QUALIDADE NUTRICIONAL DE Brachiaria decumbens EM UM SISTEMA SILVIPASTORIL NA SUB-BACIA DO RIO MIRANDA Igor Murilo Bumbieris Nogueira 1 ; Antônio Carlos Tadeu Vitorino 2 ; Omar Daniel 3 ; Thobias Pezzoni 4 ; Thais Cremon 5 1 Bolsista de Iniciação Científica, Acadêmico do curso de Agronomia FCA/UFGD 2 Orientador, Docente da Faculdade de Ciências Agrárias FCA/UFGD 3 Co-orientador, Docente da Faculdade de Ciências Agrárias FCA/UFGD 4 Engenheiro Agrônomo, MSc. 5 Acadêmica do curso de Agronomia FCA/UFGD RESUMO Com o objetivo de avaliar as características nutricionais de Brachiaria decumbens em condições de sombreamento natural, o trabalho foi realizado em uma área de sistema silvipastoril, que apresenta dentre as espécies arbóreas, árvores leguminosas, conhecidas como sucupira branca (Pterodon pubescens), no município de Nioaque, Mato Grosso do Sul. Foram escolhidas cinco árvores e ao entorno de cada uma foram instalados 36 pontos, distribuídos em uma circunferência ao longo de seis raios eqüidistantes 60º, sobre o qual foram tomadas as amostras de forragem, bem como o recolhimento da serapilheira. Foram realizadas análises de proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN). O acúmulo de serapilheira seguiu um modelo exponencial de distribuição, apresentando maior quantidade de material acumulado próximo ao tronco. Os valores de FDN da forrageira diminuíram com o afastamento do caule das árvores. A forrageira apresentou aumento nos níveis de PB próximo ao tronco das árvores. Conclui-se que o sombreamento ocasionado pelas árvores interfere na qualidade nutritiva de B. decumbens, elevando os teores de PB, principalmente nos primeiros 20 metros de distância dos troncos das árvores. Palavra-chave: Pastagem, Sistema Agrosilvipastoril, Matéria Orgânica. INTRODUÇÃO A degradação das pastagens é um fator marcante na produção pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul. Segundo o censo agropecuário, 777.722 hectares encontram-se em condições impróprias de manejo (IBGE, 2006). Normalmente isso ocorre devido à baixa fertilidade do solo, excesso de pastejo e manejo inadequado do solo (CASTRO, 2005). Esta realidade que não é apenas do Estado, mas de todo Cerrado Brasileiro, pode ser solucionada por meio de medidas que venham resgatar a qualidade dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, proporcionando melhores condições para o desenvolvimento sustentável da agropecuária. Uma das alternativas é a implantação de sistemas silvipastoris, que implica na combinação de árvores, pastagem e animais em uma mesma área (GARCIA & COUTO, 1997).
A presença das árvores no sistema provoca modificações no microclima formado sob as copas das árvores, de modo a reduzir a radiação solar, elevar os níveis de umidade, diminuir a temperatura e as taxas de evapotranspiração (LIN et al., 1999). Estas mudanças ambientais desencadeiam alterações morfológicas e fisiológicas nas plantas forrageiras como, diminuição no número de perfilhos, alongamento de colmo, aumento do comprimento das lâminas foliares, alterações na arquitetura foliar e no ângulo foliar, de modo a potencializar a eficiência na utilização da radiação solar (PACIULLO, 2007). Porém, a produção de biomassa de plantas forrageiras sobre influência de árvores varia, pois depende da relação existente entre as espécies forrageiras e arbóreas envolvidas, de condições climáticas e o nível de sombreamento, podendo ser positivas quando o manejo do sistema for bem conduzido (DIAS et al., 2006). Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar as características nutricionais de B. decumbens sob influência da copa de árvores leguminosas da espécie Pterodon pubescens (sucupira-branca) em um sistema silvipastoril na sub-bacia do rio Miranda- MS. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado na Fazenda Gogó da Ema, no município de Nioaque MS. A área se situa onde originalmente predominava vegetação de Cerrado em transição com Floresta Estacional Semidecídual (Mata Atlântica), sendo atualmente ocupada com pastagem de Brachiaria decumbens, destinada à pecuária de corte, sombreada por espécies arbóreas como a sucupira branca (Pterodon pubescens),o baru (Dipteryx alata Vog.) e o pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.). Foram selecionadas para o estudo cinco árvores de sucupira branca, representadas por indivíduos adultos e sadios, com altura e porte semelhantes, dominantes sobre as demais. No entorno de cada árvore escolhida, foram instalados 36 pontos, distribuídos em uma circunferência ao longo de seis raios eqüidistantes 60º. Cada raio possuía 30 metros de comprimento a partir do caule, e sobre o qual era tomada uma amostra de gramínea e serapilheira, locada a cada cinco metros. Para a coleta foi utilizado um quadrado coletor de 0,5m x 0,5m. As amostras de lâminas foliares verdes foram analisadas quanto aos teores de nitrogênio total pelo processo de digestão conforme método micro Kjeldahl (SARRUGE & HAAG, 1974), para posterior estimativa da PB (AOAC, 1970), e a
determinação da FDN utilizando o método proposto por Van Soest et al. (1991). Estas análises foram efetuadas no laboratório de Forragicultura da Faculdade de Ciências Agrárias na Universidade Federal da Grande Dourados. Para análise estatística dos dados foram aplicadas regressões e correlações de Pearson, na qual se empregou o aplicativo computacional SAEG versão 9.1 (RIBEIRO JÚNIOR, 2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO A distribuição da biomassa sob as copas das árvores de sucupira branca (Pterodon pubescens) seguiu modelo exponencial, onde o maior acúmulo aconteceu próximo ao caule das árvores (P<0,01), decrescendo com o afastamento (Figura 1). Isso se deve ao maior volume de copa estar localizado na parte central da árvore, resultando assim, em maior deposição de serapilheira abaixo desta área, interferindo na decomposição da matéria orgânica e ciclagem de nitrogênio (WILSON, 1998). 400,00 Serapilheira (g.m -² ) 350,00 300,00 250,00 200,00 150,00 100,00 y = -133,37Ln(x)** + 560,25 R 2 = 0,947 0 5 10 15 20 25 30 35 Distância (m) FIGURA 1 - Valores médios de massa de serapilheira em função da distância do caule das árvores de sucupira branca. O aumento da fertilidade do solo promovido pelo aporte de matéria orgânica tem refletido em aumentos nos níveis de PB em forrageiras (XAVIER et al., 2003), principalmente quando associamos esses aumentos aos níveis de N presente no solo (WILSON, 1998). De acordo com a Figura 2, seguindo o modelo quadrático, o teor de PB diminuiu conforme se distanciava do caule das árvores (P<0,05), porém os valores encontrados a partir dos 21,63 metros de distância, provavelmente se devem à interferência de outras
árvores localizadas fora da circunferência correspondente aos 30 metros, que pela projeção da sombra ou deposição de biomassa, influenciaram sobre este atributo avaliado. Os resultados demonstram a influência positiva das árvores Pterodon pubescens sobre os teores de PB da forrageira, ocorrendo de forma crescente sob suas copas, onde os teores de PB sombreados foram superiores ao das não sombreadas. 7,80 PB (%MS) 7,70 7,60 7,50 7,40 y = 0,0015x 2 *- 0,0649x *+ 8,0426 R 2 = 0,8259 7,30 7,20 0 5 10 15 20 25 30 35 Distância (m) FIGURA 2 - Valores médios de proteína bruta de lâminas foliares de Brachiaria decumbens em função da distância do caule das árvores de sucupira branca. Durante o período de inverno, ocorrem menores precipitações pluviométricas, de modo que as plantas conseguem permanecer com a coloração verde intensa sob sombreamento, que contribui para a manutenção dos teores de PB em maiores níveis em relação a pastagens em condições de sol pleno (CARVALHO, 2001), corroborando com os resultados obtidos no presente trabalho. Foi observada correlação positiva e significativa para o acúmulo de serapilheira e PB (0,8174*). O aumento nos níveis de PB das lâminas foliares de B. decumbens ocorreu devido à elevação dos níveis de N da forragem sombreada (DIAS et al., 2006). Isto só é possível, pelo fato do material depositado causar um aumento na fertilidade do solo através da intensificação da atividade biológica, que corrobora para uma maior ciclagem e liberação de nutrientes (XAVIER et al., 2003). Maiores valores de FDN foram obtidos próximo às árvores (P<0,05), seguindo o modelo quadrático (Figura 3). Isto se deve pelo aumento de celulose, hemicelulose e lignina na estrutura foliar da forrageira devido à diminuição na intensidade luminosa.
Provavelmente, o estresse hídrico ocorrido durante o período de inverno promoveu uma maior competição entre os indivíduos das espécies forrageira e arbórea, pela elevada presença de sistema radicular arbóreo sobre a superfície do solo, na forma de pêlos radiculares, que competem com o sistema radicular da forragem, principalmente por água e nutrientes. Dessa forma, ocorreu uma diminuição na absorção de nutrientes e água pela forrageira, interferindo sobre a qualidade nutricional da forrageira. 84,00 83,00 y = 0,0091x 2 * - 0,4129x *+ 85,432 R 2 = 0,905 FDN (%MS) 82,00 81,00 80,00 0 5 10 15 20 25 30 35 Distância (m) FIGURA 3 - Valores médios de FDN de lâminas foliares de Brachiaria decumbens em função da distância do caule das árvores de sucupira branca. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos no experimento é possível afirmar que o aporte de matéria orgânica promovido pela sucupira branca (Pterodon pubescens) em sistema silvipastoril influencia os valores de proteina bruta e FDN de lâminas foliares de Brachiaria decumbens. REFERÊNCIAS ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS AOAC. Official methods of analysis. Washington D. C.: 1970. 1015 p. CARVALHO, M. M. Contribuição dos sistemas silvipastoris para a sustentabilidade da atividade leiteira. In: SIMPÓSIO SOBRE SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE A PASTO E EM CONFINAMENTO. Juiz de Fora, 2001. Anais... Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. p. 85-108.
CASTRO, A. C. Avaliação de sistema silvipastoril através do desempenho produtivo de búfalos manejados nas condições climáticas de Belém. 2005. 91 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) Universidade Federal do Pará,, Pará. Belém - PA. DIAS, P. F.; SOUTO, S. M.; RESENDE, A. S.; MOREIRA, J. F.; PILODORO, J. C.; FRANCO, A. A. Influência de áreas sob a copa de leguminosas arbóreas na produção de fi tomassa e nutrientes do capim Survenola. Revista Agricultura Tropical, v. 09, n. 01, p. 102-114, 2006. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Banco de Dados Agregados Censo Agropecuário 2006. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ms&tema=censoagro >. Acesso em: 10 Jul. 2010. LIN, C. H.; MCGRAW, R. L; GEORGE, M. F. Shade efeccts on forage crops with potential in temperate agroforestry practices. Agroforestry Systems, v. 44, p. 109-119, 1999. PACIULLO, D. S. C.; CARVALHO, C. A. B.; AROEIRA, L. J. M.; MORENZ, M. J. F.; LOPES, F. C. F; ROSIELLO, R. O. P. Morfofisiologia e valor nutritivo de capimbraquária sob sombreamento natural e a sol pleno. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42, p. 573-579, 2007. RIBEIRO JÚNIOR, J. I. Análises estatísticas no SAEG. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2001. 301 p. SARRUGE, J. R.; HAAG, H. P. N. Análises químicas em plantas. Piracicaba: ESALQ, 1974. 54 p. VAN SOEST, P. J.; ROBERTSON, J. B.; LEWIS, B. A. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, and Non-starch Polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy Science, v. 74, n. 10, p. 3583-3597, 1991. XAVIER, D. F.; CARVALHO, M. M.; ALVIM, M. J.; BOTREL, M. A. Melhoramento da fertilidade do solo em pastagens de Brachiaria decumbens associada com leguminosas arbóreas. Pasturas Tropicales, Cali, v. 25, n. 1, p. 23-26, 2003. WILSON, J.R. Influence of planting four tree species on the yield and soil water status of green panic pasture in subhumid south-east Queensland. Tropical Grassland, v. 32, p. 209-220, 1998.