Readaptação e reconversão profissional: realidade ou utopia?



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Transcrição:

O Papel do Médico do Trabalho nos Acidentes de Trabalho Readaptação e reconversão profissional: realidade ou utopia? ISABEL ANTUNES

Quem nunca teve dores nas costas que atire a primeira pedra.

LOMBALGIAS Segundo a OMS, 80% da população adulta vai sofrer de uma crise de lombalgia ao longo da sua vida. Destas, 90% são idiopáticas e o prognóstico é bom. Responsáveis por 6% dos custos directos associados a morbilidade, por 15% do absentismo por doença e por 18% das reformas antecipadas

LOMBALGIA CUSTOS NA UNIÃO EUROPEIA Na UE as doenças músculo-esqueléticas (DME) Afectam 100.000.000 pessoas Constituem a maior causa de absentismo São responsáveis por 49% das ausências ao trabalho e por 60% das IPPs As lombalgias são as DME dominantes O impacto socio-económico das DME na EU é de 240 biliões de euros

LOMBALGIA CUSTOS EM PORTUGAL Portugal Valor (sub) estimado de 2000M ano (cuidados de saúde; absentismo e perda de produtividade) José Castro Lopes - FMP

LOMBALGIA A MAIOR INCIDÊNCIA É ENTRE OS 20 E 50 ANOS DE IDADE, PERIODO MAIS ACTIVO E PRODUTIVO DAS PESSOAS, NO AUGE DAS SUAS CARREIRAS O QUE CONSTITUI UM SÉRIO PROBLEMA ECONÓMICO E SOCIAL

LOMBALGIA CHUC AT Total AT sem riscos biológicos AT com lombalgias 2013 408 212 (51,96%) 83 (39,1%) 2014 431 253 (58,7%) 79 (31,3%)

LOMBALGIA CHUC Enferm eiros AO Médicos Outros 2013 34 40-9 2014 35 36 4 4

LOMBALGIA por AT Serviços mais afetados 2013 Medicina Interna Cirurgia Geral Cardiologia Ortopedia 2014 Medicina Interna Cardiologia Ortopedia

ACIDENTES DE TRABALHO E LOMBALGIA Nexo de causalidade Tratamento e a sua efectividade Recuperação e a cura clínica Readaptação ao trabalho O Papel do Serviço de Medicina de Trabalho As Sequelas e as recidivas/recaídas

LOMBALGIA nexo de causalidade Quais as causas? acidente? doença profissional? doença natural? Quais os factores que estão na sua génese? Quais os factores que agravam? É uma inevitabilidade do ser humano? É uma inevitabilidade do mundo desenvolvido?

ACIDENTES DE TRABALHO E LOMBALGIA Nexo de causalidade Tratamento e a sua efectividade Recuperação e a cura clínica Readaptação ao trabalho (ITP e IPP) O Papel do Serviço de Medicina de Trabalho As Sequelas e as recidivas/recaídas

LOMBALGIA FATORES DE RISCO Ocupacionais Idade (aumenta com idade até 65A) Abuso de Álcool e Drogas Antecedentes Familiares e Congénitos Género (n consensual) Obesidade (especialmente mulheres) Gravidez Má postura/alinhamento (stress local) Traumatismo/Cirurgia lombar anterior Factores psicológicos, sociais/espirituais Tabagismo (1,5 a 2,5 x; défice O2 discos) Desportos ( radicais e de contacto) Sedentarismo

LMERT - EPIDEMIOLOGIA Número crescente de trabalhadores afectados: - Aumento da mecanização e automatização - Envelhecimento da população - Alteração dos hábitos de vida

Readaptação Funcional / Restrição de Função é a atribuição de atividades compatíveis com a capacidade física ou psíquica do trabalhador, que dependerá sempre de exame médico-pericial e da Medicina do Trabalho.

A Avaliação do potencial de trabalho, com vista à definição da real capacidade de regresso ao trabalho. Consiste na análise global dos seguintes aspectos: perdas funcionais; funções que se mantiveram conservadas; potencialidades e prognósticos para o retorno ao trabalho; aptidões; potencial para aprendizagem; experiências profissionais; nível de escolaridade; faixa etária e mercado de trabalho

Médico do trabalho Apto Apto condicionalmente Inapto temporariamente Inapto defintivamente

Para tomar a decisão devemos colocar-nos duas interrogações: As competências do trabalhador são adequadas aos requisitos da função?

As vulnerabilidades do trabalhador são compatíveis com os riscos da função?

EXAMES MÉDICOS Adequação + Compatibilidade = APTO aqui não restam dúvidas quanto á decisão final

Adequação + Incompatibilidade = APTO CONDICIONALMENTE Existem medidas preventivas eficazes para controlo do risco? Se a resposta for sim podemos equacionar uma situação de APTO CONDICIONAL, expressando qual a condição a respeitar para que se verifique a aptidão do trabalhador

EXAMES MÉDICOS Adequação + Incompatibilidade = INAPTO TEMPORARIAMENTE nesta situação temos uma vulnerabilidade do trabalhador que é inconciliável com os riscos a que a profissão o expõe, o que nos deve levar a colocar as seguintes questões: O problema de saúde é passível de solução médica? Se a resposta for sim podemos equacionar uma situação de Inapto Temporariamente, até que se verifique a resolução do problema

EXAMES MÉDICOS O problema de saúde é passível de solução médica? Existem medidas preventivas eficazes para controlo do risco? Se ambas as respostas forem negativas devemos considerar a situação de INAPTO DEFINITIVAMENTE, e conforme a prescrição legal indicar quais os trabalhos que a sua situação permite desempenhar na organização.

Inadequação + Incompatibilidade = INAPTO DEFINITIVAMENTE esta é uma situação onde o INAPTO DEFINITIVAMENTE pode não oferecer dúvidas, mas onde devem ser esgotadas todas as hipóteses de solução médica e de controlo de risco até se afirmar a inaptidão, indicando quais os trabalhos que a sua situação permite desempenhar.

Aptidão condicionada Estimular e sensibilizar as chefias e profissionais sobre o Programa de Readaptação/Restrição de Função e Reabilitação Profissional. Sensibilizar os gestores para a questão da saúde profissional, inclusive Readaptação Funcional e Reabilitação Profissional; Acolher e mediar conflitos interpessoais e administrativo que possam surgir no processo de readaptação/restrição de função ou reabilitação;

Limites legais para Carga Unitária Máxima 30kg em tarefas ocasionais 20kg em tarefas frequentes 10kg se for grávida puérpera ou lactante

Atitude face à sinistralidade laboral Melhor prevenir que reparar Atitude de todos os intervenientes Cultura Necessidade de mudança Sinergias de esforços O inimigo é a sinistralidade Reparar rápido, bem e reintegrar melhor Dos empregadores Dos trabalhadores Das seguradoras Dos prestadores clínicos

não somos responsáveis apenas pelo que fazemos mas também pelo que deixamos de fazer Moliére