A DISTRIBUIÇÃO DA DEMANDA DE VIAGENS NO METRÔ E SUA APLICAÇÃO NO DIMENSIONAMENTO DA OFERTA DE TRENS

Documentos relacionados
ANEXO V INDICADORES DE DESEMPENHO E QUALIDADE

Transporte Público Urbano PTR Prof. Orlando Strambi

A importância dos tempos de parada na regulação de sistemas de metrô e sua influência na capacidade de transporte o caso do Metrô de São Paulo.

Oferta de Transportes: Ciclo Veicular, Dimensionamento de Frotas

Estudo do Fluxo de Usuários nas Estações da CPTM. Fernando Galego Boselli Rodrigo Morganti Neres 20ª AEAMESP SEMANA DE TECNOLOGIA METROFERROVIÁRIA

A monetarização do tempo para usuários de transporte coletivo e individual através da Pesquisa Origem e Destino 2007

CAPACIDADE DE TRANSPORTE POR MODO

DIMENSIONAMENTO DA OFERTA ATUAL E FUTURA DO TRANSPORTE INTERCAMPI DA USP-SÃO CARLOS: UMA AVALIAÇÃO DE DIFERENTES CENÁRIOS

OS 50 ANOS DA PESQUISA ORIGEM E DESTINO EM SÃO PAULO

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE ESTADO DOS TRANSPORTES METROPOLITANOS

GESTÃO DE PROCESSO COMO CONTROLAR PROCESSOS E MANTÊ-LOS SOB CONTROLE

WELLINGTON JOSÉ BERGANTON

Capítulo 3 FLUXO DE VEÍCULOS. Tecnologia dos Transportes

Velocidade escalar média.

4 Metodologia Levantamento de Dados

Planos de Negócio das Operadoras Metropolitanas

OPERAÇÃO DO TRANSPORTE COLETIVO

Mestrado Integrado em Engenharia Civil. Disciplina: TRANSPORTES Prof. Responsável: José Manuel Viegas. Sessão Prática 10 (Tipo B):

Considerações sobre tempos efetivos de viagem devido ao aumento da demanda e de veículos do Transporte Coletivo

SP 14/09/79 NT 044/79. Pesquisa Origem e Destino Conceitos Básicos. Orlando Strambi Arnaldo Rabello Aguiar V. Filho.

Estudos integrados de fluxos e respectivas estratégias operacionais para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014

NOTAS DE AULA 1 METAHEURÍSTICA 13/10/2016

Figura 2.1: Espaço viário ocupado por pessoas em ônibus, automóvel e motocicleta. Fonte: Vasconcellos (2008), adaptado.

ANÁLISE DE CAPACIDADE E NÍVEL DE SERVIÇO DE RODOVIAS DE PISTA SIMPLES

5 EXEMPLO PRÁTICO DE DIMENSIONAMENTO DE REDES

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Desenvolvimento de projetos de inovação em mobilidade urbana

FLUXO DE VEÍCULOS. Prof. Dr. Renato da Silva Lima (35) Fluxo de Veículos

5. Aplicação prática da relevância de dois indicadores

MOBILIDADE E SISTEMAS DE TRANSPORTES OFERTA E CAPACIDADE DOS. Prof. Dr. Daniel Caetano

Amostragem de Vectores e Matrizes

Interfaces. As matrizes OD estimadas para as horas de ponta da manhã (HPM) e da tarde (HPT) são as seguintes:

ANEXO SUGESTÃO DE INDICADORES DE QUALIDADE DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE MOBILIDADE TRANSPORTE COLETIVO 1 / 19

PROC-IBR-RSU 016/2018 Análise do dimensionamento do transporte pós transbordo por meio de contêineres estacionários

Notas de aulas de Sistemas de Transportes (parte 12)

11ª Semana de Tecnologia Metroferroviária Fórum Técnico Simulações de Trens Métodos e Ferramentas para Concepção de Linhas Metroviárias

19ª SEMANA DE TECNOLOGIA METROFERROVIÁRIA TEMA SIMULAÇÃO ELÉTRICA DE TRAÇÃO FERROVIÁRIA

MELHORIAS NOS SISTEMAS DE VIA E CONTROLE DAS LINHAS EM OPERAÇÃO DO METRÔ DE SÃO PAULO

A Expansão e Melhoria dos Sistemas Metroferroviários em São Paulo SECRETARIA DOS TRANSPORTES METROPOLITANOS

PROPOSTA DE TERMINAL DE MANOBRA PARA SISTEMAS DE TRANSPORTE METRO-FERROVIÁRIO DE ALTO DESEMPENHO. UM PROJETO INTEGRADO AEAMESP

LOM Teoria da Elasticidade Aplicada

Mestrado Integrado em Engenharia Civil. Disciplina: TRANSPORTES Prof. Responsável: José Manuel Viegas. Sessão Prática 10

Seminário Modelação I. Mariana Campos Faculdade de Ciências da Universidade do Porto 10 de Outubro de 2013

FÍSICA 1ºTA REPOSICAÇÃO 2015 CINEMÁTICA ESCALAR DEFINIÇÕES E CONCEITOS

1º Banco de Questões do 4º Bimestre de Matemática (Revisão)

SP 28/01/83 NT 087/83. Nível de Carregamento do Sistema Viário Principal. Eduardo A. Vasconcelos Yoshie Kawano. Apresentação

EXERCÍCIOS DE ESTRUTURA SEQUENCIAL

Colégio XIX de Março Educação do jeito que deve ser

CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLE DE ACESSO DAS ESTAÇÕES DA CPTM PARA MELHORIA DO FLUXO DE PASSAGEIROS

Professora Daniele Santos Instituto Gay-Lussac 2º ano

Mais Informações sobre Itens do Relatório

SuperVia Concessionária de Transporte Ferroviário S.A. SUPERVIA

PLANO DE PROGRAMAÇÃO DE SEMÁFOROS ELETRÔNICOS PARA A CIDADE DE BOTUCATU

Exercícios de Revisão

2 PRINCIPAIS CONCEITOS

HIDROLOGIA AULA semestre - Engenharia Civil. ESCOAMENTO SUPERFICIAL 2 Profª. Priscila Pini

FÍSICA - 1 o ANO MÓDULO 22 CINEMÁTICA VETORIAL

Planejamento e localização do lugar

Trunking e Grau de Serviço

Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas DECIV. Manutenção de Via Permanente Ferroviária. Aula 10 PÁTIOS FERROVIÁRIOS E FEIXES DE DESVIOS

INTRODUÇÃO À CINEMÁTICA

- Metrovias - Buenos Aires (gabarito estreito) - CMSP Linha 5 e Santiago Linha 4 (gabarito médio) - CMSP e CMRJ - Carros Novos (gabarito largo)

Dimensionamento de uma parede de conteção ancorada

Características do Tráfego

Ligações Ferroviárias Regionais na Macrometrópole Paulista Estudos de Rede e Demanda

Notas de aulas de Sistemas de Transportes (parte 9)

Despacho n.º 07/2010

CIÊNCIAS 9 ANO PROF.ª GISELLE PALMEIRA PROF.ª MÁRCIA MACIEL ENSINO FUNDAMENTAL

Roteiro para elaboração do Relatório do Impacto no Trânsito RIT- SANTO ANDRÉ (segundo orientações DENATRAN)

Tema 7 - Rentabilização das infra-estrutura da estação: semelhanças entre estações da rede da alta velocidade e aeroportos.

PROPOSTA DE UM CONJUNTO BÁSICO DE INDICADORES OPERACIONAIS PARA SISTEMAS METROFERROVIÁRIOS SOB A ÓTICA DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS AOS

1 - A capacidade de fluxo que corresponde a capacidade máxima que pode passar pelo arco.

2.1 Variáveis Aleatórias Discretas

A ideia desse modulo é entender a evolução dos meios de transporte e o objetivo dessa evolução (custo-benefício).

A Concessão e sua Gestão

Sobre ombros de gigantes EQUIPE DE FÍSICA-1º ANO/CMB Profs. Adameck, Eliete, SO Antônio Marcos & Luciano MOVIMENTO UNIFORME

QUESTÕES DE FÍSICA QUESTÕES

Colégio Luciano Feijão Estudo Dirigido de Física

MOBILIDADE E SISTEMAS DE TRANSPORTES

TARIFA DO METRÔ DE SÃO PAULO

PCM Programa de Corredores Metropolitanos

DECISÕES DE LOCALIZAÇÃO DE INSTALAÇÕES. Mayara Condé Rocha Murça TRA-53 Logística e Transportes

TEMPO DE UTILIZAÇÃO DO TREM. Declaração dos entrevistados sobre o tempo de utilização do trem (%) Canoas Esteio usuários Alegre

SIMULAÇÃO DE MARCHA & GRADE HORÁRIA Jd. Ângela a Santo Amaro Monotrilho do M Boi Mirim

Fís. Semana. Leonardo Gomes (Arthur Vieira)

PTR2377 Princípios Básicos de Engenharia de Tráfego 2ª.Lista de Exercícios 1º.semestre de 2014 Entrega: 09/06/ hs

X Seminário Nacional Metroferroviário Projetos em implantação

Mecânica Termo Ondas Óptica Eletromagnetismo Física Moderna. + contexto histórico

Linha: Andrelândia (MG) - São Paulo (SP)

Transportes Colectivos

Autores: Carlos A. de Freitas Timóteo Fábio Tadeu Alves Edivaldo W. Martins

TÍTULO DO TRABALHO (usar várias linhas se necessário)

Transferência de Curso de Graduação

PROJETO DE SIMULAÇÃO TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA PNV o modelo codificado em SIMUL8 e com as estatísticas pertinentes;

Estudo de Tráfego e Acessibilidade para Implantação de um Pólo Atrator de Viagens

Título: Utilização do Sistema Telemétrico Dinâmico RailBee para estimativa em tempo real do número de passageiros e análise do desempenho do TUE

19ª SEMANA DE TECNOLOGIA METROFERROVIÁRIA

Colégio FAAT Ensino Fundamental e Médio

Transcrição:

A DISTRIBUIÇÃO DA DEMANDA DE VIAGENS NO METRÔ E SUA APLICAÇÃO NO DIMENSIONAMENTO DA OFERTA DE TRENS Marcelo Augusto Marques dos Santos Companhia do Metropolitano de São Paulo - METRÔ / S.P. 1. INTRODUÇÃO A determinação da distribuição da demanda de viagens é processo fundamental no planejamento de transporte em geral. No caso do Metrô de São Paulo ela é fator decisivo para o cálculo do carregamento em suas linhas; para o dimensionamento das estações e equipamentos ligados ao fluxo de passageiros (escadas rolantes, acessos, bloqueios, etc...) ; para o dimensionamento do quadro de pessoal de estação e principalmente, para o dimensionamento da oferta de trens colocada em operação. Assim, nosso intuito é apresentar o trabalho desenvolvido na Gerência de Operações do Metrô de São Paulo sobre o assunto, sua evolução ao longo dos anos, seus resultados e sua aplicação prática. Para tanto, o trabalho analisa os seguintes aspectos : a distribuição da demanda de viagens, as características básicas da demanda, o dimensionamento da oferta de trens. 2. A DISTRIBUIÇÃO DA DEMANDA DE VIAGENS A determinação da distribuição da demanda de viagens dos passageiros do Metrô pode ser obtida de acordo com duas metodologias : pesquisa com os passageiros e modelagem matemática. 2.1. PESQUISA COM OS PASSAGEIROS Nessa técnica a distribuição da demanda de viagens é obtida de forma simples e direta, através de pesquisas junto aos passageiros, procurando-se conhecer os seus desejos de viagens. Essas pesquisas utilizam-se da técnica da amostragem, e são realizadas junto a todas as linhas de bloqueios de todas as estações do sistema, com os passageiros que, ao entrarem, declaram suas estações de desembarque. O objetivo dessas pesquisas é obter matrizes quadradas, para cada faixa horária do dia, com a geração relativa das viagens de cada estação para todas as outras.

Essa técnica é adotada desde o ano de 1983, sendo as amostras dimensionadas para um erro máximo de 5 % por linha de fluxo possível (cada célula das matrizes) com coeficiente de confiança de 95%. 2.2. MODELAGEM MATEMÁTICA Na técnica de Modelagem Matemática a distribuição da demanda de viagens é obtida através de uma função matemática, que procura definir as intenções de viagens dos passageiros de acordo com alguns parâmetros que interferem e/ou influenciam na realização das viagens. Na Gerência de Operações do Metrô essa distribuição pode ser realizada através de dois programas : o programa anflup e o método iterativo das entradas e saídas. 2.2.1. O Programa ANFLUP (Análise do Fluxo de Passageiros) O programa foi desenvolvido no início da operação comercial do Metrô, nos anos 70, em computador P-250 da westinghouse. O programa utiliza-se, por analogia, de um modelo muito utilizado em planejamento de transporte para explicar as preferências das viagens, o chamado "modelo da gravidade", adaptado para o universo das viagens no Metrô-S.P. Na sua forma adaptada, o modelo pode ser expresso da seguinte forma : V(AB) = K (AB). V(A). D(B) Sendo que K(AB) pode ser equacionado como : K(AB) = N Σ X=A F(AB) D(X). F(AX) Onde : "D(X)" = corresponde aos desembarques (viagens atraídas) ; "F" (fator de fricção ou de impedância) = corresponde ao fator de ponderação da constante "K", que engloba os aspectos relativos à dificuldade para se realizar a viagem, tais como distância entre estações e tempo gasto para a realização da viagem.

Como em todo modelo matemático de distribuição de viagens, o nosso modelo utiliza-se de uma matriz de viagens atual (observada e/ou pesquisada) para calibrar o seu fator de impedância. O que se faz é atribuir valores aleatórios à "F" e através de um processo iterativo tenta-se chegar aos resultados da matriz original. Esse processo iterativo gera uma matriz calculada dos fatores "F(AB)" entre cada par de estações, a qual será utilizada para gerar a matriz de distribuição da demanda de viagens do dia. Ao final desse processo, a matriz gerada vai conter dados que diferem dos dados iniciais, sendo necessárias algumas iterações a fim de se chegar ao resultado procurado. 2.2.2. O Método Iterativo das Entradas e Saídas O método, desenvolvido no início dos anos 90, usa como ponto de partida as matrizes estação de origem x estação de destino obtidas por pesquisa e os dados de embarques e desembarques de passageiros por estação e por faixa horária. Esses dados de embarques e desembarques por faixa horária (que os bloqueios das estações registram em intervalos de quinze, trinta ou sessenta minutos) são normalizados para fluxos de uma hora, para que possam ser comparados. A partir daí, esses fluxos são distribuídos de acordo com as matrizes de origem x destino pesquisadas, que através de sucessivas iterações, procuram chegar ao resultado procurado. O cálculo dessa distribuição pode ser expresso da seguinte maneira : de V(AB) = E(A). F(AB) Onde : V(AB) = viagens da estação A para a estação B ; E(A) = embarques na estação A ; F(AB) = viagens geradas na estação A com destino à estação B (obtidas através pesquisa nas estações). 3. AS CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA DEMANDA De posse da distribuição da demanda de viagens, torna-se possível calcular vários parâmetros da demanda de viagens. Dentre esses parâmetros, destacamos 3 como sendo os principais : o carregamento do trecho, o fator renovação da demanda e a viagem média dos passageiros. 3.1. O CARREGAMENTO DO TRECHO

Denominamos "carregamento do trecho" ao fluxo de passageiros que percorre um trecho de via num determinado intervalo de tempo t e num determinado sentido (via 1 ou via 2). O carregamento assim descrito é denominado de carregamento médio no trecho e intervalos descritos, sendo normalmente expresso em passageiros / hora / sentido. O carregamento é um parâmetro fundamental para o dimensionamento da oferta de trens. Em função do número máximo de passageiros que estimamos que passe por um determinado trecho de via (trecho mais carregado) determina-se o número de trens que devem por ali trafegar. 3.1.1. O Cálculo do Carregamento De maneira genérica, o carregamento em um trecho "ab" qualquer da via é calculado pela somatória de todas as linhas de fluxo (Fij) estação de origem(oi) x estação de destino(dj) que percorrem esse trecho "ab", em um intervalo de tempo considerado. MATRIZ ESTAÇÃO DE ORIGEM x ESTAÇÃO DE DESTINO Oi Dj Fij sendo : onde : Cab = Σ Fij i<a, j>b Cab = carregamento no trecho "ab". O cálculo desse carregamento pode se dar de duas formas : através de contagens em campo e/ou através de metodologia matemática. 3.1.1.1. Contagens em Campo As contagens em campo servem como instrumento de aferição dos resultados obtidos, através da aplicação dos modelos e métodos matemáticos, para a distribuição dos carregamentos nas linhas. Elas podem ser realizadas tanto no interior dos trens como nas plataformas das estações.

As contagens obedecem a um planejamento de campo, onde são contemplados os locais e horários desejados para a realização das medições, a metodologia adequada para tal e o dimensionamento do pessoal necessário para o trabalho. 3.1.1.2. Metodologia Matemática Para a determinação do carregamento, através de metodologia matemática, foram desenvolvidos os seguintes programas : o programa ANFLUP, o método iterativo das entradas e saídas e o método das defasagens, sendo os dois primeiros utilizados também para a determinação da distribuição da demanda de viagens (ver ítem 2.2). a) O programa ANFLUP e O Método Iterativo das Entradas e Saídas A determinação do carregamento através dessas duas metodologias se dá de forma similar. Após a realização da distribuição da demanda de viagens em cada uma, são obtidas matrizes de viagens, e a partir destas são calculados os carregamentos nas linhas. O cálculo desse carregamento pode ser expresso da seguinte forma : m-1 V(mx) t = { E(m). F(mx) t t } +Σ { E(m-n) n=1 t. F(mx-nx) t } m-1 - Σ n=1 D(mx-nx) t (I) b) O Método das Defasagens Esse método, desenvolvido no início dos anos 90, parte de uma matriz pesquisada e dos dados de entradas nas estações, que associados aos tempos de viagem entre cada par de estação, calcula a distribuição dos carregamentos nas vias. O método calcula o quanto de passageiros viaja num determinado trecho de via, num determinado intervalo de tempo e num determinado sentido da via (via 1 ou via 2). O cálculo desses carregamentos pode ser expresso de acordo com a seguinte expressão : m-1 V(mx) ={E(m). F(mx) t t t }+Σ {E(m-n). ^tn } n=1 F(mx-nx)^tn (II) Tendo para as expressões (I) e (II) : V(mx) t = viagens que partem da estação m numa via (1 ou 2), no intervalo de tempo t ; E(m) t = embarques na estação m, no intervalo de tempo t ;

E(m-n) t = embarques nas estações anteriores à "m", no intervalo de tempo t ; E(m-n) ^tv = embarques nas estações anteriores à "m", no intervalo de tempo ^tv ; F(mx) t = percentual dos embarques na estação "m", na 1 ou 2, no intervalo t ; F(mx-nx) t = percentual dos embarques nas estações "m-n", com destino às estações posteriores a m-n pela via X, no intervalo de tempo t. F(mx-nx) ^tv = percentual dos embarques nas estações "m-n", anteriores à estação m, com destino às estações posteriores a m, com destino às estações posteriores a m pela via x, no intervalo de tempo ^tv. D(mx-nx) t = desembarques nas estações m-n da via x, no intervalo de tempo t. Sendo : t = intervalo de tempo considerado ; ^tv = intervalo de tempo defasado pelo tempo de viagem de uma estação m-n até m ; ; n = número de estações anteriores a "m", variando de 1 até "m-1" ; m = estação de onde partem as viagens ; x = via de sentido das viagens, via 1 ou via 2. 3.2 O FATOR RENOVAÇÃO DA DEMANDA O fator renovação da demanda nos indica quantas vezes os passageiros se renovam por viagem. Esse fator, dada uma certa configuração da demanda, nos permite calcular qual deve ser a oferta mínima de lugares para que se possa transportar um certo número de passageiros. O fator renovação nos possibilita inferir também sobre : o comprimento da viagem média dos passageiros, o tempo de viagem médio dos passageiros, problemas no embarque e desembarque dos passageiros nos trens. 3.2.1. Metodologia de Cálculo O fator renovação é dado pela relação entre o número de passageiros transportados e o carregamento máximo (ou ocupação máxima) numa determinada via de uma determinada linha. Ele pode ser calculado tanto para uma via como para a linha como um todo. O seu cálculo se faz através da seguinte expressão : F.R.(1,1) = P.T.(1,1) / C.M.(1,1) onde : F.R.(1,1) = fator renovação da via 1, linha 1 ; P.T.(1,1) = número de passageiros transportados na via 1 da linha 1 ; C.M.(1,1) = carregamento máximo da via 1, linha 1.

Assim, se na via 1 da linha 1 forem transportados 7 passageiros, com um carregamento máximo de 5 passageiros, o seu fator renovação será de 7/5 = 1,4 vezes durante a viagem. 3.2 A VIAGEM MÉDIA DOS PASSAGEIROS O conceito de viagem que encontramos na literatura sobre transporte diz que : "viagem é considerado como o deslocamento de pessoas ou mercadorias entre um local de origem e um local de destino, com um objetivo determinado". A viagem só se completa quando o objetivo da mesma for satisfeito. O conceito de viagem com o qual trabalhamos, para efeito da viagem média, é um pouco diferente. Para compreendê-lo temos que lidar com três conceitos básicos : estação de origem ; estação de transferência ; estação de destino. onde : - estação de origem = estação onde se dá o embarque do usuário no sistema ; - estação de transferência = estação onde o usuário passa de uma linha para outra ; - estação de destino = estação onde se dá o desembarque e saída do usuário do sistema. Assim, para efeito da viagem média, consideramos viagem como sendo "o deslocamento do passageiro da sua estação de origem até a sua estação de destino ou de transferência". Assim, definimos viagem média como sendo a média dos deslocamentos dos passageiros desde sua estação de origem até sua estação de transferência ou de destino. Ela pode ser considerada para cada linha como para a rede como um todo, sendo expressa tanto em quilômetros como no número de interestações (trecho entre duas estações consecutivas quaisquer) viajadas. A sua quantificação possibilita, aliada ao conhecimento da velocidade comercial dos trens, o cálculo imediato do tempo médio de viagem dos passageiros no Metrô - S.P. 3.3.1. Metodologia de Cálculo O cálculo da viagem média em quilômetros é feito com base na distribuição espacial das viagens dos passageiros, ponderadas pelas matrizes das distâncias entre estações, tomadas em quilômetros. O cálculo é feito para cada linha e para a rede como um todo, segundo cada faixa horária do dia, sendo os seus dados ponderados e estimados para o dia como um todo.

A fórmula matemática que expressa essa viagem é dada por : V.M. (km) = n m Σ Σ Pij. Dij (km) i=1 j=1 n m Σ Σ Pij i=1 j=1 onde ; n = número de estações de origem m = número de estações de destino i = estação de origem considerada j = estação de destino considerada Pij = entradas de passageiros na estação "i" com destino à estação "j" ; Dij = distância entre as estações ï e "j", ou ï e a estação de transferência quando j pertence a outra linha. No caso da viagem média expressa em número de interestações, a distribuição espacial das viagens é ponderada pelas matrizes das distâncias entre estações tomadas em número de interestações ao invés de quilômetros. O cálculo se daria segundo a seguinte expressão : V.M. (int.) = Pij.(j-i) Pij onde ; V.M. (int) = viagem média em número de interestações ; Pij = entradas de passageiros na estação "ï" com destino à estação "j" ; (j-i) = número de interestações percorridas na linha à qual pertence a estação "j", pelos passageiros que entram na estação i. Esse cálculo se torna particularmente importante quando não se dispõe das matrizes das distâncias entre estações tomadas em quilômetros, dispondo sómente da quilometragem total de cada linha. Nesse caso, a viagem média em quilômetros pode ser estimada através da viagem média expressa em número de interestações, fazendo-se uso da seguinte expressão : V.M.(km) = V.M.(int) x km da linha número de interestações da linha 4. O DIMENSIONAMENTO DA OFERTA DE TRENS

Os conceitos até agora apresentados e as técnicas desenvolvidas para um apuramento cada vez maior da demanda, tem como objetivo último a compatibilização demanda x oferta de trens. Assim, o processo de dimensionamento da oferta de trens leva em consideração todos os aspectos até agora abordados. Para se programar uma oferta de trens são levados em consideração padrões técnicos de nível de conforto no interior dos mesmos. Os primeiros estudos dos padrões técnicos de programação da oferta de trens do Metrô de São Paulo foram realizados a partir de subsídios fornecidos pelo Metrô do México, nos idos do ano de 1974, e do trabalho intitulado "Pedestrian Planning and Design" de John J. Fruin. O trabalho de Fruin desenvolveu-se com base na análise das relações entre as características antropométricas, as condições de circulação e os fatores psicológicos das pessoas em aglomerações. Com isso conclui estabelecendo seis níveis de conforto em função da área disponível por indivíduo, nestas condições : NÍVEL DE CONFORTO m2 / pessoa pessoas / m2 Fatores Psicológicos A mais de 1,2 menos de 0,8 nenhum B de 1,2 a 0,9 de 0,8 a 1,1 nenhum C de 0,9 a 0,7 de 1,1 a 1,4 zona de conforto D de 0,7 a 0,3 de 1,4 a 3,3 contato evitável E de 0,3 a 0,2 de 3,3 a 5,0 contato inevitável F menos de 0,2 mais de 5,0 desconforto físico e psicológico Estudos realizados no início da operação do Metrô de São Paulo, indicaram o nível "E" do Fruin como padrão de conforto para os horários de pico de demanda. Neste nível em cada metro quadrado devem estar em média de 3,3 a 5,0 pessoas, ou seja, cada pessoa dispõe, respectivamente, de 0,3 a 0,2 metros quadrados de área, sendo que nestas condições de conforto o contato entre passageiros é inevitável mas a circulação é possível. O padrão de conforto para a operação do Metrô de São Paulo, que ficou estabelecido desde então, foi de 4 passageiros em pé por metro quadrado para os seus horários de pico nos dias úteis. Avaliou-se que com este padrão, apesar dos usuários estarem sujeitos a um pequeno desconforto psicológico pelo contato inevitável, existem boas condições de circulação no interior do trem, possibilitando ainda o embarque de passageiros decorrentes de qualquer aumento imprevisto na demanda.

NÍVEL DE CONFORTO " E " - J.FRUIN 3,3 pass/m2 5,0 pass/m2 cresce o contato físico e o desconforto psicológico > < melhoram as condições de circulação no interior do trem maior facilidade de embarque e desembarque ; redução das interferências de portas na circulação dos trens Para os horários de vale estabeleceu-se um padrão de conforto sensívelmente melhor que os horários de pico ( 2 passageiros por metro quadrado), de tal forma que o passageiro percebesse o maior conforto em se viajar nos horários de menor demanda e dessa forma fosse mantida alguma pressão de achatamento dos picos. Esse mesmo padrão do vale nos dias úteis foi adotado para todos os horários dos sábados e domingos. Sendo ; Cx = carregamento da interestação mais carregada no horário em que se quer dimensionar a oferta (em passageiros por hora) ; Cv = carregamento de vale dos dias úteis (menor média de 4 horas consecutivas entre picos do carregamento da interestação mais carregada) ; Ct = capacidade do trem ; Ctx = Dx. A + S Dx = densidade padrão de passageiros em pé para o horário em que se quer dimensionar a oferta de trens ; I = intervalo entre trens (em segundos) ; N = número de trens necessários por hora ; A = área disponível por trem para a acomodação de passageiros em pé ; S = número de passageiros sentados por trem. Deve-se programar : I = (Dx. A + S). 3600 / Cx ; Nx = Cx / Ctx ; Nv = Cv / Ctv ; N = 3600 / t Com Dx definido da seguinte forma :

a) nos horários de pico Para : Temos : Cx > 2.Cv Dx = 4 passageiros em pé por metro quadrado b) nos horários de transição pico-vale e vale-pico Para : Temos : Cv < Cx < 2.Cv Dx = [2 Cv + 2(Cx-Cv)] / Cv b) nos horários de vale Para : Temos : Cx < Cv Dx = 2 passageirosem pé por metro quadrado Essa programação da oferta de trens leva em consideração o headway mínimo que é possível oferecer, dada as condições técnicas da via e dos computadores de controle de trens (atualmente 109 segundos na linha 1-Azul ; 179 segundos na linha 2 -Verde e 100 segundos na linha 3-Vermelha) e um máximo de 6 minutos (estabelecido de acordo com o máximo aceitável para o usuário segundo as normas do Regulamento de Transportes, Tráfego e Segurança da Companhia do Metropolitano de São Paulo - R.T.T.S).