Anais da Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: 2316-9435 XX Semana de Pedagogia da UEM VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor VIVÊNCIAS NO PROJETO DE EXTENSÃO INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA JUNTO À CRIANÇA HOSPITALIZADA Queiróz, Grazieli Brambila grazy_eli@hotmail.com MARCHI, Mateus Gustavo Altoé de mateus11@hotmail.com CALEGARI-FALCO, Aparecida Meire amcalco@uem.br UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Formação de professores e intervenção pedagógica INTRODUÇÃO A finalidade principal do atendimento pedagógico hospitalar é contribuir para a melhora geral do ser humano, a medida que o indivíduo tem a oportunidade de passar da situação de objeto para sujeito, uma vez que pode interagir nas atividades pedagógicas propostas, quando antes era apenas mero espectador em seu leito hospitalar (Rodriguero e Calegari,(2009). Aos que se refere especificamente a criança hospitalizada, tais questões passam a demandar um olhar mais atencioso, tendo em vista sua condição e necessidades primordiais, uma vez que se encontra em pleno desenvolvimento, e a hospitalização pode prejudicar as interações tão necessárias e fundamentais para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Para Novaes (1998), ao ser hospitalizada a criança se vê envolvida em uma grande aventura, com ameaça a seu bem-estar físico e emocional, junto com sua família e os profissionais de saúde. Não há como negar que as há relações importantes entre o corpo e a mente, entre emoção e o sintoma físico, portanto, as experiências vividas no hospital podem contribuir favoravelmente ou não na recuperação e bem estar da criança hospitalizada. Atualmente o Projeto de Extensão Intervenção Pedagógica junto à Criança Hospitalizada, desenvolve suas atividades na pediatria do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Iniciado em 2006, efetivemente, atendendo em média 450 crianças por ano.
O projeto iniciou efetivamente em 2006 e tem por finalidade compreender de que forma a atuação do pedagogo no ambiente hospitalar contribui para o bem estar da criança, que privada das intervenções sociais próprias da infância, pode ter seu desenvolvimento comprometido, principalmente em casos de doenças graves ou crônicas, com reinternações constantes. Propiciando a criança o alívio diante de um ambiente potencialmente tenso e doloroso, que normalmente é constituído o hospital. É importante salientar, que mesmo em situação de adoecimento, a criança continua se desenvolvendo e se torna imprescindível, ações que permita a ela elaborar os efeitos negativos decorrente da hospitalização. Acreditamos que as intervenções pedagógicas que são efetivadas por meio do referido projeto, possibilita tais benefícios. Um dos objetivos do projeto, está pautado na possibilidade de oportunizar subsídios teóricos/práticos a nós acadêmicos para que possamos intervir positivamente no processo de desenvolvimento de crianças hospitalizadas no HUM; ampliar nossas perspectivas de atuação enquanto futuros profissionais, possibilitando a reflexão sobre o processo educativo em diferentes situações; criar fonte de pesquisa na área educacional; intervir pedagogicamente junto à criança, de modo a diminuir o impacto da hospitalização, uma vez que a mesma é afastada de seu convívio social; oferecer atendimento individualizado ou em equipe, visando atender os diferentes aspectos biopsicossociais que envolvem a situação da criança enferma, considerando, inclusive as dificuldades do próprio tratamento; minimizar possíveis perdas ou atrasos no desenvolvimento da criança, como consequência da hospitalização; oferecer estímulos e atenção pedagógica para pacientes em idade escolar e por fim, proporcionar à criança hospitalizada a vivência do brincar como instrumento de relaxamento de tensões. Vale ainda destacar, que a atuação pedagógica em ambiente hospitalar aproveita qualquer experiência por dolorosa que possa ser, para enriquecer e mudar sofrimento em aprendizagem. Esta atuação, segundo González-Simancas e Polaino-Lorente (1990), se dá sob três enfoques: a) Enfoque Formativo: Ajuda o aperfeiçoamento integral da pessoa, ainda que em situação específica, possibilitando a ocupação deste tempo de hospitalização com tarefas úteis e formativas, que além do relaxamento psíquico colaborem em muitos casos no processo de desenvolvimento humano; b) Enfoque Instrutivo ou educativo: Destaca a necessidade de não interromper ou prejudicar, na medida do possível, o processo educativo, desenvolvido em ambiente escolar, e a aplicação
de atividades de ensino/aprendizagem, que facilitem a reintegração posterior no ambiente escolar; c) Enfoque Psicopedagógico: Ação que visa proporcionar uma eficaz adaptação às condições em que a criança se encontra e também para diminuir os possíveis conflitos psíquicos que possam aparecer. O objetivo principal da intervenção médica é o restabelecimento da saúde física e psíquica. O objetivo da intervenção psicopedagógica é a aquisição de certas aprendizagens diretas ou indiretamente relacionadas com a manutenção e cuidado da saúde psíquica e da prevenção. O objetivo da intervenção pedagógica é antes de mais nada, ajudar a criança, ou adulto, enfermo hospitalizado para que mesmo vivendo um período difícil, consiga continuar se desenvolvendo em todos os aspectos, com maior normalidade possível. Para que esta ação se concretize, três áreas de atividades são englobadas reunindo os objetivos específicos da atuação da Pedagogia Hospitalar: a) Área de atividade Escolar: De maneira geral, uma grande maioria de crianças hospitalizadas encontram-se em idade escolar e por isso mesmo a ação pedagógica pretende diminuir o prejuízo causado por esta interrupção, de certa maneira brusca e inesperada, evitando que a criança se desinteresse pelas atividades escolares; b) Área de atividade Recreativa: Tal como a atividade escolar, a atividade recreativa supõe um fim educativo. Constitui-se de atividades que se propõem ao entretenimento no seu sentido mais profundo, proporcionando alegria, distração, relaxamento das tensões, e fomentando o convívio amável e amistoso entre as crianças hospitalizadas; c) Área de atividade Orientação: Esta área de atuação foge de toda e qualquer organização. Consiste, principalmente, em fazer companhia. Falar, escutar, sorrir, olhar, acariciar, estabelecer uma relação afetuosa e amável com o enfermo. São aqueles momentos em que se precisa estar presente sem fazer aparentemente nada. Saber calar com serenidade, delicadeza e intuição. Com o intuito de nos pautarmos na relação teoria e prática, nos reportaremos as experiência que vivenciadas de fevereiro a agosto do presente ano, na Pediatria do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), onde uma das formas de trabalhar com recreação hospitalar é no espaço da brinquedoteca. Nós acadêmicos, frequentamos uma média de duas vezes por semana, com a variação de duração de 4 horas cada período.
Para ser integrante do projeto, o acadêmico precisa participar uma vez ao ano da capacitação com exposições e orientações quanto à higienização em ambiente hospitalar; cuidados a serem tomados quando se trata de crianças hospitalizadas; higienização do espaço e dos brinquedos antes e depois de serem utilizados; a maneira adequada de abordagem à criança hospitalizada e seus familiares que o acompanham durante a hospitalização; organização e utilização da brinquedoteca dentre outros assuntos. O espaço denominado por nós de brinquedoteca, é uma sala com armários para guardar os brinquedos e materiais doados, mesa e cadeiras baixas próprias para crianças, puffs pequenos, expositor para os livros de literatura, um jogo de sofá e uma TV. Vale dizer, que desde 2005, a Lei 11104, dispõe sobre a obrigatoriedade da instalação de brinquedoteca nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. Na mesma lei, seu Art. 2 o é disposto que: Considera-se brinquedoteca, para os efeitos desta Lei, o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar. Podemos verificar que, segundo a legislação, o espaço é estendido aos acompanhantes também. Sabemos que a hospitalização traz reclusão também para os familiares acompanhantes (normalmente os pais). O brincar neste espaço tem como função principal aliviar o stress causado pela hospitalização, como nos aponta Calegari (2003, p.66) Outra possibilidade de intervenção pedagógica em ambiente hospitalar, com crianças que ainda não se encontram em idade escolar, é o planejamento atividades lúdicas, que além de propiciar o alívio do estresse causado pela doença e a hospitalização, propicia sem dúvida o desenvolvimento infantil. Neste contexto, defendemos enfaticamente a necessidade da intervenção do pedagogo no ambiente hospitalar. Sua mediação neste contexto é imprescindível, para que o processo de desenvolvimento da criança não seja interrompido, quer esteja ele em idade escolar ou não. É possível dizer que o brinquedo estimula a imaginação que é um modo de funcionamento psicológico especificamente humano. Através do brinquedo a criança aprende a atuar numa esfera cognitiva que depende de motivações internas. A criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo, e o faz de maneira superior ao nível em que se encontra (Calegari, 2003). No já referido projeto de extensão, são utilizados pelos participantes jalecos na cor laranja desenvolvido especialmente para a atuação na brinquedoteca, visto que algumas
crianças apresentam medo e receio das pessoas com roupas brancas. Embora, Eneida Fonseca, coordenadora da Classe Hospitalar no Rio de Janeiro, defende que é preciso que as crianças ressignifiquem o branco, a partir das ações empreendidas pelos vários profissionais que atuam dentro do hospital, inclusive o pedagogo que para ela deve usar jalecos brancos também. A rotina na brinquedoteca consiste em: higienização e organização dos brinquedos a serem disponibilizados às crianças; levantar informações junto ao posto de enfermagem da pediatria acerca da crianças hospitalizadas, uma vez que podem apresentar restrições de contato e movimento. É imprescindível esta etapa para que possamos iniciar nossa intervenção propriamente dita; Convidamos as crianças que estão nos leitos para nossa atividade na brinquedoteca. Há casos que a intervenção é feita no próprio leito. Quanto as atividades desenvolvidas na brinquedoteca, é preciso o acompanhamento do pai ou responsável. Aproveitamos este momento para conversar com os acompanhantes e isso acaba sendo uma forma de desestresse também. Orientamos quanto ao uso da brinquedoteca, uma vez que este espaço é para criança e acompanhante e deve estar à disposição dos mesmo o tempo todo. Disponibilizamos lápis de cor, giz de cera, alguns desenhos prontos e folhas em branco para desenho livre para uso, bem como alguns brinquedos que ficam também à disposição. É necessário respeitarmos os horários de descanso, medicação, visita médica e familiar, bem como respeitar algumas crianças que não estão permitidas a sair do quarto devido à enfermidade. Alguns casos em que a criança toma medicação ou usa aparelhos que não podem ser deslocadas, nós levamos alguns brinquedos para ela no quarto onde brincamos, jogamos, conversamos e até mesmo contamos histórias, apesar de que todas as crianças têm uma coisa em comum, gostam de estar fora dos quartos. Elaboramos planejamentos sob orientações de professoras que participam do já referido projeto. Os planejamentos se constituem a partir de diversos temas como, Ilustrações de histórias e filmes, Livros, Artes Plástica, datas comemorativas dentre outras. Esta é uma necessidade posta, para que superamos o espontaneísmo e a falta de intencionalidade pedagógica. Quando abordamos as crianças, expomos o planejamento do dia e ela tem a opções de escolha, caso não aceite as atividades do planejamento, que varia entre, músicas - cantigas, pintar, desenhar, jogar, assistir, criar, imaginar, deixamos a escolha dela, exemplo, brincar com carrinho, quebra cabeça, jogo da memória, peças de montar. De certa forma, a criança é o centro do projeto, por isso, devemos respeitar o pedido e a vontade dela. Atendemos faixas
etárias de 1 ano até 13 anos de idade, portanto, tentamos elaborar um planejamento para cada dia de atuação onde aplicamos o mesmo para todos, sendo preciso flexibilizar quando necessário. A criança que fica internada por mais de 4 dias mais ou menos, realizamos alguns questionários com os pais referente a comentários e sugestões sobre o projeto, visando a opinião deles quanto a das crianças; assim, podemos estar revendo os nossos conceitos e melhorando a cada dia, sem contar que no final, estes questionários tornam-se dados do projeto para avaliações futuras e revisões necessárias quanto a condução do mesmo. Concomitante a atuação no Hospital Universitário, temos regularmente encontros de estudos, orientações, socialização das experiências e avaliação das mesmas. Contamos com a participação de diversos professores com pesquisas similares ou que de alguma forma possa contribuir para o enriquecimento de nossa prática no projeto. CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência vivenciada no Projeto de Extensão Intervenção Pedagógica junto à Criança Hospitalizada, desenvolvido no Hospital Universitário Regional de Maringá, tem contribuído de maneira impar a nossa formação enquanto acadêmica do Curso de Pedagogia, uma vez que nos proporciona ter vivências singulares e enriquecedora em uma campo de atuação distante daquele que tradicionalmente somos formados: a escola. O hospital possui dinâmicas, regras e ordenamentos próprios de uma instituição de saúde. Todavia existe atualmente o reconhecimento quanto a importância da atuação de outros profissionais, quando leva-se em conta a pessoa, mas especialmente a criança como um ser integral e em pleno desenvolvimento, que apesar de sua enfermidade, não precisa suspender sua vida por completo. No caso da criança, as intervenções pedagógicas em muito contribuem para ressignificar o hospital, suas práticas e mesmo aliviar o medo e a insegurança que o hospital impõe. As pesquisas apontam Ceccim (1997), que o tempo de internamento é menor quando oferecida alguma forma de intervenção pedagógica. REFERÊNCIAS CALEGARI, Aparecida Meire. As inter-relações entre educação e saúde: Implicações do trabalho pedagógico no contexto hospitalar. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Maringá, 2003.
CALEGARI-FALCO,Aparecida Meire, RODRIGUERO, Celma Regina Borghi. Pedagogia Hospitalar: considerações prelimares. Semana Pedagogia, 2009. CECCIM, Ricardo Burg; CARVALHO, Paulo R. Antonacci. Criança Hospitalizada: Atenção Integral com Escuta à Vida. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFGRS,1997. FONSECA, Eneida S. (org). Atendimento Escolar Hospitalar. O trabalho pedagógico no ambiente hospitalar: A criança doente também estuda e aprende. Rio de Janeiro: Ed. da UERJ,2001. GONZÁLES-SIMANCAS, José Luiz; POLAINO-LORENTE, Aquilino. Pedagogia Hospitalaria-Atividade educativa em ambientes clínicos. Madrid: Narcea,1990. NOVAES, NOVAES, Luiza Helena Vinholes Siqueira. Brincar é saúde: o alívio do stresse na criança hospitalizada. Pelotas: EDUCAT,1998. RIBEIRO, Maria José. O atendimento à criança hospitalizada: um estudo sobre serviço recreativo-educacional em enfermaria pediátrica. Dissertação de Mestrado. Campinas: Unicamp Faculdade de Educação, 1993.