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Transcrição:

A EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL Elisângela Martins Ribeiro Este texto tem como objetivo apresentar alguns resultados obtidos a partir do projeto Atuação do Profissional de História: da Academia ao Exercício Cotidiano da Profissão. Análise da Formação do Graduado, Diagnóstico e Alternativas de Mudanças, que foi desenvolvido durante o ano de 2004 e que buscou analisar o Curso de História a partir da reformulação de 1991, na qual foi introduzido o Curso de Bacharelado em História, tornando-se obrigatória a produção de uma monografia para a finalização do Bacharelado e da Licenciatura. Tendo em vista esta configuração atual do Curso de História, buscamos compreendê-lo através de três frentes de pesquisa: a análise do currículo do Curso, juntamente com a realização de entrevistas com professores e alunos; a catalogação e análise das monografias produzidas pelos alunos e a realização de entrevistas com os egressos do Curso de História da Universidade Federal de Uberlândia. No entanto, este texto dará ênfase apenas às entrevistas realizadas com professores e alunos do Curso. Para melhor compreendermos o currículo do Curso de História realizamos entrevistas com os professores para compreendermos os critérios, os interesses intelectuais e as perspectivas do ser historiador para a elaboração dos programas das disciplinas por eles ministradas, o que nos possibilitaria compreender o que significava para estes professores o trabalho para a formação de professores/pesquisadores. Ao mesmo tempo, ao realizamos as entrevistas com os alunos buscamos compreender quais as inquietações que eles possuem em relação ao Curso, o que esperam desta formação e quais suas principais necessidades e metas, estavam ou não sendo atendidas pelo Curso. As perguntas que compunham as entrevistas buscavam compreender em que medida, ou de que forma, preceitos como a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, a articulação entre teoria e prática e uma 1

sólida formação acadêmica que prepara o graduando para o exercício profissional, vem sendo alcançados e, se não, quais os possíveis problemas que alunos, ex-alunos e professores apontam como causa para a não realização efetiva destes preceitos. Ao analisarmos as entrevistas realizadas com os professores do Instituto podemos perceber uma formação bastante diversificada, já que a maioria dos professores tiveram contato com diversas instituições durante sua formação e pós-graduação, diversas formas de lidar com os temas, com as fontes, com o pensamento histórico. Como no Instituto há essa diversidade, não apenas representada pelas linhas de pesquisa do Mestrado, mas também pelos núcleos de pesquisa do Instituto, as entrevistas englobaram professores de todos estes núcleos para perceber como essa diversidade se relaciona com as disciplinas e com o próprio curso. Um ponto em comum encontrado em todas as entrevistas foi o fato de que todos os professores foram unânimes em dizer que as linhas de pesquisa nas quais estão inseridos interferem na montagem dos programas, uma vez que indicam a forma com que estes professores orientam suas metodologias de trabalho. As diferenças nas respostas em relação a este questionamento se deram com relação ao modo como estas interferências acontecem. Para uma das entrevistadas, esta influencia embora real, não chega ao ponto de direcioná-lo, pois para ela a graduação é um espaço de formação mais geral, que não pode se fechar numa especialização muito grande. E é com base nisso que ela procura o que tem sido produzido de novo sobre os temas, mas também analisa se este material está disponível na biblioteca e pode ser utilizado pelo aluno, para só então fazer os recortes, sem especializar demais o conteúdo ao montar o programa. Partilhamos da mesma opinião que a entrevistada de que esta atitude é muito importante, pois o aluno pode ter contato com a obra como um todo, saindo dessa indústria do xerox e do contato apenas com fragmentos de textos. Assim, apesar de sua concepção teórico-metodológico nortear o tratamento dado às suas disciplinas, por priorizar 2

uma formação mais geral, não se fecha no recorte de sua linha de pesquisa, questão que outros professores não levam em consideração. Pelas entrevistas pudemos perceber, então, que a influência da linha de pesquisa do professor na montagem do programa não é uma coisa ruim, mas que esta influência, associada a não observação por parte do aluno com relação as ementas e os objetivos do programa, pode levar os professores a trabalharem com uma disciplina como se fosse um estudo monográfico sobre seu tema específico de pesquisa. Este parece ser o caso de algumas disciplinas de ementas mais abertas. Uma solução que apontamos para esse problema seria a redistribuição da carga horária destas disciplinas em mais de uma turma por semestre englobando as linhas de pesquisa, de modo que o aluno possa ter a oportunidade de escolher de que forma ele quer analisar o tema proposto pela ementa. Com relação à questão referente à importância da produção da monografia como requisito para a conclusão do curso, detectamos duas posições diversas. Uma que entende a produção monográfica como elemento fundamental para a formação do professor/pesquisador, ou seja, do historiador; outra que acredita que esta produção monográfica deveria ser restringida aos poucos alunos que tivessem o interesse pela pesquisa, como se a pesquisa fosse desnecessária à formação de professores, dissociando assim, mais uma vez, o ensino da produção de pesquisa. Acreditamos que não existe esta dicotomia entre ensino e pesquisa, assim, compartilhamos da mesma visão dos professores que compreendem a monografia como elemento fundamental para a formação do profissional de História: (...) não consigo pensar um curso de História que não tenha um trabalho de monografia feito pelo aluno, para ser defendido como o trabalho do final do curso, porque é nesse momento que o aluno se coloca. É nesse momento que ele tem a oportunidade de falar de todo o procedimento da História, das reflexões que ele foi acumulando. 1 3

Os argumentos utilizados por aqueles que não compartilham desta opinião acerca da importância da produção monográfica são vários. Muitas vezes são idéias que parecem querer facilitar a formação para estudantes que trabalham ou que por diversos motivos não possuem o tempo necessário para dedicar à produção de suas monografia: (...) para alguns alunos que trabalham, eu acho que, obrigá-lo a fazer monografia está sendo complicado. Eu acho que está caindo muito o nível das monografias que estão sendo apresentadas. Eu já tive algumas bancas que eu fiquei muito assustada e, eu tive uma aluna, recentemente, que ela pediu pela 5ª vez prazo de dilação para poder fazer a monografia. Essa aluna é mãe solteira, negra, professora e se ela não defendesse agora teria que sair, fazer o vestibular outra vez, ia perder a possibilidade que ela tem de estar dando aula. 2 Entendemos que deixar de lado a prática da monografia, não preza pela formação do historiador, o que nos leva a entender que o professor, dentro desta concepção, é um profissional menor que não precisa de uma formação completa Bacharelado/ Licenciatura para trabalhar com o ensino. Um outro problema com relação às disciplinas envolve a questão da Licenciatura. Nesse caso constatamos que não é um problema de carga horária, mas sim como essas disciplinas vêm sendo ministradas. A maioria das entrevistas apontaram como maior problema o fato de serem disciplinas que, ou são de responsabilidade dos profissionais da área de Educação, ou são ministradas por professores substitutos: Nosso curso é Bacharelado e Licenciatura só que, com uma ênfase, um direcionamento bem claro para a formação do pesquisador, o professor ele fica meio que de lado quando a gente percebe que a maioria vai estar saindo daqui e vai justamente atuar na sala de aula, isso a gente percebe no próprio descaso na maioria dos professores em estar ministrando aí essas matérias pedagógicas. 3 4

Assim, podemos notar que existe uma grande preocupação por parte dos alunos com relação ao Curso de Licenciatura oferecido pelo Instituto de História para sua formação enquanto professor. Esta formação, como podemos perceber em algumas entrevistas, deve ser melhorada para que se possa alcançar a excelência proposta pela universidade: [Como você avalia as disciplinas pedagógicas?]... Muito ruins, porque elas são, normalmente ensinada nos últimos períodos e, então aí a gente fica se perguntando, afinal de contas esse curso, é também de Licenciatura? Ele tem Licenciatura mesmo, ou não? O que é para os professores, para o Instituto essa Licenciatura? Dependendo do que eles responderem é bobagem ter essas disciplinas pedagógicas, porque se ela é ensinada nos últimos períodos, então não existe uma preocupação primeira em formar professores, porque o professor não é simplesmente de um dia para o outro, não é assim, e num existe receita pronta, não tem como saber. Então, uma disciplina pedagógica, seja ela qual for, e o curso, ela tem que ser colocada desde o inicio, para tentar despertar no aluno o que é de fato ser professor. 4 Para sanar as lacunas existentes nas disciplinas pedagógicas, uma de nossas propostas refere-se às disciplinas de Prática e Oficina de Ensino, que estas disciplinas possam ser ministradas por professores efetivos do Instituto de História e voltadas para o ensino de História, já que, como apontam entrevistas como a da professora Heloísa, o papel do curso é formar o historiador, pois assim ele será capaz de ser pesquisador e /ou professor, sem isso o curso perde seu fio condutor que é pensar o que é ser historiador e o que significa isso na nossa prática cotidiana, daí vem a importância da união entre Bacharelado e Licenciatura. Assim, esta tendência de não valorização da formação do professor dentro do Curso de História, constitui uma falha dentro do Curso, que se configura como um desinteresse dos professores pela Licenciatura, não havendo doutores responsáveis pela disciplina Prática de Ensino: 5

É muito estranho mais os professores universitários eles se acham superiores e escolhem sempre aquilo que dá status, que são as grandes repercussões teóricas que estão na moda. Não necessariamente o que é necessário. Por que se fosse o que é necessário, então, esses professores optariam por manter essa relação permanente. 5 No entanto, acreditamos que realmente existe a necessidade de professores que estão na rede pública de ensino tomarem a frente da disciplina de Prática de Ensino, pois são estes professores que podem fazer a ligação entre a universidade e a realidade em sala de aula nas escolas de ensino fundamental e médio, já que o professor efetivo da universidade está a anos afastado desta realidade. Porém, o ideal seria que um professor efetivo do Instituto de História se encarregasse da organização desta disciplina, tornando-se um tipo de coordenador das Práticas de Ensino em História para garantir a continuidade do trabalho realizado, uma vez que, os professores substitutos saem da Instituição em dois anos. O que nos foi possível perceber pelas entrevistas realizadas com os sujeitos formadores do curso, juntamente com as entrevistas que foram realizadas com os alunos do curso e também com a catalogação das monografias que se encontram no Centro de Documentação, foi a existência de um certo distanciamento tanto dos alunos, quanto dos professores do Curso de História da realidade de nossa sociedade, o que significa também o afastamento da Universidade da realidade da sociedade em que vivemos, bem como uma perda da reflexão desta sociedade sobre o papel da Universidade pública, fato que colabora para que ocorra um crescente ideal de que se deve formar o profissional somente para o mercado. Portanto, muitas das expectativas em relação ao curso e também às frustrações vêm da idéia da formação exclusiva para o mercado, que não é o único papel da universidade pública, mas é a idéia que a sociedade tem da universidade. Como solução desse problema não cabe à universidade se adequar ao pensamento do senso comum, mas sim conscientizar seus alunos de que o 6

atendimento puro e simples dessa expectativa coloca em risco a excelência da formação do historiador. A realização destas entrevistas nos possibilitou também compreender a grande ênfase dada à pesquisa a partir da criação do Curso de Bacharelado. A pesquisa, com as discussões que permearam a década de 80 e 90, passou a ser compreendida como a base da formação do professor, que passou a ser formado como um historiador, um profissional da pesquisa para, então, tornar-se também um professor. Ao serem questionados sobre os problemas existentes no curso, alguns alunos apontaram o distanciamento entre Bacharelado e Licenciatura, já que a maioria dos professores do Curso de História não demonstra interesse pelas disciplinas pedagógicas mas unicamente pela produção de pesquisa. Esta ênfase na produção de pesquisas leva muitos alunos a dizer que o Curso de Licenciatura foi deixado de lado pelos professores. Assim, a produção de pesquisa deixaria para segundo plano as disciplinas voltadas para a formação do professor, como as disciplinas pedagógicas e as práticas de ensino. No entanto, este problema entre ensino e pesquisa parece mais estar relacionado à forma como esta questão é concebida pelos professores e pelos alunos, leva-nos novamente de volta ao problema da formação para o mercado. A formação do professor é indissociável da prática da pesquisa. No entanto, professores e alunos ainda pensam de forma compartimentadas. A realização da pesquisa muitas vezes não é pensada como um exercício que será realizado no dia-a-dia do professor e isto leva ao distanciamento apontado nas entrevistas entre os Cursos de Bacharelado e Licenciatura. A solução que apontamos para este problema, e que aparece também em algumas entrevistas, seria a articulação entre ensino e pesquisa desde os primeiros períodos do Curso, quando os alunos poderiam perceber desde o início a importância da pesquisa para a formação do professor. Para isto, a posição assumida pelos professores do Curso é de fundamental importância; os professores não podem simplesmente orientar seus alunos para o Mestrado, 7

para a carreira acadêmica, sem fazer a articulação com a dimensão da formação do professor, como acontecesse cotidianamente no Curso de História. Entre o discurso e a prática há uma lacuna que acaba sendo introjetada por todos aqueles que fazem parte do Curso de História e que leva à crença de que a pesquisa só é realizada dentro da academia, ou seja, toda a discussão realizada nas décadas de 80 e 90 e que culminou com a implantação da obrigatoriedade do Bacharelado em História para a formação de um bom profissional da história, cai por terra, uma vez que as pessoas dissociam em suas reflexões e discursos o ensino e a prática da pesquisa. Ao apontar as lacunas presentes em um curso de graduação em história, que forma bacharéis e licenciados, acreditamos que estes são problemas compartilhados por um grande número de outros cursos. A análise aqui esboçada pode vir a ser uma contribuição para o repensar continuo do curso de História, em busca da excelência na formação de um profissional que articule satisfatoriamente os princípios básicos da pesquisa/ensino e extensão. Projeto financiado pelo PIBEG (Universidade Federal de Uberlândia) sob a orientação do Prof. Ms. Leandro José Nunes. Aluna do Curso de Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia. 1 Entrevista realizada com a professora Heloísa Helena Pacheco Cardoso, em Uberlândia, no dia 29 de outubro de 2004. 2 Entrevista realizada com a professora Maria Clara Thomaz Machado, em Uberlândia, no dia 23 de agosto de 2004. 3 Entrevista realizada com o aluno Sergio Daniel Nasser, em Uberlândia, no dia 21 de setembro de 2004. 4 Entrevista realizada com o aluno Roberto Abreu Silva, no dia 04 de outubro de 2004. 5 Entrevista realizada com a professora Maria de Fátima Ramos de Almeida, em Uberlândia, no dia 21 de setembro de 2004. 8