SITUAÇÃO DO SETOR PRODUTIVO DA LAGOSTA NO NORDESTE: PRODUÇÃO E MERCADO

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Transcrição:

SITUAÇÃO DO SETOR PRODUTIVO DA LAGOSTA NO NORDESTE: PRODUÇÃO E MERCADO marcosfalcao@bnb.gov.br APRESENTACAO ORAL-Comercialização, Mercados e Preços MARIA DE FÁTIMA VIDAL; MARCOS FALCÃO GONÇALVES. BNB - BANCO DO NORDESTE DO BRASIL, FORTALEZA - CE - BRASIL. SITUAÇÃO DO SETOR PRODUTIVO DA LAGOSTA NO NORDESTE: PRODUÇÃO E MERCADO Grupo de Pesquisa: COMERCIALIZAÇÃO, MERCADOS E PREÇOS RESUMO Em termos econômicos a lagosta é o principal recurso pesqueiro do Nordeste. Por ser um produto de alto valor de mercado tem sido exaustivamente explorado ao longo dos anos. Além disso, a atividade é exercida principalmente por pescadores artesanais que capturam a lagosta na plataforma continental, o que representa forte pressão de pesca nesse ambiente, dado o grande número de pessoas que atuam na atividade e ser este o habitat de indivíduos jovens. Esses fatores, juntamente com a pesca predatória tem provocado redução nos estoques, que por sua vez tem levado ao maior esforço de pesca e contínua piora na renda dos pescadores. Nos últimos anos, a relativa manutenção no volume de produção da lagosta na Região se deve ao aumento no esforço de captura e emprego de petrechos predatórios que facilitam a pesca do crustáceo. As condições de pesca predatória, que leva a baixa qualidade do produto, juntamente com a crise financeira internacional ocorrida em 2008 levaram a uma drástica redução no preço do produto em 2009, agravando a crise no setor pesqueiro da Região. Dado o elevado preço do produto e o baixo poder aquisitivo da população, o setor não consegue escoar a produção de lagosta para o mercado interno. Mesmo com a crise pela qual passa o setor a lagosta continua sendo o principal produto da pauta nordestina de pescado. O objetivo desta pesquisa é analisar o comportamento recente da pesca e comercialização de lagosta no Nordeste. A metodologia utilizada foi a qualitativa, através da análise de dados primários e secundários. São necessárias ações eficazes no sentido de garantir a sustentabilidade da atividade e melhoria do nível de renda dos pescadores. Tendo em vista a impossibilidade de aumento da produção e produtividade, dado o aparente nível dos estoques na plataforma continental, surge como alternativa à pesca da lagosta o estímulo a maricultura, a exemplo do cultivo de ostras e algas visando a redução da pressão de pesca desse crustáceo na costa Nordestina. PALAVRAS-CHAVES: LAGOSTA MERCADO NORDESTE BRASILEIRO 1

ABSTRACT The lobster is the main fishing resource in the Northeast. Being a product of high market value has been extensively explored over the years. Moreover, the activity is mainly carried out by fishermen who work on the continental shelf, which represents a strong fishing pressure in this environment, given the large number of people working in this activity and be habitat to young lobster. These factors, along with overfishing has caused a reduction in inventory, which in turn has led to increased fishing effort and continuing deterioration in the income of fishermen. In recent years, the relative retention volume of lobster fishing in the region due to the increase in the effort to capture and use of predatory equipment that facilitate the capture of the crustacean. The terms of overfishing, leading to low product quality, together with the international financial crisis occurred in 2008 led to a drastic reduction in the price of the product in 2009, aggravating the crisis in the fisheries sector in the region. Given the high price of the product and the low purchasing power among consumers, the industry can not ensure the production of lobster for the domestic market. Even with the crisis through which passes the lobster industry is still the main product of the staff of the Northeast Fish. The objective of this research is to analyze the recent behavior of the lobster fishery and marketing in Northeast Brazil. The methodology was qualitative, through analysis of primary and secondary data. Effective actions are needed to ensure the sustainability of the activity and improving the level of income of fishermen. Given the impossibility of increasing production and productivity, given the apparent level of stocks on the continental shelf is an alternative to lobster fishing stimulating mariculture, such as the cultivation of oysters and seaweeds in order to reduce fishing pressure on continental shelf. KEY WORDS: LOBSTER MARKET BRAZILIAN NORTHEAST 2

1. INTRODUÇÃO O Nordeste responde por quase 69,0% da produção nacional de lagosta (IBAMA, 2008). Grande contingente de pescadores que vive na costa da Região, principalmente nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte, tem na atividade sua principal fonte de renda. A despeito da sua grande importância para a Região, o setor está passando por um momento de crise: além elevado nível de sobrepesca 1, o produto é de baixa qualidade. A produção atual, porém, representa cerca de 10,0% do volume pescado em relação à década de 1960 (MELLO, 2008), o que provocou queda na receita em todos os elos da cadeia produtiva e a saída do setor empresarial do segmento de captura, que é o de maior risco. Além disso, várias plantas de processamento e exportação encerraram suas atividades. Atualmente é mais comum a pesca da lagosta por pequenos barcos à vela, uma vez que os custos são menores, porém apresenta menor autonomia de mar, atuando em águas rasas (habitat de indivíduos jovem). Percebe-se que fortes interesses econômicos acabam por estimular a continuidade da pesca da lagosta miúda ou seja, de tamanho inferior ao mínimo permitido para captura, comprometendo a sustentabilidade da atividade. Por esse motivo a tendência é de que a situação se agrave, o que deverá aumentar também os problemas sociais, visto que um grande número de famílias depende diretamente da atividade. Atualmente os pescadores dependem do pagamento do seguro defeso, que é pago por cerca de cinco meses no ano. De uma forma geral, a lagosta capturada no Nordeste é desembarcada fresca, pois os pequenos barcos possuem baixa autonomia de mar. Logo em seguida ao desembarque é congelada ou conservada em gelo, apresentando qualidade inferior ao produto de outros países que comercializam a lagosta ainda viva, portanto com maior frescor e melhor cotação que o produto brasileiro. Esses fatores têm levado a uma forte queda no preço de exportação do produto o que agrava as precárias condições de vida dos pescadores. Diversas medidas têm sido tomadas objetivando proporcionar a sustentabilidade da atividade: limitação do número de barcos licenciados; adoção de defeso; orientação com relação ao tamanho mínimo de captura; proibição de pesca em criadouros naturais; restrição ao uso de aparelho de pesca; definição do tamanho mínimo das malhas dos petrechos de pesca e proibição das embarcações licenciadas para a lagosta transportarem equipamentos utilizados na pesca de mergulho. No entanto, tais medidas não surtiram o efeito esperado, motivo pelo qual o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos 1 Sobrepesca situação em que a atividade pesqueira de uma espécie ou numa região deixa de ser sustentável, ou seja, quanto mais esforço de pesca se utilizar, menores serão os rendimentos, seja do ponto de vista biológico, seja econômico. 3

Naturais (IBAMA) passou adotar legislação mais rigorosa no que tange a período de defeso e utilização de equipamentos de pesca para a lagosta. No entanto, essas medidas não tem sido suficiente para garantir a sustentabilidade da atividade nem para a melhoria da qualidade de vida dos pescadores. 4

2. METODOLOGIA Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada a metodologia qualitativa, definida por Martins (2004) como aquela que privilegia a análise de microprocessos através do estudo das ações sociais individuais e grupais, realizando um exame intensivo dos dados e caracterizada pela heterodoxia no momento da análise. Para tanto, realizou-se a identificação e seleção dos agentes detentores das informações sobre o setor produtivo. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas que partem de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que são considerados importantes à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se obtêm as respostas dos entrevistados (TRIVIÑOS, 1987). A pesquisa foi realizada nas áreas da costa nordestina onde a atividade pesqueira apresenta importância sócio-econômica, obedecendo às seguintes etapas de investigação: 1) Pesquisa exploratória a partir de levantamento bibliográfico, por meio de coleta de dados em livros, revistas, jornais, documentos oficiais dos governos (federal, estadual e local) e de agências de desenvolvimento, Internet e banco de dados diversos, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) entre outras; 2) Participação em eventos sobre o setor, a exemplo de reuniões, palestras, seminários e congressos; 3) Identificação das áreas de concentração de pesca da lagosta na costa nordestina; 4) Identificação dos principais atores da cadeia produtiva; 5) Definição do roteiro de viagem para pesquisa de campo; 6) Elaboração de roteiros de entrevista semi-estruturados destinados aos principais atores da cadeia produtiva (órgãos de pesquisa e assistência técnica, pescadores artesanais, empresas de pesca, empresas beneficiadoras de pescado, colônia de pescadores); 7) Visitas exploratórias, no período de abril a outubro de 2008 com realização de entrevistas abertas utilizando os roteiros previamente elaborados; 8) Análise e sistematização dos dados e informações coletados durante as pesquisas bibliográficas e de campo; 9) Elaboração de relatório preliminar; 10) Elaboração relatório final, mediante a incorporação de sugestões resultantes das apresentações e discussões realizadas. 3. O ESTADO DA ARTE DA PESCA NA COSTA NORDESTINA A região Nordeste detém 18,0% do território nacional, no entanto, possui 41,0% da faixa litorânea do País, com uma extensão de aproximadamente 3.300km e uma alta diversidade de ambientes, tais como mangue, estuário, baía e recifes de corais. A 5

plataforma continental 2 nordestina é estreita e apresenta largura que varia de 10km na Bahia até 100 km no Maranhão. Os estados da Bahia, Ceará e Maranhão são os maiores produtores de pescado da Região, sendo responsáveis por 23,6%, 20,6% e 19,4%, respectivamente, da pesca total do Nordeste em 2006 (Gráfico 1). Estes estados concentram 65,6% da frota pesqueira marinha no Nordeste. A Bahia possui cerca de 9.368 embarcações, o Maranhão 8.892 e o Ceará 7.122 embarcações. O Piauí conta com a menor frota, 449 embarcações contribuindo apenas com 1,2% do total. A tripulação da frota artesanal nordestina por embarcação oscila entre 1 e 4 pessoas (SILVA FILHO, 2005). Alagoas 5% Sergipe 3% Pernambuco 7% Paraíba 4% Bahia 23% Rio Grande do Norte 15% Ceará 21% Maranhão 19% Piauí 3% Gráfico 1 Participação Relativa dos Estados do Nordeste na Produção Total de Pescados da Região Fonte: IBAMA (2008a). Observa-se no Gráfico 2, que apesar da instabilidade ao longo do período, marcado por fases de forte crescimento e retração, a trajetória de crescimento da produção total de pescados do Rio Grande do Norte, apresenta-se mais consistente quando são analisado o período entre 1997 a 2006, crescendo 226,5%. Pernambuco e Ceará também apresentaram incrementos significativos de produção 182,2% e 137,6% respectivamente. Maior produtor regional, o estado da Bahia incrementou em 42,4% do volume pescado entre 1997 e 2006, com diferentes períodos de aumento e queda na produção. Esse crescimento na produção se deve em maior medida ao desenvolvimento da aqüicultura, principalmente no Ceará e Rio Grande do Norte, tendo em vista que o crescimento da produção oriunda da pesca marinha foi relativamente baixo entre 2000 e 2006 quando comparado ao aumento da produção total de pescado nesse período (Gráfico 2). 2 Parte do leito do mar adjacente à costa, cuja profundidade não excede a duzentos metros. A uma certa distância do litoral cede lugar a inclinações abruptas que conduzem ao fundo marinho (PORTO, 2008). 6

100.000 90.000 80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Gráfico 2 Evolução da Produção Total de Pescados no Nordeste por Estado, 1997 a 2006. Fonte: IBAMA (2008). A pesca marinha predomina na Região, cuja produção representa 48,0% do total (marinha, continental e aquicultura), seguido pela pesca continental com 21,0%, aqüicultura marinha com 20,0%, e com menor produção a aqüicultura continental com 11,0%. Em termos econômicos a lagosta é o principal recurso pesqueiro do Nordeste, que responde por quase 69,0% da produção nacional (IBGE, 2008). A região Norte, mais especificamente o Pará, é o segundo maior produtor nacional com 21,3% da produção. Juntos, o Nordeste e Norte são responsáveis por cerca de 90,0% da produção de lagosta no Brasil. As principais espécies de lagosta capturadas na costa brasileira são: lagosta vermelha (Panulirus argus); lagosta verde (Panulirus laevicauda); lagosta pintada (Panulirus echinatus) e lagosta sapateira (Scyllarides brasiliensis e Scyllarides delfosi) 3, sendo que as espécies de maior importância econômica são a vermelha e a cabo-verde. As lagostas do gênero Panulirus são encontradas em regiões tropicais e subtropicais. Os principais produtores mundiais são Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Cuba, Brasil, México e Estados Unidos (IGARASHI, 2007). A lagosta (Palinurus argus), espécie mais utilizada comercialmente no mundo, ocorre desde a Carolina do Norte (E.U.A.) até São Paulo no Brasil, com maior concentração na região Nordeste. No que se refere à pesca da lagosta o art. 1, da Portaria do IBAMA n 137 de 12 de dezembro de 1994, proíbe a pesca da lagosta vermelha (Panulirus argus) e da lagosta cabo verde (P. laevicauda) anualmente no período de defeso 4 no mar territorial brasileiro (faixa de doze milhas marítimas) e zona econômica exclusiva brasileira (faixa que se 4 Em novembro/2008, o Governo Federal antecipou o período de defeso para 01/12/2008, vigorando até 31/05/2009. 7

estende das doze as duzentas milhas marítimas). No período de defeso são vedados o transporte, a estocagem, a comercialização, o beneficiamento e a industrialização de qualquer volume de lagosta vermelha e cabo verde que não seja oriundo do estoque declarado até três dias antes do início do defeso (MELO; BARROS, 2006). A Instrução Normativa Nº 138 de 06 de dezembro de 2006 do IBAMA, estabelece os tamanhos mínimos de captura de 13 cm de cauda para as espécies: Panulirus argus (lagosta vermelha) e 11 cm para a espécie Panulirus laevicauda (lagosta cabo verde) para beneficiamento, industrialização e comercialização; restringe o emprego de petrechos na pesca da lagosta, ficando proibida a utilização de redes de espera tipo caçoeira, bem como a utilização de marambaias, somente podendo ser usados armadilhas do tipo covo ou manzuá e cangalha. A instrução limita ainda a malha do corvo ou manzuá em no mínimo cinco centímetros entre nós consecutivos e proíbe a captura da lagosta por meio de mergulho de qualquer natureza. 4. PRODUÇÃO DE LAGOSTA A despeito da sua grande importância para a Região, a lagosta encontra-se em elevado nível de sobrepesca. A produtividade atual representa cerca de 10,0% do volume pescado em relação à década de 1960 (MELLO, 2008), o que provocou queda na receita em todos os elos da cadeia produtiva e a saída do setor empresarial do segmento de captura que é o de maior risco, além disso, várias plantas de processamento e exportação encerraram suas atividades (Tabela 1). Tabela 1 Indicadores da Situação Econômica do Segmento Pesqueiro da Lagosta no Brasil em Fins de 1980 e em 2006. Indicadores Fase 1980 2006 Barcos industriais em operação 315 0 Empresas de captura 18 3 Empresas processadoras 12 8 Empresas exportadoras 26 11 Fonte: (MELLO, 2008). A exploração da lagosta no Brasil teve início a partir da década de 1960. Inicialmente predominava a pesca industrial, por meio da qual houve crescente expansão das áreas e do esforço de pesca. O pico da produção ocorreu em 1979 com a produção total de 11.032 toneladas de lagostas inteiras. A partir de então o volume pescado passou a declinar. Em 1980 a produção nacional ficou em torno de 8.000 toneladas, apresentando elevada instabilidade até 1989: no ano de 1986 a produção de lagosta foi de apenas 4.400 toneladas. Entre os anos de 1986 e 1991 o aumento da produção, que chegou a 11.059 toneladas, indicou uma leve recuperação dos estoques, mas o crescente esforço de pesca levou a nova redução dos estoques, e a produção voltou a ser economicamente inviável para os empresários, cuja produção mínima sustentável era de 9.000 toneladas/ano (MELLO, 2008). 8

Entre 2001 e 2003 o volume de produção da lagosta sofreu uma queda de 11,0% no Brasil, correspondente a 818,5 toneladas. No Nordeste a redução de produção nesse período foi de 866,5 toneladas. No entanto, em 2004 observou-se um repentino salto na produção de 2.368 toneladas (37,5%) no Brasil, o Nordeste e o estado do Pará foram os principais responsáveis por este crescimento na produção brasileira de lagosta com aumento de 1.506 toneladas (30,7%) e 809,0 toneladas (68,6%) respectivamente (Tabela 2). Este fato pode estar associado à desvalorização do real ocorrido no ano de 2003, que aumentou a competitividade via preço do produto brasileiro no mercado externo, aumentando a demanda internacional pela lagosta brasileira, conduzindo a um maior esforço de pesca em 2004. Importante observar ainda que em 2004 cerca de 26 milhões de reais foram destinados ao pagamento de seguro desemprego para pescadores de lagosta, dos quais mais de 50,0% indevidamente pagos a pescadores ilegais ou que trabalham na pesca de outras espécies. Dessa forma o benefício não conseguiu extinguir a pesca ilegal e em alguns casos contribuiu para estimular essas atividades, pois foi identificado que barco sem permissão realizava pelo menos uma pescaria no ano, apenas para comprovar que era pescador de lagosta, aumentando a sobrepesca sobre o recurso (MELLO, 2008). A partir do ano seguinte (2005) o volume de produção volta a cair evidenciando redução nos estoques (Tabela 2 e Gráfico 3). (Toneladas) 10.000 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000-2001 2002 2003 2004 2005 2006 Brasil Nordeste Pará Ceará Rio Grande do Norte Gráfico 3 Evolução da produção de lagosta no Brasil, Nordeste e principais produtores nacionais. Fonte: IBAMA (2003, 2004a, 2004b, 2005, 2008a). 9

Tabela 2 Evolução da Produção da Lagosta por Unidade da Federação no Período Compreendido entre 2001 e 2006 Brasil Unidades da Federação 2001 2002 2003 2004 2005 2006 % Brasil 7.138,5 6.817,0 6.320,0 8.688,5 6.919,3 6.724,0 100,0 Norte 1.121,0 911,5 1.180,0 1.989,0 215,0 1.433,0 21,3 Pará 1.121,0 911,5 1.180,0 1.989,0 215,0 1.427,0 21,2 Amapa - - - - 7,5 6,0 0,1 Nordeste 5.766,0 5.653,0 4.899,5 6.405,5 6.147,8 4.628,0 68,8 Maranhão 556,0 549,0 21,5 22,0 39,5 0,5 0,0 Piauí 37,0 37,5 13,0 24,0 95,4 99,0 1,5 Ceará 2.833,5 2.965,5 2.487,0 3.102,5 2.970,1 1.907,5 28,4 Rio Grande do Norte 1.177,5 1.233,0 921,0 1.380,5 1.123,8 943,5 14,0 Paraíba 219,0 241,5 375,5 670,0 260,2 380,0 5,7 Pernambuco 232,0 233,5 196,0 278,5 317,7 366,0 5,4 Alagoas 32,0 32,5 58,5 76,5 105,7 77,5 1,2 Bahia 679,0 360,5 827,0 851,5 1.235,4 854,0 12,7 Sudeste 180,5 180,5 167,5 278,0 536,0 646,5 9,6 Espirito Santo 179,0 178,5 163,5 275,5 527,0 640,0 9,5 Rio de Janeiro 1,5 2,0 2,0 2,0 3,0 3,5 0,1 São Paulo - - 2,0 0,5 6,0 3,0 0,0 Sul 71,0 72,0 73,0 16,0 20,5 16,5 0,2 Santa Catarina 71,0 72,0 73,0 16,0 20,5 16,5 0,2 Fonte: IBAMA (2003, 2004a, 2004b, 2005, 2008a). Uma alternativa a pesca da lagosta é o seu cultivo. De acordo com Igarashi (2007) apesar do longo e complexo período larval, a lagosta é um crustáceo apropriado para o cultivo comercial por se adaptar bem às condições artificiais de alimentação, além disso, o acasalamento e a desova tem sido obtidos em cativeiro. No entanto, o mesmo autor alerta que, embora as pesquisas para este fim tenham sido desenvolvidas desde 1995, dados científicos sobre algumas áreas, a exemplo da formulação de ração comercial que atendam aos requerimentos nutricionais da espécie cultivada ainda são deficientes, sendo primordial seu desenvolvimento antes que se inicie um projeto de cultivo de lagosta em escala comercial. Em 2004 foi criado pelo MMA/IBAMA o Comitê de Gestão para Uso Sustentável de Lagosta (CGSL), fórum paritário constituído por 16 membros representantes dos movimentos sociais e do Poder Executivo, de caráter consultivo para subsidiar a tomada de decisão pelo Estado para o segmento. Em 2006 o comitê aprovou o Plano de Gestão para o Uso Sustentável de Lagostas no Brasil para tentar reverter o quadro de crise e retomar a pescaria a patamares de sustentabilidade. Em 2007, o Instituto passou a autorizar apenas o manzuá como equipamento de captura da lagosta, em paralelo ao lançamento do Programa de Incentivo à Troca de Rede por Manzuá. O início do programa foi marcado por uma fiscalização efetiva, que logo 10

declinou, principalmente em virtude da escassez de infra-estrutura para desempenho da atividade. 5. COMERCIALIZAÇÃO A lagosta é comercializada pelas empresas principalmente para o exterior, visto que o mercado interno não possui capacidade de absorver o produto, pois o custo de distribuição é alto e a demanda interna é pequena por causa do baixo poder aquisitivo da população. No entanto, o setor passa por uma crise nas vendas para o exterior devido a baixa qualidade do produto. O mercado da lagosta tem características de oligopsônio, onde os intermediários repassam a produção para um pequeno número de empresas que atuam no mercado interno e externo. Referidas empresas possuem grande poder de mercado frente aos pescadores. É comum a verticalização da produção com a atuação dessas empresas também na atividade direta da pesca com barcos próprios e arrendados. A exportação feita através de consórcio poderia ser uma alternativa de comercialização para os pequenos pescadores, no entanto, é inviabilizado pelo atual nível de organização e de conhecimento dos pescadores. É visível a redução da lagosta na pauta de exportação do agronegócio nordestino: em 1999 a lagosta representava 10,0% do valor exportado pelo agronegócio da Região e em 2009 passou para apenas 5,0% (Gráfico 4). (%) 11,00 10,00 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 y = -0,5319x + 9,6969 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Gráfico 4 Participação percentual da lagosta (valor) na pauta de exportações do agronegócio do Ceará. Fonte: MDIC/SECEX Com relação a composição da pauta nordestina de exportação de pescado, os crustáceos ainda possuem um grande peso, principalmente o camarão e a lagosta. Entre 1999 e 2009 a lagosta representou em média 8,2% do volume de pescado exportado pela Região, porém, quando se considera o valor médio transacionado no período, a lagosta responde por 39,0%. 11

No entanto, entre 1999 e 2003 percebe-se contínua queda da participação percentual da lagosta (em termos de valor) na pauta de exportação de pescado no Nordeste e Ceará. No período seguinte a situação se inverte, esse comportamento coincide com ascensão e declínio da carnicinicultura na região, produto que inicialmente era destinado quase que totalmente á exportação e que com a valorização do real frente ao dólar foi direcionado para o mercado interno (Gráfico 5). Mesmo com a crise pela qual passa o setor, a lagosta continua sendo o carrochefe das exportações nordestinas de pescados, 58,5% em 2009 em termos de valor. No Ceará esse percentual é ainda maior, 86,0%. (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 CEARA TOTAL Gráfico 5 Participação percentual da lagosta (valor) com relação as exportações totais de pescado. Fonte: MDIC/SECEX Em 2009 a renda gerada com a exportação da lagosta no Nordeste teve uma variação negativa de 39,4% em relação a 2008. Pernambuco e Rio Grande do Norte forma os estados que apresentaram maior queda da receita da exportação do produto. No Ceará o aumento no volume exportado compensou a queda no preço, por isso a receita não sofreu forte variação (Gráfico 6). 12

(VALOR US$) 100.000.000 90.000.000 80.000.000 70.000.000 60.000.000 50.000.000 40.000.000 30.000.000 20.000.000 10.000.000 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 CEARA PERNAMBUCO RIO GRANDE DO NORTE NORDESTE Gráfico 6 Evolução do valor das exportações de lagosta nos principais estados produtores e Nordeste entre 1999 e 2009. Fonte: MDIC/SECEX Em 2009 ocorreu redução no volume exportado de lagosta (Tabela 3), principalmente para os Estados Unidos devido à crise financeira, que provocou a redução no consumo e consequentemente, ocasionou queda no preço. Tabela 3 Evolução das exportações nordestinas de lagosta entre 1999 e 2009 (em toneladas) Estados Produtores 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Ceará 1.249 1.381 1.390 1.591 1.200 1.302 1.350 977 759 1.192 1.505 Pernambuco 280 513 526 532 548 430 538 723 881 844 369 Rio Grande do Norte 71 85 183 253 190 274 211 149 295 390 152 Demais estados do Brasil 118 61 237 391 477 551 276 282 145 166 71 BRASIL 1.718 2.040 2.335 2.767 2.415 2.557 2.376 2.131 2.080 2.592 2.096 DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL Estados Produtores 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Ceará 72,7 67,7 59,5 57,5 49,7 50,9 56,8 45,8 36,5 46,0 71,8 Pernambuco 16,3 25,1 22,5 19,2 22,7 16,8 22,6 33,9 42,4 32,6 17,6 Rio Grande do Norte 4,1 4,2 7,8 9,2 7,9 10,7 8,9 7,0 14,2 15,0 7,2 Demais estados do Brasil 6,9 3,0 10,2 14,1 19,7 21,6 11,6 13,2 7,0 6,4 3,4 BRASIL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: MDIC/SECEX Entre 1999 e 2006 o preço de exportação da lagosta foi crescente. A partir de 2008 observa-se forte queda (Gráfico 7), explicada pela valorização do real frente ao dólar no ano 2007 até o primeiro semestre de 2008 e posterior crise econômica internacional. 13

(US$/Kg) 50,00 45,00 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00-1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 CEARA PERNAMBUCO RIO GRANDE DO NORTE BRASIL Gráfico 7 Evolução do preço da lagosta brasileira no mercado externo em US$/Kg, praticado entre 1999 e 2009. Fonte: MDIC/SECEX Os EUA são o principal destino das exportações brasileiras de lagosta, tendo apresentado percentuais superiores a 90% do valor exportado entre 1999 e 2006. Nos anos de 2007 e 2008 esse percentual caiu para 80,6% e 78,5% respectivamente, porém em 2009 voltou a subir para 90,8%. No entanto, em 2009 ocorreu uma expressiva redução no valor total das exportações para os EUA que passou de US$ 68,0 milhões para US$ 47,0 milhões menor valor observado no período analisado. Esse fato está associado a baixa qualidade do produto brasileiro, dado que houve uma pequena redução no volume exportado (Gráfico 8), outro fator que contribuiu para a queda das exportações para os EUA foi a crise financeira internacional, país este afetado de forma contundente. Através do Gráfico 8 pode-se observar que o volume de exportação de lagosta tem sofrido contínua queda desde 2004, este fato esta associado à redução nos estoques e justifica em parte a elevação do preço do produto até 2007. 14

(Toneladas) 3.000,00 2.800,00 2.600,00 2.400,00 2.200,00 2.000,00 1.800,00 1.600,00 1.400,00 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 ESTADOS UNIDOS TOTAL Gráfico 8 Evolução do volume das exportações brasileiras de lagosta, total e para os EUA. Fonte: MDIC/SECEX A queda das no preço externo do produto brasileiro representa um grave problema para os pescadores visto que o mercado interno não é atrativo, dado o custo de distribuição elevado, além disso, a demanda interna por este produto é pequena por causa do baixo poder aquisitivo da população e alto preço do produto. 6. CONCLUSÃO Por causa da redução na rentabilidade da exploração da lagosta, a pesca industrial saiu do setor de maior risco (pesca), principalmente no estado do Ceará. O percentual de embarcações que atuam na pesca oceânica é baixo. Para alguns estados a pesca oceânica pode significar um aumento de produção de pescado de uma forma geral e, portanto, redução na pressão de pesca sobre a lagosta. Dada a tendência de retração na produção de lagosta na costa do Nordeste, visto que já se instalou um quadro de sobrepesca, sugere-se que os incentivos à implementação da captura nessa Região sejam evitados, pois, além de não trazer benefício social para a população que depende da atividade, tende a agravar o problema ambiental. No estágio atual do estado da arte da pesca artesanal, a maricultura, a exemplo do cultivo de ostras e algas, é uma alternativa mais acessível para implementar a renda dos pescadores e reduzir a pressão de pesca marinha e, sobretudo, sobre a pesca da lagosta. A queda no preço do produto foi o principal fator que contribuiu para a redução da receita das exportações de lagosta em 2009, portanto se faz necessário um esforço conjunto para melhorar a qualidade do produto em termos de tamanho e contaminação. O setor pesqueiro na costa nordestina requer uma maior atenção de políticas públicas voltadas a atender as demandas sempre crescentes de investimento e ordenamento. Vale salientar que só é possível a implementação das políticas necessárias para reverter o quadro que se apresenta por meio da coordenação dos agentes que atuam no setor. 15

7. REFERÊNCIAS IBAMA. Estatística da Pesca 2001. Brasil. Grandes Regiões e Unidades da Federação, Tamandaré/PE, 2003. 124p. IBAMA. Estatística da Pesca 2002. Brasil. Grandes Regiões e Unidades da Federação, Tamandaré/PE, 2004a. 129p. IBAMA. Estatística da Pesca 2003. Brasil. Grandes Regiões e Unidades da Federação, Brasília, 2004b. 137p. IBAMA. Estatística da Pesca 2004. Brasil. Grandes Regiões e Unidades da Federação, Brasília, 2005. 136p. IBAMA. Estatística da Pesca 2006. Brasil. Grandes Regiões e Unidades da Federação, Brasília, 2008a. 174p. IGARASHI, M. A. Sinopse da Situação Atual, perspectivas e Condições de Cultivo para Lagostas Palinuridae. Ciência Animal Brasileira, v.8, n.2, p. 151-166, abr./jun. 2007. MARTINS, H. H. T de S. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 289-300, maio/ago. 2004. MELLO, R. J. F.B. O retorno da sustentabilidade na pesca de lagosta no Brasil. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/novo_ibama/paginas/materia.php?id_arq =5357 >. Acesso em: 08 jul. 2008. MELO, A. S.S. de A.; BARROS, A. D. de. Pesca predatória da lagosta não Brasil: Um modelo insustentável. Anais... Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. 44., Fortaleza. 2006. Cd-Rom. PORTO, M. Convenção do mar alterou os limites para a exploração. Disponível em: <http://www.comciencia.br/reportagens/litoral/lit03.shtml>. Acesso em: 10 jul. 2008. SILVA FILHO, J.B. da et al. Relatório técnico do projeto de cadastramento das embarcações pesqueiras no litoral das regiões norte e nordeste do Brasil. Convênio SEAP/IBAMA/PROZEE Nº 111/2004. (Processo nº00350.000.747/2004-74). Brasília, 2005. TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 16