A ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA: UMA ABORDAGEM SOBRE AS DESIGUALDADES

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Transcrição:

A ESTRUTURA FUNDIÁRIA BRASILEIRA: UMA ABORDAGEM SOBRE AS DESIGUALDADES Nilce Maria Braun 1 O presente trabalho tem por objetivo, analisar a conjuntura da questão fundiária brasileira. Buscando compreender sua estrutura por meio de um resgate histórico confrontando-o com os dados da atualidade. Dessa forma pretende-se explicitar o grau de desigualdade existente na distribuição das terras, contemplando as esferas Brasil, Paraná e Toledo. Na construção metodológica utilizou-se a pesquisa bibliográfica. O acesso à terra é a medida mais apropriada da desigualdade no campo. A terra é o meio que produz os bens básicos necessários ao sustento, e o prestígio social e o poder político estão diretamente ligados a sua propriedade. A terra é também elemento chave para crédito, incentivos fiscais e outros privilégios. Ao falarmos em estrutura fundiária, nos referimos a questões relacionadas á terra e sua distribuição. Para tal conceito existem categorias que delimitam por extensão a quantidade de terras de que se trata, a saber, minifúndio, empresa rural, latifúndio por exploração e latifúndio. A apropriação da terra no Brasil tem suas raízes no processo de colonização. Antes da vinda dos portugueses, o território era ocupado por diferentes tribos indígenas. Sua forma de apropriação da terra, porém, era diferenciada da concepção que temos hoje. Os índios usufruíam a terra conforme sua necessidade, buscando suprir sua subsistência com o que a natureza lhes oferecia.com a vinda dos portugueses no século XVI, a terra foi expropriada daqueles que aqui viviam, colocando os índios na condição de escravos. Neste período começa a delimitação e exploração da terra por meio do Pacto Colonial. Numa seqüência histórica houve a divisão das terras brasileiras em quinze capitanias, 1 Acadêmica do curso de Serviço Social, da UNIOESTE, campus Toledo. Endereço: Rua quatro pontes, nº 392, São Luiz do Oeste, Toledo Pr. CEP: 85900-970. Fone: (45) 3280-1168. e-mail: nilce_anjo@hotmail.com

distribuídas entre doze donatários com posses inalienáveis sobre as mesmas, com o objetivo de promover a colonização, tendo o direito de distribuir a terra em sesmarias, que eram pequenas propriedades que não excediam a capacidade de subsistência de uma família. Por escassez de força de trabalho, houve um incentivo à vinda de imigrantes estrangeiros, estes porém, eram incumbidos de pagar as despesas da viagem, de forma que, levariam cerca de dez anos para saldar seus débitos, assim, não haveria a divisão da terra de forma descentralizada. Atualmente o grau de concentração de terra no Brasil figura entre os maiores da América Latina. Há evidências de que a distribuição das propriedades tenha se tornado ainda a mais concentrada recentemente. Na atualidade, a composição e a evolução da estrutura fundiária brasileira está condicionada por um lado, por tipos específicos de uso, ou em determinados casos, estas estruturas permanecem ociosas por especulação dos proprietários. De acordo com o INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, 82,6% dos estabelecimentos com menos de 50 Há atingem apenas 13,5% da área total, ou seja, um grande número de propriedades com espaço extremamente reduzido, sendo que destes 53,7% possuem menos de 10 Hectares, em sua maioria, caracterizando-se como minifúndios. As propriedades com áreas entre 50 e mil hectares perfazem um total de 16,6% dos estabelecimentos e ocupam área de 43% do total. Nas áreas acima de 1 milhão o número de estabelecimentos é menor do que 1,0%, (2.174 estabelecimentos), entretanto, a área atinge 43,5% do total, demonstrando uma acentuada concentração fundiária. No processo de colonização do Paraná, haviam poucas e pequenas regiões povoadas no início do século XX. A instalação de novas colônias foi acentuada na década de 1950.Três importantes empreendimentos de colonização assinalaram essa nova fase: a fundação da colônia Entre Rios, da colônia Castrolanda, e a da colônia Witmarsur. Com o alargamento da produção, e necessidade de força de trabalho, estas colônias fizeram um projeto de imigração e colonização, que previa o incentivo aos regimes de pequenas propriedades, com o apoio do governo do estado. Devido a este incentivo muitos se interessaram pelas condições favoráveis, porém, dentre estes, se encontravam muitos

posseiros e intrusos, o que foi mais tarde motivo para muitos conflitos. As medidas de política econômica para o setor agrícola ganharam força no início da década de 70, quando o estado já havia esgotado suas fronteiras agrícolas. Nasceram por pressão do setor industrial e privilegiaram as tecnologias por produto que, além de não gerarem ou transmitirem conhecimento ou técnica, eram adquiridas via compra. Essas medidas também estimularam a produção de produtos com elevada cotação comercial e desprezaram os alimentares, produzidos pela maioria dos produtores. Ou seja, teve como uma de suas características centrais ser excludente em relação a determinados tipos de produtos numa época em que não havia maias a possibilidade de expansão da agropecuária no estado,pois 74% de sua superfície territorial já estava ocupada. De acordo com dados recentes verifica-se que ocorreu um aumento na concentração fundiária de 5,84% no território paranaense.a tendência verificada no país foi a de modernização agrícola acompanhada pelo aumento da desigualdade. O processo de apropriação das terras do município de Toledo foi marcado por extrema concentração de terras já que tudo pertencia à Colonizadora Maripá. A estrutura fundiária planejada pela era o minifúndio, com lotes de cerca de 25 hectares. Salvas algumas áreas maiores, repassadas às empresa coligadas para que a colonizasse, e outras transferidas aos acionistas, a título de dividendo. Na década de 60, período imediatamente anterior ao inicio da mecanização, a estrutura fundiária caracterizava-se por uma profunda desconcentração da propriedade. Essa desconcentração fundiária, deveu-se em parte à incorporação das áreas do sul do município, a anexação do então Tupanci, também colonizado com base no minifúndio, e aos já previstos desmembramentos por herança. Com o advento da mecanização, por volta de 1970, a propriedade muito pequena para viabilizar economicamente a mecanização, adensou-se numa violenta concentração fundiária, surgindo então a conseqüente expulsão do homem do campo, principalmente os agregados, meeiros e arrendatários, cuja mão de obra a máquina substituiu. Hoje do total de área pertencente à Toledo temos 14,5% que comporta menos de 5 hectares. O total familiar corresponde a 15,2%, e apenas 8,7% corresponde ao patronal. 9,4%

correspondendo a propriedades de 50 a 100ha. Sendo 8,5% da categoria familiar e 17,6% pertencentes à categoria patronal. A propriedades acima de 100ha ocupam 4,5% do total de área. Destes 1,9% são pertencentes à categoria familiar, ao passo que 26% são da categoria patronal. Os resultados desse trabalho indicam que as raízes da concentração fundiária toma suas primeiras formas já no período de colonização, este é uma ponto comum tanto a nível de Brasil, quanto Paraná e Toledo. Em virtude dos fatos mencionados, observa-se que tanto na esfera nacional quanto estadual e municipal, os índices de concentração das terras são elevados, e conseqüentemente as desigualdades entre os protagonistas da questão fundiária são historicamente ampliadas. Na realização deste trabalho percebemos que as raízes da concentração de terras que caracterizam a estrutura fundiária atual, são comumente o período de colonização, passando por situações de conjuntura historicamente distintas, porém revelando uma atual estrutura fundiária onde são estremas as desigualdades entre proprietários e trabalhadores. A bibliografia de referência para elaboração desta pesquisa foi vasta, portanto apresentaremos somente a bibliografia básica: RECCO, A. A gravidade da Questão Fundiária no Brasil Agosto de 2003. Disponível na Internet http://www.mail@ciari.org Acesso em 25 de novembro de 2004. RIBAS,V.J.T. História do Paraná. 2ed. Curitiba: Gráfica Editora Paraná Cultural Ltda, 1970.p.225-238. SILVA, J.G. Estrutura Agrária e Produção de Subsistência na Agricultura Brasileira. 2ed. São Paulo:HUCITEC, 1978 a. SILVA, J.G. A Estrutura Agrária do Estado do Paraná. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n.64,p.11-41.jul/set.,1978 b. SILVA, O. Toledo e sua Estória. Prefeitura do Município de Toledo, 1989.p.143-147. WOOD,C.& CARVALHO,J.A.M. A demografia da Desigualdade no Brasil. Rio de Janeiro, IPEA, 1994.p.84-238.