analisando a hidrógrafa de um rio, vista no capítulo anterior que as vazões não são eventos completamente aleatórios; elas dependem de um grande números de fatores, tais como precipitação, geologia, vegetação, topografia, precipitação antecedente, temperatura, estação do ano, obras nos cursos d água etc. Entretanto, os pesos com que esses fatores entram para formar o escoamento superficial que, junto com a contribuição subterrânea, forma a vazão do curso d água não são iguais. É claro que a precipitação e os fatores geológicos entram com maior peso que os demais fatores. Desta forma teremos que utilizar artifícios para aplicar por exemplo a distribuição normal ou de Gauss. 7.1.1.Extrapolação dos dados da vazão pela distribuição de Gauss ou Normal.- Conforme foi visto, o histórico de dados das vazões de um determinado curso d água não seguem a distribuição de Gauss, pois não são totalmente aleatórios. Entretanto, se ao invés de vazões forem considerados os logaritmos desses valores,

esta última variável pode-se aproximar relativamente bem da distribuição normal, e assim podemos elaborar os dados conforme segue abaixo:

Desta forma, no caso de termos 30 anos de dados, e temos que extrapolar um evento com P=0,99, o que significa a probabilidade de acontecer um valor menor ou igual ao da vazão dessa probabilidade; então, a probabilidade de acontecer a enchente, isto é, valor maior ou igual, será P = 1 0,99 = 0,01, e o períiodo de retorno dessa vazão será: T= 1 / 0,01 = 100 anos Nota:A distribuição Normal pode ser calculada pela fórmula geral de Vem Te Chow, vista no capítulo V- 7.1.2. Método de Foster.- O método de Foster aplica, para os dados de vazão, a distribuição de Pearson tipo III. Essa distribuição é assimétrica e não admite valores negativos. São seus parâmetros: Desta forma, para um evento com período de retorno de 50 anos acontecer, a probabilidade será: P= 1 / 50 = 0,02 ; e P = 1 0,02 = 0, 98 ou seja 98% ; e X50 = Xmed + X ; sendo que X = Sx. K ; K tabelado em função de Co. tabela abaixo:

7.1.3.Distribuição de Gumbel.- Este método já foi apresentado no capítulo V, e basicamente são aplicadas as seguintes fórmulas: y= - ln[ - ln ( 1 1/ T ) ] ; K = ( y yn ) / Sn e Xt = Xmed + Sx. K ; Sendo: y variável reduzida de Gumbel; Xt evento com período de retorno T ; Xmed vazão média dos eventos; Sx desvio padrão da amostra ; yn média da variável reduzida de Gumbel ; Sn - desvio padrão da variável reduzida ; 7.1.4. Distribuição ou Método de Füller.- Baseado no uso da regra da probabilidade, que é descrita abaixo: