Art. 2 o A Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, passa a vigorar com as seguintes alterações:

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Transcrição:

Dispõe sobre responsabilização de adolescentes por atos infracionais e institui sistema de responsabilidade progressiva para atos infracionais de extremada gravidade; altera as Leis n os 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente e 12.594, de 18 de janeiro de 2012 Lei do SINASE; e dá outras providências. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1 o Esta Lei dispõe sobre o aperfeiçoamento do sistema de responsabilização de adolescentes por atos infracionais, na forma prevista pela Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei n o 12.594, de 13 de julho de 1990, que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e regulamenta a execução das medidas socioeducativas. 1 o A resposta estatal na aplicação e execução das medidas socioeducativas a adolescentes que praticam atos infracionais, sem prejuízo do disposto no art. 227, 3º inciso V da Constituição Federal, deve respeitar critérios de proporcionalidade com relação à gravidade da ofensa cometida e à etapa de desenvolvimento do infrator. Art. 2 o A Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente, passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 2º... Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas maiores de dezoito anos de idade. Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias, podendo ser prorrogado por igual período, uma

única vez, apenas quando se tratar de ato infracional de extremada gravidade previsto no artigo 121-A e a prorrogação for necessária para concluir a produção de provas consideradas imprescindíveis. Parágrafo único. A decisão que decretar ou prorrogar a internação provisória deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas socioducativas, sem prejuízo das medidas de proteção que considerar necessárias, dentre as previstas no artigo 101, incisos I a VII: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional. 1º A medida socioeducativa aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias, a gravidade da infração e a idade em que se encontrava na data do ato infracional. 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado. 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. 4º A medida socioeducativa tem natureza preventiva e sancionatória, sem prejuízo da função educacional e de integração social do adolescente. 5º A autoridade judicial poderá requisitar a implementação das medidas de proteção, quando aplicadas, diretamente à rede pública de atendimento ou encaminhar a execução ao Conselho Tutelar, com posterior demonstração ao juízo da efetivação das medidas determinadas ou justificação dos motivos da não

efetivação. 6º Ao aplicar as medidas socioeducativas de semiliberdade, liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade, a autoridade judicial, caso considere necessário, à luz da personalidade e da conduta social e familiar do adolescente, poderá impor as restrições acessórias de proibição de frequentar determinados lugares e obrigação de recolhimento noturno a partir de determinado horário. Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. 2º A medida deve ser cumprida pelo prazo mínimo de seis meses e máximo de três anos, salvo nas hipóteses de atos infracionais de extremada gravidade, previstos no artigo 121-B, quando o juiz aplicará a medida pelos prazos mínimos e máximos previstos no referido artigo, conforme a natureza do ato infracional e a idade do adolescente na data de sua prática. 3º O tempo máximo de internação não excederá a três anos, salvo nas hipóteses do artigo 121-B desta Lei. 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente ou jovem deverá ser liberado. 5º Salvo o disposto no artigo 121-B, a liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público e o defensor. 7º A determinação judicial mencionada no 1 o poderá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. 8º A manutenção da medida será reavaliada mediante decisão fundamentada, por ocasião do cumprimento do prazo mínimo de seis meses, e, a

partir deste momento, no máximo a cada seis meses, observando-se o plano individual de atendimento. 9º Se a medida tiver sido aplicada em decorrência de ato infracional de extremada gravidade, a primeira reavaliação será realizada por ocasião do cumprimento do prazo mínimo previsto no artigo 121-B, conforme a natureza do ato infracional e a idade do adolescente ou jovem na data de sua prática, e, a partir deste momento, no máximo a cada seis meses. Art. 121-A. Considera-se de extremada gravidade os atos infracionais análogos aos seguintes tipos penais: Homicídio qualificado (art. 121, 2º do CP); Aborto, sem consentimento da gestante, com resultado morte (art. 125 c/c art. 127, parte final, do CP) Lesão corporal seguida de morte (art. 129, 3º do CP); Abandono de incapaz com resultado morte (art. 133, 2º do CP); Maus tratos com resultado morte (art. 136, 2º e 3 o do CP); Roubo do qual resulte lesão grave ou morte (art. 157, 3º do CP); Extorsão da qual resulte lesão grave ou morte (art. 158, 3º, segunda parte do CPB); Extorsão mediante sequestro da qual resulte lesão grave ou morte (art. 159, 2º e 3 o do CP); Estupro do qual resulte morte (art. 213, 2º do CP); Estupro de vulnerável do qual resulte lesão grave ou morte (art. 217-A,

3º e 4 o do CP); Atos infracionais análogos aos crimes contra a segurança dos meios de comunicação, transporte e outros serviços públicos, dos quais resulte lesão corporal ou morte (art. 260, 1 o, art. 261, 1º e art. 262, 1º, todos na forma do art. 263 do CP); Epidemia da qual resulte morte (art. 261, 1º do CP); Tortura da qual resulte morte (art. 1 o, 3 o, da Lei 9.455/97). Art.121-B. A medida socioeducativa de internação, quando aplicada em decorrência de ato infracional consumado de extremada gravidade, deverá ser cumprida conforme os limites temporais mínimos e máximos abaixo estabelecidos, observada a idade do autor à data do fato: I entre 12 e 13 anos de idade: mínimo de 1 ano e 6 meses e máximo de 3 anos; II entre 13 e 14 anos de idade: mínimo de 2 anos e máximo de 4 anos; III entre 14 e 15 anos de idade: mínimo de 2 anos e 6 meses e máximo de 5 anos; IV entre 15 e 16 anos de idade: mínimo de 3 anos e máximo de 6 anos; V entre 16 e 17 anos de idade: mínimo de 3 anos e 6 meses e máximo de 7 anos; VI entre 17 e 18 anos de idade: mínimo de 4 anos e máximo de 8 anos; Parágrafo único. Quando, depois de iniciada a execução, o ato infracional de extremada gravidade não tiver se consumado por circunstâncias alheias à vontade do adolescente, a medida socioeducativa de internação será aplicada com redução de um a dois terços dos limites mínimos e máximos acima estabelecidos,

observada a idade do autor à data do fato Art.121-C. Em até 30 dias após o cumprimento do prazo mínimo legal, a medida de internação deverá ser obrigatoriamente reavaliada, devendo a autoridade judicial, após ouvir o Ministério Público e a defesa, à luz de relatórios técnicos, decidir sobre sua extinção, manutenção ou substituição pelo regime de semiliberdade ou liberdade assistida. 1º - A autoridade judicial somente poderá extinguir ou substituir a medida de internação se o socioeducando: I tiver cumprido as metas estabelecidas no plano individual de atendimento para o alcance de tais conquistas, salvo reconhecimento de circunstâncias específicas que justifiquem o descumprimento de determinadas metas; e II - não tiver sofrido punição por infração disciplinar de natureza grave nos últimos seis meses, devidamente apurada na forma do regimento do programa socioeducativo, em que lhe tenha sido assegurado o direito de defesa. 2º - Se a autoridade judicial decidir pela continuidade da internação, as reavaliações periódicas deverão se repetir no máximo a cada seis meses. Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa ou ato infracional análogo a tráfico de drogas, nas formas do artigo 33, caput e 1º, artigo 34 ou artigo 36 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves, assim entendidos os atos infracionais análogos a crimes punidos com pena de reclusão; III- por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta de semiliberdade, liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade. 1 o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 10 (dez) dias, em caso de descumprimento das medidas de liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade, ou 90 (noventa) dias, em caso de descumprimento da medida de semiliberdade, devendo ser decretada

judicialmente após o devido processo legal, assegurado o direito de defesa, mediante prévia oitiva do adolescente em juízo e, sempre que possível, de seus pais ou responsáveis. 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada. Art. 123. A internação decorrente da prática de ato infracional, em qualquer caso, cumprir-se-á em estabelecimento próprio, integrante do sistema socioeducativo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. 1º. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. 2º. Os programas destinados ao cumprimento da medida socioeducativa de internação deverão manter unidades exclusivas para jovens entre 18 e 21 anos de idade e para jovens acima de 21 anos de idade, promovendo as transferências dos socioeducandos em até 03 (três) meses após ingressarem nas referidas faixas etárias, juntamente com seus prontuários e planos individuais de atendimento; antes dos 18 anos de idade, os programas socioeducativos de internação deverão cuidar para que a faixa etária de 12 a 14 anos seja separada da faixa entre 15 e 17 anos, em unidades distintas ou na mesma unidade. Art.148-A. A competência da Justiça da Infância e da Juventude estende-se à fase de execução das medidas socioeducativas e protetivas, esgotando-se somente com a decisão judicial que julgar extinta a pretensão executória. Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para manutenção da ordem pública. Art. 182... 2º A representação é de legitimidade exclusiva do Ministério Público e

independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade, bem como de qualquer condição de procedibilidade, ainda que o ato infracional seja análogo a crime de ação penal privada ou pública condicionada. Art. 3º. O artigo 38 da Lei n º 12.594, de 18 de janeiro de 2012, passa a vigorar com as seguintes alterações: Art. 38. As medidas de proteção, de advertência e de reparação do dano, quando aplicadas de forma isolada, serão executadas nos próprios autos do respectivo procedimento, respeitado o disposto nos arts. 143 e 144 da Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Parágrafo único A execução das medidas de proteção compreende, no mínimo, a verificação da atitude dos pais ou responsáveis para a efetivação das medidas aplicadas, bem como a verificação do efetivo acolhimento do adolescente pelos órgãos, serviços ou programas de atendimento aos quais tiver sido encaminhado. Art. 4 o Esta Lei entra em vigor após a sua publicação. JUSTIFICAÇÃO O pressuposto do presente anteprojeto é que o Estatuto da Criança e do Adolescente, apesar de não ter sido ainda implementado em sua inteireza, especialmente no que se refere à implementação cabal dos programas de atendimento socioeducativo e adequação da própria Justiça da Infância e da Juventude, deve sofrer alterações, ainda que pontuais, para aperfeiçoar a sua concepção jurídica e a aplicação do sistema de responsabilização do adolescente pelo cometimento do ato infracional. A ausência de cabal implementação da Lei nº 8.069/90 com relação à execução das medidas socioeducativas é inegável, porém, um quarto de século é tempo suficiente para aquilatar a eficácia de um diploma legal. E se a sociedade brasileira, em vinte e cinco anos, não quis implantar o modelo proposto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, é preciso buscar o aperfeiçoamento do mesmo com o objetivo de torná-lo efetivo. Busca-se aqui, basicamente, introduzir novos dispositivos que tornem o procedimento de apuração do ato infracional, por um lado, menos discricionário,

estreitando as largas margens de subjetividade deixadas nas mãos dos operadores. Por outro lado, busca-se criar condições para que a resposta estatal na aplicação e execução das medidas socioeducativas, sem prejuízo do disposto no art. 227, 3º inciso V da Constituição Federal, passe a ser guiada por alguns critérios objetivos, de modo a conferir maior proporcionalidade entre a gravidade da ofensa cometida e a respectiva medida de responsabilização, sem deixar de levar em conta a idade e etapa de desenvolvimento em que se encontrava o adolescente na data do ato infracional. A presente proposta decorre do reconhecimento de que o sistema de responsabilização originalmente concebido pelo Estatuto independentemente de ter sido ou não plenamente implementado, não oferece equidade diante de situações de fato diferenciadas, uma vez que as mesmas medidas são previstas para adolescentes de doze anos ou dezoito anos de idade, e a resposta mais grave, que é a internação por prazo indeterminado, apesar de excepcional e limitada ao máximo de três anos, pode ser aplicada sem qualquer distinção quanto à gravidade objetiva das condutas, de modo que o autor de um roubo simples pode receber a mesma resposta que o autor de um latrocínio ou homicídio. E, na execução, os autores de roubos ou furtos reiterados costumam ficar privados de liberdade por mais tempo que os autores de atos infracionais contra a vida, pois estes aceitam melhor a internação e se adaptam a ela mais facilmente, sendo rapidamente desligados em decorrência da boa conduta institucional. Trata-se, por assim dizer, de uma falha de concepção que, ao longo dos anos, foi gerando na sociedade uma crescente desconfiança diante da política de responsabilização juvenil do Estatuto, que se revelou falha ou incompleta justamente onde deveria ser mais consistente, que é na resposta aos atos infracionais contra a vida. Além disso, o sistema de responsabilização abraçado pelo Estatuto permite um outro contexto de injustiça difícil de ser explicado, pois preconiza as mesmas regras e o mesmo tratamento a autores de atos contra a vida e a autores de atos meramente patrimoniais. Assim, a presente proposta de anteprojeto tem seu eixo central na adoção dos conceitos de ato infracional de extremada gravidade e de responsabilidade progressiva, propostos originalmente pelo insigne Procurador de Justiça do Estado de São Paulo, Paulo Afonso Garrido de Paula, em proposta por ele construída em 2012 e já apresentada ao CONANDA, UNICEF, SDH-PR, CNMP e outras instâncias. Seguimos, aqui, as linhas básicas da proposta original de Paulo Garrido, com algumas modificações, a começar pela inclusão do artigo 121-A ao Estatuto, contendo uma lista fechada de tipos penais correspondentes a crimes que

tenham como resultado a morte da vítima. Definem-se, desta forma, sem recorrermos à solução genérica de mera referência aos crimes hediondos, os atos infracionais de extremada gravidade, que passam a ficar submetidos a um regime diferenciado, onde o respeito ao princípio da proporcionalidade se materializa na previsão de intervalos de internação mínimos e máximos mais longos e diferenciados (progressivos), com previsões de prazos mais breves para as faixas etárias mais precoces, na forma do artigo 121-B. Desse modo, é admitida a aplicação do Estatuto a maiores de 18 anos de idade e fica revogada, tão-somente para os atos infracionais de extremada gravidade, a obrigatoriedade de extinção da medida de internação aos 21 anos, uma vez que o prazo máximo de internação passaria a ser de 8 (oito) anos, para os atos infracionais de extremada gravidade praticados aos 17 anos de idade, ao passo que os mesmos atos, quando praticados aos 12 anos de idade, ficariam sujeitos a um prazo máximo de internação de 3 (três) anos. Outro ponto a se observar no regime diferenciado ora proposto é a obrigatoriedade de cumprimento, ao menos, do prazo mínimo previsto no artigo 121-B, com reavaliação obrigatória a partir do cumprimento desse prazo mínimo legal, incidindo desta forma o princípio da brevidade, com previsão da liberação como um direito a ser reconhecido, desde que cumpridas as metas previstas no PIA e o adolescente ou jovem adulto não tenha sofrido punição por falta disciplinar grave, nos últimos 6 (seis) meses. Confere-se, desta forma, algum protagonismo ao socioeducando para a reconquista da sua liberdade, ao mesmo tempo em que se garante uma efetividade sancionatória mínima à medida socioeducativa, em seu viés de responsabilização. O novo regramento ora proposto também limita as margens de discricionariedade/subjetividade hoje atribuídas aos diversos atores envolvidos na execução. Para dar coerência ao sistema ora proposto, é estabelecida a obrigatoriedade de cumprimento mínimo de 6 (seis) meses também para os atos infracionais comuns, prazo considerado razoável para que o socioeducando possa cumprir minimamente o seu PIA. A competência para a execução da medida será sempre do Juízo da Infância e da Juventude, impedindo que, a partir de certa idade, o adolescente ou jovem adulto seja transferido para o sistema penitenciário de adultos. Por outro lado, a proposta estabelece que os programas socioeducativos deverão manter unidades exclusivas para jovens entre 18 e 21 anos de idade e para jovens acima de 21 anos de idade, promovendo as transferências dos socioeducandos em até 03 (três) meses após ingressarem nas referidas faixas etárias, juntamente com seus prontuários e planos individuais de atendimento. Antes dos 18 anos de idade, os programas socioeducativos de internação

deverão cuidar para que a faixa etária de 12 a 14 anos seja separada da faixa entre 15 e 17 anos, em unidades distintas ou na mesma unidade. Ainda com relação aos atos infracionais de extremada gravidade, é proposta uma alteração ao artigo 108, de modo a permitir, apenas com relação a estes atos, a prorrogação da internação provisória por mais 45 dias, uma única vez, para conclusão de provas consideradas imprescindíveis. Quem opera o procedimento de apuração do ato infracional sabe que o prazo de quarenta e cinco dias muitas vezes é insuficiente para a apuração da autoria e materialidade do ato infracional exigida para a imposição de uma medida socioeducativa, especialmente as privativas de liberdade. A necessidade desta prorrogação é reconhecida em função da repercussão social dos atos infracionais contra a vida e das limitações impostas pela imediatidade exigida pelo próprio Estatuto, a ponto de dispensar provas pré-constituídas para o oferecimento da representação, tornando mais complexa a produção de provas de qualquer natureza em juízo. Para os atos infracionais comuns, fica mantida a regra original do prazo máximo e improrrogável de 45 dias para a internação cautelar. Ainda sobre a internação provisória, é proposta a revogação parcial do artigo 174 do Estatuto, de modo a afastar a segurança pessoal do adolescente como fundamento da restrição de liberdade. Outras alterações pontuais são propostas para garantir maior coerência sistêmica ao Estatuto e também para fortalecer as medidas de proteção, (reconhecendo o grande potencial de prevenção destas medidas e a possibilidade de aplicação em larga escala, em sede de remissão, como alternativa a medidas socioeducativas desnecessárias) ao mesmo tempo em que se procura acentuar a distinção entre medidas protetivas e socioeducativas. Nesse viés, as medidas de proteção deixam de figurar entre os incisos do artigo 112 para serem mencionadas no caput do dispositivo, de modo a não serem confundidas com as medidas socioeducativas. É introduzida uma regra para permitir a implementação das medidas protetivas diretamente pela autoridade judicial, dada a reconhecida dificuldade dos conselhos tutelares para lidar com adolescentes em conflito com a lei penal. Não é descartada, contudo, a possibilidade do juiz encaminhar a implementação das protetivas aos CTs, mas estes deverão informar a efetivação das medidas que lhes forem encaminhadas pela autoridade judicial. Ainda com relação às medidas de proteção, é proposta a alteração do artigo 38 da Lei do SINASE, de modo a fortalecer a execução das medidas protetivas, mediante verificação da atitude dos pais ou responsáveis e da efetiva acolhida dos adolescentes junto à rede de atendimento. Cuidou-se também no presente anteprojeto de estabelecer de forma clara a

natureza sancionatória das medidas socioeducativas, para que não paire nenhuma dúvida, sem prejuízo de suas funções educacional e de integração social. Isso acabará com a confusão sobre a sua natureza, fazendo com que juízes, promotores e advogados tenham certeza que, quando estão aplicando uma medida socioeducativa, não estão fazendo um bem ou protegendo o adolescente e sim o sancionando pelo cometimento de um ato infracional, sem que isso implique descuidar, em nenhum momento, dos aspectos pedagógicos, da reparação dos direitos violados e do respeito à condição da pessoa em desenvolvimento, que devem diferenciar as medidas socioeducativas das penas criminais. Algumas alterações estão sendo propostas para aperfeiçoar e conferir maior coerência ao artigo 122 do Estatuto. Assim, as formas mais graves de tráfico de drogas passam a integrar o inciso I, de modo a se tornarem passíveis de medida de internação, independentemente de reiteração. Torna-se possível, assim, aplicar medidas de contenção a adolescentes que se apresentarem gravemente envolvidos com o tráfico de drogas, o que poderá ser aferido em cada caso concreto, com base na quantidade e natureza das substâncias apreendidas, presença de armas de fogo e circunstâncias gerais da apreensão e do contexto social e familiar do adolescente. Cumpre ressaltar que o tráfico de drogas não integra o rol dos atos infracionais de extremada gravidade, continuando a ser tratado como ato infracional comum. Os outros atos infracionais graves, aos quais se refere o inciso II, passam a ser definidos como os atos análogos a crimes punidos com reclusão, evitando que alguém cogite aplicar internação por reiteração de atos mais leves, tais como danos e simples ameaças. A internação-sanção prevista no inciso III será aplicável somente pelo descumprimento reiterado e injustificado das medidas de semiliberdade, liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade, de modo a deixar claro que o descumprimento da medida de obrigação de reparar o dano não está sujeito a tal consequência. O prazo máximo da internação-sanção decorrente de descumprimento das medidas de liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade está sendo limitado a 10 (dez) dias, impedindo que a sanção pelo descumprimento se apresente desproporcionalmente mais grave que a própria medida original. Aqui, adotou-se como parâmetros os elementos básicos da medida de PSC, especialmente o prazo máximo de 6 meses e a carga de 8 horas semanais, totalizando 32 horas/mês e 192 horas no total do período, o que equivaleria a exatos 8 dias. Portanto, a limitação do prazo de até 10 (dez) dias para a internação-sanção, nestas hipóteses, permanece caracterizando uma medida muito rigorosa, mas bem menos desproporcional que a aplicação por até 90 dias, em tese possível, pela redação atual do dispositivo. Para o

descumprimento da medida de semiliberdade, fica mantido o limite atual de até 90 dias. Por fim, o devido processo legal para a aplicação da internação-sanção passa a ser melhor disciplinado, assegurando-se o direito de defesa, mediante prévia e obrigatória oitiva do adolescente em juízo e, sempre que possível, de seus pais ou responsáveis. Por derradeiro, sempre com o propósito de dar consistência sistêmica ao sistema de responsabilização por atos infracionais, é proposta a alteração do 2º do artigo 182 do Estatuto, de modo a deixar claro que a ação socioeducativa independe não apenas de prova pré-constituída da autoria e materialidade, mas também de qualquer condição de procedibilidade, ainda que o ato infracional seja análogo a crime de ação penal privada ou pública condicionada. Aqui, procura-se reconhecer a predominância da intervenção de natureza educacional diante de atos infracionais de menor gravidade, mas que, nem por isso, devem ser negligenciados quando praticados por pessoas em desenvolvimento, ainda que a intervenção cabível, no mais das vezes, se resuma a uma medida de obrigação de reparar o dano, advertência ou até mesmo uma remissão simples. Brasília, 05 de junho de 2014. Ana Cristina Taffarel MP PE Karina Hashizume MP MG Mirella Monteiro MP SP Anderson Pereira de Andrade MP DFT Márcio Oliveira MP MG Sergio Louchard MP CE