Ratione Personae: crime militar é aquele cujo sujeito ativo é militar.

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Capítulo III CRIME MILITAR 1. Conceito O direito penal Militar é especial em virtude dos bens jurídicos tutelados: as instituições militares, a hierarquia e a disciplina, o serviço militar e o dever militar, bem como a condição de militar como sujeito ativo ou passivo. É a própria Constituição da República que aponta a especialidade dos Crimes Militares e da Justiça competente para seu processo e julgamento, remetendo ao legislador ordenaria a tarefa de defini-los (art. 124, CF e Art. 125, 4, CF). 1.1 No Aspecto Material, o crime militar caracteriza uma acentuada violação do dever militar e dos valores das instituições militares, enquanto a transgressão disciplinar configura, pelo menos em tese, uma afronta mais branda àqueles valores, o que autoriza seu processamento pela via administrativa. 1.2 No aspecto formal, diferentemente do sistema penal comum, o Direito Penal Militar não adota o sistema bipartite, que classifica as infrações penais em crime e contravenções penais. O Código Castrense somente se ocupa dos crimes militares, já que, nos termos de seu art. 19, afirma-se expressamente que este código não compreende as infrações dos regulamentos disciplinares. As transgressões disciplinares ficam a cargo dos regulamentos internos das instituições militares. 2. Classificação Doutrinária A doutrina mais moderna divide o crime militar em apenas dois grupos: propriamente e impropriamente militares. 2.1 Crime propriamente militar é aquele cujo bem jurídico tutelado é inerente ao meio militar e estranho a sociedade civil (autoridade, dever, serviço, hierarquia, disciplina, etc.) e somente pode ser praticado militar da ativa. Assim, é crime previsto somente no Código Penal Militar, pois o tipo penal é criado especificamente para proteger interesses jurídicos exclusivos da vida militar e o sujeito ativo só pode ser militar da ativa, uma vez que tal qualidade do agente é essencial ao tipo. 2.2 Crime Impropriamente Militar por afetar bens jurídicos comuns às esferas militar e civil (vida, integridade corporal, patrimônio, etc.), tem previsão legal tanto no Código Penal Militar quanto na legislação comum e pode ser praticado por militar ou por civil, mas só serão considerados militares se for praticada nas condições expressas no Código Castrense. 3. Critérios Determinantes De acordo com a doutrina, o Código Castrense não apresenta uma definição do crime militar, apenas enumera alguns critérios para orientar o interprete na sua identificação. Prevalece o critério objetivo (ratione legais): é crime militar aquele elencado no Código Penal Militar. Contudo, deve-se combinar o critério legal com alguma das hipóteses apontadas no art. 9 e 10 do CPM: ratione personae, ratione loci, ratione materiae ou ratione temporis. Ratione Personae: crime militar é aquele cujo sujeito ativo é militar. Ratione loci: crime militar é aquele que ocorre em lugar sujeito à administração militar. Ratione Materiae: exige-se dupla qualidade de militar - no ato e no sujeito. Crime cometido por militar em serviço ou em razão do serviço, mesmo que fora do lugar sujeito à administração militar.

Ratione Temporis: crime militar é aquele cometido em determinada época ou circunstância (tempo de guerra, período de exercícios ou manobras). 4. Crime Militar em tempo de paz (art. 9, CPM) 4.1 Art. 9, inciso I, do Código Penal Militar Nos termos do art. 9, inciso I do CPM consideram-se crimes militares, em tempo de paz os crime de que trata esse código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial. O inciso I apenas reconhece a existência dos crimes impropriamente militares (definidos de modo diverso da lei penal comum, qualquer que seja o agente) e dos propriamente militares (crimes não previstos na lei penal comum praticados somente por militar - salvo disposição especial ). Como já foi registrado, o crime próprio só pode ser praticado por militar, consistindo na violação de deveres que lhes são próprios, sendo irrelevante o fato de o sujeito ativo estar de folga quando da suposta prática delituosa. Exemplos de crimes propriamente militares: Motim e Revolta (art. 149 a 153, CPM); Violência contra superior (art. 157 e forma qualificada - art. 159, CPM); Reunião ilícita (art. 165, CPM); Recusa de Obediência (art. 163, CPM); Deserção (art. 187 a 192, CPM); Omissão de oficial (art. 194, CPM); Abandono de posto e outros crimes em serviço (art. 195 a 203, CPM); 4.2 Crime Propriamente Militar e coautoria com civil A orientação mais tradicional da doutrina, encampada por Célio Lobão, é pela impossibilidade de coautoria entre militar e civil no crime propriamente militar, não havendo que cogitar-se em aplicação do artigo 53, 1, in fine, CPM. De outro lado, Jorge de Assis defende que a condição pessoal de militar, por ser elementar do tipo, comunica-se ao concorrente por força do artigo 53, 1, in fine, CPM. O STM, em decisão recente, firmou entendimento que não há que se falar em coautoria de civil para a prática do crime de abandono de posto, por ser esse propriamente militar. (Apelação n. 2007.01.050543-1/MS. 11/03/2008). Quanto ao tema, o Superior Tribunal Militar já decidiu que, em caso de ofensa aviltante a inferior (art. 176, do CPM), havendo concursos de agentes é irrelevante que os concorrentes seja estranho á carreira militar. As circunstâncias elementares do crime consistentes na condição de militar e de superior se comunicam ao civil, por força do artigo 53, 1, in fine, CPM. 4.3 Art. 9, inciso II, do Código Penal Militar Nos termos do Art. 9, II, do CPM consideram-se crimes militares em tempos de paz ( ) os crimes previstos neste código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticado por militar em situação e atividade.

Todas as hipóteses caracterizam crimes impropriamente militares (ratione legis) tendo sempre como sujeito ativo militar em atividade (ratione personae). A posterior exclusão do serviço ativo das forças armadas é irrelevante, pois a condição de militar do agente que deve ser aferida no momento em que cometido o delito. a) Contra militar na mesma situação trata-se de crime impropriamente militar praticado por militar da ativa contra outro militar da ativa, não havendo necessidade de que um saiba da condição do outro, nem que os envolvidos estejam em situação de serviço, tampouco em lugar sujeito à administração militar. De acordo com a jurisprudência dominante nos tribunais superiores (STF, STJ e STM), basta que os sujeitos ostentem a condição de militares da ativa para que o crime seja militar. Todavia, sinalizando mudança de entendimento, foi noticiado informativo numero 626 do STF decisão da primeira turma deferindo habeas corpus para declarar a incompetência da justiça castrense para apreciar ação penal instaurada pela suposta pratica do crime de lesão corporal grave cometido por um policial militar contra o outro, sem que os envolvidos conhecessem a situação funcional de cada qual, além de não estarem uniformizados. Entendeu-se que a competência da justiça militar, conquanto excepcional, não poderia ser fixada apenas à luz do critério subjetivo, mas também por outros elementos que e lhe justificassem a submissão, assim como a precípua analise de existência de lesão, ou não, do bem juridicamente tutelado. (HC 99541/RJ). Em sentido diverso e, mantendo a orientação tradicional o Supremo Tribunal Militar tem afirmado que é desnecessária a conjugação da condição funcional com os demais elementos circundante do crime, bastando que o agente e a vítima sejam militares das forças armadas para a fixação da competência da justiça castrense. (Embargos Infringentes 0000016-90.2003.7.01.0401/DF). Na mesma linha, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu que no crime de ameaça, que é impropriamente militar, se tanto o autor quanto a vítima são militares da ativa, enquadra-se a hipótese na alínea a do inciso II do artigo 9 do Código Penal Militar. (HC 123.802/PB). Controvérsia: crimes envolvendo militares federais e dos estados: nos termos do artigo 124, da Constituição da Republica, a competência da Justiça Militar da União restringe-se a processar e julgar os crimes militares definidos em lei e não apenas os militares das forças armadas. De outro lado, as justiças Militares dos Estados têm competência mais restrita, processando e julgando apenas os militares dos Estados nos crimes militares definidos em lei, excluindo-se os crimes dolosos contra a vida de civil (125, 4, CF). A luz do Código Penal Militar (art. 22), perante a Justiça Militar da União, o militar estadual ( Policial Militar e Bombeiro Militar) não é considerado militar propriamente dito. De outro lado, os militares das forças armadas não são julgados perante as justiças Militares Estaduais, uma vez que essas julgam os militares dos Estados que pratiquem crimes militares. O STF confirmando essa orientação concedeu habeas corpus, impetrado em favor de soldado da policia militar, denunciado pela suposta pratica do crime de desacato militar (CPM, art. 299) perpetrado contra oficial das forças armadas, para declarar a competência da justiça castrense estadual. (HC 105844/RS) Em sentido oposto, o Superior Tribunal Militar considera que o militar estadual da ativa é militar propriamente dito, para efeito de fixação de competência da Justiça Militar da União. (RSE 2002.01.007044-9/RS). Em recente decisão a terceira turma do Superior Tribunal de Justiça entendeu que lesões corporais praticadas por policial militar contra capitão do Exército, dentro de um batalhão de infantaria, local sujeito à Administração Militar Federal, é crime militar da competência da Justiça Militar da União, em face da qualificação do envolvidos e também pela proteção que merece o local onde acontecido os fatos. (CC 107.148/SP).

b) Em lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva ou reformado ou civil trata-se de crime impropriamente militar (ratione legis), com definição idêntica no Código Penal Comum, mas que só poder ser praticado por militar da ativa (ratione personae) contra alguém que não ostente essa condição (militar da reserva, reformado ou civil) em lugar sujeito a administração militar (ratione loci). Considera-se local sujeito à administração militar aquele que pertence ao patrimônio das instituições militares ou que se encontra sob sua administração por disposição legal ou ordem de autoridade competente. Compreende nesse conceito bens imóveis e os móveis (veiculo, embarcação ou aeronave). c) Por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado ou civil novamente cuida-se de crime impropriamente militar (ratione legis), praticado por militar da ativa (ratione personae) em serviço, ou seja, exercendo sua função de natureza militar (ratione materiae), contra alguém que não ostente essa condição (militar da reserva, reformado ou civil) em qualquer lugar (ainda que fora do lugar sujeito à administração militar). Por exemplo, durante o desfile em comemoração ao Dia da Independência, um militar em formatura agride um civil, causando-lhe lesões corporais. Todavia, se o militar em atividade abandonar o posto, não está mais no exercício da atividade militar, configurando hipótese de crime comum. d) Durante o período de manobras ou exercícios, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil à semelhança da figura anterior, o crime é impropriamente militar (ratione legis), praticado por militar da ativa (ratione personae) contra alguém que não ostente essa condição (militar da reserva, reformado ou civil), em período de manobras ou exercícios (ratione Temporis). Imagine-se um militar em período de manobras e exercícios (treinamento em campo) que, ao atravessar o terreno de uma fazenda, dispare contra o animal de propriedade de um civil, provocando-lhe a morte. O comportamento caracteriza crime de dano e será tipificado no artigo 259, CPM. e) Por militar em situação de atividade, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar nessa hipótese, para configura-se o crime militar, é necessário que o militar da ativa cause lesão ao patrimônio ou à ordem administrativa militar. 4.4 Art. 9, inciso III, do Código Penal Militar Nos termos do Art. 9, II, do CPM consideram-se crimes militares em tempos de paz ( ) os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado ou civil, contra as instituições militares. Todas as Hipóteses caracterizam crimes contra as instituições militares tendo sempre como sujeito ativo pessoa que não seja militar propriamente dito: da reserva, reformado ou civil. Na hipótese, para efeito de conceituar o crime militar, equipara-se o militar da reserva ou reformado ao civil. O referido inciso somente se aplica na esfera da Justiça Militar da União, uma vez que, como já registrado, a Justiça Militar Estadual somente julga militares dos Estados por expressa disposição constitucional (125, 4, CF). a) Contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar Trata-se de crime impropriamente militar praticado por sujeito que não ostenta a qualidade de militar da ativa contra o patrimônio sob a administração militar ou contra a ordem administrativa militar (ratione materiae). O roubo praticado por civil contra o patrimônio sob administração militar é crime militar, consoante o artigo 9, inciso III, alínea a, do Código Penal Militar, sendo irrelevante o local em que a ação se desenvolveu para a caracterização do delito. Portanto há crime militar no caso de civis que, agindo em conjunto, em local público,

abordam militar e, sob ameaça de emprego de violência, roubam-lhe o carro e a arma que portava, pertencente ao Exército Brasileiro. (STM. Apelação 2005.01.049923-7/SP). b) Em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou contra funcionário de Ministério Militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo trata-se de crime impropriamente militar praticado por sujeito que não ostenta a qualidade de militar da ativa contra militar da ativa ou funcionários públicos da administração militar ou da Justiça Militar (ratione personae), no exercício de função inerente a seu cargo (ratione materiae), e em lugar sujeito à administração militar (ratione loci). Conforme entendimento do STM, caracteriza-se os crimes militares de difamação e injúria, previstos nos artigos 215 e 216, CPM, na situação em que um oficial da reserva e outro civil, pai e filho, por meio de reiterados documentos encaminhados a diversas autoridades militares, nos quais invariavelmente ofendiam a dignidade e a honra de uma praça e um oficial, ambos do Exército Brasileiro. Tendo as ofensas se consumado no interior das Organizações Militares às quais foram encaminhados os documentos e dirigidos aos militares no pleno exercício das suas atividades. (Apelação n. 0000011-75.2007.7.03.0303/RS). c) Contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras trata-se de crime impropriamente militar praticado por sujeito que não ostenta a qualidade de militar da ativa contra militar da ativa (ratione personae) em formatura, ou durante o período de prontidão, etc. (ratione materiae e temporis), qualquer que seja o lugar. d) Ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho do serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciaria, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior é hipótese semelhante à anterior, de crime impropriamente militar praticado por sujeito que não ostenta a qualidade de militar da ativa contra militar da ativa (ratione Personae), em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem (ratione materiae), independentemente do local. O civil que descumpre ordem de soldado do Exército em serviço externo de policiamento de trânsito de fronte a quartel responde por delito de desobediência (art. 301, CPM), consoante a alínea d inciso III do artigo 9 do CPM, uma vez que o militar teria agido, na garantia e na preservação da ordem pública, a partir do poder de polícia, que a segurança pública propriamente dita poderia implementar. (HC 115671/RJ - STF). No âmbito da Justiça Militar da União, o homicídio doloso praticado por civil contra militar em situação de serviço configura crime militar. a jurisprudência Supremo Tribunal Federal é no sentido de ser constitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de militar em serviço pela justiça castrense, sem a submissão destes crimes ao Tribunal do Júri, nos termos do art. 9, inc. III, d do CPM. (HC 91003/BA). 5. Homicídio doloso praticado por militar contra civil (art. 9, parágrafo único do CPM) Os crimes de que trata esse artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do artigo 303 da Lei n. 7.565/86 (Código Brasileiro de Aeronáutica). Segundo o entendimento dominante nos tribunais superiores (STF e STM) o parágrafo único do artigo 9, CPM só pode ser aplicado aos Militares dos Estados que cometessem crimes dolosos contra a vida de civis, ficando sujeitos a julgamento perante o tribunal do júri. Os crimes dolosos contra a vida de civis praticados por militares das Forças Armadas atuando em razão da função continuariam sendo crimes militares e julgados na Justiça Militar da União. 6. Crime Militar em tempo de Guerra

Nos exatos termos do artigo 15 do CPM, o tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento. Importante frisar que o estado de guerra pode existir independentemente da declaração formal de guerra, desde que evidenciada a ocorrência de atos de guerra, quando um Estado deliberadamente pratica atos de violência contra outro Estado, através de sua força armada. O tempo de guerra termina quando ordena a cessação das hostilidades (art. 15, in fine, CPM), competindo ao Presidente da República celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do congresso nacional (art. 84, XX, CF). Para definir os crimes militares em tempo de guerra, o legislador castrense deu primazia aos critérios ratione legis e ratione temporis. Assim, à luz das balizas indicadas no art. 10 do CPM, qualquer delito pode ser considerado crime militar em tempo de guerra, senão vejamos: os crimes especialmente previstos no Código Penal Militar para o tempo de guerra estão elencados no livro II da parte especial do CPM, do artigo 355 em diante; os crimes propriamente militares previstos para o tempo de paz, agregando-se a circunstância temporal: se praticados em tempo de guerra; os crimes impropriamente militares (previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, qualquer que seja o agente) quando praticados em: território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado; qualquer lugar, se comprometerem ou poderem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do país ou podem expô-la a perigo. os crimes comuns (definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos no CPM), quando praticados: em zona de efetivas operações militares; em território estrangeiro, militarmente ocupados; 6.1 Causa de Aumento de pena O artigo 20 do CPM prevê uma causa de aumento de pena de um terço para os crimes militares praticados em tempo de guerra. Note-se que a fração de aumento, salvo disposição especial, incide sobre as penas cominadas para o tempo de paz. Conclui-se, portanto, que somente haverá incidência da majorante nas hipóteses nas hipóteses dos incisos II, III e IV, do artigo 10 do Código castrense, já que os crimes especialmente previstos para o tempo de guerra (inciso I) apresentam penas mais graves em seus preceitos secundários. Aumenta-las em um terço caracterizaria odioso bis in idem. 6.2 Aplicação da lei penal militar em crimes cometidos em prejuízo de país aliado O artigo 18 do CPM apresenta uma hipótese de incidência excepcional da lei castrense aso crimes cometidos em prejuízo de país aliado (em guerra contra país inimigo do Brasil) desde que tenham sido praticados por brasileiro ou, qualquer que seja o agente, se praticados no território nacional ou em território militarmente ocupado por força brasileira.