Hugo Nigro Mazzilli. na Ação Civil Pública. climáticas. 15º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental Instituto O Direito por um Planeta Verde

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Transcrição:

15º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental Instituto O Direito por um Planeta Verde Painel: Tendências legislativas e jurisprudenciais na Ação Civil Pública Tema: Processo civil contemporâneo e mudanças climáticas Hugo Nigro Mazzilli 1

Material www.mazzilli.com.br 2

As mudanças climáticas Algumas provocadas pelas próprias forças da natureza (como as glaciações ou atividades vulcânicas) Outras pela ação do homem, propositais ou acidentais (desmatamento, desertificações, o consumo de combustíveis fósseis, derramamento de petróleo, construções de hidrelétricas de grande porte, explosões de bombas e usinas nucleares, o efeito estufa etc.) 3

Riscos à natureza Tb. a criação de novas formas de vida através de biologia celular, destruição de espécies, alterações no habitat e no clima A natureza em si não corre risco: o que pode desaparecer, e está desaparecendo, é a vida como nós a conhecemos hoje. E, com ela, talvez a própria humanidade, que nem sempre existiu, e nem sempre existirá. 4

Consequência Conflitos: grupos econômicos entre si, entre ambientalistas e desenvolvimentistas, entre governantes e entidades não governamentais, entre nações emergentes e industrializadas Natural que esses conflitos Poder Judiciário. O processo deve estar apto para dar resposta a esses novos problemas: um processo civil ágil, eficiente e capaz de dar efetivo acesso à Justiça para esses grandes, graves, talvez maiores conflitos existenciais da humanidade 5

A tutela dos INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS grupo / classe / categoria de pessoas exemplos: moradores de uma região consumidores do mesmo produto trabalhadores da mesma fábrica alunos do mesmo estabelecimento Conveniência social defesa coletiva 6

O Processo Civil tradicional Peculiaridades da ACP / CDC e leg. conexa Questões muito específicas 1. conflituosidade de grupos 2. legitimação para agir 3. solução coletiva coisa julgada 4. Competência, liquidação, execução 5. destinação da indenização Necessidade um processo coletivo 7

Entretanto Problemas da tutela coletiva Restrição de objeto (art. 1º, p. ún. LACP) Restrição da coisa julgada (art. 16 LACP) Restrição liminares (vedações / suspensão) PL 5.139/09 riscos e impasse 8

Mas o que precisaria mudar? Eliminar as restrições de objeto à ACP Cadastro nacional TAC, IC e ACP Direito e não ônus para o lesado Custeio das perícias Ampliar a desconsid. person. jurídica Funcionamento do Fundo Simplificar regras de competência ACP 9

O objeto LACP 7.347/85: Art. 1º LACP: I meio ambiente II consumidor III patrimônio cultural IV qq outro interesse difuso ou coletivo (CDC) V ordem econ. e economia popular (Lei 8.884/94 + M Prov. 2.180) VI ordem urbanística (Lei 10.257/01 + Med.Prov 2.180) Parágrafo único FGTS, tributos, contribuições previdenciárias, fundos sociais (MP 1.984/20 e s.; MP 2.102/26-00; 2.180 etc). 10

O direito ao acesso coletivo à jurisdição : Art. 5º, da CF tutela dos direitos e deveres individuais e coletivos Art. 5º, XXXV lesão ou ameaça de lesão a direito individual ou coletivo É garantia constitucional: arts. 5º, XXI (assoc. civis) e LXX (mandado de segurança coletivo); 8º, III (sindicatos); 129, III (MP); 232 (índios) 11

Cadastro nacional Criação de um cadastro nacional de IC, TACs e de ACPs Inquéritos civis, procedimentos preparatórios, compromissos de ajustamento de conduta (não só do Ministério Público), ACP e coletivas, condenações, decisões cautelares etc.); 12

Direito e não ônus dos lesados PL 5.139/09 criava um ônus para o lesado comparecer ao processo coletivo, sob pena de não ser excluído melhor criar um direito Hoje, arts. 94 e 104 d CDC: em vez de ser um ônus do lesado o de pedir sua exclusão do processo coletivo, é direito seu suspender o processo individual. Para não estimular o demandismo, basta fazer do processo coletivo um sistema mais eficiente; isso naturalmente desestimulará o processo individual, por opção do próprio lesado, e não por óbice da lei infraconstitucional, o que inviabiliza o acesso à jurisdição. Impor verdadeiro óbice ao acesso individual à jurisdição é violar o art. 5º, XXXV, da CF. Não se pode dar à ACP o mesmo efeito de uma súmula vinculante ou de uma decisão de declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade proferida pelo STF, em relação às quais existe autorização constitucional para seu efeito erga omnes. Mas para as ACP, o efeito erga omnes decorre apenas de lei infraconstitucional, e não poderia esta obstar ao acesso individual à jurisdição. 13

Custeio das perícias O parágrafo único do art. 21 do Projeto tem o mérito de prever a solução do importante problema do custeio das perícias nas ações civis públicas ou coletivas. Entretanto, de maneira menos feliz, atribui o pagamento das despesas com perícias ao Poder Judiciário, que não tem significativas receitas próprias e, portanto, depende de verbas Poder Executivo para seu custeio, e frequentemente não tem condições de fazer frente nem mesmo às suas despesas administrativas comuns, tanto assim que normalmente o Judiciário se vale de pedido de suplementação de verbas, não raro sequer atendido. Assim, o gargalo das perícias nas ações civis públicas continuará existindo, e, agora, agravado pela solução teórica encontrada no Projeto. Melhor fora que se atribuísse o pagamento do custeio diretamente à Fazenda, com decisão mandamental do juiz, sob cominação eficaz. Ou, então, utilizar os recursos do Fundo de Direitos Difusos para custear as perícias, pois esse é um investimento no próprio benefício da tutela transindividual. 14

Desconsideração da pers. jurídica O art. 30 do Projeto tem o mérito de ter previsto a desconsideração da personalidade jurídica no tocante à defesa dos interesses transindividuais. Contudo, o Projeto valeu-se da chamada teoria maior da desconsideração, ou seja, além da insolvência, previu o desvio de finalidade e a confusão patrimonial como fundamentos para a desconsideração. A nosso ver, melhor teria sido usar a chamada teoria menor da desconsideração, como já o faz a lei ambiental (art. 4º Lei n. 9.605/98), segundo a qual a personalidade pode ser desconsiderada quando a mera existência da personalidade jurídica for obstáculo ao ressarcimento (como já é em matéria ambiental). 15

Funcionamento do Fundo Os arts. 46 e 66 têm o mérito de rever o sistema do Fundo de Direitos Difusos, que, sob o sistema da Lei em vigor 7.347/85, não produziu os frutos esperados. O Projeto procura assegurar uma participação mais efetiva da sociedade na gestão do produto das indenizações. Contudo, não obstante seu nítido mérito, faltou ainda identificar o verdadeiro motivo do insucesso do Fundo de Direitos Difusos, que não consiste em sua existência em si, mas sim na sua atual gestão, extremamente complexa, com a predominância nas decisões do Poder Executivo e a grande multiplicidade de membros, inviabilizando muitas vezes seu funcionamento adequado. Assim, é necessário prever que a conta deve ser vinculada obrigatoriamente à utilização na comunidade afetada. 16

Simplificar as regras de competência art. 92 CDC generalizar a regra Danos nacionais e regionais: competência das capitais (interesses transindividuais de todos os tipos) acabar com as exceções; eliminar ações originárias nessa matéria 17

Enfim, sugestões Não proibir nem inviabilizar o acesso individual Mas incentivar o acesso coletivo, tornando-o claramente preferível 18

Material www.mazzilli.com.br 19