Boletim n 30 ano III Fevereiro 2013 FALANDO DE CANA-DE-AÇÚCAR ACIDEZ DOS SOLOS E CORRETIVOS Dando continuidade na série de reportagens abordaremos sobre a acidez do solo e alumínio tóxico e a correção com calagem e gessagem. Os solos brasileiros são ácidos em sua maioria. A acidez do solo é representada basicamente pela presença de dois componentes, os íons H + (hidrogênio) e Al +3 (alumínio). A acidez do solo tem origem pela intensa lavagem e lixiviação dos nutrientes do solo, pela retirada dos nutrientes catiônicos (carga positiva) pela cultura sem a devida reposição e também pelo uso de fertilizantes de caráter ácido. A verificação da acidez se dá pela análise do solo, ou seja, ela permite verificar a acidez ativa (H + ) representada pelo valor de ph, e também a acidez potencial do solo (H + + Al +3 ), utilizados como parâmetros para a recomendação de corretivos. A correção da acidez do solo tem efeitos diretos e indiretos sobre as plantas, como: a neutralização do alumínio (Al) e do manganês (Mn), que podem ser tóxicos as plantas, a elevação das concentrações de cálcio e magnésio, elevação do ph que aumenta a disponibilidade de uma série de elementos, entre outros, conforme pode ser visto na tabela 1. Tabela 1. Faixas de ph e seus efeitos no solo. (DIAS & ROSSETTO, 2006). ph do Solo Efeitos 4-5 Teores altos de Al, Mn, Fe, Cu e Zn; 5-6 Teor menor de Al, Mn, Fe, Cu e Zn; Aumenta o teor de P, K, Ca, Mg, N, S, B, Mo e Cl; > 6 Teor muito baixo de Fe, Mn, Cu e Zn. Os efeitos indiretos observados após a correção da acidez do solo é o aumento do sistema radicular das plantas em função da melhoria da fertilidade com maior disponibilidade de nutrientes (principalmente o cálcio) e melhoria das características físicas e biológicas do solo. A calagem, por exemplo, para a canade-açúcar, tem possibilitado maior longevidade do canavial, garantindo um corte a mais. Corretivos da acidez do solo Vários produtos podem ser utilizados como corretivos de solo, dentre eles, o calcário, cal virgem, cal hidratada agrícola, carbonato de cálcio, gesso, silicatos, desde que atenda a legislação brasileira, porém, serão considerados o calcário e o gesso, por serem os mais utilizados. O calcário é obtido pela moagem da rocha calcária, constituída pelo carbonato de cálcio e o carbonato de magnésio, em diferentes concentrações. Em contato com o solo, o calcário libera Ca +2 e Mg +2 Pag.1
(nutrientes de plantas) na solução do solo e também a base química CO -2-3 e posteriormente o HCO 3 responsável pela formação de OH - que neutralizará o H + (acidez ativa) da solução do solo, formando água. Em relação aos teores de cálcio e magnésio, o calcário pode ser denominado de: a) Calcítico: 40-45% de CaO + 5% de MgO; b) Magnesiano: 31-39% de CaO + 6-12% de MgO; c) Dolomítico: 25-30% de CaO + 13-20% de MgO. Calagem Os principais objetivos da calagem são: eliminar a acidez do solo e fornecer suprimento de cálcio e magnésio para as plantas. O cálcio estimula o crescimento das raízes e, portanto, com a calagem ocorre o aumento do sistema radicular e uma maior exploração da água e dos nutrientes do solo, auxiliando a planta na tolerância à seca. A calagem ainda tem outros benefícios, como: aumentar a disponibilidade de fósforo, já que diminui os sítios de fixação no solo; diminuir a disponibilidade de alumínio e manganês através da formação de hidróxidos, que não são absorvidos; aumentar a mineralização da matéria orgânica e consequentemente maior disponibilidade de nutrientes além de favorecer a fixação biológica de nitrogênio. Nas propriedades físicas do solo, a calagem aumenta a agregação, pois o cálcio é um cátion floculante e, com isso, diminui a compactação do solo. A calagem em excesso ou mal aplicada pode ter efeito negativo na disponibilidade de micronutrientes. Por todos os efeitos, a calagem é a prática mais econômica que garante aumentos na produtividade e longevidade do canavial. Para que haja boa incorporação e homogeneização com o solo, a calagem deve ser feita no preparo do solo. Para a cana-de-açúcar, deve-se dar preferência para a incorporação profunda, com arado de aiveca, para garantir o máximo aprofundamento do sistema radicular. A época de aplicação deve ser cerca de 40 dias até dois meses de antecedência ao plantio, dependendo do poder relativo de neutralização total (PRNT) e do poder de neutralização (PN), que são as garantias do produto de alta reatividade. Durante as soqueiras, não haverá mais a oportunidade de misturar bem o corretivo com o solo, por isso, a calagem deve ser bem feita durante o preparo do solo. Recomendação da Calagem Apesar de a cultura da cana-de-açúcar estar entre as mais tolerantes à acidez do solo, a aplicação de calcário tem se mostrado lucrativa, sobretudo quando são consideradas as colheitas de vários anos. A verificação da acidez se dá pela análise do solo, que indica inicialmente o ph e, também, a acidez potencial do solo (H + + Al +3 ), que deve ser levada em conta para a recomendação de corretivos. É importante salientar que o cálculo da calagem deve levar em conta os diferentes métodos aplicados para diversas regiões do País. Os métodos analíticos utilizados por região são: neutralização de alumínio: ES, GO, MG, PR e região do Cerrado; solução tampão SMP: RS e SC; saturação por bases: SP e PR. Pag.2
Nos Estados de São Paulo e Paraná, a recomendação da calagem é dada segundo o método da elevação da saturação à 60%, pela seguinte fórmula: NC = (V 2-V 1).CTC/10 PRNT Em que: V 2 é a saturação de bases desejada. No caso da cana-de-açúcar é suficiente V 2 = 60%. V 1 é a saturação de bases encontrada no solo. CTC é a capacidade de troca de cátions obtida pela soma de Ca, Mg, K, Na, H+Al. Observação: Recomenda-se que a necessidade de calagem determinada por este método seja corrigida com um acréscimo de 20%. Esse adicional se deve, sobretudo, à deriva da aplicação, à acidificação do solo pelo adubo e à decomposição do sistema radicular da cana-de-açúcar. No caso da incorporação do calcário atingir até 40 centímetros de profundidade, a quantidade de calcário será multiplicada por 1,5 - já que a fórmula acima considera a camada até 20 centímetros de profundidade. A aplicação do calcário deve ser uniforme em toda a extensão do terreno (Figura 1), de modo que haja grande contato entre as partículas do solo. Deve ser incorporado o mais profundo possível e anteceder o plantio, pelo menos, dois meses. Se o solo for originalmente muito ácido, deve-se monitorar a acidez das soqueiras por meio de análise do solo e, se possível, aplicar calcário antes dos tratos culturais Figura. 1. Aplicação de calcário em área total (Raffaella Rossetto). A utilização de um calcário com PRNT mais baixo poderá indicar que haverá um poder residual de neutralização da acidez, que ocorrerá mais lentamente, podendo ser vantajoso para a cana-de-açúcar. A venda de corretivos é baseada no peso do material, sem levar em consideração o seu poder de neutralização. Deste modo, deve-se avaliar o custo da tonelada efetiva dos produtos. Gessagem O gesso é obtido durante a produção do fertilizante superfosfato simples, em que a rocha fosfatada reage com ácido sulfúrico resultando no fertilizante e no resíduo sulfato de cálcio (gesso). A aplicação de gesso agrícola no solo visa aplicar cálcio e enxofre e, também, melhorar o ambiente em subsuperfície. Para solos salinos e sódicos, o gesso é utilizado, também, como corretivo. Entretanto, por ser uma fonte mais solúvel do que o calcário, o gesso não promove a neutralização da acidez do solo. Ao se dissociarem na solução do solo, tanto o cálcio como o sulfato formam complexos químicos com Pag.3
outros cátions e ânions. A formação de complexos químicos com o alumínio torna-o menos disponível para as plantas. Por ter alta solubilidade no solo, o gesso fornece rapidamente o cálcio, que pode ser lixiviado em profundidade, melhorando a fertilidade e aumentando a exploração das raízes. O gesso agrícola, pela reação com a água do solo, libera íons, como o Ca +2 e o SO -2 4. O sulfato para manter sua eletroneutralidade liga-se a outros cátions formando pares iônicos tais como o AlSO + 4, CaSO 4, MgSO 4, K 2SO 4 etc., que na solução do solo irão percolar em profundidade, facilitando a movimentação dos elementos no perfil do solo. Já o cálcio dissociado do gesso desloca o Al +3 para a solução do solo, o qual se combina com o sulfato e forma o AlSO + 4 não tóxico para as plantas (o Al +3 é tóxico às raízes das plantas com maior ou menor grau de intensidade, de acordo com as espécies). Como verificado, o gesso não corrige a acidez do solo, assim não substitui o calcário, mas por ter maior solubilidade em relação ao calcário, é uma ótima fonte de cálcio e enxofre para a nutrição da canade-açúcar, além de melhorar a fertilidade, por permitir um aporte de cálcio e outros cátions, em profundidade no solo, o que favorece o crescimento e aprofundamento do sistema radicular das plantas para que haja maior exploração dos nutrientes do solo e da água. Para a cana-de-açúcar, que extrai grandes quantidades de cálcio, o gesso pode ser uma importante fonte de fornecimento desse nutriente, sobretudo nas soqueiras, quando a calagem não foi suficiente para fornecer esse elemento ao longo dos anos. A aplicação do gesso deve ser em área total, sempre antes do cultivo. A recomendação do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) indica as quantidades de gesso a serem aplicadas no solo de acordo com a análise do solo para os teores de Ca e Al. Outras recomendações levam em conta, além do aumento na saturação em bases em camadas de subsuperfície, também a capacidade de troca catiônica (CTC). As maiores doses recomendadas para solos com CTC maior que 60 mmol c /dm 3 na camada de 20 a 40 centímetros de profundidade não ultrapassam 3,5 toneladas por hectare. É importante destacar que a aplicação de gesso deve ser feita juntamente com a aplicação de calcário, mas nunca deve substituí-lo. Na cana-de-açúcar o gesso pode ser utilizado no plantio juntamente com o calcário, em área total, e nas soqueiras aplicando-se na entrelinha. As recomendações encontram-se na Tabela 2. Tabela 2. Necessidade de gesso (DIAS & ROSSETTO, 2006). Teores de Ca (mmol c 100dm-3 ) e Al (%) na camada de 25-50 cm Gesso (t ha -1 ) Ca < 8 e Al% <30 1 Ca < 8 e Al% >30 2 Trabalhos indicam que no cálculo da calagem, deve-se procurar garantir o mínimo de 30 mmol c dm -3 de Ca + Mg na camada arável (0 a 20 cm), e que a interação de calcário com o gesso leva a sinergia de produtividade, uma vez que os efeitos da calagem são mais acentuados na superfície, enquanto os do gesso ocorrem com maior intensidade em profundidade no perfil do solo. O gesso em presença de calcário reduz o teor de alumínio. Pag.4
Fontes: DIAS, F. L. F.; ROSSETTO, R. Calagem e adubação da cana-de-açúcar. IN.: SEGATO, S. V.; PINTO, A. S.; JENDIROBA, E.; NÓBREGA, J. C. M. (Organizadores). Atualização em produção em cana-de-açúcar. Piracicaba: CP, 2006. p. 107-119. RAIJ, B. van et al. (Ed.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1996. (IAC. Boletim Técnico, 100). ORLANDO FILHO, J.; MACEDO, N.; TOKESHI, H. Seja o doutor do seu canavial. Piracicaba: POTAFOS, 1994. 16 p. PRADO, R.M. Nutrição de Plantas. São Paulo: Editora da UNESP, 407p. 2008. ROSSETTO, R.; DIAS, F. L. F.; VITTI, A. C. Fertilidade do Solo, Nutrição e Adubação. In.: DINARDO-MIRANDA, L, L.; VASCONCELOS, A. C. M.; LANDELL, M. G. A. Cana-de-açúcar. Campinas, SP., 2008. p. 221-238. ROSSETTO, R.; SANTIAGO, A. D. Análise de solo. Disponível em: < http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/contag01_82_22122006154841.html>. Acesso em: 10 junho 2011. SILVA, F. C. Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. 370p. SOUSA, D. M. G. de; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. 2. ed. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 416p.. INDICADORES DE MERCADO Consecana SP Janeiro/2013 Açúcar 22/02/2013 Etanol 22/02/2013 ATR SP 0,4791 Cristal 50 Kg R$48,14 Anidro R$/L 1,3469 Cana Campo SP R$52,31 Cristal Empacotado 5 Kg R$6,15 Hidratado R$/L 1,2328 Cana Esteira SP R$58,44 Refinado Amorfo Kg R$1,53 Fonte: Udop Pag.5
AVISO AO FORNECEDOR O setor de Qualidade Agrícola tem constatado áreas não conformes para colheita mecanizada, como presença de tocos e restos de árvores, pedras e sulcação funda que contribuem para o aumento dos índices de perdas e também, presença de plantas daninhas o que elevam as impurezas vegetais. Tais não conformidades dificultam a colheita resultando na redução da qualidade da matéria-prima entregue na Usina Santa Fé. Fornecedores que se encontram nesta situação, pedimos que após colheita vistoriem as áreas e tomem providências. Senhores (as) fornecedores (as) entrar em contato com o setor de Topografia para atualização de mapa de suas propriedades pelo telefone (016) 3387-9900 ramal 2029. Senhores (as) fornecedores (as) conforme o boletim n 8 do Informativo do Fornecedor do mês de outubro, sobre broca da cana-de-açúcar, a cultura de milho serve como hospedeiro e propicia o aumento das populações de Diatraea spp.. Pedimos que em áreas próximas de canaviais não plantassem milho, optem por amendoim ou crotalária, que contribui positivamente para melhorar a fertilidade do solo por meio da fixação de nitrogênio e acúmulo de matéria orgânica, sem aumentar a população de broca da cana-de-açúcar. EVENTOS NO SETOR SUCROALCOOLEIRO III Simpósio Paulista de Mecanização em Cana-de-açúcar 13 e 14 de março de 2013. Local: Centro de Convenções Prof. Dr. Ivaldo Melito FCAV/Unesp Campus de Jaboticabal/SP. Maiores informações: <http://www.funep.org.br/mostrar_evento.php?idevento=323> ou < http://www.sbea.org.br/spmec2013/>. Inscrições abertas no site. 15 Seminário de Mecanização e produção de cana-de-açúcar 20 e 21 de março de 2013. Local: Centro de Eventos Taiwan Ribeirão Preto /SP. Maiores informações: <http://www.ideaonline.com.br/>. Inscrições abertas no site. ESPAÇO DO FORNECEDOR Para dúvidas, sugestões e críticas sobre fornecimento de cana enviem-nos um email para o falafornecedor@usinasantafe.com.br. Informativo do Fornecedor é uma publicação eletrônica quinzenal do Departamento Agrícola da Usina Santa Fé S.A. para fornecedores de Cana-de-açúcar. As informações, conceitos e opiniões contidos nas matérias são de responsabilidade exclusiva dos veículos em que foram originalmente publicadas e não reflete necessariamente a opinião da Usina Santa Fé S.A.. Coordenação do Projeto: Rodrigo Vezzani Franzé. email para contato: falafornecedor@usinasantafe.com.br. Revisão Final: João Giro Filho, Gregório Serafini Neto. Usina Santa Fé, telefone: (016) 3387-9900 ou 3356-1511 (local de Araraquara). Site: http://www.usinasantafe.com.br. Distribuição gratuita. Pag.6