Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes

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Transcrição:

Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes Jaqueline Soares Magalhães Psicóloga, Mestre em Psicologia pela USP, Especialista em Gestão de Projetos Sociais jaqueline@ateliesocial.com.br

Picasso Le réve Amor e ódio constituem os dois principais elementos a partir dos quais se constroem as relações humanas. Mas amor e ódio envolvem agressividade. Por outro lado, a agressão pode ser um sintoma de medo. (...) há muita coisa a aprender sobre as origens da agressividade. (Winnicott, 1939/2005)

Violência: algumas considerações... Subjugação do outro; Coisificação do humano; Reprodução cultural.

VSCCA... Ocorre em todas as classes sociais; Atinge crianças e adolescentes de todas as idades; Quando intrafamiliar, está presente em diferentes configurações familiares;

Direitos Sexuais de Crianças e Adolescentes Direitos sexuais são direitos humanos universais; Baseiam-se no direito à liberdade, à dignidade e à igualdade para todos os seres humanos; Incluem o respeito à fase de desenvolvimento do ser humano, daquilo que ele é capaz de compreender, consentir, sem ser invadido, sem ser usado como objeto do desejo de um outro; Bem-estar sexual enquanto necessidade para o desenvolvimento humano. A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE VIOLA SEUS DIREITOS SEXUAIS, SEUS DIREITOS HUMANOS

A violência sexual pode ser classificada como abuso ou exploração sexual. Violência Sexual Abuso O abuso sexual é uma situação em que uma criança ou adolescente é invadido em sua sexualidade e usado para gratificação sexual de um adulto. O abuso sexual pode ocorrer mesmo sem contato físico. Exploração A exploração sexual é caracterizada pela relação sexual de uma criança ou adolescente com adultos, mediada por dinheiro ou troca de favores (comida, presentes, drogas, etc.). Maior incidência: abuso sexual intrafamiliar ou incestuoso.

Conceito de ESCA Consiste no uso de uma criança ou adolescente para fins sexuais em troca de dinheiro ou favores em espécie, entre a criança ou adolescente, o cliente, o intermediário ou agenciador e outros que se beneficiam do comércio de crianças para esses propósitos. Congresso Mundial Contra a Exploração Comercial de Crianças1996.

Modalidades de ESCA Exploração sexual agenciada ou autônoma; Turismo com fins de exploração sexual; Pornografia infanto juvenil; Tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual.

Abuso Sexual: do que falamos? Diferentes definições; Uso de diferentes termos (abuso, vitimização, violação...); Contra crianças e adolescentes (0 a 18 anos incompletos): - diferentes formas de apresentação; - características próprias; - ocorre dentro de contextos específicos; - diferentes causas e conseqüências.

Abuso Sexual: definições... Todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança menor de dezoito anos, tendo por finalidade a estimulação sexual sobre sua pessoa ou de uma outra pessoa (Azevedo e Guerra)

Em síntese, o abuso sexual deve ser entendido como uma situação de ultrapassagem (além, excessiva) de limites: de direitos humanos, legais, de poder, de papéis, do nível de desenvolvimento da vítima, do que esta sabe e compreende, do que o abusado pode consentir, fazer e viver, de regras sociais, familiares e de tabus." (Faleiros, 2000)

Formas de Abuso Sexual... Com contato físico (carícias, relações sexuais, sexo oral, etc.) Sem contato físico (exibicionismo, voyeurismo, falas sexualizadas, etc.)

Incesto... Relacionamento sexual entre pessoas que são membros da mesma família (exceto os cônjuges), pois a família não é definida apenas pela consangüinidade ou mesmo afinidade, mas, principalmente, pela função parental social exercida pelas pessoas dentro do grupo (Cohen, 2002 apud Hazeu,2004)

Abuso Sexual Intrafamiliar ou Incestuoso Questão de família: não se restringe a quem abusa ou a quem sofre o abuso ; Dinâmica familiar perpetua o abuso ( síndrome do silêncio ); Ciclos transgeracionais; Envolve laços afetivos, laços de confiança; Comunicação e papéis familiares em conflito (troca de papéis);

Mitos Estranho representa o perigo maior a s crianc as e adolescentes. O pedo filo tem caracteriśticas proṕrias que o identificam. A crianc a mente e inventa que e abusada sexualmente. Realidades Os estranhos saõ responsa veis por um pequeno percentual dos casos registrados. Na maioria das vezes, entre 85% a 90% das situac oẽs, as crianc as e os adolescentes saõ sexualmente abusados por pessoas que ja conhecem, como pai ou maẽ, parentes, vizinhos, amigos da famiĺia, colegas de escola, baba, professor(a) ou me dico(a). Do ponto de vista da apare ncia fiśica, o pedo filo pode ser qualquer pessoa. Raramente a crianc a mente. Apenas 6% dos casos saõ fictićios e, nessas situac oẽs, trata-se, em geral, de crianc as maiores, que objetivam alguma vantagem.

Mitos O abuso sexual, na maioria dos casos, ocorre longe da casa da crianc a ou do adolescente. O abuso sexual se limita ao estupro. Realidades O abuso ocorre, com freque ncia, dentro ou perto da casa da crianc a ou do abusador. Este, normalmente, procura locais em que a crianc a/adolescente estara completamente vulnera vel. O maior ińdice das ocorre ncias tem sido no periódo diurno. Ale m do ato sexual com penetrac a o vaginal (estupro) ou anal, outros atos sa o considerados abuso sexual, como o voyeurismo, a manipulac a o de o rga os sexuais, a pornografia e o exibicionismo.

Mitos As vi timas do abuso sexual sa o oriundas de fami lias de ni vel socioecono mico baixo. Realidades Ni veis de renda familiar e de educac a o na o sa o indicadores do abuso. Fami lias das classes me dia e alta podem ter condic o es melhores para encobrir o abuso e manter o muro do sile ncio. As vi timas e os autores do abuso sa o, muitas vezes, do mesmo grupo e tnico e ni vel socioecono mico. Crianc as e adolescentes so revelam o segredo se tiverem sido ameac adas com viole ncia. Crianc as e adolescentes so revelam o segredo quando confiam e sentem-se apoiadas.

Mitos A maioria dos casos e denunciada. Realidades Estima-se que poucos casos sa o denunciados. Quando ha envolvimento de familiares, existem poucas probabilidades de que a vi tima fac a a denu ncia, seja por motivos afetivos, seja por medo: do abusador; de perder os pais; de ser expulso; de que outros membros da fami lia na o acreditem em sua histo ria; ou de ser o causador da disco rdia familiar. A maioria de pais e professores esta informada sobre abuso sexual de crianc as, sobre sua freque ncia e sobre como lidar com ele. A maioria, no Brasil, desconhece a realidade sobre abuso sexual de crianc as. Pais e professores desinformados na o podem ajudar uma crianc a.

Mitos O abuso sexual e uma situac a o rara que na o merece ser uma prioridade por parte dos governos. Realidades O abuso sexual e extremamente frequente em todo o mundo. Sua prevenc a o deve ser prioridade ate por questo es econo micas: um estudo realizado nos EUA, por exemplo, revelou que os gastos com atendimento a dois milho es de crianc as que sofreram abuso sexual chegaram a US$ 12,4 milho es por ano. E impossi vel prevenir o abuso sexual de crianc as. Ha maneiras pra ticas e objetivas de proteger as crianc as do abuso sexual.

Conseqüências do abuso sexual Diferentes fatores envolvidos: - Idade da criança/adolescente no início do abuso; - Grau de violência ou ameaça de violência; - Vínculo entre a criança/adolescente e a pessoa que cometeu o abuso; - Duração do abuso na vida da criança/adolescente; - Forma de manifestação do abuso sexual; - Postura das pessoas próximas diante da situação de abuso sexual (acreditar, confiar, proteger, negar...); - Percepção da criança sobre o abuso vivido; - Atendimento especializado, em rede, eficaz.

A Intervenção deve contemplar: Notificação (qualificada) - Defesa e Responsabilização Acolhimento Diagnóstico Acompanhamento

Sobre a notificação... O que diz o ECA Art.13º - Os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra a criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

Sobre a notificação... O que diz o ECA Art.245º - Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus tratos contra criança ou adolescente: Pena: multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

Importante... A notificação deve ser feita pela insituição e não pelo profissional isoladamente (embora este também possa realizá-la); Importante conhecer o fluxo do município, os procedimentos da rede, e estabelecer um canal aberto de comunicação com a mesma; A notificação deve ser vista como a possibilidade de inserção da criança/adolescente e da família na rede, e não como uma punição.

Como identificar os sinais de abuso sexual: Sinais corporais ou provas materiais Enfermidades psicossomáticas, que são uma série de problemas de saúde sem aparente causa clínica, tais como: dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e outras dificuldades digestivas, que têm, na realidade, fundo psicológico e emocional. Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs, incluindo Aids), diagnosticadas por meio de coceira na área genital, infecções urinárias, odor vaginal, corrimento ou outras secreções vaginais e penianas e cólicas intestinais. Dificuldade de engolir devido à inflamação causada por gonorreia na garganta (amídalas) ou reflexo de engasgo hiperativo e vômitos (por sexo oral).

Dor, inchaço, lesão ou sangramento nas áreas da vagina ou ânus a ponto de causar, inclusive, dificuldade em caminhar e sentar. Canal da vagina alargado, hímen rompido e pênis ou reto edemaciados (em que se formou edema, acúmulo anormal de líquidos) ou hiperemiados (com o aumento da quantidade de sangue circulante no local). Baixo controle dos esfíncteres, constipação ou incontinência fecal. Sêmen na boca, nos genitais ou na roupa. Roupas íntimas rasgadas ou manchadas de sangue. Gravidez precoce ou aborto. Ganho ou perda de peso, visando afetar a atratividade diante do agressor. Traumatismo físico ou lesões corporais, por uso de violência física.

Sinais no comportamento ou provas imateriais COMPORTAMENTO / SENTIMENTO Medo ou mesmo pa nico em relac aõ a certa pessoa ou um sentimento generalizado de desagrado quando a crianc a e deixada sozinha em algum lugar com algueḿ. Medo do escuro ou de lugares fechados. Mudanc as extremas, su bitas e inexplicadas no comportamento, como oscilac oẽs no humor entre retraimento e extroversaõ. Mal-estar pela sensac aõ de modificac aõ do corpo e confusaõ de idade. Regressaõ a comportamentos infantis, tais como choro excessivo sem causa aparente, enurese (emissaõ involuntaŕia de urina), chupar dedos. Tristeza, abatimento profundo ou depressaõ cro nica. Fraco controle de impulsos e comportamento autodestrutivo ou suicida. Baixo ni vel de estima proṕria e excessiva preocupac aõ em agradar os outros. Vergonha excessiva, inclusive de mudar de roupa diante de

Interesse ou conhecimento su bitos e naõ usuais sobre questoẽs sexuais. Expressaõ de afeto sensualizada ou mesmo certo grau de provocac aõ ero tica, inapropriado para uma crianc a. Desenvolvimento de brincadeiras sexuais persistentes com amigos, animais e brinquedos. Masturbar-se compulsivamente. Relato de avanc os sexuais por parentes, responsa veis ou outros adultos. Desenhar oŕgaõs genitais com detalhes e caracteriśticas aleḿ de sua capacidade etaŕia. Culpa e autoflagelação. Ansiedade generalizada, comportamento tenso, sempre em estado de alerta, fadiga. Comportamento agressivo, raivoso, principalmente dirigido contra irmãos e um dos pais não incestuosos. Alguns podem ter transtornos dissociativos na forma de personalidade múltipla. SEXUALIDADE

HÁBITOS, CUIDADOS CORPORAIS E HIGIÊNICOS: Abandono de comportamento infantil, dos laços afetivos, dos antigos hábitos lúdicos, das fantasias, ainda que temporariamente. Mudança de hábito alimentar perda de apetite (anorexia) ou excesso na alimentação (obesidade). Padrão de sono perturbado por pesadelos frequentes, agitação noturna, gritos, suores, provocados pelo terror de adormecer e sofrer abuso. Aparência descuidada e suja pela relutância em trocar de roupa. Resistência em participar de atividades físicas. Frequentes fugas de casa. Prática de delitos. Envolvimento em situação de exploração sexual. Uso e abuso de substâncias como álcool, drogas lícitas e ilícitas.

RELACIONAMENTO SOCIAL Tendência ao isolamento social com poucas relações com colegas e companheiros. FREQUÊNCIA E DESEMPENHO ESCOLAR: Assiduidade e pontualidade exageradas, quando ainda frequenta a escola. Chega cedo e sai tarde da escola, demonstra pouco interesse ou mesmo resistência em voltar para casa após a aula. Queda injustificada na frequência na escola. Dificuldade de concentração e aprendizagem resultando em baixo rendimento escolar. Não participação ou pouca participação nas atividades escolares.

FREQUÊNCIA E DESEMPENHO ESCOLAR: Assiduidade e pontualidade exageradas, quando ainda frequenta a escola. Chega cedo e sai tarde da escola, demonstra pouco interesse ou mesmo resistência em voltar para casa após a aula. Queda injustificada na frequência na escola. Dificuldade de concentração e aprendizagem resultando em baixo rendimento escolar. Não participação ou pouca participação nas atividades escolares.

RELACIONAMENTO SOCIAL: Tendência ao isolamento social com poucas relações com colegas e companheiros.. Relacionamento entre crianc as e adultos com ares de segredo e exclusaõ dos demais. Dificuldade de confiar nas pessoas a sua volta. Fuga de contato fiśico. Indicadores na conduta dos pais ou responsa veis : As famiĺias incestuosas tendem a ser quietas, relacionamse pouco. De modo geral, os pais saõ autoritaŕios e as maẽs, submissas. O autor do abuso tende a ser extremamente protetor, zeloso da crianc a e/ou adolescente ou possessivo, negando-lhe contatos sociais normais. Poreḿ, lembre-se de que manifestar carinho para com os filhos e importante para o crescimento sauda vel. O autor do abuso pode ser sedutor, insinuante, especialmente com crianc as e/ou adolescentes.

Autor do abuso crê que o contato sexual é uma forma de amor familiar. O autor do abuso pode acusar a criança de promiscuidade ou sedução sexual ou ainda acreditar que ela tem atividade sexual fora de casa. Autor do abuso pode contar histórias, referindo-se a outro autor da agressão a fim de proteger um membro da família. Membros da família podem fazer uso de substâncias como álcool e outras drogas lícitas ou ilícitas.

Abordagem... Ao ser procurado por uma criança ou adolescente que relata uma situação de violência, ou ao abordá-los, rompendo o muro do silêncio, caso se sinta preparado em caso contrário, deve buscar a ajuda de outro profissional o profissional deve procurar: Demonstrar disponibilidade para conversar; Buscar um ambiente apropriado para a conversa; Ouvir atenta e exclusivamente, sem interrupções; Oferecer materiais gráficos, ou outros materiais de apoio; Levar a sério tudo que ouvir, sem julgar, criticar ou duvidar do que a criança diz; Tentar manter-se calmo e tranquilo, sem reações extremadas ou passionais; Não pressionar a criança/adolescente para obter informações;

Abordagem... Fazer o mínimo de perguntas e não conduzir a fala da criança/adolescente; optar por perguntas abertas, com respostas sim e não, não inquisitórias; Utilizar linguagem simples e clara, empregando palavras que a criança/adolescente utiliza; Confirme com a criança/adolescente se está de fato compreendendo o que ele diz; Nunca desconsiderar os sentimentos da criança/adolescente; Não demonstrar horror, condenação moral ou julgamentos críticos do que houve para não conduzir a criança/adolescente a mudar seu relato; Proteger a criança/adolescente e reforçar que ele(a) não tem culpa do que aconteceu; Expressar apoio e solidariedade, por meio de contato físico, desde que com consentimento da criança/adolescente; Não expressar piedade. Procurar tratar a criança/adolescente com carinho, dignidade e respeito;

Abordagem... Anotar tudo que lhe foi dito, assim que possível, pois poderá ser utilizado em procedimentos legais posteriores; Explicar à criança/adolescente que, para que ela seja protegida, será necessário conversar com outras pessoas; Evitar que muitas pessoas saibam dos acontecimentos, para minimizar comentários desagradáveis e inapropriados, e a estigmatização da criança/adolescente; Explicar os próximos procedimentos necessários, reforçando serem sempre para a proteção da criança/adolescente; Mostrar-se disponível para novas conversas ou outra ajuda que a criança/ adolescente possa precisar.

Por que atendimento em Rede... VSCCA questão de: - Saúde física e mental; - Justiça (defesa e responsabilização); - Social; - Educação; - Cultura. Rede de Diferenças: homogênea na tarefa,heterogênea na forma de ser (Vicentin, 2009 seminário Laços da Rede) Produzir Rede: - Desnaturalização do conceito Plano das Relações: - Mais do que divisão de trabalho

Enfrentamento - Posicionamento baseado nos princípios dos Direitos Humanos; - Busca de mudanças nas estruturas institucionais, nos valores e ideologias dominantes; - Trabalho em 6 eixos (Plano Nacional): Análise de Situação; Mobilização e articulação; Prevenção; Defesa e responsabilização; A razão controla, a paixão move (Toro, 1997 apud Hazeu, 2004) Atendimento; Protagonismo infanto-juvenil.

Atendimento - Necessidade de atenção especial; - Atendimento em Rede: envolvimento de diferentes atores da rede de atenção e proteção; - Atenção deve envolver toda a família, e não apenas a criança ou adolescente e a pessoa que abusa; - Atendimento terapêutico: realizado a partir de um diagnóstico; pode ocorrer em diferentes abordagens; - Possibilidade de re-significar a violência sofrida; retomar o desenvolvimento; busca de bem-estar físico e psíquico; - Respeito ao tempo da criança e do adolescente (muitas vezes, diferente do tempo das instituições...).

Atendimento - Atendimentos em diferentes enquadres: individual, grupal, familiar; - Re-construção da possibilidade de confiar, no outro e em si mesmo; - Trabalho com os sentimentos ambíguos que envolvem as situações de abuso sexual, em especial, o abuso incestuoso; - Cuidado para não re-vitimização da criança, do adolescente e da família; - Importância do atendimento à pessoa que abusa sexualmente; - Busca da interrupção de um ciclo.

Clara...

(...) Aí eles foram comprar doce e a mamãe ficou dormindo. Depois ele foi lá no jardim fazer as plantas. E acabou. (...) (...) Era uma vez uma menina e um menino aqui. Aí eles foi comprar roupa porque eles não tinha. (...) Aí, quando eles chegaram, eles foram plantar jardim. Todo dia eles faz isso, se não as plantas não cresce. (...) (...)Era uma vez, o... A coelha dormindo. Aí ela levantou, foi fechar o quarto dela e dormiu de novo. Ela acordou e foi plantar jardim. É pra... Depois ela foi pôr água nas flor e elas cresceram. Depois ela procurou um pai e uma mãe. Ela não tinha. Achou o pai dela e a mãe. (...)

Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas terra eu não tinha. De meu, só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros, sem vergonha alguma... Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer: pássaros sem asas... São como canções, que nada são, até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha. Mas a terra não me pertencia. (Rubem Alves, Jardim )

Saiba: todo mundo foi neném Einstein, Freud e Platão também Hitler, Bush e Saddan Hussein Quem tem grana e quem não tem Saiba: todo mundo teve infância Maomé já foi criança Arquimedes, Buda, Galileu E também você e eu Saiba: todo mundo teve pai Quem já foi e quem ainda vai Lao Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé Gandhi, Mike Tison, Salomé Saiba: todo mundo teve mãe Ìndios, africanos, alemães Nero, Che Guevara, Pinochet E também eu e você Saiba: todo mundo teve medo Mesmo que seja segredo Nietzsche e Simone de Beauvoir Fernandinho Beira-Mar Saiba: todo mundo vai morrer Presidente, general ou rei Anglo-saxão ou muçulmano Todo e qualquer ser humano

OBRIGADA! jaqueline@ateliesocial.com.br